Capítulo 6
O primeiro pensamento que lhe veio à cabeça foi que Harry não se despedira como prometera. Por que partiu assim? Por que ir embora se os dois se amavam? Como tinha sido tola! Só agora percebia que nunca, em todo esse tempo, ele afirmou que a amava. A única coisa que havia deixado claro é que a desejava, que queria seu corpo, mas não parecia disposto a dar-lhe amor. E ela se deixou levar por um sentimento que, para Harry, não significou nada. Bem que ele a tinha avisado várias vezes que sairia magoada dessa história. Só que ela não havia sido capaz de imaginar a mágoa que sentia agora. Harry saíra de sua vida sem qualquer aviso. No momento mais feliz.
Ela não soube quanto tempo ficou ali, parada, sem fazer qualquer movimento, deixando apenas as lembranças tomarem conta dela. Quando finalmente desceu as escadas já era noite. Foi até a porta, apagou as luzes e fechou a porta da Casa do Pomar, pela última vez. Nunca mais voltaria ali. Sua simples visão trazia a lembrança de seu amor por Harry.
Não conseguiu chorar. Sentia-se anestesiada, como se estivesse morta por dentro. O sofrimento era tão grande que não necessitava de lágrimas, ia além delas. Harry não a tinha apenas rejeitado, a tinha abandonado.
Sua mãe estava na cozinha, quando entrou.
__ Santo Deus! O que aconteceu? – Ela a sacudia, para que reagisse. __ Onde esteve todo este tempo? Seu pai e eu estávamos para morrer de preocupação.
__ Fui ver Harry.
__ Mas ele na está mais em Sanford.
__ A senhora já sabia?
__ Sim. Ele esteve no armazém e se despediu.
__ Pois é, mamãe, não estava lá. Harry foi embora.
__ Então, onde andou todo esse tempo?
__ Sei lá. Nem sei... Estive pensando. Agora me desculpe, mas vou me deitar.
A Sra. Granger deu um suspiro e,como o olhar de tristeza e preocupação disse:
__ Hermione querida... Diga-me: você e ele, ontem a noite...
__ Não mamãe. Não houve nada.
__ Ah! Está bem. – respondeu aliviada a Sra. Granger. __Mas não fique assim querida. Você é forte e tem a vida toda pela frente. Logo encontrará outra pessoa para se apaixonar.
__ Mãe, quando ele foi ao armazém, hoje, ele... Ele perguntou por mim?
__ Não, minha filha. Não perguntou.
Sem dizer mais nada Hermione foi para seu quarto. Não conseguiu dormir, naquela noite, mas também não chorou. Ficou olhando a escuridão, hora após hora, como um autômato, sem sentir nenhuma emoção ou derramar uma única lágrima. Ouviu seu pai voltar para casa e, com voz alterada, falar com a mãe. Também ouviu a mãe tentar acalmá-lo, coisa que conseguiu, pois ele não foi ao quarto de Hermione, para repreendê-la. Por fim, desceu um silêncio total sobre a casa. Todos dormiam, menos ela, que ficou ali, na cama, pensando... Pensando...
Nas semanas que se seguiram, Hermione não tocou mais no assunto. Sua família, ao que tudo indicava, também resolveu respeitar seu sentimento de frustração e perda. Somente Selma não conseguia conter-se, como era de se esperar.
__ Você o deixou escapar de novo?
__ Do que está falando?
__ Ora, daquele bonitão.
__ Selma, por favor...
__ Desculpe, Hermione. Mas acredite em mim: nenhum homem vale esse sofrimento.
__ Como sabe?
__ Olhe Hermione, o que eu sei é que, da primeira vez que vi vocês juntos, tive certeza de que você sairia machucada. Aposto que ele a magoou desse jeito e não deu a menor importância, não foi isso?
__ É. . . – Hermione teve de admitir. __ foi embora sem dar a mínima satisfação.
Se Harry a considerasse um pouco, teria pelo menos telefonado, ou deixado um bilhete. Era quase como se ele não tivesse existido. Não deixara nenhum traço, nem na casa nem na cidade, só em seu coração. Ela, sim, ficara irreparavelmente ferida. Sua aparência mostrava bem isso. Ia definhando dia a dia, perdendo peso a olhos vistos.
__ Nenhum homem é tão bom assim, sua boba. Eles não merecem que você se deixe definhar. – Selma não desistia.
Definhar? Hermione não havia reparado que estava mais magra e abatida. Nunca se considerou uma beleza fora do comum, por isso, pouca se importava em parecer mais ou menos atraente. Agora, então, isso tinha menos importância ainda. Harry não estava mais ali. Harry, Harry! Droga, por que será que o nome dele continuava a atormentá-la a todo o momento?
__ Agora está melhor. – observou Selma. __ pelo menos a cara de brava fica melhor do que a de mártir que você mostrou até agora pouco. Você precisa sair mais, conhecer alguns rapazes. Vamos à discoteca, hoje à noite. Verá como esquece logo o Harry.
Hermione não aceitou de imediato, mas cedeu à insistência da colega e acabou indo várias noites depois. Conseguiu se distrair bastante e, assim, resolveu sair mais vezes com Selma. Ela era realmente muito namoradeira, dançava com todos os rapazes, ria e brincava sem parar. Hermione não pretendia fazer o mesmo,mas conversou com vários rapazes e conseguiu alguma camaradagem com eles. Mas não queria namorar ninguém.
Os pais de Hermione ficaram um pouco preocupados com essa nova amizade da filha. Mas depois de reconhecerem que, apesar de toda sua agitação, Selma era uma moça simpática e de boa índole. Estava tentando ajudar Hermione e ela, naturalmente, não era forçada a agir da mesma forma que a amiga.
Foi então que, numa noite, na discoteca, Hermione conheceu Brian. Sentiu simpatia por ele, á primeira vista, quando ele a tirou para dançar. Era alto, moreno, de olhos azuis, e tinha uns vinte anos, apesar de agir como se fosse mais velho. Parecia uma pessoa fina e muito educada.
__ Não costumo vir a lugares como este. Mas meu primo insistiu tanto que acabei vindo com ele. Ainda bem, só assim pude conhecer você, Hermione.
__ Qual deles é seu primo?
__ Aquele que está ali, dançando com sua amiga.
Selma dançava animadamente com um rapaz alto e claro, piscando para Hermione cada vez que passavam por eles. Era evidente que estava orgulhosa pela nova conquista.
__ Que tal bebermos alguma coisa? – perguntou Brian, quando a música acabou.
__ Ótima idéia.
Finalmente achara uma companhia agradável, um rapaz educado e bonito que a tratava com gentileza. Foram até o outro salão, onde eram servidas as bebidas, e sentaram-se numa das pequenas mesas do bar.
__ Como é seu nome?
__ Hermione Granger. E o seu?
__ Sou Brian Walker. Estou aqui de férias, moro em Londres.
__ Férias em Ampthull?
O rapaz confirmou sorrindo.
__ Vim visitar meus tios e meu primo Raul. Na verdade, mandaram-me para cá para criar juízo. É que acabo de ingressar na Escola de Teatro e minha família queria que eu fosse médico, como meu pai e meus dois irmãos. Só que três médicos já estão suficientes para uma família, você não acha?
__ Creio que sim - respondeu Hermione, sorrindo com simpatia.
__ Além do mais, detesto ver sangue.
__ Essa qualidade não é muito recomendável para um médico...
__ Pois é. Mas eles não acham, apesar de tudo. Imagine que pediram até aos amigos de meu pai que falassem comigo. Não há jeito de se convencerem que é teatro o que eu quero.
__ Quem sabe se você conversasse com seus pais, bem a sério...
__ Já tentei, não se convencem. Mas vamos mudar de assunto. Não quero ficar aborrecendo você com problemas.
O que ele não sabia era que Hermione achava ótimo falar sobre os problemas dos outros. Pelo menos mantinha o dela afastado por algum tempo.
__ Nada disso, o assunto me interessa. Diga, quando começam as aulas na Escola de Teatro?
__ No próximo mês. Mas agora fale um pouco de você.
__ Não há muito o que contar.
__ Diga o que você faz de onde é...
Com rápidas pinceladas, Hermione contou sobre ela. Não havia mesmo muito a falar, pois sua vida até agora correra sem muitas emoções. Claro que não falou de Harry.
__ Você parece estar escondendo algo.
__ Eu?
__ Sim senhora. Diga-me: ele magoou muito você?
__ Ele, quem? Não... Ah... Sim magoou muito mesmo.
__ Desgraçado!
__ Ora, não se pode forçar ninguém a sentir amor, não é mesmo?
__ Pois eu acho impossível alguém não amar você, se quer saber minha opinião.
__ Mas ele não amou. Olhe eu acho melhor não continuar com esse assunto.
__ Concordo. Não vou querer mesmo discutir sobre meu rival. – Brian lhe dirigia um sorriso compreensivo. __ Quer dançar?
Viram-se diversas vezes durante o mês de férias. Brian era alegre e carinhoso. Demonstrava gostar sinceramente de Hermione. Às vezes, a beijava com grande carinho, mas sem exigir nada além de um simples beijo. Depois das carícias arrebatadoras de Harry, era bom estar ao lado de um homem que não forçava tanto as coisas.
A Casa do Pomar permanecia vazia, sem outros inquilinos ou qualquer movimento que denotasse estar para ser alugada ou vendida. Permanecia ali, sombria, como uma triste lembrança do engano e da frustração de Hermione, Brian nunca lhe despertaria qualquer sentimento parecido ao que Harry havia provocado em seu coração.
__ Por que você não me beija direito? – reclamou Brian, numa noite em que estavam juntos e ela evitava maior proximidade.
__ Perdoe, Brian, eu...
__ Dá a impressão que você não quer nada comigo. Será que não percebe o quanto estou interessado em você?
__ Não, Brian. Achei que éramos apenas amigos.
__ Não pode ser, Hermione. Estou apaixonado por você. Não posso acreditar que você não tenha percebido.
Claro que ela havia percebido. Só que gostava tanto de sair com ele, por sua boa companhia e bom humor, que desejava nunca ter que colocar as coisas nesses termos. Preferia ter um bom amigo a um namorado cujo amor não poderia retribuir.
__ Sabe que até falei a meus pais sobre você? E eles disseram que no fim do mês, virão para conhecê-la. Tudo isso é muito sério para mim Hermione.
__ Ora, Brian. Não devia ter falado com eles sem me consultar.
__ Estou dizendo que isto é sério. Eu... Bem... Disse a eles que estava pensando em... Em... Pedir você em casamento, pronto!
__ Brian, isso é ridículo, Ninguém se enamora em apenas dez dias, ponto de saber se quer casar!
__ Pois eu estou suficientemente apaixonado para isso. Por favor, Hermione, deixe-me apresentá-la a meus pais. Eles estão ansiosos para conhecê-la.
Pelo que pudera saber, os pais de Brian eram da alta sociedade e tinham grandes expectativas com relação a Brian, seu filho caçula. Certamente, viram a Ampthull, muito mais para dissuadi-lo do que para conhecer Hermione. Imaginem seu filho envolvido com uma moça simplória, do interior.
__ Não posso, Brian. É muito cedo para saber o que é que sentimos um pelo outro e na seria justo colocar seus pais nisso tudo. Ele ficou pensativo por alguns instantes, com o semblante carregado. Depois procurou sorrir, dizendo:
__ Está bem. Mas seu eu conseguir cancelar a vinda deles você promete que vai a Londres, assim que for possível?
Londres... Harry estava em Londres, ela sabia disso. Mas, claro que não havia possibilidade de encontrá-lo, numa cidade daquele tamanho. Por isso poderia ir tranqüila.
__ Sem prometer, Brian. Vou pensar no caso.
__ Está bem, Hermione. Vou lhe dar mais tempo. Só quero que saiba que não vou mudar de idéia.
As férias de Brian terminaram e ele voltou para Londres. Telefonava quase diariamente, dando a entender que não havia mesmo mudado de idéia. Ela sentia falta dele, do seu companheirismo, do seu bom humor e de toda a atenção que ele lhe havia dedicado. Mas nada que se aproximasse ao que sentira por Harry.
__ É um bom rapaz. – comentou sua mãe um dia, assim que desligou o telefone, depois de falar com Brian. Seus pais estavam satisfeitos com essa amizade, principalmente depois de tê-la visto sofrer tanto tempo por causa de Harry.
__ É mesmo?
__ Você não parece muito entusiasmada, querida.
__ Gosto dele, mãe. Só não tenho certeza se quero que ele leve nosso caso tão a sério.
__ E ele está levando?
__ Parece que sim. Insiste em que eu vá à casa de seus pais, em Londres para passar um fim de semana e conhecê-los.
__ E você, está com vontade de ir?
__ Eu... Eu não sei mãe. Estou muito confusa. Depois de tudo o que aconteceu, não sei mais o que sinto. – Ela ainda amava Harry com todas as forças do seu coração, apesar de não ter nenhuma esperança. Por outro lado, também gostava de Brian, achava-o carinhoso e bom.
__ Quem sabe se um fim de semana em Londres não seria exatamente o que você precisa meu bem? Isso pode ajudá-la a decidir-se. Você conhecerá melhor Brian e sua família; verá como eles vivem e, quem sabe, consiga chegar a alguma conclusão?
__ A senhora não acha que conhecer os pais dele é um pouco formal demais? Não cria um certo compromisso?
__ Não vejo por quê. Você não trouxe Brian aqui em casa, para que o conhecêssemos? Afinal, não vai ser só por isso que eles concluirão que você decidiu casar com Brian.
__ Acho que a senhora tem razão, mãe. Será que papai vai concordar?
__ Deixe seu pai comigo. Combine as coisas com Brian que o resto eu ajeito.
E foi exatamente o que aconteceu. O pai aceitou tão bem a idéia que foi levar Hermione à estação. Brian se ofereceu para vir buscá-la, mas ela preferiu ir de trem para não fazê-lo dirigir tanto tempo.
Ele estava à sua espera na estação de Londres. Abraçaram-se e beijaram-se com alegria, pelo reencontro. Talvez Hermione aprendesse a amar Brian, apesar de tudo. Fazia só dois meses que Harry se fora e, quem sabe, ainda não tivera tempo para esquecê-lo. Mais já se sentia muito feliz por estar com Brian de novo.
A casa da família Walker era tudo aquilo que ele havia imaginado. Localizava-se num bairro fino, em meio a um enorme parque, e tinha inúmeros criados, Isso incomodava Hermione, que não estava acostumada a ter alguém a seu serviço.
Os pais de Brian não estavam em casa quando ela chegou. Tinham ido a um almoço beneficente, por isso foi o próprio Brian que a levou até o quarto que iria ocupar.
__ É o nosso melhor quarto de hóspedes. – informou orgulhoso.
De fato era lindo. Um grosso tapete cobria o assoalho, combinando com as cortinas impecavelmente arrumadas. A mobília, da melhor qualidade, formava um ambiente muito requintado. E tinha um banheiro privativo, um luxo que Hermione desconhecia, acostumada a brigar com todos da família para poder usar o único de sua casa.
__ Mais tarde vou apresentá-la a meus irmãos. – disse Brian. __ Eles são casados e virão para o jantar com as esposas.
Parecia mesmo um encontro muito formal para sua apresentação.
__ Tudo isso por minha causa? É muito incômodo e não é necessário.
__ Nada disso, Hermione. É que vamos ter uma festa aqui em casa, hoje á noite. É aniversário de casamento de meus pais.
__ Oh, Brian. Por que não me avisou? Não comprei nenhuma lembrancinha.
__ Eles não esperam que você lhes dê nada, Hermione. – O rapaz ficou um pouco encabulado. __ Quando você disse que vinha neste fim de semana, não quis lhe avisar sobre o aniversário. Você era capaz de desistir.
__ Eu teria vindo outro dia.
__ Foi o que pensei. Mas não se preocupe. É só uma reuniãozinha para cinqüenta pessoas, nada mais.
__ Cinqüenta? Você chama isto de reuniãozinha?
__ Para nossa família é. Em geral nossas festas têm algumas centenas de pessoas. É que mamãe não tem estado muito bem ultimamente, por isso não convidou muita gente. Por falar nisso, sabe que acabaram aceitando que eu vá para a Escola de Teatro?
__ Que bom! Não criaram mais caso?
__ Mais ou menos... Conseguimos chegar a um acordo. Fico lá um ano e, se não der certo, vou estudar Medicina, como eles querem.
À tarde, Hermione conheceu os pais de Brian. Esperava encontrar pessoas arrogantes e um tanto dominadoras. Mas, para sua surpresa, as coisas eram diferentes. Alice Walker era uma mulher gentil e suave, ainda muito bonita, apesar de seus cinqüenta e cinco anos, e tratava o marido e as demais pessoas com enorme carinho. John Walker, por sua vez, era um senhor seguro de si, mas não arrogante e não escondia o fato de ainda amar a esposa e de se orgulhar muito dos três filhos que ela lhe dera.
Mas os irmãos de Brian eram bem diferentes. Tinham um ar convencido e até mesmo um pouco esnobe. Andrew estava casado com Dulcie, uma mulher muito bonita e ciente de sua beleza, que procurava dominar o marido. June, ao contrário, parecia mais tímida e seu jeito com Richard, seu marido, e com todas as outras pessoas, agradou mais a Hermione.
Durante o jantar, as coisas transcorreram normalmente, como se todos achassem muito natural Brian ter convidado uma namorada para a ocasião. Talvez fosse mesmo seu hábito apresentar sempre as namorada à família.
Assim que terminaram a refeição, o Sr. Walker e os filhos mais velhos começaram a conversar acaloradamente sobre Medicina, Brian se aproximou de Hermione dizendo:
__ Lá vão eles outra vez. Sempre falando no mesmo assunto.
__ Não seja injusto, Brian. – interrompeu Dulcie, com ar de superioridade. Seu cabelo loiro emoldurava um rosto belo e cuidadosamente maquilado. – Afinal, você vai conseguir algo nessa Escola de Teatro?
__ Não sei, mas será diferente... – Riu Brian.
__ Pois eu acho o teatro bem pior que a Medicina, não concorda June? – Dulcie procurava a cumplicidade da cunhada, que até agora estava em silêncio.
__ Bem... Eu não sei. Isso depende do que Brian gosta.
__ Ora Brian quer sempre algo diferente. Hoje é o teatro, amanhã será outra coisa. Não me espantaria nada se daqui a pouco resolvesse entrar para um desses horríveis conjuntos de rock.
__ Não seja boba! Sou velho demais para isso. Depois dos dezenove anos ninguém mais é aceito no mundo do Rock. – Brian sabia levar a questão na esportiva e ria muito, enquanto falava. Isso parecia aumentar a raiva de Dulcie.
__ Seus pais deviam obrigá-lo a cursar Medicina. Pelo menos assim, quem sabe, você assentava a cabeça.
__ Pois não foi isso o que aconteceu com James, não é mesmo?
A faculdade não adiantou nada, no caso dele.
__ Não fale mal de James. Ele não teve culpa nenhuma. Aquela mulher é que não soube se comportar como esposa de um médico. Ainda mais de um médico famoso como ele. – disse June.
__ Então, como você explica que Melinda o tenha abandonado por outro que também era médico? Acho que o problema ali não era a profissão – falou Dulcie.
__ Melinda era uma mulher sem caráter. E por favor, gostaria que não continuássemos a falar nesse tom do meu irmão. – disse June.
Hermione olhou espantada para a moça que, até então, lhe parecera tão submissa e apagada. Pelo visto, sabia se impor quando era necessário, e Hermione sentiu muito respeito por sua atitude. June se parecia e muito mais com Alice Walker do que seus próprios filhos. Ela também sabia intervir com firmeza na hora certa, mantendo a calma que os demais pareciam estar perdendo.
__ Desculpe, June. – Brian voltou a falar, agora em tom carinhoso.
__ Pobre James, sinto tanta pena dele! - Era Dulcie, novamente colocando sua superioridade.
__ Ele não precisa de pena, nem sua, nem de ninguém. Sabe muito bem se defender. – respondeu June com firmeza.
__ Será que ele virá, com Sheila, hoje à noite? - perguntou Dulcie.
__ Claro que sim. Afinal, ela é minha cunhada, não? – June continuava a se impor.
Hermione não tinha a menor idéia de quem seria James, Melinda ou Sheila. Mas ao que tudo indicava, a história não era muito difícil de descobrir. James devia ser uma pessoa bastante controvertida. Algum médico importante, irmão de June, que havia sido abandonado pela esposa, chamada Melinda. Para consolar-se, ele a substituiu por outra, chamada Sheila. Que novela! Esse James devia ser mesmo uma figura curiosa e volúvel.
__ Um grupinho indiscreto, não? – disse Brian, quando ficou a sós com Hermione.
__ É ... um pouco.
__ Percebi que ficou surpresa com a atitude de June. Acertei?
__ Acertou. Não esperava que ela fosse tão decidida. Ela não dá essa impressão, à primeira vista.
__ Mas. Na verdade, ela comanda a casa. Richard jamais ousaria contrariá-la, por que sabe que ela, com aquele jeito tímido e quieto, pode se transformar numa fera se for agredida. Ela adora o irmão James e não admite que o
critiquem.
__ Esse James era casado com Melinda?
__ Mais ou menos. É um caso meio complicado.
__ Sei! – disse Hermione, corando.
A conversa não pôde continuar, pois o pai de Brian fazia sinal para que fossem cumprimentar alguns convidados que acabam de chegar. Hermione pediu a Brian que fosse sozinho. Ela preferia não aparecer, para não dar a impressão de que já fazia parte da família. Afinal, ainda não queria assumir nenhum compromisso com Brian. De onde estava, viu-o reunir-se aos pais, a Dulcie e aos demais parentes, para cumprimentar os recém-chegados. Realmente, essa família pertencia a uma classe social muito diferente da dela. Apesar de toda a gentileza de Brian, era evidente que ele não era o rapaz certo para ela, que nunca se adaptaria a um ambiente requintado e luxuoso como aquele. Praticamente, passava despercebida, apesar de ter vestido seu melhor traje e de haver se esmerado na maquilagem. Sentiu-se aliviada, quando Brian finalmente voltou. Parecia que os demais faziam questão de não lhe dirigir a palavra.
__ Como é, já chegaram todos? – ela perguntou, quando ele se aproximou.
__ Todos, menos Sheila e James. Talvez não venham hoje. Ultimamente não estão muito interessados em festas e reuniões familiares.
Tudo indicava que deviam ser recém-casados e é claro, preferiam ficar a sós. June se aproximou de Hermione e começou a conversar. Falava com calma e simpatia, suas características principais quando não era irritada.
Foi então que entrou na sala a mulher mais bonita que Hermione já vira. Era uma figura linda, de cabelos sedosos, vermelhos como fogo, que acentuavam suas feições nobres. O corte impecável do vestido de seda preta realçava um corpo perfeito e esguio, com pernas longas e bem torneadas. June olhou para a mulher e sorriu.
__ Venha Hermione, venha conhecer minha cunhada.
Então essa era a famosa Sheila? Mas onde estaria James?
__ Atrasou-se um pouco, mas virá logo. – esclareceu Sheila.
__ Sheila, esta é Hermione, uma amiga de Brian. – June se encarregava de fazer a apresentação.
Os olhos muito verdes e profundos de Sheila focalizaram Hermione, enquanto estendia a mão.
__ Prazer em conhecê-la.
__ Mas, diga-me, o que foi que aconteceu com James, desta vez, para que esteja tão atrasado? – perguntou June.
__ Ah! Querida. Você conhece seu irmão, sabe como ele é.
__ Não me diga que ele resolveu sair da cidade outra vez.
__ Não. Logo ele estará aqui.
Discretamente, Hermione foi se afastando das duas mulheres. A ausência de James, fosse lá quem fosse, parecia preocupá-las muito e perturbar o ambiente. Na verdade, Hermione não estava gostando da festa. Dava a impressão que a metade dos convidados era formada por médicos e, a outra, por suas esposas. Ninguém parecia ter outros interesses. Era de admirar que Brian tivesse conseguido decidir-se pelo teatro.
Hermione sentiu o corpo paralisado e ficou perplexa ao ver o homem que acabava de entrar na sala, naquele momento, e que se dirigia ao Sr. Walker para cumprimentá-lo. Andava com passos largos e elegantes, tinha porte majestoso em seu terno escuro, de fina qualidade, e sua camisa de seda branca. Tinha cabelos negros e o rosto impecavelmente barbeado. Nada que lembrasse a figura sombria eu ela vira na Casa do Pomar... E, no entanto, era Harry. Sim, o próprio Harry. Só que nada restava do homem que ela havia conhecido e amado. Agora uma figura imponente, sofisticada e inacessível. Movia-se com desenvoltura, o que mostrava que as fraturas já haviam sarado.
Hermione afastou-se mais, para que ele não a visse. Observava de longe, enquanto ele conversava animadamente com os donos da casa, June e Sheila. Parecia totalmente à vontade com eles. Pelo visto, fazia parte do ambiente dessa casa há muito tempo.
__ Onde esteve se escondendo? Procurei por você por toda parte. – Era Brian que se aproximava, passando-lhe o braço pelos ombros.
__ Estive aqui, observando a festa. Brian, quem é aquele homem ali, conversando com June?
__ James Potter, o tão falado...
__ É ele?
__ Sim, o convidado mais ilustre de hoje. Ele já escreveu vários livros sobre suas especialidades em Medicina. Meu pai costuma consultá-lo sempre que tem dúvidas sobre algum problema com seus pacientes. Diz que ele é muito eficiente, brilhante mesmo.
Hermione sentiu o mundo se evaporar à sua volta, como se a realidade fosse desaparecendo e dando lugar a um sonho distante, um pesadelo no qual ela estava incluída. Encontrar Harry, logo ali, numa cidade onde viviam milhões de pessoas, parecia algo impossível! Mas ali estava ele, o próprio Harry, naquela mesma casa, por uma incrível coincidência convidado para a mesma festa. Só que ali seu nome não era Harry, era James.
Brian retirou duas taças de champanhe da bandeja que um dos garçons distribuía. Agora que o principal convidado havia chegado, iam fazer um brinde ao casal aniversariante. Harry foi o primeiro a erguer sua taça, cumprimentando os pais de Brian com palavras carinhosas e falando com desembaraço, como se estivesse acostumado a discursar em público. Hermione reconheceu aquela mesma voz, suave e profunda, pela qual se apaixonara. Só que desta vez ela não conseguia ouvir sequer uma palavra. Sua mente estava confusa e os pensamentos embaralhados.
Saber que o Harry que ela tanto amara era, na verdade, o famoso médico James Potter já representava um choque. E o trauma ficava ainda maior por saber que ele era casado com a fulgurante Sheila. Isso Hermione nunca poderia perdoar.
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N/A: Desculpem a grende demora, mas agora jah acabaram minhas provas e estou mais livre pra postar...
Enfim, como recompensa vou postar o próximo até sabado!
É isso... BjOs e Comentem.! =D
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