A história de Sirius

A história de Sirius



Sophie ajeitou-se na cama, e Sirius voltou a falar.
- Conheci sua mãe quando entramos para Hogwarts, nós fomos selecionados para a mesma casa, por sinal, a mesma para a qual você foi selecionada também. Apesar de ter um temperamento forte, ela era uma das meninas mais doces que eu já conheci, embora a nossa relação não fosse das mais amigáveis. Ela me achava convencido e arrogante, o que na verdade eu era mesmo, e eu a achava um pouco séria e certinha demais. Apesar de ela ser linda, eu nunca dei em cima dela. Ela e Lily eram proibidas para mim.
- Por quê?
- Bem, Lilian, por causa do Tiago, é claro, e Isabelle... quanto a ela, haviam dois motivos. Primeiro, por causa do Remo. Ele era meio afim dela desde o instante em que se conheceram.
- Sério? - perguntou Sophie, de olhos arregalados, ao que Sirius assentiu - E o outro?
- Bem... nem eu sei direito. Eu só... sentia que não podia agir com ela da mesma forma, cafajeste, diga-se de passagem, que eu agia com as garotas com quem eu saía. E assim passamos seis anos de relativa tranquilidade. Eu, junto com os Marotos, aprontando todas aquelas coisas que eu e Remo contamos a você naquele outro dia, e ela, junto com a Lily, de quem se tornou amiga logo nos primeiros dias, sendo... bem sendo uma enorme CDF.
Sophie riu.
- Mas minha história com sua mãe começou mesmo no nosso último ano em Hogwarts. Ela saiu de casa, como eu havia feito no ano anterior, e acho que essa semelhança foi o que primeiro nos uniu. Nos tornamos amigos, e como a Lily e o Tiago finalmente tinham se entendido e agora passavam muito tempo juntos, nós dois também passamos a ser vistos juntos com freqüência.
- E como descobriram que gostavam um do outro?
- Isso demorou bastante, pra mim pelo menos. Ela descobriu que gostava de mim bem antes, mas nunca disse nada, guardou esse sentimento pra si mesma durante muito tempo, enquanto eu a magoava constantemente, me gabando e desfilando pela escola com as minhas conquistas.
- E você não percebeu nada?
- Não. Como eu já disse, era egoísta demais para enxergar o que estava acontecendo com ela, embora eu ache, que mesmo que fosse diferente, não teria percebido. Ela era muito reservada quanto a esse assunto, até mesmo com a Lily.
- Mas então quando aconteceu?
- Na nossa formatura. Eu só fui perceber o quanto ela era importante para mim na nossa festa de formatura, enquanto dançava com a sua “outra mãe”, Annelise.
- Hã?
- Annelise foi o meu par no baile de formatura, e no início, eu estava realmente me divertindo com ela. Mas então algo me fez perceber que estava fazendo tudo errado.
- O quê?
- Um beijo. Beijei Annelise enquanto dançávamos, mas quando abri os olhos, me peguei desejando ver Isabelle ali. Só então me dei conta.
- De que gostava de Isabelle.
- Não. Isso eu já sabia, sabia que gostava muito dela, que ela era importante pra mim. Mas naquele momento eu soube que não era apenas como amiga, eu finalmente percebi que a amava, que precisava dela ali, comigo. Deixei Annelise e fui procurá-la, mas não a encontrei em parte alguma do salão. Quando perguntei a Lily onde ela estava ouvi algumas das palavras que mais me machucaram em toda a minha vida. Ela estava na rua, sozinha, chorando, segundo as palavras da Lily, mais uma vez, por minha causa.
- E o que você fez?
- Saí feito um doido do Grande Salão, direto para os jardins, procurando ela por todo o lado. Quando a encontrei, tão linda e tão triste, disse que a amava, implorei seu perdão, pedi que ficasse comigo.
- E ela aceitou.
- Sim. Nós fugimos da festa e fomos para a torre da Grifinória. Ela dormiu comigo naquela noite. Lembro que eu demorei a dormir, ficava observando ela dormindo, vestida com as minhas roupas, enormes nela, e com a cabeça no meu peito, e pensava no quanto havia sido estúpido por não tê-la enxergado antes. E vendo-a dormir, eu soube que ela era a única mulher para mim, e que a amaria para sempre.
Parte da história de sua própria vida ia aos poucos sendo revelada, e Sophie tentava reter cada detalhe de tudo o que Sirius ia lhe contando. As horas passavam, mas nenhum dos dois percebia.
- Nós fomos morar juntos, quando deixamos Hogwarts, e tudo aconteceu muito rápido. Menos de um ano depois, descobrimos que ela estava grávida, e apenas alguns meses depois disso, Lily soube que estava grávida também. Então você nasceu, e depois Harry, e éramos Isabelle e eu, e Lily e Tiago, apesar da guerra e de todos os problemas, as pessoas mais felizes do mundo. Mas nossa felicidade não durou muito tempo. Descobrimos que Voldemort estava atrás dos Potter, mais exatamente de Harry e tudo começou a se complicar. Eles tinham de estar sempre escondidos e fugindo constantemente, e poucas pessoas conheciam a localização dos esconderijos. Nós sempre sabíamos. Então, pouco depois do seu primeiro aniversário, comensais invadiram a nossa casa. Sua mãe teve apenas tempo de proteger você, e acabou sendo capturada. Eles tentaram arrancar-lhe informações, mas ela nada disse, então a mataram.
Sirius abaixou a cabeça, e respirou fundo. Depois, voltou a fitar Sophie.
- Eu fiquei desesperado. Se não fosse por você, acho que não teria sobrevivido à perda de sua mãe. Mas eu tinha você. Eu tinha uma linda menininha de um ano pra cuidar, e foi o que eu fiz. Você se tornou minha vida, e eu passei a viver para você e por você. Mas eu sabia que junto a mim você corria perigo, e que eu não podia protegê-la o tempo todo. Então sua mãe Annelise entrou em nossas vidas. Ela sugeriu que eu deixasse você sob seus cuidados, disse que você poderia ficar na casa da mãe dela, sua “avó” Violet, pois lá você seria bem cuidada, principalmente, estaria em segurança. E eu tive então que tomar a decisão mais difícil da minha vida; tinha que me afastar de você, para dessa forma poder protegê-la.
Sophie ouvia embevecida a tudo o que Sirius dizia, e em alguns momentos, sentiu as lágrimas aflorarem aos olhos. Mas segurou-as, temendo que isso fizesse o homem parar de falar.
- A partir daí, meu mundo começou a desmoronar. Nós sabíamos que havia um traidor, mas não sabíamos quem era. Pedro, de quem ninguém desconfiava, entregou os Potter a Voldemort, e o resto desta história você conhece. Eu fiquei louco, e fui atrás dele, mas acabei sendo preso, como você também sabe. E eu tive tanto medo, medo de que algum de seus avós, tanto meus pais quanto o pai de Isabelle, tentassem ficar com você, e tentar fazer de você o que não conseguiram fazer de mim ou de sua mãe. Mas Annelise apareceu, para me salvar mais uma vez. Pouco depois da minha prisão, ela foi até Azkaban. Ela pediu que eu não me preocupasse, que tomaria conta de você, como se fosse realmente sua filha, e eu pedi a ela que não contasse sobre mim a você. Meu consolo foi saber que você estaria bem, sendo amada e bem cuidada, mesmo que não fosse por mim. Naquele momento, Zoe Niniane Black deixava de existir, e você passou a ser Sophie D'Argento.
Bastante tempo já havia passado, e os dois continuavam ali, absortos na conversa. Sophie ouvia, em silêncio, embevecida, a história de seus pais pela primeira vez.
- E eu achei que a tinha perdido para sempre, mas então você apareceu, tão crescida, e linda como sua mãe, e Dumbledore me proibiu de contar a verdade a você.
- Por quê? - perguntou a garota, surpresa.
- Ele disse que você descobriria sozinha, - explicou Sirius - e que seria melhor assim. Bem, ele tinha razão, você descobriu.
- É. - confirmou ela, vagamente.
- E essa é a história, a minha, a nossa história. - disse ele - É o que eu tinha para lhe contar.
- Eu... eu nem sei o que dizer... - disse Sophie, hesitante. Ela ainda tentava assimilar tudo o que ouvira.
- Eu sei que já falei muito por hoje, Sophie, mas tenho mais uma coisa a dizer, na verdade a pedir a você. - disse Sirius, tomando as mãos dela entre as suas.
- O quê? - perguntou a garota, disse ela, fitando suas mãos unidas às do homem.
- Me perdoa, filha, - disse ele, a voz trêmula - me perdoa por não ter estado ao seu lado todos estes anos, por não ter cuidado de você... eu faria qualquer coisa pra ouvir você dizer que me perdoa.
- Você só precisa fazer uma coisa. - olhando bem dentro dos olhos de Sirius, aqueles olhos tão iguais aos seus.
- Pede. Qualquer coisa.
Sirius se surpreendeu quando a garota enlaçou seu pescoço em um abraço apertado e começou a falar, com a voz embargada.
- Promete que não vai mais me deixar. - ela pediu - Que nunca vai me deixar pra trás, nunca mais vai sair de perto de mim.
- Nunca mais, - disse ele, abraçando-a de volta, e acariciando os longos cabelos da garota - eu prometo.

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