Capitulo 7



CAPITULO VII

“O caminho para chegar ao coração de um homem é através do estômago. — Diário de Megan Madacy, Verão de 1923”

Loucuras da meia-noite...
Hermione assentiu. As palavras eram adequadas para expressar tudo o que estava acontecendo.

Abraçados, eles caminharam até a varanda dos fundos da casa ao lado, e Harry esperou para ver Hermione entrar.

— Boa noite, Hermione.

— Boa noite. — Ela hesitou, na porta, e olhou por sobre o ombro. — Vou fazer uma raclete, no sábado à noite — falou, num impulso. — Gina e Draco virão comer comigo. Não gostaria de vir?

— A que horas?

— Por volta das seis.

Harry ergueu um polegar, e Hermione fechou a porta. Ainda estava trêmula, por causa do beijo. Mesmo depois de aconchegar-se entre os lençóis, não conseguia afastar a sensação de calor em seu corpo, seu coração parecia descontrolado.

Apagou o abajur e fechou os olhos, porém o estado de agitação em que se encontrava não a deixava dormir. A lembrança do beijo não lhe saía do pensamento, fazendo-a reviver o contato dos lábios, a sensação da língua dele dentro de sua boca, as mãos fortes amoldando o seu corpo ao dele.

Comum gemido, ela sentou-se na cama, acendeu o abajur e pegou o diário. Se não conseguia dormir pensando em Harry, faria alguma coisa para tirá-lo da cabeça.

“Mamãe tem um ditado para tudo. Hoje, quando eu a estava ajudando a fazer o jantar, ela olhou para mim e piscou. O caminho para chegar até o coração de um homem é através do estômago, ela disse. Papai adora molho de tomate, então fizemos um pouco para colocar no arroz. Um homem bem-alimentado fica satisfeito e bem-humorado. Eu gostaria de cozinhar para Frederick, mas não sei quando. Talvez quando houver a quermesse de Quatro de Julho, mas ainda falta tanto tempo! Até lá, como vou provar , a ele que sou uma boa cozinheira? Eu gosto de ouvir os conselhos das pessoas mais velhas, mas não queria que todos ficassem sabendo de meu interesse por Frederick. E se ele não me corresponder? Mas acho que mamãe desconfia. Ela disse que eu é que vou fazer o almoço, um domingo desses, e vamos convidar o pastor e a esposa. É talvez Frederick, ela disse. Fiquei surpresa, porque ela não costuma convidar outras pessoas quando o pastor e a esposa vêm almoçar. Eu sei que Frederick gosta de frango frito, e minha prima Biddy diz que eu faço o frango frito mais gostoso que ela já comeu. Espero que Frederick goste.”

Hermione releu a passagem. Mais um ponto para Megan, pensou. Tomara que Harry gostasse de sua raclete.

Droga, lá estava ela, outra vez, pensando numa maneira de conquistar Harry! Fechou o diário e deitou-se, tentando pensar em outras coisas. Mas seu último pensamento, antes de adormecer, foi o beijo que trocara com Harry, pouco antes, no jardim da casa dele.

Na sexta-feira à tarde, Hermione foi comprar os ingredientes para fazer raclete. Passara a manhã limpando a casa, embora sua intenção fosse servir a refeição no jardim. Na segunda-feira começaria seriamente a procurar emprego e daria uma olhada em alguns apartamentos em Charlotte. Se encontrasse alguma coisa logo, teria de ir a Nova York para providenciar a mudança. Talvez Gina pudesse tirar alguns dias e ir com ela. Assim, ela mostraria um pouco da cidade à prima, poderiam assistir a uma peça de teatro na Broadway, e depois voltariam para West Bend.

O dia seguinte amanheceu úmido e abafado. Hermione começou a preparar a raclete assim que terminou de tomar o café da manhã. Descascou e cozinhou as batatas, picou os ingredientes e depois foi à confeitaria da Sra. Garton para comprar diversas variedades de pãezinhos e croissants.

Por último, preparou duas mousses para sobremesa. Sabia que Harry adorava a mousse de maracujá que sua tia fazia, pois lembrava-se de vê-lo entrar na cozinha apenas para pegar um potinho na geladeira. Por sorte, encontrara rapidamente a receita no caderno da tia, e era de preparo fácil e rápido. Decidiu repetir a receita com suco de limão e ficou satisfeita com o resultado. Enfeitou a mousse de maracujá com sementinhas e a de limão com rodelas finas da fruta, e guardou-as na geladeira.

Enquanto trabalhava na cozinha, ela ouviu o ruído de um cortador de grama. Espiando pela janela, avistou Harry, cortando a grama. Ele estava de costas para ela, de calça jeans e sem camisa. Hermione puxou rapidamente a cortina e voltou a concentrar-se no preparo do jantar. A visão de Harry, de peito nu, empurrando o cortador de grama, só lhe trazia pensamentos indesejáveis. Devia ter convidado Cari, em vez dele. Ou melhor, não devia ter convidado uma quarta pessoa, apenas Gina e Draco. Mas agora era tarde demais para voltar atrás.

Pouco depois, Hermione estava decidindo se ia ou não ao clube de campo para dar um mergulho na piscina quando o telefone tocou. Estava com vontade de nadar, mas numa tarde de sábado quente como aquela, a piscina estaria lotada.

— Alo?

— Mi... — uma voz familiar choramingou.

— Gina! O que aconteceu?

— Estou péssima. Peguei uma gripe horrível, estou -com quase quarenta graus de febre. Não poderei ir, hoje à noite. Já avisei Draco. Por favor, não fique zangada...

— Mas, Gina... Fiz uma montanha de comida! E convidei Harry!

— Nem me arrastando eu conseguiria, Mi. Desculpe. Jantem vocês dois. Depois congele o que sobrar, comerei com você outro dia. Se é que algum dia vou melhorar.

— É claro que vai — Hermione falou, o pensamento distante. Estava contando com a presença de Gina e Draco. Será que Harry acreditaria que ela realmente os convidara, quando ela lhe contasse que Gina estava doente? Provavelmente, pensaria que fora tudo planejado.

— Só sei que estou péssima. E é pior ainda ficar gripada com esse tempo maravilhoso. Eu preferia que estivesse frio e chovendo.

— Beba bastante líquido — Hermione recomendou.

— Pode deixar — Gina tossiu. — Divirta-se hoje, sim, Mi? Bem que eu gostaria de ir. Mas não estou agüentando ficar em pé. Nem seria justo contaminar todo mundo.

Divertir-se?, pensou Hermione, ao desligar o telefone. A última coisa que ela faria seria receber Harry, à noite, sozinha.

Deveria telefonar, cancelando o jantar?

Claro que sim. Uma coisa era receber Harry com mais duas pessoas para jantar, outra bem diferente era jantarem os dois sozinhos. Retirou o fone do gancho e discou o número de Harry. Depois de quatro toques, ouviu a voz dele gravada na secretária eletrônica.

— Harry, é Hermione. Gina está doente e não poderá vir à noite. Por isso estou ligando para cancelar o jantar. Mas já está tudo pronto, se você quiser, posso levar um pouco para você comer. — Hermione franziu a testa. Se ia levar comida para ele, por que não deixá-lo vir? — Você pode vir, se quiser, mas Gina e Draco não estarão aqui. – Hermione sentia-se cada vez mais idiota. — Você também pode vir buscar e levar para casa, se preferir. – O que era aquilo?! Ela estava metendo os pés pelas mãos! Quanto mais tentava consertar, mais se atrapalhava. — Me ligue.

Hermione desligou antes que a situação piorasse ainda mais. Em seguida, foi até a janela e espiou na direção da casa ao lado. O carro de Harry não estava lá. Bem, ele ouviria o recado quando voltasse.

Às cinco e meia, Harry ainda não chegara. Hermione começou a ficar inquieta. Deveria preparar-se para esperá-lo às seis ou não?

Por fim, decidiu tomar um banho e vestir um dos vestidos que comprara, um tubinho branco curto com um amplo decote nas costas, e sandálias brancas. Esperaria um pouco mais, se ele não viesse comeria sozinha e esqueceria o assunto.

Sentou-se no canto do sofá de onde podia vê-lo quando chegasse. As seis e quinze, a casa continuava deserta e às escuras. Hermione levantou-se e foi para a cozinha. Provavelmente, ele acessara as mensagens de algum outro telefone e ouvira o recado.

Suspirando, ela abriu a geladeira e escolheu alguns recheios para fazer um sanduíche. Por um lado, sentia-se aliviada. Era melhor evitar a proximidade com Harry, já que não podia ter um futuro com ele.

Hermione viu as duas garrafas de vinho que colocara na geladeira. Não beberia sozinha. Tomaria um pouco de suco pronto.

Depois de tudo preparado, ela subiu para pegar o diário e voltou para sentar-se à mesa da cozinha. De repente, percebeu como estava com fome. Abriu o diário e começou a ler, enquanto saboreava o sanduíche e o suco de frutas.

A batida na porta da cozinha a sobressaltou. Apressou-se a abrir para deparar com Harry, usando calça jeans e camisa xadrez de mangas curtas.

— Desculpe, eu me atrasei.

— Eu não estava esperando você — disse Hermione, sem conseguir deixar de se abalar pela aparência máscula de Harry. Como ele era bonito!

— Você disse por volta de seis horas. São seis e vinte. Posso entrar?

Hermione recuou, dando-lhe passagem.

— Gina e Draco ainda não chegaram?

— Deixei uma mensagem na sua secretária eletrônica. Gina está muito gripada e não virá. Nem Draco.

— Não chequei as mensagens. — Harry olhou para a mesa. — Está comendo sozinha?

— Estou pensando nessa raclete desde quinta-feira. Preparei uma quantidade para um batalhão. Mas nem arrumei a mesa, não pensei que você viria. Mas sente-se. Quer um pouco de vinho? — Ela virou-se para abrir a geladeira, mais para ocultar o inexplicável rubor que lhe subia ao rosto. — Eu tinha planejado comermos no jardim, mas...

— Tudo bem, para mim está ótimo aqui mesmo. Não se preocupe — disse Harry, afastando uma cadeira e sentando-se. — Estou com fome. Não almocei, hoje, tive um compromisso.

Hermione não fez nenhum comentário. Então, fora por isso que ele se atrasara. Com certeza passara a tarde com uma mulher. Por que viera, então?

— Você poderia ter dito que tinha um compromisso e que ficaria difícil vir... — Hermione quase deixou a garrafa de vinho cair ao chão, ao virar-se. — Não! Não mexa nisso!

Harry estava folheando o diário! Hermione colocou a garrafa sobre a mesa e arrancou o diário das mãos dele.

— Por quê? — perguntou Harry, com uma ruga na testa. — O que é isso?

— É um diário. Era de minha bisavó. Gina e tia Molly acharam no sótão.

— De quando ela era criança?

— Não. Ela começou a escrever quando fez dezoito anos. — Hermione colocou o volume em cima da geladeira. — Fala de... assuntos de família e... coisas assim.

Harry abriu o vinho, enquanto Hermione colocava a cesta de pães e os recheios na mesa. Dispôs as batatas no prato da racleteira e ligou o aparelho na tomada.

— Divertiu-se esta tarde? — ela perguntou, quando começaram a comer.

— Não foi um compromisso para diversão.

— Ah, não?

— Não. Foi compromisso de trabalho.

— Hum. Vi você cortando a grama, esta manhã.

— Sim.

— Você tinha um jardineiro, antes.

— Sim, mas ele ficou doente e eu comecei a cuidar do jardim. Descobri que gosto. Quando eu era adolescente, era um sacrifício quando meu pai me pedia para cortar a grama. Agora, talvez porque a casa seja minha, acho fantástico.

— Também gosto de jardinagem. Quero encontrar um apartamento com varanda, ou uma sacada, para ter plantas e flores. E no futuro pretendo morar numa casa com um jardim bem grande.

— Está procurando apartamento?

— Hum, hum — Hermione assentiu. — Estou pensando em procurar emprego em Charlotte e morar lá.

— E por que não morar em West Bend? Eu trabalho em Charlotte e moro aqui. E perto.

Hermione deu de ombros.

— Prefiro Charlotte.

— West Bend é sossegada demais para você?

— Não é bem isso. Acho West Bend um lugar maravilhoso para viver e criar filhos. Mas enquanto eu não me casar e tiver uma família, prefiro ficar mais perto do agito.

“E longe da tentação na forma de um vizinho alto, moreno e bonito.”

— Para que possa laçar alguém?

— Laçar? Eu não colocaria dessa forma. Conhecer, talvez. Nem todos os homens pensam como você, Harry. Quero conhecer uma pessoa, casar, formar uma família, compartilhar a minha vida com alguém especial.

— O casamento é uma ilusão, Hermione. Conte apenas com você mesma. As chances de sofrer são menores.

— Cínico.

— Realista — Harry corrigiu. — Você é como puritana, sempre vê o lado bom das coisas.

— E isso é ruim? Acha melhor enxergar a vida com cinismo, como você faz?

— Não é cinismo, já disse, é realismo. E acredite em mim, você sofre menos, assim.

Hermione achou melhor não retrucar. Aquela discussão não levaria a nada. O silêncio estendeu-se por alguns minutos, até que ela se lembrou da sobremesa.

— Fiz mousse de maracujá — anunciou. — E de limão, também.

— Hum! — murmurou Harry, em tom de aprovação.

Saborearam a sobremesa em silêncio, e Hermione começou a refletir que a noite não estava sendo tão terrível como ela imaginara, sem a presença de Gina e Draco.

— Estava tudo uma delícia, Hermione — Harry elogiou. — Você cozinha muito bem.

— Obrigada.

Ele observou-a enquanto a ajudava a tirar a mesa. A habilidade de Hermione o surpreendia. Até então ainda tendia a enxergá-la como a adolescente levada e inconseqüente que o perseguia como se ele fosse um super-herói. Claro que ele sabia que Hermione crescera, fora morar sozinha em Nova York, tinha uma carreira. Mas a cada momento ela o surpreendia, revelando uma nova faceta, abalando suas idéias preconcebidas sobre ela.

Harry estava intrigado, perplexo. Não imaginara deparar-se com aquela mulher adulta e sofisticada, ainda procurava vestígios da garota maluquinha apaixonada por ele.

Por que ele agora sentia falta daquela veneração que antes o irritava? Durante anos ignorara a existência de Hermione. Agora que ela se tornara adulta e superara a paixão de adolescente que sentira por ele, ele se interessava por ela.

— Como vai Boyd? — Hermione perguntou, lembrando-se que Harry não mencionara o irmão nenhuma vez.

— Está morando em Los Angeles — explicou Harry. — Ele trabalha numa companhia aérea, lá.

— Casou-se?

— Não.

— Que pena.

—Não necessariamente — retrucou Harry, tentando controlar a impaciência. Por que Hermione trazia constantemente o assunto de casamento? Seria justamente porque tinham opiniões contrárias a respeito?

— Existem muitos casais que são felizes, Harry. Por que Boyd não seria, se tivesse uma esposa? Ou você?

— E existem muitos que são infelizes. E que têm filhos que sofrem com o rompimento, e isso não é justo.

— Eu sei que você e Boyd sofreram quando...

— Não estamos falando da minha família.

— Estamos, sim, Harry. A separação dos seus pais influenciou a visão que você tem da vida. E a moça que você namorou quando estava na faculdade, também.

Harry franziu a testa e inclinou-se para frente, o olhar fixo em Hermione.

— O que você sabe sobre isso? — exigiu, num tom de voz ameaçador.

Hermione, porém, não se deixou intimidar.

— Eu sei que você gostou de uma moça que rompeu o relacionamento e fez você sofrer.

— Esse assunto não é da sua conta.

— Claro que não, mas sem dúvida teve grande impacto na sua vida. O que você precisa entender é que nem todas as mulheres são iguais a sua mãe ou Selena. Você não pode esperar viver a vida inteira sozinho. Não há ocasiões em que você gostaria de ter alguém especial, uma pessoa que lhe faça companhia, com quem você possa compartilhar os momentos importantes de sua vida? Alguém que ame você?

— Não preciso que ninguém me ame — Harry retrucou, seco. — O que as pessoas chamam de amor é um mito, uma ilusão para camuflar a luxúria. As pessoas podem se sentir atraídas por outra, gostar até, mas não existe o amor eterno. Veja minha mãe, por exemplo. Mesmo que ela não se importasse mais com meu pai, mas e os dois filhos?

— Eu não sei, Harry. Não podemos julgar as pessoas sem conhecer a história. Você era pequeno quando seus pais se separaram. Talvez sua mãe tenha tentado ver você e seu irmão e seu pai não tenha permitido. Ou não. Seja como for, aconteceu há muito tempo. E por que privar-se de conhecer uma pessoa que goste de você e faça você feliz porque sua mãe não agiu como você acha que ela deveria ter agido? Não se apegue ao passado, Harry, olhe para frente!

— Cada um não aprende com as próprias experiências?

— O amor une as pessoas. Eu amo meus pais e eles me amam. E os dois se adoram. Meu pai morreria por minha mãe e eu quero um amor assim na minha vida. Você, por exemplo, vai se arrepender quando estiver velhinho e doente e não tiver uma pessoa ao seu lado. Quer levar um pouco de mousse para casa?

Harry quase riu da abrupta mudança de assunto. Mas conteve-se. Queria ficar zangado com as coisas que Hermione dizia, mas era obrigado a reconhecer que havia um fundo de verdade nas palavras dela.

— Eu gostaria.

Hermione cobriu o recipiente com papel-alumínio e colocou-o sobre a mesa.

— Foi uma pena Gina e Draco não terem vindo — disse ela.

— Quem sabe na próxima vez...

Harry pegou o recipiente com o que sobrara do mousse, atormentado por emoções contraditórias. De repente, Hermione parecia ter se tornado o centro de seus pensamentos. A garota de anos atrás transformara-se numa mulher linda, atraente. Uma mulher que despertava sua curiosidade, que ele queria conhecer melhor.

Quem mudara, afinal? Ela... ou ele?

Harry observou-a enquanto ela arrumava a louça dentro da pia. Queria senti-la perto de si, abraçá-la, beijá-la, tocá-la. Mas também queria mais. Queria Hermione... inteira. Em todos os sentidos.



Obs:Calma que tem mais 2 capitulos ainda....

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