Capítulo 6
Kurt ficou empolgado com a viagem. Na manhã seguinte, acordou bem cedo, aprontou-se e se pôs a esperar por Hermione, ansioso pela partida.
— E cedo ainda. Harry vai demorar — avisou ela.
— Mas eu prefiro estar pronto. Um Learjet de verdade! Ainda não consigo acreditar!
— Você e seus aviões... — murmurou ela ao preparar o café. — Por que não gosta de carrinhos?
— Por que você gosta de livros antigos?
— Sugerir algo a você é lutar contra o impossível!
Hermione, de short e camiseta branca, sua roupa de dormir, tinha os olhos sonolentos. Uma xícara de café a ajudaria a acordar.
— Será que estou ouvindo passos? — indagou Kurt, pulando da cadeira. — Vou ver. Deve ser Harry.
Inacreditavelmente, era.
— Por que não vai até minha casa e fica com Carly enquanto sua irmã se arruma? — indagou o recém-chegado. — Temos pão de queijo e rosquinhas para o café da manhã.
— Legal! Não demore, Hermione! — recomendou o garoto, saindo em disparada.
Hermione virou-se, disfarçando um bocejo, enquanto Harry entrava na cozinha.
— Desculpe. Eu não o esperava tão cedo.
— Pois acho que Kurt aguardava, sim. — Ele deu uma risadinha.
— Ele quase nem dormiu. Quer café?
Os olhos de Harry fixaram-se na camiseta branca de Hermione, sob a qual projetavam-se os seios. Ao perceber-lhe o olhar, ela deu-lhe as costas. Subitamente, mãos fortes agarraram-na nos ombros, obrigando-a a voltar-se. No instante seguinte, Harry colou os lábios nos dela e abraçou-a, prendendo-a à parede com os quadris.
Hermione podia ter desviado os lábios, ou mesmo o empurrado. Em vez disso, correspondia, adorando o calor, o sabor daqueles lábios. Seus corpos se adequavam perfeitamente. Era como se tivessem sido feitos um para o outro.
— Sente isso? — perguntou ele, pressionando-a. — Se não se afastar agora, vou lhe mostrar algumas coisas...
Hermione estava mais tentada do que nunca a deixá-lo continuar, e sua expressão demonstrava isso. Tanta vulnerabilidade o surpreendeu. Harry esperava que ela titubeasse, se rebelasse, exigisse desculpas.
— Bem, já descobrimos uma coisa. Tenho muita experiência e você, nenhuma. Juntos, somos explosivos. Isso é muito bom, mas poderíamos perder a cabeça e... você não é uma qualquer.
— O que está querendo dizer?
— Que, se você fosse uma mulher moderna, não seria virgem aos vinte e quatro anos. Pretende ter um relacionamento sério, não um passatempo, estou certo?
— Bem... Eu nunca analisei a questão dessa forma.
— Pois é melhor começar a fazer isso. Quero você, mas já fui casado e não gostei. Agora sou um homem livre e desejo permanecer assim.
— Entendo.
— Nunca fiz segredo disso. Se me aceitar, será um romance casual. Depois irei embora sem olhar para trás.
Hermione estava confusa. Desejava-o loucamente. Mas o que seria aquilo? Atração física? Uma espécie de adoração por um ídolo? Iria se contentar com o que ele propunha?
Passara a juventude e a vida adulta com os olhos pregados nos livros ou na tela de um computador. Não sabia o que era ser íntima de um homem, mas achava a intimidade solene demais para ser tratada de modo tão frio. No entanto, com ele, não conseguia pensar em outra coisa.
Harry tocou-lhe o rosto, carinhosamente.
— Quer saber? Se você passar uma noite em meus braços, por mais maravilhoso que seja, vai se encher de dúvidas e não ficará feliz consigo mesma. Por isso aconselho-a a pensar bem no assunto, para mais tarde não se arrepender. E como o rapaz de Indiana ficaria nessa história? Como irá se sentir, sabendo que tivemos um caso? Acha que superaria isso?
— Creio que não — disse ela, sem parar para pensar.
— Então, não se precipite.
Hermione suspirou. Harry fazia tudo parecer uma tremenda complicação. Ele a desejava, e no entanto tentava dissuadi-la.
— Apenas bons amigos — disse ela com um sorriso. — Velhos e bons amigos. Mas você precisa parar de me beijar senão enlouquecerei.
— Digo o mesmo — comentou ele, colocando as mãos nos bolsos. — Quanto a você, precisa parar de andar semi¬-nua quando eu estiver por perto.
— Eu não sabia que você apareceria tão cedo. Caso contrário, teria me vestido.
Ele deu uma risadinha.
— Então faça isso agora, antes que toda nossa boa vontade desapareça.
Hermione sorriu maliciosamente e o deixou.
A viagem foi ótima. Harry convidou Kurt para ocupar a cadeira, do co-piloto; os dois conversaram sobre aviões durante todo o percurso.
No aeroporto, esperava-os uma luxuosa limusine branca. Para Kurt, acostumado a andar em táxis e carros velhos, foi uma incrível aventura. Verificava cada detalhe do veiculo, sob o olhar divertido de Harry.
— E só um carro comprido — brincou ele.
— E a primeira vez que entro numa "limo", e pretendo "curtir" ao máximo — assegurou o menino.
Hermione, que costumava andar em limusines quando viajava, observava, enternecida, a satisfação do garoto.
— E então? Está gostando? — perguntou-lhe Harry. Ela sorriu.
— Na verdade, estou empolgada!
Mais tarde, enquanto Harry participava de uma reunião de negócios, Carly e Kurt foram a uma grande galeria com Hermione, onde se encontravam algumas das lojas mais exclusivas da cidade. Depois de finalmente terem resolvido entrar numa bomboniere, para comprar chocolates e trufas, Hermione concluiu que era hora de retornar. Voltariam a Cancun naquele mesmo dia.
Harry aceitou um chocolate, a caminho do aeroporto.
— Minha fraqueza — explicou ele. — Adoro chocolate.
— Não somente adora, é viciado — comentou Carly. — Costuma acordar no meio da noite desesperado por um bombom.
— Parece Hermione — respondeu Kurt, sorrindo. — Ela esconde caixas de chocolate pela casa inteira.
— É mesmo?
— É. Não queremos que ela coma, porque isso lhe causa terríveis enxaquecas — explicou o menino. — Mas minha irmã é teimosa...
— Oh! Ela acabou de comer duas trufas — disse Carly, preocupada.
— Estou bem — interveio Hermione. — E não é sempre que tenho enxaquecas por causa do doce.
Naquela noite, deitada no quarto escuro, com a cabeça latejando de dor, Hermione lembrou-se da conversa. Nem mesmo se deu conta de que Kurt fora chamar Harry até sentir-lhe a mão na sua.
— Há algum remédio em casa?
— Não — gemeu ela.
Ele soltou-lhe a mão e telefonou para um médico. Minutos depois, um senhor de branco aplicou-lhe uma dolorida injeção. Aos poucos, a dor deu lugar a um abençoado alívio.
No meio da noite, ela acordou com a cabeça pesada, mas a dor pungente, agora, era apenas uma lembrança.
Olhou para o lado e viu Harry Potter. Usando um robe vinho, ele dormia, o rosto apoiado no braço, metade do corpo na cadeira e metade na cama.
— Mas o que esse homem está fazendo aqui?
Harry acordou assustado e endireitou o corpo num salto. Tinha os olhos vermelhos. Mesmo assim, sorriu.
— Está melhor? — perguntou.
— Muito, e graças a você. — Hermione levou as mãos às têmporas. — Ainda sinto uma leve dorzinha.
— O médico deixou alguns comprimidos e uma receita, para o caso de o medicamento não ser suficiente. Lamento. Eu não fazia idéia de que não se dava bem com chocolates. De contrário, teria advertido Carly para que passasse longe de bomboniere.
— Sua filha não conseguiria me impedir — respondeu Hermione com um sorriso. — Eles vendiam os melhores e mais finos chocolates do planeta. Valeu a dor de cabeça. Como conseguiu encontrar um médico àquela hora da noite?
— Carly sofreu uma crise de apendicite quando passamos férias aqui, há alguns anos. Foi então que conheci o dr. Valdez. E muito bem-conceituado, gentil, bondoso.
— Você também é. Obrigada por ter me socorrido.
— Sei que teria feito o mesmo por mim.
Harry espreguiçou-se e gemeu ao sentir os músculos doloridos.
— Venha para a cama — Hermione ofereceu, com um sorriso cansado, passando a mão no espaço vazio a seu lado. — É muito tarde para voltar para casa.
— Estava pensando exatamente a mesma coisa.
Ele não hesitou, mas manteve o robe ao enfiar-se sob as cobertas.
— Puritano!
— Nem tanto. Mas faço questão de usar pijamas para dormir. Como estão lavando, peguei o robe.
Ela gemeu baixinho. A dor de cabeça ainda a incomodava.
— Ai...
— Procure dormir — sugeriu ele, aninhando-a nos braços. — Se a dor a incomodar, me acorde. Talvez precise tomar mais um comprimido.
— Você é muito gentil — murmurou ela, sonolenta.
— Agora, durma.
Hermione pensou que não fosse conseguir pegar no sono, com Harry tão próximo. Mas as batidas do coração masculinos eram reconfortantes, assim como o calor de seu corpo. Fechou os olhos e, minutos depois, adormecia.
Na manhã seguinte, o sol brilhava forte quando ruídos vindos da cozinha a acordaram.
— Onde você guarda a frigideira? Ou será que não tem nenhuma? — perguntou Harry, aparecendo à porta do quarto.
— Acho que não tenho — respondeu ela, sentando-se com cuidado e segurando a cabeça.
— E como frita ovos?
— Não frito. Não gostamos de ovos.
— Pois eu gosto. E vou preparar alguns para você assim que achar uma panela adequada — resmungou ele. — Não quer me dizer onde estão?
— Não há ovos em casa. Minha cabeça ainda dói um pouco. Acho que vou tomar um comprimido.
— Fique onde está. Vou apanhar para você. —Harry pegou o medicamento e providenciou também um copo com água fresca. — Tome.
Hermione engoliu o comprimido e tornou a deitar-se.
— Sinto-me horrível.
— Dá próxima vez, vou às compras com você. Terá de passar por cima do meu cadáver para entrar numa bomboniere!
— Parece um tanto quanto possessivo, não acha? — perguntou ela, gemendo ao se mexer e sentir dor.
— O remédio logo fará efeito — disse Harry, acalmando-a. — Você ainda não tomou café e isso deve estar piorando a dor. Espere aqui.
Retornou pouco depois, com a bandeja, e sentou-se na beirada da cama.
— Por que está sendo tão bom comigo?
— Porque tenho muito carinho por viciados em chocolate — zombou ele, — Além disso, somos velhos amigos.
— Somos — murmurou ela. — Seu café é muito bom. Você sabe cozinhar?
— Sei me virar na cozinha. Lembre-se de que não nasci rico.
— Como foi sua infância?
— Difícil. Cresci no lado leste de Manhattan, num bairro de classe média baixa. Meu pai trabalhava muito para nos sustentar, e quando morreu eu me tornei o chefe da família.
— Lamento. Deve ter sido difícil para você.
— E foi. Comecei a trabalhar numa empresa de investimentos, como auxiliar de escritório. Foi quando passei a entender de negócios. Pouco depois, um dos executivos mais antigos perdeu o filho num acidente em Nova Jersey, percebeu a vida dura que eu levava, me adotou e se propôs a me ensinar o que sabia. Fez de mim o mago dos investimentos. Isso foi bem antes de eu me interessar por programas de computadores e me associar aos rapazes da NASA. Nunca tive chance de lhe agradecer como ele merecia. Morreu de ataque cardíaco antes que eu tivesse ganho meu primeiro milhão. —Harry balançou a cabeça. — É irônico o modo como as coisas acontecem.
— Tem razão. — Hermione o admirava. Tinha um porte elegante e possuía uma arrogância sensual, que o tornava ainda mais fascinante. — Você mantém contato com sua irmã?
— Infelizmente, não. Ela morreu.
— Morreu! Como?
— De overdose, quando tinha dezesseis anos. E por minha culpa.
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N/A: É muito bom ver que estão gostando da fic! Obrigada a todos que comentaram e votaram!
N/A² : Comentem... xD
BjOkss
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