Capitulo 7



CAPITULO VII


O dia seguinte pareceu interminável para Harry. Tudo o que pôde fazer foi conter a ansiedade e esperar até que Hermione voltasse do trabalho, antes de ligar para a casa dela.
Esperando ouvir a saudação habitual, soube, no momento em que ouviu sua voz, que algo estava errado.
— O que aconteceu, Hermione?
O silêncio do outro lado da linha o torturava.
— Fale comigo, querida. Não está se sentindo bem?
— Não.
Aquela resposta o atingiu de tal forma que o deixou sem ar.
— Estou a caminho. — E desligou.
Atirando o aparelho sobre o sofá, Harry correu para o quarto, para calçar os sapatos. Com o coração aos saltos, vestiu o sobretudo, certificou-se de que Baby estava bem acomodada sobre as almofadas e saiu.
Dirigindo em alta velocidade, chegou em tempo recorde à casa de Hermione. Agradecido, por um dos inquilinos do edifício estar saindo naquele momento, entrou sem precisar que ela lhe abrisse a porta.
Subindo os degraus de dois em dois, correu pelo corredor e bateu na porta do apartamento.
— Hermione, abra!
Segundos pareceram uma eternidade até que ela viesse atender. Quando, por fim, a viu, o peito de Harry se apertou.
Lágrimas rolavam pela face pálida e as mãos dela estavam tremulas.
— O que houve? — Aflito, Harry a tomou nos braços. — É o bebê?
Hermione meneou a cabeça e passou os braços ao redor da cintura dele, encostando a têmpora no peito forte.
— Não.
Aliviado por saber que o nenê, a quem apelidara de Amendoim, estava a salvo, Harry a conduziu para o interior do apartamento. Ajudou-a a sentar-se no sofá, mas continuava nervoso.
— O que houve, querida?
— Eu... vi Michael hoje na sede do departamento.
Harry sentiu um frio no estômago ao ouvir aquele nome. Será que ela ainda sentia algo por aquele canalha?
— E daí?
— Foi com grande satisfação que ele me disse... que sua nova esposa marcou a cesariana para daqui a uma semana.
O Dia dos Namorados! Levou alguns segundos para Harry se lembrar de por que aquele dia era tão significante para Hermione. Completaria um ano da dissolução de seu casamento e o fim do sonho de ter sua própria família.
Não estava certo se desejava saber a resposta, no entanto não pôde deixar de perguntar:
— Aborrece você o fato de ele ter tornado a se casar?
— Não.
— Se é assim, o que há de errado? — Harry massageava-lhe os músculos tensos do pescoço.
Hermione respirou fundo e o fitou.
— Ora, é ridículo!
— Está bem. — Ele sorriu. — Mas parece que isso ainda a incomoda.
Olhando para as próprias mãos, Hermione suspirou.
— Apenas me dói saber que a mulher de Michael pôde fazer o que não pareço ser capaz.
— O quê? Ter um bebê?
Ela fez um gesto afirmativo.
— Por que é tão fácil para algumas mulheres, menos para mim? O que há de errado comigo?
— Olhe para mim, Hermione. — Alisou-lhe o ventre com ternura. — Não há nada de errado com você, e a médica deu garantia de que está tudo bem com Amendoim.
Hermione sentiu o lábio inferior tremer, e precisou mordê-lo para conter o choro.
— Considerando os problemas que teve no passado, é natural que se preocupe. No entanto, agora não tem mais a tensão de um casamento conturbado, e já conseguiu entrar no terceiro mês de gestação. Certo?
— Certo.
Ele a puxou e aninhou-a junto a si.
— Então, eu diria que isso merece uma comemoração, não concorda?
Pela primeira vez desde o momento em que entrou no apartamento, Hermione sorriu, e era como um raio de sol num dia chuvoso.
— Acho que assim.
— Portanto, vá lavar o rosto e troque de roupa. Vou levá-la para sair.
— Para onde nós vamos?
— Sinto muito, mas é surpresa!


— O que estamos fazendo aqui? — Hermione quis saber, quando Harry estacionou o Jaguar na frente de uma famosa loja de artigos infantis.
— Faremos Amendoim se tornar mais real para você. Além do mais ele vai precisar de um berço.
— Mas eu... — Esperou que Harry contornasse o veículo e viesse ajudá-la a descer do carro. — Não estou preparada para comprar os móveis ainda. Tenho de limpar e pintar o quarto.
— Esqueça a pintura — disse ele, conduzindo-a ao interior da loja. — O cheiro de tinta não faz bem para a criança. Colocaremos papel de parede.
Hermione puxou-o pelo braço, forçando-o a parar.
— Como sabe o que faz bem para o bebê ou não, Potter?
— Li uma reportagem naquela revista que você me deu outro dia, lá no consultório médico.
Ela riu e balançou a cabeça.
— Só porque leu um artigo em uma revista, já se acha um expert. Você é impossível!
— Surpreendentemente impossível! Agora, vamos ver o que este lugar tem a nos oferecer.
— Não comprarei nada hoje — advertiu-o.
Ele a conduziu para a seção de móveis infantis.
— Eu sei, eu sei. Apenas olharemos o que há por aqui.
Hermione meneou a cabeça, e pôs-se a seguir Harry por entre os diversos displays. Como poderia ficar zangada com aquele homem? Viera correndo quando pressentiu que havia algo errado com ela, e agora lhe proporcionava aquele momento de descontração.
— Viu algo que lhe agradou?
Apontando para a frente, Hermione assentiu.
— O amarelo-claro é meu favorito. É alegre e acolhedor. Deixará o ambiente perfeito para receber o bebê.
— Então, amarelo-claro é sua cor preferida...
Seguiram para uma seção onde havia brinquedos para recém-nascidos de ambos os sexos.
— Você acha que Amendoim gostará mais de ursos ou de coelhos?
— Não faço idéia. —Hermione deu risada quando ele esfregou um bichinho de pelúcia em seu nariz. — O que está fazendo?
— Conferindo a suavidade.
Hermione espirrou.
— Este não serve. — Harry recolocou o coelho felpudo na estante e apanhou um urso branco, grande, com uma tira de pano de algodão amarela no pescoço. — Gosto deste aqui.
— Baby ficará com ciúme.
— Não é para mim. É para você, até Amendoim chegar. — Gentil, ele segurou-lhe o queixo, forçando-a a encará-lo. — Toda vez que olhar para este urso, quero que se lembre de que Amendoim está dentro de você, e que o sonho de ser mãe se tornará realidade. Que ele...
— Ela —Hermione o corrigiu.
— ...ou ela muito em breve estará aqui.
Emocionada com aquela demonstração de carinho, Hermione sentiu um nó na garganta.
— Obrigada, Harry. — Deixou cair uma lágrima.
— Não chore, querida. — Ele lhe enxugou o rosto com o indicador. — É apenas um ursinho.
— Não é o urso, seu bobo. Esse foi o gesto mais sensível que alguém já fez por mim. — Erguendo os braços, rodeou-lhe o pescoço e beijou-o no rosto. — Obrigada!


Na tarde do Dia dos Namorados, Harry sentou-se na cadeira atrás da escrivaninha, observando, circunspecto, a paisagem da janela. Queria fazer algo para Hermione, mas não sabia o quê.
Afinal, ela só tinha recordações amargas daquele dia, e esse não estava parecendo que seria melhor. Não apenas marcava o aniversário do fim de seu casamento como o nascimento do filho de seu ex-marido.
Como poderia fazê-la esquecer as tristezas do passado, proporcionando-lhe um Dia dos Namorados inesquecível? Como continuar fazendo isso sem se envolver emocionalmente mais do que já estava?
Decidindo que levá-la para jantar era a melhor opção, Harry chamou Fiona e pediu-lhe que reservasse uma mesa em um dos restaurantes mais exclusivos e sofisticados de Chicago. Porém, quinze minutos mais tarde a secretária lhe informou que os melhores restaurantes locais já estavam com seus lugares todos reservados.
Aborrecido, tentou pensar em outra coisa. Olhou ao redor da sala e deparou com as fotos de seus parentes penduradas na parede. Observando o retrato onde ele e Drew construíram uma cabana na propriedade dos Potter, no lago Genebra, uma idéia lhe ocorreu.
Satisfeito por encontrar a solução perfeita, pegou o telefone e fez alguns contatos. Em seguida, saiu em direção à sala de reuniões. Sabia muito bem como fazer Hermione acompanhá-lo sem desconfiar do que tinha em mente.
Quando entrou, encontrou-a sozinha.
— Preciso falar com você.
— Não sabe mais bater na porta, Potter? — Suavizou as duras palavras com um sorriso. — Tem sorte por meu último interrogatório ter acabado minutos atrás; caso contrário, seria obrigada a prendê-lo por obstruir uma investigação.
Harry resistiu à vontade de lhe oferecer os pulsos para que o algemasse. Em vez disso, adotou uma expressão preocupada.
— Recebi um telefonema informando-me de que minha cabana no lago Genebra pode ter sido arrombada. Estou indo até lá para checar. Gostaria de ir junto, para o caso de ter alguma ligação com o que está investigando? O sorriso dela desapareceu.
— Claro que sim. — Ergueu-se de imediato. — Quem descobriu o arrombamento?
Ele odiava ter de mentir.
— O caseiro não disse que foi exatamente um arrombamento. Apenas parecia que alguém tinha estado lá.
— Notificou as autoridades locais?
— Não.
Hermione dirigiu-lhe um olhar suspeito.
— Por que não?
Que motivo poderia lhe dar? Na verdade, se tivesse havido mesmo um arrombamento, seria a primeira coisa que teria feito.
— Eu, hum... pensei que talvez você quisesse conferir primeiro. — Harry esperava que a desculpa fizesse sentido. — Sabe como é... Pode haver alguma evidência que alguém pouco familiarizado com o que houve negligenciaria.
— Ou, sem querer, poderia destruí-la. Isso acontece com mais frequência do que você possa supor.
Harry consultou o relógio.
— Se partirmos agora, ainda chegaremos lá com a luz do dia. E não seria ruim se passássemos antes em casa, para trocarmos de roupa.
— Por quê?
— Está frio e há muita neve nessas estradas rurais. Se formos impedidos de prosseguir, pelo menos estaremos usando trajes mais apropriados.
— Garoto esperto!
Conduzindo-a para fora, Harry parabenizou a si mesmo por seu plano. Tudo sairia dentro dos conformes, decidiu, confiante.


Hermione esperava que a visibilidade de Harry fosse melhor do que a sua. A neve, que caía desde que deixaram Chicago, transformara-se numa verdadeira tormenta no segundo em que cruzaram a fronteira do Estado de Wisconsin.
— Está conseguindo enxergar alguma coisa? — Hermione afagou o focinho de Baby.
— Quase nada. — Diminuindo a velocidade, Harry conduziu o Jaguar para fora da estrada principal, entrando em uma pista estreita. — O boletim meteorológico afirmou que essa nevasca talvez dure alguns dias.
A pista bifurcou, e os faróis iluminaram uma casa imensa por entre as árvores desfolhadas e esbranquiçadas.
— Essa é a cabana? — perguntou, incrédula.
— Sim.
Nesse instante, o motor parou de funcionar.
— Droga! Atolamos, Hermione. Teremos de fazer o resto do trajeto a pé.
— Que cabana! — Ela admirava a imponente construção. — Já vi edifícios bem menores.
— Nunca parei para pensar nisso. — Harry deu de ombros. — Não gosta?
— Eu não disse isso. Apenas não é tão pequena ou tão rústica quanto acreditei que uma cabana deveria ser.
Harry sorriu, abrindo a porta do motorista.
— Bem, é feita de troncos.
— Então é aqui que sua família passa as férias?
— Não. — Baixando a cabeça para se proteger das lufadas de vento, alcançou a porta do passageiro. — O chalé de meus pais fica do outro lado da propriedade. Esta pertence a mim e a Drew. Depois que Talia faleceu, passamos o verão seguinte construindo isto aqui.
— Vocês dois a construíram?!
— Isso mesmo. Lógico que tivemos ajuda de alguns operários para posicionar os troncos e erguer as vigas. Mas trabalhamos sem parar junto com eles. E no interior fizemos quase todo o serviço sozinhos.
— Nossa! Estou impressionada!
Ele fitou-a, confuso.
— Por quê? Casas de madeira já vêm quase prontas. Tudo o que fizemos foi montá-la.
— Sim, mas isso deve ter sido muito trabalhoso. — Hermione entregou-lhe Baby. — Para ser franca, não consigo imaginá-lo pegando no pesado...
Harry apanhou a cadelinha e inclinou-se, sussurrando ao ouvido de Hermione:
— Não conte para ninguém, mas gosto muito. E sou muito bom no que faço.
A respiração quente de Harry e aquela insinuação fizeram-na arrepiar-se inteira.
— Está bem, vou acreditar em sua palavra.
“Concentre-se, Delgado. Pensar em Harry de outra forma que não seja como um amigo pode ser desastroso."
Hermione alcançou a bolsa e retirou o revólver. Mas, no momento em que desceu do veículo, Harry bloqueou-lhe o caminho.
— Espere! O que pensa que está fazendo?
— Preparando-me para investigar uma cena de crime em potencial. — Dizendo isso, tentou afastá-lo com as mãos. Sem êxito. — O que há com você, Harry? Viemos até aqui para checar...
— Guarde a arma.
— Nada disso. Se houve um arrombamento...
— Não houve.
Antes que Hermione compreendesse o que ele estava fazendo, Harry tomou-lhe o revólver e o enfiou no bolso da jaqueta.
— Mesmo que tivesse havido, não a deixaria entrar lá na minha frente. — Agachou-se. — Suba em minhas costas.
— Eu posso caminhar.
— Não, não pode. — E colocou as mãos nas coxas dela, suspendendo-a.
Espantada pelo súbito movimento, foi obrigada a envolver-lhe o pescoço com os braços para se firmar.
— Ponha-me no chão!
— Não.
— O que está acontecendo aqui, Potter?
— Estou lhe dando uma carona, ora!
Hermione tentou ignorar o prazer que lhe provocava ter os seios pressionados contra as linhas das costas musculosas.
— Se alguém estiver lá...
Harry dirigiu-se para a cabana.
— Confie em mim. Não há ninguém.
— Não pode saber ao certo, a menos que... — Ela ofegou. — Isso foi tudo armado, não é?
Harry estacou e virou a cabeça para fitá-la por sobre o ombro.
— É claro que sim!
Caminhou mais alguns passos e abaixou-se para deixar a passageira no chão. Destrancando a porta, voltou-se e afagou-lhe o queixo. Um brilho intenso iluminou os lindos olhos verdes.
— Queria que você tivesse algo de bom para se lembrar do Dia dos Namorados.
Sem conseguir emitir um único som, Hermione deixou-se guiar para o interior da casa. Distraída pelo movimento de Baby correndo para mergulhar nas almofadas do sofá de couro em frente à lareira de pedra, precisou de alguns segundos para notar a elegante mesa posta para duas pessoas, próxima à janela com vista para o lago.
Seus olhos se encheram de lágrimas. Uma vela branca sobre um candelabro de prata no centro do tampo e um buque de rosas vermelhas contrastavam com a toalha de linho.
— Oh, Harry... — Voltou-se para fitá-lo.
Harry estendeu os braços, e Hermione não pensou duas vezes para se aninhar entre eles.
— Jamais alguém fez algo assim por mim...
— Por favor, diga-me que essas lágrimas são de felicidade.
— São, sim. Mas por que fez isso?
Harry esboçou um sorriso especial.
— Porque você merece. E porque eu queria fazer algo que algum dia lhe trouxesse doces recordações.
— Obrigada, Harry.
Hermione ergueu-se na ponta dos pés para lhe dar um beijo rápido, mas, no momento em que os seus lábios se encontraram, Harry a enlaçou e tomou o controle da situação.
A boca dele fez uma doce pressão, forçando a dela a se abrir, até que Hermione se viu correspondendo numa ânsia absurda.
Quando Harry deslizou a língua, beijando-a com paixão, sentiu os joelhos bambearem e cingiu-lhe o pescoço. Deslizando uma mão pelas costas, ele alcançou-lhe a cintura, pressionando-a para obter um contato total.
Hermione soltou um gemido abafado ao sentir a excitação dele pressionada contra seu ventre.
— Fique tranquila, querida. Não vai acontecer nada que você não queira. Agora, quero que se sente e descanse, enquanto vou ver nosso jantar.
— Posso ajudar em algo?
— Não. Cuidarei de tudo sozinho. Hoje a noite é sua. Tudo o que precisa fazer é aproveitá-la.
Quando Harry beijou-a na ponta do nariz e virou-se para acender a lareira, Hermione mordeu o lábio inferior, preocupada com a realidade que começou a invadir seus pensamentos.
Estavam em um lugar longínquo no lago Genebra. A nevasca ainda castigava a região. Com o carro atolado na neve, as chances de voltarem à cidade naquele mesmo dia eram inexistentes. E a atração física entre eles era forte.
Um calafrio intenso arrepiou-lhe a pele. Nem mesmo nos quatro anos de seu casamento sentira tanto desejo por um homem.
Dobrando as pernas, abraçou-as e observou a mesa. O flamejar crepitante da vela refletia na paisagem da janela. Estavam isolados. Tudo aquilo não podia ser mais romântico, e havia uma irresistível atração mútua prestes a explodir.
Se isso não fosse a combinação perfeita para destruir sua paz e partir seu coração, não sabia o que seria.

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