Capítulo 4



Capítulo 4:



A ruiva esperou até que o garoto saísse da sala para então mirar o moreno ao seu lado.
– Acordo? O que aconteceu, Harry? – perguntou Gina se endireitando no piso imundo e descascado da sala onde estavam.

– Riddle me prometeu nunca mais encostar em você se eu não o relatasse a Dumbledore ou qualquer outra pessoa do colégio... Disse até que gostaria de ajudar na captura de Voldemort... – respondeu mirando a garota, analisando cada mudança de expressão, cada suspiro. Queria ter certeza de que ela havia aprovado seu acordo com Tom Riddle, queria garantir que ela não guardava quaisquer sentimentos por ele.

– Ele... Ele aceitou? – perguntou Gina hesitante. Sentiu que seus olhos ficavam lentamente marejados, e piscou diversas vezes seguida para que não se permitisse chorar.
– Achei que tivesse ficado claro para você, Gina – respondeu em um misto de frieza e doçura.

Ela abaixou a cabeça enquanto direcionava a mão para seus olhos. Sua cabeça latejava pelo feitiço que havia recebido, e lamentava por tudo o que agora começava a lhe fazer sentido.

– Estou com um pouco de dor de cabeça... – sussurrou mais para si mesma do que para Harry.

– Vamos para a Torre da Grifinória. Venha... – sugeriu o garoto, erguendo Gina.


Gina acompanhou Harry para a Grifinória e ele esperou até que ela fosse dormir. Sentia-se preocupado, com todo sentimento que um irmão era capaz de sentir por uma irmã mais nova.

Ela, por sua vez, não conseguiu dormir. Sentia-se vazia por dentro. Não conseguia acreditar que Tom tivesse prometido não encontrá-la mais.

Subitamente ela ouviu uma voz dentro de sua mente: "Ele não sabe sobre nós...”.

Seu coração acelerou. Imediatamente ela correu para fora do dormitório, saindo do salão da Grifinória e indo em direção à Câmara. Ela queria saber de tudo que ele e Harry conversaram.


Sua respiração ofegava e o roupão que ela usava estava prestes a escorregar de seu ombro, mas ainda se sustentava com um tanto de força. Os cabelos ruivos despenteados cobriam parte de sua visão, mas aquilo não fazia diferença, já que a penumbra a sua frente já era algo que realmente a impedia de enxergar. Sua garganta a impedia de dizer qualquer palavra, com medo de que o céu ruísse a qualquer interrupção do silêncio. Mesmo que quisesse se manter indiferente, tudo aquilo começava a assustá-la... Não gostava de lugares como aquele. Mas, antes que tomasse qualquer outra decisão que não fosse ficar ali, Gina pôde sentir que mãos quentes se fechavam ao redor da sua cintura, e que algo quente aquecia sua nuca.

– Tom, você pretende me matar de susto?! – perguntou a menina levando a mão ao peito, tentando conter a respiração que havia se acelerado.

– Desculpe... – sussurrou em resposta em meio a um sorriso divertido. Era estranho vê-lo sorrir. Tom quase nunca ria, mas quando estava perto de Gina sua aparência calculista e fria sumia – Fiquei feliz que veio até aqui... – confessou, voltando a abraçá-la.

– Pare com isso, Tom – repeliu a menina para que os beijos que ele aplicava próximos a sua orelha não lhe desarmasse – Eu quero conversar com você... Conversar sobre o que você e Harry conversaram hoje.

O garoto suspirou com força e passou as mãos pelo rosto. Segurou na mão de Gina e a guiou até um lugar onde pudesse se sentar, e, assim, acendeu o lampião que lhe trazia iluminação.


Gina se acomodou e Tom a encarou, ainda de pé. Seu sorriso, tão raro e tão doce, não estava mais em seu rosto, mas Gina percebeu que seus olhos estavam mais acolhedores.

– Então... – começou ele – Você deve estar satisfeita. Seu querido Potter não vai morrer... "por enquanto" - ele pensou.

– E por que você mudou de idéia? – perguntou ela.

– Porque ele pode ser um aliado de grande valia para nós...

E Tom explicou que Harry podia ajudar a destruir Voldemort, pois ele já havia atrapalhado vários planos, e com certeza atrapalharia mais e mais, até que Tom tivesse força suficiente para terminar com Voldemort.

Gina pareceu se decepcionar. Então Tom só poupou Harry por ter um interesse próprio, e não porque ele tinha mudado. Tom voltou a perguntar:

– Você veio aqui só pra saber isso? – Gina percebeu que sua voz estava um tanto rude.
– Eu... você também prometeu que ficaria longe de mim... – ela sussurrou.

Tom se compadeceu. É verdade que ele queria mesmo se afastar, nunca pensou que voltando a encontrar Gina depois de 4 anos, ele sentiria algo por ela. Porém, quando a viu, percebeu que ela amadurecera tanto fisicamente quanto mentalmente e acabou se apaixonando. Ele se aproximou dela, abraçando-a, e respondeu:

– Eu menti – ele sussurrou em seu ouvido, fazendo com que ela ficasse arrepiada – Eu tive que mentir, não queria que Potter desconfiasse que temos nos encontrado. Ele poderia achar que você estava sendo manipulada... Você... você contou a ele?

– Não... – ela respondeu, acariciando o rosto de Tom – Eu não consegui... Eu prefiro confiar em você, Tom...

Tom voltou a sorrir. Gina apreciou o sorriso dele e ao mesmo tempo os dois se aproximaram, colando suas bocas uma na outra, num beijo intenso.


Passos oscilantes e trêmulos os encaminharam para mais perto da parede, forçando o garoto a apoiar a enamorada contra ela. Suas mãos saíram das costas magras e se voltaram para a cintura, percorrendo-a de modo hesitante. Um sentimento novo e pavoroso invadia seus pensamentos e seu sangue, que antes ele julgava puro demais para ser misturado a qualquer outro parecia esquentar com o toque de ambos os corpos. Ele queria que aquilo durasse pra sempre.

Gina sentia seu corpo estremecer ao toque de Tom. Nunca, nem em seu namoro iniciado e finalizado no ano anterior, a menina experimentara o toque, mesmo que inocente, de ninguém. Seus dedos se viam presos aos cabelos agora despenteados do garoto, e sua respiração mudava para uma mais ofegante, faltava-lhe ar dentro de seus pulmões.

– Tom... – sussurrou de modo quase inaudível, rompendo o beijo e colocando suas mãos sobre as dele.

O jovem a mirou. A luz fraca que vinha do lampião iluminava parte de seus cabelos ruivos, fazendo-os brilhar de uma forma quase anormal.

– Eu não quero simplesmente confiar em você – confessou abaixando os olhos, mas os erguendo logo em seguida – O que eu posso esperar de tudo isso? De... todo esse... risco que estou enfrentando?


Tom olhou Gina nos olhos.

– Como assim? O que quer dizer? – perguntou ele, um pouco confuso.

– Eu quero saber o que você pretende fazer, que tipo de atitude você pretende tomar agora que Harry está do nosso lado...

Tom a silenciou encostando seu dedo indicador na boca de Gina.

– Não planejo nada que possa te prejudicar. Apenas confie...

Gina tinha o olhar confuso. Tom sentiu isso e a abraçou com força; nem mesmo quando estudava em Hogwarts ele havia sentido amor por alguém. Definitivamente, era a primeira vez que Tom Riddle amava alguém e simplesmente não queria se separar dela.

No entanto, Tom se sentiu fraco e, ainda abraçado a Gina, levantou uma das mãos. Estava desaparecendo. Ele se livrou do abraço bruscamente e ficou de costas para Gina, a fim de esconder o que se passava.

– Tom? – ela o chamou – O que houve?

Ele voltou a olhar a mão, mas ela se materializara por completo. Ofegando, Tom se aproximou de Gina e a beijou.

– É melhor você ir dormir agora... – disse ele, docemente.
Gina ainda contestou, mas foi persuadida e voltou para a Torre da Grifinória. Tom continuou na câmara, pensativo.

– Me resta pouco tempo... Para mim e para meu outro eu... Por isso eu sei que ele virá e aí decidiremos qual dos dois permanecerá vivo. Mas... – e seus pensamentos se voltaram para a ruiva que acabara de sair.


Por mais que quisesse, era impossível que sua mente não temesse duas coisas que se unificavam de certa forma: perder a vida e o sonho de poder ficar com Gina. Porém, o que mais o irritava era o fato dele não se lembrar do modo como viera a recuperar sua forma humana de quando tinha 16 anos. Como e por que fora parar ali novamente?

Enfim, Gina conseguiu chegar no Salão Comunal da Grifinória. Seus passos até aquele momento haviam sido tão leves e curtos que a garota ainda não acreditava que tivesse conseguido chegar tão rápido.

Mirou a sala vazia por instante e logo em seguida se jogou sobre o sofá vermelho que, naquele momento, estava próximo o bastante da lareira que ainda ardia em chamas fortes. Algo estava errado. Errado consigo mesma e com todas as suas idéias... Parecia que sua mente havia se tornado um furacão que nunca parava de girar e rodopiar rapidamente. Já não tinha mais certeza do que sentia, do que achava, ou até mesmo do que tinha medo.

Porém, durante aqueles minutos, estava cansada demais para pensar ou até mesmo tirar qualquer conclusão de alguma coisa... Então deixou que suas pálpebras se fechassem para a escuridão e permitissem que ela dormisse.





Gina dormiu um sono muito pesado naquela noite, mas teve sonhos estranhos.
Em um deles ela estava ao lado de Tom, e ele a carregava no colo, feliz. Estavam próximos a um desfiladeiro e Gina se segurou mais forte, para que ele não a deixasse cair. Ele não queria que ela caísse... Mas ela sentiu Tom desaparecer e acabou despencando no abismo.

Acordou ofegante, sentindo seu coração bater violentamente. Teve ganas de se levantar e ir até ele, mas sentiu seu corpo pesar e acabou deitando novamente, porém com um sono mais leve...


O dormitório estava vazio – "Graças a Merlin", pensou ela – e os últimos raios de sol penetravam pela janela entreaberta do dormitório. O vento estava leve e puro, e era possível se escutar os risos e gritaria que vinham do jardim, mas seu espírito negava a ela pelo menos um instante de felicidade. Sentia medo. Medo de que ele a tivesse deixado novamente. Queria estar sorrindo. Devia estar feliz... Mas algo como um pressentimento ruim se apossava de seu corpo e alma e não a deixavam ficar sossegada. Grossas e pesadas lágrimas pesavam em seus olhos, e ela já não tinha mais controle sobre si mesma.

Sabia que ele ainda estava vivo. Tinha a certeza disso... E não iria desistir.


Naquela noite, Gina foi até a Câmara, para se certificar do que já sabia: ele havia partido. E por mais que procurasse dentro de si, sabia que ele não responderia.

– Por quê?... – lágrimas brotavam de seus olhos, mais uma vez. Uma sensação de abandono e vazio tomou conta de seu coração e ela sentia seu peito doer.

De volta ao Salão Comunal, viu Harry, Rony e Hermione sentados próximo à lareira. Os três se levantaram e se dirigiram para ela. Rony falou primeiro:

– Gina, onde esteve? Me disseram que você anda muito avoada esses dias.

– E o que você tem com isso? – perguntou ela, sentindo-se pressionada.

– O Harry nos contou que Riddle apareceu – disse Mione – Não queremos que ele exerça qualquer tipo de influência sobre você.

Gina encarou Harry. A vontade que sentia era de contar toda verdade. Que num momento de tristeza e solidão, clamara por um amigo e Tom aparecera, e que ambos descobriram que eram cúmplices no amor e que ele nunca mais faria mal a ela, mas sentiu um aperto no peito e resolveu não descarregar sua raiva, não naquele momento.

– Estou bem... – sussurrou ela. – Vocês se preocupam à toa, ele não está aqui.

– Como assim? – perguntou Rony – Como você pode saber?

– Ele saiu do castelo. – Harry respondeu. Todos o encararam e ele continuou – Riddle disse que não quer mais se esconder e que com certeza Voldemort viria atrás dele, ele recusou qualquer tipo de ajuda e disse que não queria que ninguém se intrometesse nesse assunto. Não queria atrair a atenção de Dumbledore, por isso ele foi embora.

– Harry, você acha que pode mesmo confiar em Riddle? – Hermione parecia apreensiva - Deveria ter contado a Dumbledore desde que o viu!

– Ele não parecia uma ameaça, Mione – Harry respondeu e se dirigiu a Gina – Mas estamos preocupados, porque você está abatida esses dias, então queremos ter certeza de que ele não está agindo usando você outra vez.

– Claro que não! - Gina exclamou – Ele não fez nada comigo, eu estou assim porque... porque... estou me dando mal nas matérias e os exames estão se aproximando...

– Então podemos respirar um pouco aliviados, não? – perguntou Rony, parecendo satisfeito – Já que ele não está usando Gina e não está no castelo... Ei! Quem sabe Riddle e Você-Sabe-Quem não matem um ao outro?

Gina não esperou que houvesse resposta. Pediu licença e foi para o dormitório. Entrando lá, tentou não fazer barulho para se trocar, mas não se deitou. Ficou na janela, como se estivesse esperando que Tom a visse e a chamasse.


A ruiva levou a mão ao pescoço, em busca da correntinha que havia ganhado quando completara doze anos, banhada em ouro e com um pingente em forma de estrela. Tateou os dedos por toda a extensão onde ele deveria estar, mas não encontrou nada além de sua pele fria... O colar estava com ele.

Ele estava deitado numa cama velha, suja, e gasta pelo tempo. Nada além da penumbra reinaria o lugar se não fosse pela luz da lua que refletia no cristal em forma de estrela que ele segurava por meio do cordão entrelaçado nos seus dedos, mantendo-o a cima da sua cabeça.

Foi como um momento mágico que não envolvia qualquer espécie de feitiço ou poção. Ambas as mentes estavam distraídas, e por um segundo pensaram uma na outra ao mesmo tempo – "Virgínia..."; "Tom..." – e foi como se tudo se concretizasse finalmente. Estavam unidos de novo. Unidos pelo poder inimaginável daquele louco amor tão obscuro e quase sem sentindo. Um pôde sentir o outro a ponto de saber exatamente onde o outro estava.

Ela não pôde deixar de sorrir. Havia, finalmente, descoberto onde ele estava! E não podia esperar mais para vê-lo... Desceu do parapeito da janela com um pulo ágil, como de uma gata, vestiu os chinelos e se cobriu com o robe. Mesmo que fosse longe, ela iria vê-lo por pelo menos alguns instantes...


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