Capítulo 9



Por um instante, Hermione entregou-se à paixão, flutuando ao sabor daquele beijo. Quase se esquecera do perigo, mas o senso de auto preservação venceu a batalha. Quando as carícias tornaram-se mais atrevidas, ela afastou-se.
— Pare com isso. Estamos trabalhando — murmurou, as faces afogueadas.
Os lábios cheios e sensuais curvaram-se num sorriso divertido.
— Estraga-prazeres... Há poucos dias, você tentou me seduzir. Mudou de idéia?
— Aquilo foi apenas um deslize. Não tornará a acontecer. Palavra de escoteira. — Levou a mão ao coração para enfatizar o que dizia.
— Não precisa fazer promessas. Eu acredito.
— Precisamos pegar um seqüestrador, lembra-se? Não me distraia.
— Não estou acostumado a tanta inatividade — queixou-se ele.
— Nem eu, mas o que fazer? E parte do negócio. — Hermione espiou por sobre a duna e viu os garotos construindo um castelo na areia. Mas não havia sequer uma alma viva por perto. — Depois do que houve, talvez eles tenham desistido.
— Duvido. — Harry olhava em torno, sem deixar de proteger os olhos com a mão. — Marie quer dinheiro e fará tudo para consegui-lo. Carly sabe disso. Pobre criança, com freqüência, a mãe a decepciona. A última vez que viajei a negócios, antes do divórcio, Marie teve o descaramento de levar um de seus amiguinhos em casa. Quando cheguei, um dia antes do previsto, encontrei minha filha revoltada.
— E o que você fez? — indagou Hermione, chocada.
— O que você teria feito?
— Eu o teria expulsado.
— Foi exatamente o que fiz. Peguei-o pelo colarinho e atirei-o porta afora — disse ele, rindo.
— E sua esposa?
— Me ameaçou, fez as malas e saiu de casa.
Hermione rolou na areia. Os homens ficam vulneráveis quando sofrem uma traição.
— Doeu muito quando ela o deixou?
—Aquela altura eu já não a suportava mais. Casei porque era linda e envolvente, e por julgar que me amava, mas era o meu dinheiro que a atraía. O casamento foi um verdadeiro desastre.
— Lamento que não tenha tido sorte. Mas você tem Carly, e ela parece viver feliz a seu lado.
— Creio que sim. Não fui um pai muito constante no passado, e estou tentando recuperar o tempo perdido. — Ele a fitou, sorrindo. — E quanto a você e Kurt? Vivem bem com seus pais?
— Não podemos nos queixar — respondeu Hermione, sorrindo, o olhar perdido. — Nós nos entendemos e eu gosto de estar com a família.
— Pretende ter filhos?
— Muitos. Adoro crianças.
— Sei... — Harry se pôs admirá-la.
— Algo errado com meu rosto?
Em resposta, ele tocou-lhe gentilmente o rosto.
— Confesso que jamais conheci uma mulher como você, tão suave, doce, carinhosa... Não age como uma escritora famosa.
— Pois vou lhe dizer uma coisa. Conheço vários escritores famosos, e são todos muito legais.
— Também escrevem novelas de mistério?
— Não. Entre meus amigos, alguns se dedicam à ficção científica, outros preferem suspense e alguns são romancistas. Nós nos comunicamos via Internet e sempre acabamos mencionando o vilão da tal série de televisão. E a maioria é fã dele.
— Aquele que acham parecido comigo? — Harry quis saber. — Será que foi isso que a atraiu em mim?
— No início, talvez.
— E agora?
— Agora... — ela começou, mordendo o lábio. Seus olhos se encontraram, fazendo-a tremer de emoção. — Acho que é paixão — sussurrou.
— Paixão... — Harry a beijou de uma forma suave e terna, como jamais tinha feito antes. — Sabe que estou fazendo o possível para me reerguer, mas não existe nenhuma garantia de que conseguirei. Pode ser que você acabe vivendo ao lado de um simples programador.
O coração de Hermione deu um salto.
— O quê? Está se referindo a um relacionamento sério, permanente?
Ele assentiu.
— Estou.
— Está querendo que... vivamos juntos?
— Não.
Hermione corou.
— Desculpe, creio que me adiantei.
— E cedo ainda para grandes decisões. Mas você pode começar a pensar em casamento.
A surpresa deixou-a muda, e essa reação atingiu-o diretamente no orgulho. Obviamente, Hermione jamais havia considerado uma vida em comum com ele. Harry levantou-se e olhou para o mar, na direção dos garotos.
Ela não entendeu o estranho comportamento. Ergueu-se também, hesitante.
— Talvez você prefira continuar com o seu professorzinho. Afinal, tenho trinta e oito anos e você, vinte e quatro — disse ele, irritado.
— Mas eu não amo o professorzinho. — Hermione sentiu-o tão vulnerável que teve vontade de abraçá-lo. — Arrependeu-se do que disse?
— Não, mas você agiu como se a idéia fosse absurda!
— Confesso que a proposta me surpreendeu. Há apenas alguns dias você confessou que não pretendia tornar a se casar.
— Um homem diz muitas tolices quando percebe que está prestes a ser fisgado. Mas eu ainda não a pedi em casamento. Apenas sugeri que pensasse no assunto.
— Pois já pensei.
— E?
— Gosto de crianças — confessou ela, erguendo os olhos. — Quero ter uma dúzia delas. Ganho um bom dinheiro com meus livros e poderia sustentá-lo enquanto recupera seus milhões. Além disso, Carly também gosta de mim.
— Eu não sei... Você me deixa louco, mas casamento é algo muito sério.
— Concordo, mas sei que o nosso dará certo. Iremos nos amar, cuidaremos de Carly e Kurt. Teremos filhos e jamais o deixarei.
Ele a abraçou por um longo tempo, deliciando-se com a idéia. Hermione fechou os olhos e suspirou.
— Quando, então?
— Quando você quiser. Só precisamos tirar a licença. E fácil fazer isso, aqui no México. Depois é só comprar as alianças e organizar a festa. — Ele ergueu a cabeça. — Tenho uma casa em Chicago e um apartamento em Nova York. Vai gostar de fazer compras em Manhattam de vez em quando, ou de visitar seus editores.
— Você é meu príncipe encantado! — disse ela, rindo.
— Atualmente, estou mais para mendigo.
— Pois prefiro você pobre. Assim poderá ter certeza de que não me casarei por causa do seu dinheiro.
Os garotos aproximaram-se, para saber o motivo de tanto entusiasmo.
— Vamos nos casar — disse Harry, esquecendo que pedira a Hermione que pensasse no assunto. Olhou para Carly e respirou aliviado quando ela sorriu.
— Hermione vai ser minha madrasta? Que legal! — A menina se aproximou e abraçou-a. —Este foi o melhor presente de aniversário que já ganhei!
— Hoje é seu aniversário? Por que não me avisaram antes?
— Já comprei um bolo e o presente — Harry interveio.
— Vocês dois estão convidados para comemorar conosco.
— Já sei que presente vou lhe dar — disse Hermione. — Um CD-ROM de Marte.
— Adoro coisas espaciais — respondeu a aniversariante.
— Ficarei feliz em tê-la como enteada, Mas que tal esquecer essa coisa de madrasta? Seremos como mãe e filha, combinado? — sugeriu ela, abraçando a garota.
— Combinado!
— E eu? Como fico nessa história? — perguntou Kurt.
— Vou ter que ficar com... eles? — Arrastou a voz quando olhou para um ponto sobre o ombro de Hermione.
Ela voltou-se e deu com os pais, acenando da varanda da casa.
— Mas o que eles estão fazendo aqui? Algo deve ter acontecido!
Dan e Joan Granger ficaram fascinados com Harry Potter, a quem conheciam de nome. Saber que Hermione pretendia se casar com ele deixou-os sem fala.
— Mas vocês mal se conhecem! — ponderou Joan, atônita.
— Com tudo o que temos em comum, o casamento será um prazer eterno — afirmou Harry, e, de imediato, ganhou a simpatia da futura sogra.
Ela sorriu. Parecia-se com Hermione, com seus cabelos e olhos castanhos. Dan era alto e magro, grisalho e de olhos azuis. Parecia mais velho do que era, recostado à poltrona e bebendo água gelada diretamente da garrafa.
No meio da sala havia um imenso engradado.
— Foi por causa disto que voltamos — informou Dan, apontando para o engradado.
— O que há lá dentro? Algo especial? — perguntou Hermione.
— Algumas peças extraordinárias — respondeu Dan. — Tentamos contatar nosso homem no governo mexicano, mas o transmissor via satélite foi sabotado.
— Sabotado? — Hermione espantou-se. — Suspeitei que houvesse algum problema, mas não me ocorreu que fosse tão sério!
— Alguns malfeitores tentaram nos atacar — explicou Dan. — Chegaram a atirar em nós.
Hermione sentou-se, mal acreditando no que ouvia. Harry acomodou-se a seu lado.
— Pensamos bem e concluímos que seria mais prudente retornar à civilização — explicou Joan. — Partimos o mais rápido possível, mas infelizmente nos perdemos do guia. Ele vinha, com seu caminhão, atrás do jipe que alugamos, mas de repente não o vimos mais. Avisamos a polícia logo que chegamos. Prometeram que mandariam alguém.
— Se houver algo que eu possa fazer, contem comigo — ofereceu Harry.
— Ele conhece o presidente mexicano, e foi com sua ajuda que localizamos vocês — informou Hermione.
— Oh!
Os Granger, obviamente bem-impressionados, olhavam para Harry com interesse.
— Acham que os ladrões tentariam alguma coisa aqui em Cancun? — perguntou Hermione, assustada.
— Pelo que há dentro daquela caixa, a resposta é sim — informou Dan. — De certa forma, chego a lamentar termos encontrado relíquias tão brilhantes. Saímos de lá fugindo, mas tivemos tempo de mapear o local e tirar fotografias. Documentamos cada fase da escavação, para que nada fosse esquecido. Isso ajudará as futuras expedições.
— E o governo não vai querer tomar posse dessas peças? — perguntou Hermione.
— Certamente — respondeu Joan com um sorriso. — Mas era necessário trazê-las, a salvo dos ladrões.
Dan tirou uma pistola da cintura e colocou-a sobre a mesa.
— Para o fato de alguém ter nos seguido até aqui.
— Creio que estamos ficando velhos para tanta aventura — disse Joan, pegando a mão do esposo. — Espero que ninguém se machuque. Pensei em ficar em um hotel, para não envolvê-los.
— Fizeram bem em vir — afirmou Harry. — Contratei um segurança para vigiar minha casa. Não custa contratar outro para vigiar esta aqui.
— Por que sua casa precisa ser vigiada? — perguntou Joan, meio intrigada.
— Porque minha mãe tentou me seqüestrar — explicou Carly. — Hermione foi pega em meu lugar. Deram-lhe uma pancada na cabeça e ela teve que ir para o hospital.
— O quê? — Dan e Joan exclamaram ao mesmo tempo.
— Não foi grave e já estou bem — disse Hermione calmamente.
— Você e essa sua mania de detetive! — resmungou Joan. — Se optasse pela arqueologia, seria bem mais seguro!
— Sei. Mas foram vocês que quase levaram um tiro, lembra? Apenas por curiosidade... O que há naquela caixa?
— Várias peças: estatuetas fúnebres, cerâmicas, alguns objetos com inscrições maias e jóias incrustadas com pedras preciosas. Ah! E uma máscara fúnebre feita em ouro.
— Um verdadeiro tesouro! — exclamou Hermione.
— E tudo propriedade do governo mexicano. Esperamos poder ficar com um ou dois vasos, para doar à coleção da universidade. Mas isso as autoridades mexicanas decidirão.
— Considerando-se que foram vocês que descobriram o tesouro, creio que o governo não criará problemas — disse Harry. — Bem, preciso levar Carly para casa e dar alguns telefonemas. Foi um prazer conhecê-los. Nos veremos mais tarde.
— Acompanho vocês até a porta — ofereceu Hermione. Carly foi na frente. Harry passou o braço pelo ombro de Hermione, e puxou-a para si.
— A coisa está se complicando — murmurou ele,
— Tem razão. Talvez os seqüestradores desistam, com tanta vigilância.
— Ou quem sabe se juntem aos ladrões...
— Pare de ser pessimista! Tudo se resolverá. Precisa se resolver, e logo. Quero me casar.
— Que coincidência! Eu também. — Harry abaixou a cabeça e beijou-a carinhosamente. — Vá para casa.
— Tenha cuidado.
— Você também. Ligo mais tarde. Tranque as portas e as janelas. Vou dar alguns telefonemas e ver o que posso fazer para ajudar.
— Que tal mandar prender sua ex-esposa? — sugeriu Hermione.
Ele deu uma risadinha.
— A idéia é boa, mas não muito prática. Deve haver algum modo mais suave de desencorajá-la. — Beijou-a na ponta do nariz. — Vou acabar descobrindo. Mas, até lá, fique longe de encrencas.
— Digo o mesmo!


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N/A: Obrigada pelos comentários e desculpem pela demora!

BjOkss

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