O Ritual de Anúbis
CAPÍTULO TRINTA E DOIS – O Ritual de Anúbis
– Potter você tem certeza do que viu, você tem absoluta certeza que viu Voldemort, e não o confundiu? – McGonnagal fazia a primeira pergunta idiota de sua vida para Harry, que desacreditado das palavras da professora balançou a cabeça descontente. O sétimo, o sexto e o quinto andar já haviam sido deixados para cima e quando passavam em frente à porta da enfermaria no quarto andar encontraram Filch rondando o colégio que ficou surpreso por ver um professor e um aluno, juntos, tão cedo acordados. McGonnagal ainda usava seu robe de seda e, conforme a fria bruma matinal invadia suas narinas ela recolhia o robe para mais perto do corpo. Só de pijamas Harry também sentiu um frio gelado nos braços, mas estava decidido a encontrar Dumbledore afinal, Voldemort nunca morrera, então porque ele estava em um caixão? Muitas perguntas confundiam os pensamentos de Harry e de instantes em instantes ele sentia lufadas de ar lhe invadirem a mente. Sabia que era Voldemort investindo contra seu maior empecilho.
Logo chegaram em frente as gárgulas e Harry ficou satisfeito que elas estivessem dormindo e não pudesse fazer comentários irônicos e irrelevantes. McGonnagal abriu a boca para dizer a senha, mas Harry foi mais rápido.
– Calda de Morango! – com um susto súbito as Gárgulas abriram a passagem e para a felicidade de Harry, não tiveram tempo de reparar em sua presença. Harry subiu saltitante a escada do escritório do diretor, subia pulando de dois em dois degraus, e ofegante esmurrou a alça de latão. Sem esperar um segundo, ele entrou na sala de Dumbledore e o diretor estava sentado em sua mesa, usando longas vestes laranjas com bolinhas azul-marinho, com a cabeça apoiada na mão direita, ele analisava o conteúdo de sua penseira. Harry notou que havia olheiras em seu rosto, indicando longas noites perdidas de sono.
– Harry! – disse jovialmente, o cansaço presente na voz – Parece que nosso escudo fez com que você também perdesse uma noite de sono. Só espero que sua mente tenha conseguido se trancar. – Dumbledore sorriu. McGonnagal acabara de entrar.
– Alvo, o menino Potter me encontrou no corredor do sétimo andar e disse ter sonhado com Você-Sabe-Quem.
– Eu percebi. Obrigado Minerva, volte à sua sala. – McGonnagal sorriu satisfeita e girou sobre os calcanhares. Antes que saísse do aposento Dumbledore lhe chamou uma segunda vez. – Minerva, pratique dizer o nome de Voldemort, é apenas um nome. – McGonnagal não estremeceu, apenas crispou os lábios e deu um sorriso amarelo para o Diretor e foi embora.
– Diretor... – Harry ofegava, estava muito nervoso.
– Harry! Acalme-se! – Dumbledore levantou-se e com o auxílio da varinha guardou a penseira dentro de um armário antigo de carvalho. – Comece me contar como você foi dormir. Você estava nervoso, chateado ou apenas incomodado por alguma coisa? – Harry respirou fundo.
– Eu estava pensando nos meus pais e no meu padrinho. – Harry notou que atrás de Dumbledore, um bruxo alto de cabelos louros dividia a moldura com um outro bruxo baixinho, de expressão insatisfeita e cãs alvas em sua cabeça. Era Fineas Niggelus, o ta-ta-tataravô de seu padrinho, Sirius Black. Ele ouvia cada palavra que Harry dizia, e parecia ter ficado mais atento à menção do padrinho de Harry, seu último herdeiro.
– E compreensível. – analisou Dumbledore com os dedos na têmpora – Você estava alterado emocionalmente... – disse Dumbledore em voz alta como se falasse só para ele – Mas e então, o que você sonhou?
Harry contou todos os detalhes a Dumbledore. A conversa íntima com Bellatrix e Narcisa, nesse ponto da conversa Fineas arregalou os olhos. Também descreveu a sensação de felicidade de Voldemort, e contou o que ele se lembrava, o que ele sentiu dentro do caixão. Todos os mínimos detalhes que conseguia se lembrar, a cera quente sendo despejada sobre o corpo. Também falou do olho de ouro que foi incrustado na cera maleável além dos escaravelhos que penetraram na cera quente junto com a serpente de Voldemort, Nagini.
–... E antes que a tampa do caixão fosse posta eu vi um homem – Harry sacudiu a cabeça aquilo não poderia ser um homem –, na verdade era um homem com uma cabeça de chacal, ele segurava uma comprida varinha de ouro. – ao dizer isso, os olhos de Dumbledore brilharam de felicidade e todos os quadros de antigos diretores acordaram para checar a informação.
– Harry, você tem certeza que era um chacal? – Dumbledore tinha uma expressão fixa que emanava um poder que atravessava seus oclinhos de meia-lua e atingiam Harry de forma a só falar a verdade. – Não era uma águia, um lobo, ou qualquer outro animal, você tem certeza que era um chacal?
– Sim, era um chacal. – afirmou Harry absoluto.
– Isso é algo inextricável... – Vendo a incompreensão de Harry Dumbledore explicou-se – Isso é algo que eu jamais poderia imaginar. Voldemort não é tão covarde como penso que é. Ele se arriscou, eu sempre duvidei disso, achei que tinha se utilizado de outros meios, mas não! Ele fez o Ritual de Anúbis.
– Mas e Voldemort? O que ele tem haver com isso tudo?
– Bem, sempre suspeitei desta hipótese, mas nunca tive certeza, jamais encontrei em Riddle coragem ou bravura. Jamais imaginei que ele o pudesse realizar. – Dumbledore vendo que o garoto questionaria sobre o irmão de Rony respondeu – Bem, Percy... Acho que sua ganância ultrapassou os limites naturais e adquiriu proporções grotescas que apenas Voldemort pode suprir. Diferente de Rabicho que por Voldemort foi corrompido pela fraqueza. Creio que Percy venha a ser um grande Comensal, quanto sua lealdade ao lorde, isto está em xeque. Terei de avisar Arthur, ele vai ficar arrasado. Dumbledore vira-se e Fawkes sobe em seu ombro.
– Fawkes, avise para Arthur. Você saberá onde encontrá-lo e como lhe passar a mensagem. Vá. – E espantosamente, no lugar onde Fawkes estava, chamas irromperam e a fênix desapareceu. – Dumbledore voltou a se sentar e olhar para Harry. – Harry, você gostaria de perguntar algo mais? – Harry pensou automaticamente em responder que não, mas lembrou-se dos sonhos de seu último sono e das palavras do Diretor.
– Sim, tenho sim. – Dumbledore pareceu mais feliz com seu determinado sim do que seus antigos nãos simplórios. – O que é o Ritual de Anúbis? – Dumbledore encostou o dedo indicador na têmpora pensativo.
– Harry, os egípcios inventaram diversas formas de enganar a morte. Nenhum outro povo se preocupou tanto em retardar a única certeza de nossas vidas errantes como eles. Todos até mesmo os que não tinham conhecimento mágico sabiam dos rituais criados para impedir o avanço da morte. Mas como até hoje se sabe, enganar a morte é algo impossível... – Dumbledore fechou os olhos e abaixou a cabeça – Ou pelo menos era até Voldemort ressurgir.
– Como assim?
– Anúbis foi um bruxo da antiguidade egípcia que desenvolveu as técnicas de embalsamamento de múmias, mas ele na verdade também desenvolvia um feitiço de magia negra que fazia com que morte fosse apenas um estado e não uma certeza. Ele criou um ritual que recebeu o seu nome, cujo poder sempre foi questionado, mas durante toda sua vida ele jamais se atreveu a usar de seu poder, afinal sabia das sérias conseqüências que ele teria. – Dumbledore fez um olhar irônico e disse com ceticismo na voz – Por se envolver em mistérios da vida após a morte ele recebeu a conotação de deus... Não culpo os trouxas, afinal eles sempre precisaram de explicações... – Voltando a sua voz normal ele continuou – Ou seja, mesmo tendo criado um ritual que ele tinha certeza da eficácia ele preferiu não utilizá-lo porque sabia que isso apenas retardaria um processo, pois aquele poder não era um dom ou uma dádiva era na verdade uma maldição. E Anúbis procriou, e todos os seus filhos guardaram o segredo por séculos, até que a cultura egípcia despertou a curiosidade de Voldemort, afinal parecia a única forma de se proteger de seu maior medo; E, obviamente ele obrigou que Anúbis realizasse o ritual. Voldemort sempre foi poderoso, mesmo na escola ele tinha um poder quase inexplicável.
– Mas como esse Ritual funciona? Talvez nele, encontremos uma falha... – disse Harry pensando no dia que se aproximava. O dia de seu duelo com Voldemort. Tão cedo o Lorde iria a sua procura e de alguma forma eles iriam finalmente duelar. Dumbledore riu.
– Harry, você tem de se preocupar com o mínimo possível, as falhas dos planos de Voldemort, a Ordem já tenta descobrir a vinte anos. – Dumbledore levantou-se novamente da cadeira. Caminhou até uma estante antiga e puxou um livro de capa roxa, com letras brancas. Voltando para sua mesa ele abriu o livro que recebia o título “Cultura Egípcia: A arte de Enganar a morte” . Quando a primeira página foi aberta um pequeno escaravelho vivo saiu andando do livro. Instantaneamente Harry puxou a varinha e disse.
– Exumai! – o pequeno inseto foi consumido por chamas azuis e sumiu sem deixar cinzas.
– Obrigado Harry. – agradeceu o diretor – Bem, vou lhe explicar o básico sobre o Ritual de Anúbis. Você deve conhecer bem o que vai enfrentar. – Dumbledore começou a ler as páginas amareladas pelo tempo. O livro parecia ter no mínimo cem anos.
– O ritual de Anúbis foi criado no Apogeu da Civilização Egípcia e se tratava de um ritual de magia negra onde o escolhido era morto para que ressuscitasse na vida eterna. Mas Anúbis sempre advertiu os faraós que aquele Ritual poderia se transformar em uma maldição. A maldição da perseguição, o escolhido jamais terá sossego depois do ritual realizado.
Dumbledore fez uma pausa pulando alguns trechos com o dedo que lhe pareciam sem importância. Quando parecia achar algo significativo lia em voz alta.
– A primeira etapa era o sacrifício do escolhido, onde através do despejo de cera fervente a pele do bruxo era dizimada e restava apenas o corpo. Alguns escaravelhos carnívoros devoravam órgãos desnecessários e um animal da preferência do escolhido era jogado dentro de seu sarcófago, para que durante sete dias a mutação ocorresse. Alguns amuletos como o olho de Hórus e a Chave de Anúbis era postos no sarcófago para que seus poderes fossem passados para o escolhido. – Dumbledore fez mais uma pausa e olhou para Harry – Entende porque Voldemort hoje assume poderes sobre-humanos? Entende por que ele tem aversão à morte e acha que não há nada pior do que ela? É porque ele já morreu. Mas escute as duas últimas partes.
Dumbledore pigarreou alto. O sol lá fora já estava brilhando e Harry olhou o relógio e viu que uma hora já havia se passado.
– Na segunda etapa do Ritual, o escolhido permanecia no sarcófago por sete dias, onde seu novo corpo era moldado. A cera substituía órgãos desnecessários e os amuletos eram dissolvidos por magia. Os escaravelhos morriam e o animal preferido transmitia sua características para o escolhido. Após o processo de mutação estar completo o Feitiço de Anúbis devolvia uma vida ao escolhido. Mas com essa vida uma maldição era formada. Até hoje não se sabe o poder que o escolhido pode adquirir, tampouco se a maldição é real ou apenas uma artimanha para afastar curiosos.
– Voldemort se matou para vencer a morte? – disse Harry assustado. – Mas e a poção que ele usou para voltar à vida em meu quarto ano em Hogwarts?
– Aquela poção Harry foi inventada por seu professor de poções Severo Snape. Embora esse tenha sido seu maior trunfo enquanto continuava a trabalhar fielmente para Voldemort, hoje ainda é um questionamento para a Ordem da Fênix. – Dumbledore entrelaçou seus dedos uns nos outros – Mas note Harry, que Snape não é culpado pela volta de Voldemort, caso você tenha pensado isso. Afinal não foi sua escolha e sim de Rabicho voltar para seu senhor.
– Mas se ele, Voldemort – começo Harry –, já tinha realizado o Ritual de Anúbis porque Snape criou mais uma forma de ele voltar a vida? O ritual não funcionou?
– Harry, você ainda terá perguntas sem resposta. Isso é algo que não posso lhe responder afinal, talvez nem mesmo eu saiba a resposta. – Dumbledore deu um sorriso e continuou – Mas lembre-se de duas coisas. O Ritual de Anúbis transforma o escolhido em um meio-animago, mas Voldemort ainda permanece com traços humanos em seu rosto, possui traços no queixo e ainda têm sobrancelhas; cobras não têm sobrancelhas. E por último, a poção que Snape criou foi feita depois de Voldemort conhecer a profecia, muito antes dele voltar para nosso lado. – Dumbledore se levantou rapidamente e correu a te o armário onde tinha guardado sua penseira. Ele depositou a grande bacia de pedra sobre sua escrivaninha e com a ponta de sua varinha ele retirava pensamentos de sua têmpora. Harry podia ver o seu rosto no líquido da penseira antes de tudo virar um borrão de cor. Dumbledore parecia ter se esquecido da presença de Harry.
Harry pigarreou de forma audível.
– Harry! Como pude me esquecer, você está aqui! – Dumbledore abriu um largo sorriso e disse ao garoto – Você pode ir. – A porta atrás de Harry abriu sozinha e Harry levantou-se. Despediu-se de Dumbledore e caminhou até a porta. Antes que a fechasse completamente ele escutou a voz de Dumbledore dizer. – Harry, muito obrigado por me obrigar a pensar.
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