Salvando Sirius
A visão que Sophie teve ao chegar no Ministério era terrível; o átrio estava totalmente destruído, a bela fonte dourada, quebrada, assim como todos os vidros do lugar. Mas isto não era o pior.
Harry jazia no chão, se contorcendo em visível agonia. Dumbledore, ao seu lado, parecia segredar algo ao garoto; um pouco distantes, Hermione, Gina, Neville e Rony assistiam à cena, impotentes. Ela compreendeu imediatamente o que se passava. Fora uma manobra extrememente inteligente de Voldemort. Porém, não infalível.
- Harry... – chamava Dumbledore – Harry, me ouça. Não são as semelhanças entre vocês, as diferenças é que importam.
A voz de Dumbledore parecia vir de tão longe, Harry mal conseguia ouvi-lo, tamanha era a dor que sentia. A odiada voz de Voldemort ecoava em sua cabeça.
“Tão fraco...”
- Harry! – Sophie gritou – Você pode com ele, Harry! Pode porque é mais forte. Pode porque tem algo que ele não tem!
Harry desviou seu olhar para a garota, depois para os demais amigos, que o observavam com carinho, medo e preocupação.
- Você é o fraco, – murmurou ele – porque não conhece o amor, ou a amizade. E eu tenho pena de você.
Uma dor intensa transpassou a cicatriz de Harry, que em um último espasmo, ficou de bruços, com o rosto no chão gelado do átrio. O calor começou a voltar ao corpo do garoto, e ele soube que havia acabado, havia escapado mais uma vez. Ele ainda viu um relance do vulto negro que era Voldemort, antes que ele agarrasse Bellatrix e desaparatasse.
O átrio estava agora cheio de gente. Dezenas de bruxos e bruxas emergiam das lareiras, observando tudo com ares de espanto e terror.
- Por Merlin! Era Você-Sabe-Quem! - exclamou um.
- Eu o vi! Era ele! - gritou uma bruxa baixinha - Agarrou a mulher e desaparatou!
- Era Bellatrix Lestrange, a que fugiu de Azkaban!
O ministro, Cornélio Fudge, estava entre os que agora apinhavam o átrio destruído, e tudo o que conseguiu dizer, em seu espanto foi “Ele voltou!”
- Você está bem, Harry? - Dumbledore perguntou.
- S-Sim, mas... onde... onde ele...
- Harry! - Sophie havia se aproximado correndo, e se ajoelhou ao lado do garoto.
- Soph? O que... o que está fazendo aqui?
- Eu precisava vir. Como você está? - perguntou a garota, apalpando-o para verificar se não tinha febre, ou algum machucado sério.
- E-Eu estou bem.
Dumbledore deixou Harry sob os cuidados de Sophie, e se dirigiu a Fudge.
- Se você descer ao Departamento de Mistérios, Cornélio, encontrará vários Comensais da Morte fugitivos, que invadiram o Ministério esta noite, junto com seu mestre. Eles estão presos por um Feitiço Anti-Aparatação, na Sala da Morte, aguardando uma decisão sua, sobre o que fazer com eles.
Tonks, Kingsley e Lupin apareceram no átrio, e foram até os demais jovens, para certificarem-se de que estavam todos bem. Tonks tinha uma expressão de tristeza no rosto, o que fez Sophie lembrar de algo.
- Sirius. Onde ele está? - perguntou a garota, os olhos percorrendo todo o átrio, em busca de Sirius.
- Sophie... eu... realmente não... - começou Harry, num murmúrio, causando um novo aperto no peito da garota.
- Você não entende! Eu preciso saber. - disse ela, agora encarando Harry.
- Ele... ele está... morto. - respondeu o garoto, num murmúrio.
- Morto? Não... não pode ser. - disse a garota, parecendo muito abalada - Não agora...
Tentando não pensar naquele assunto, que lhe era doloroso, Harry voltou sua atenção para Dumbledore, que ainda falava com Fudge.
- Dumbledore... você me deve explicações... - balbuciava o ministro - eu... o átrio, a fonte...
- Isto não será possível, no momento. - disse Dumbledore, calmamente - Eu preciso levar Harry e os outros de volta a Hogwarts.
- Harry? Harry Potter? O que ele faz aqui? E estes outros?
Dumbledore ignorou a confusão do ministro e voltou a falar.
- Você dará a ordem para retirar Dolores Umbridge da escola...
- Você não... não pode falar assim comigo. Eu sou... o Ministro da Magia, e... exijo explicações.
- Eu lhe concederei uma hora do meu tempo, pela manhã, - disse o diretor, novamente ignorando os protestos de Fudge - para explicar o que aconteceu aqui esta noite, assim como tirar qualquer outra dúvida que possa ter. Mas, apenas pela manhã, pois como eu disse, tenho que cuidar dos meus alunos. Harry, aqui.
Ele pegou a cabeça da estátua do elfo, que fazia parte da fonte, agora em pedaços, e transformou em uma chave de portal, através da qual mandou Harry de volta a Hogwarts, onde o garoto deveria esperar por ele, em seu gabinete, para que pudessem conversar. Os demais seriam levados pelos aurores em aparatação acompanhada, e deveriam ir diretamente para a Ala Hospitalar da escola.
- Você não, Sophie. - disse Dumbledore, quando a garota se encaminhava para perto dos aurores -Você vem comigo. Há algo que precisamos fazer.
Kingsley e Tonks desaparataram, levando os demais jovens, e Dumbledore voltou-se para Lupin.
- E Sirius?
- Ele... está morto. - disse o homem, abatido.
- Como? - perguntou o diretor.
- Na Sala da Morte. Atrás do véu. - disse Remo.
- Vamos, Sophie. - disse Dumbledore, começando a andar em direção aos elevadores.
- Professor... - chamou a garota, baixinho, os olhos brilhantes de lágrimas.
- Não chore, minha querida. - disse Dumbledore, parando de andar - Ainda há uma esperança para ele.
- Há?
- Eu acredito que sim. Vamos torcer para que o meu palpite esteja certo.
Junto com Lupin, que os observava, curioso, mas sem nada dizer, os dois desceram até a sala onde estava a passagem em forma de arco. Lá, os comensais capturados, entre eles, Lúcio Malfoy, eram escoltados por aurores, que os levariam a Azkaban
- O que ela faz aqui, Alvo? - perguntou Moody, ao vê-los chegar - Por que a trouxe?
- Para salvar Sirius.
- Sirius está morto. - retrucou o auror, baixinho.
Sophie reprimiu um soluço.
- Não ainda. - disse Dumbledore, simplesmente.
- Eu vi quando o feitiço o atingiu, Alvo, - disse Remo - e quando ele atravessou o véu.
- Sirius não morrerá enquanto tiver o amuleto dado a ele por Isabelle.
- Amuleto? - perguntou Remo.
- A pedra, no colar. Isabelle não era tola, Remo, - disse Dumbledore - ela pôs um encanto de proteção sobre a pedra, um encanto poderoso.
- Mas... ainda que ele esteja vivo como você diz, não há como trazê-lo de volta. - disse Moody, cético.
- Há uma maneira. E é por isso que Sophie está aqui.
- Uma maneira? Qual?
- O sangue de Isabelle, utilizado no encanto lançado sobre a pedra, também está em Sophie. Ela tem o sangue dos dois, Remo. Sophie pode guiá-lo de volta.
- Ela será levada para dentro do véu, Alvo, como todos os que ousaram se aproximar demais. - disse Remo, preocupado.
- Não ela. Sophie não corre este risco. Ela pode se aproximar sem medo.
- Sabe que Sirius não permitiria que ela se arriscasse desta forma, Alvo. - disse Lupin, em tom de desaprovação.
- Pode mesmo ser feito? - Sophie perguntou ao diretor, ignorando as palavras do lobisomem.
- Sim, eu creio que sim. - respondeu Dumbledore.
- Então eu vou tentar.
- Sophie... - começou Lupin.
- Não vou perdê-lo de novo. - a voz dela estava embargada, mas firme, e ela encarava Lupin - Não se eu puder evitar. – voltou-se novamente para Dumbledore – Me diga o que fazer, professor.
Dumbledore se aproximou, junto com a garota, da passagem em forma de arco, mas parou a uma certa distância.
- Não ouso me aproximar mais. Chegue mais perto da passagem, Sophie, e ignore as vozes que vêm dela.
Sophie obedeceu às instruções, sem nada dizer. Estava a apenas alguns passos do arco, quando parou. Ouvia as vozes, suaves que vinham de dentro dele, e se esforçou por não prestar atenção a elas. Dumbledore não falava mais; de alguma forma, a garota já sabia o que fazer. Ergueu a mão da varinha, com a palma para cima e estendeu-a em direção ao véu que ainda ondulava. Quando falou, sua voz era firme.
- Sirius. Sirius Black, escuta-me. É tua filha, Zoe Niniane quem te chama. Eu te ordeno agora, ouve a minha voz, e atende ao meu chamado. Volta. Eu serei a tua guia. Volta, Sirius. Volta agora para o mundo ao qual pertences. Volta eu te ordeno.
E então, entre as ondulações do véu, uma mão surgiu, segurando a mão de Sophie com força. Como se flutuasse, Sirius Black saiu da passagem em forma de arco, e ao passar completamente por ela, caiu ao chão, de joelhos. O amuleto pendurado em seu pescoço se fez em pedaços, e ele tombou, desacordado. Da mesma forma, Sophie, completamente esgotada devido à enorme quantidade de energia consumida pelo feitiço, não teve tempo sequer de sentir-se feliz pelo sucesso em sua execução, pois caiu inconsciente ao chão, ainda segurando a mão do pai.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!