▪ <i>Vernonzinho</i>
Severus seguiu Lily até o hall de entrada. Deu uma olhada rápida ao redor: havia uma escada que levava ao andar superior, um armário sob a escada, duas portas, um porta-guarda-chuva e um belo quadro pendurado na parede. Severus se surpreendeu ao ver que as estranhas mulheres do quadro não se moviam. Lily percebeu a curiosidade expressa no rosto de Severus:
– Les Demoiselles d'Avignon. É um Picasso, mamãe diz que é muito valioso.
– Picasso? O que é isso? – agora era Severus que não entendia nada.
– Foi um pintor. Não acredito que nunca ouviu falar dele. – Lily parecia surpresa.
– Eu sou bruxo, não sei nada sobre trouxas. – Severus disse, e acrescentou, sem conseguir conter a curiosidade: – E ele não se mexe?
– Se mexer? – Lily olhou para Severus, e pela primeira vez pensou que ele realmente fosse louco.
– É. Os quadros e fotos bruxas se movem. Como elas conseguem ficar paradas? Elas não se cansam? – perguntou Severus, fitando as bizarras mulheres.
– É apenas um quadro. Não é real. – Lily estava se controlando para não rir, afinal Severus não rira dela quando ela perguntara sobre o mundo bruxo. – Venha! Vamos para a cozinha, mamãe e Tunia estão esperando.
– Petunia? – perguntou Severus, e havia certo receio em sua voz. – Ela vai lanchar conosco?
– Claro, ela é minha irmã.
– Achei que ela não fosse querer se sentar ao lado de um louco.
– V-ocê... você ouviu a conversa? – Lily ficou repentinamente vermelha.
– Ah! – Severus parecia desconcertado – Não! Só ouvi Petunia me chamando de louco; ela não falou muito baixo, sabe.
– Desculpe. Ela é legal. Está assim porque achou que estava espionan...
– Tá tudo bem. – interpôs Severus – Eu não ligo para o que ela pensa de mim. – e deu um sorriso débil.
Lily retribuiu o sorriso e abriu a porta que levava à cozinha. Severus acompanhou-a e, ao entrar na cozinha, se viu em um aposento excessivamente limpo, com diversos objetos trouxas que Severus nunca havia visto antes e uma mesinha retangular. Na mesa, estavam sentados o Sr. e a Sra. Evans e Petunia, que estava com um ar totalmente mal-humorado.
O Sr. Evans se levantou, dizendo:
– Meu Deus! Já são quatro horas e meia. Estou atrasado! – o Sr. Evans parecia desesperado.
– Mas, meu bem, o seu trabalho não é só às seis horas? – perguntou a Sra. Evans, sem entender a pressa do marido.
– Normalmente, sim. Mas hoje tenho que chegar mais cedo. Tem um cliente que, se Deus quiser, vai fazer um grande pedido de brocas hoje. E ele só pode ir às cinco horas. Se eu não estiver lá, quem vai atendê-lo é o intrometido do Brendan Dursley. Dessa vez sou eu quem vai ser o Funcionário do Mês e ele não fará nada para mudar isso. – e, dizendo isso, o Sr. Evans pareceu maleficamente feliz.
Petunia ficou muito vermelha ao ouvir o nome Dursley. Lily percebeu e, com um sorriso malicioso, disse:
– Brendan Dursley, papai? Esse não é o pai daquele menino gordinho, o Vernon?
– É, por quê? – perguntou o Sr. Evans, curioso.
– Nada, não. É só que eu vi a Tunia com o Vernonzinho ontem. – quando Lily disse isso, Petunia ficou mais vermelha do que já estava.
– Petunia? Minha filha mancomunada com aquela gente? – embora o Sr. Evans tenha tentado parecer calmo, dava para ver que nada poderia deixá-lo menos feliz.
– Papai. O Vernon não tem nada a ver com o Sr. Dursley. E ele é muito melhor que esse aí – disse fitando Severus – É mais educado, gentil, legal, e qualquer outra coisa.
– Acho que até mais guloso, gordo, insuportável, idiota, bobo, imbecil e metido a melhor que todo mundo – retrucou Lily.
– Pelo menos o cabelo dele não é sebos...
– CHEGA! – gritou a Sra. Evans – Já discutimos isso, Petunia. Severus é um amigo novo de sua irmã. Assim como você gosta do Vernon, Lily gosta de Severus. Não quero mais ouvir nenhuma das duas criticando as pessoas por causa de parentes, dinheiro, casa e qualquer outra coisa. As pessoas não são como os pais, não escolhem se querem ser ricas ou pobres, se querem morar debaixo da ponte ou em palácios feito de ouro. Cada um tem sua personalidade, e vocês têm que começar a respeitar os outros. Inclusive você! – finalizou apontando para o Sr. Evans.
O Sr. Evans, Petunia e Lily ficaram muito quietos olhando para a Sra. Evans. Severus percebeu que a Sra. Evans, tal como Lily, ficava irritada muito raramente.
Então, como se nada não tivesse passado de uma conversa cordialmente normal, a Sra. Evans abriu um grande sorriso e, virando para Severus, disse:
– Já que o William vai ter que ir, você poderá ocupar o lugar dele. Sente-se, sente-se. Vamos tomar o nosso lanche em paz.
– Ah, sim! Obrigado, Sra. Evans.
Severus, meio desconcertado, sentou-se à frente de Petunia, enquanto Lily sentou-se de fronte a Sra. Evans.
– E não me chame de Sra. Evans, por favor. Chame-me de Nidia. – pediu a Sra. Evans, ainda com seu sorrisinho simpático estampado no rosto.
– Ok, Sra. Ev... Nidia. – disse Severus.
– Bom, tchau! – o Sr. Evans falou, dando um beijo na testa de sua mulher e de suas filhas e um aperto de mão em Severus.
– Tchau! – disseram os demais em coro.
A Sra. Evans virou para Severus, novamente, e disse:
– Muito bem, muito bem. Então, o que vai ser? Pode escolher à vontade. Aqui tem suco de melancia, leite, café. Pode escolher. Sinta-se em casa.
– É melhor não. Prefiro me sentir em qualquer lugar, que não a minha casa. – respondeu Severus com um leve tom de amargura na voz.
– Ah! – a Sra. Evans percebeu que a vida de Severus não devia ser muito boa na casa em que vivia. Tentou mudar de assunto: – Bem, mas escolha. Beba o que quiser, coma o que quiser. Sinta-se em ca... à vontade.
– Obrigado. – respondeu Severus, pegando um copo e colocando um pouco de suco de melancia.
O lanche transcorreu naturalmente e sem mais discussões, embora Petunia tivesse levantado a cabeça várias vezes para olhar para Severus, como se ele pudesse subir na mesa e atirar facas para todo lado a qualquer momento.
Severus nunca tinha visto tanta coisa diferente, mas comeu muito e sentia-se plenamente satisfeito ao dar a última mordida em seu pão doce de creme com goiabada. Foi então que Petunia quebrou o silêncio e, com um ar maldoso, falou para Severus:
– Então, Severus, nos fale um pouco de você.
– Eu?! Eu não sei falar sobre mim, desculpe – respondeu Severus em um misto de frieza e confusão.
– Ah! Claro que sabe, bobinho. – Petunia dizia cada vez mais maldosa – Fale sobre sua escola, sua família, sua vida.
– Bem, eu... eu...
– Não precisa falar nada se não quiser, menino Snape. – disse Lily bondosamente lançando um olhar de desaprovação à irmã.
– Não, tá tudo bem! Sobre a escola eu não posso falar nada. Só entro para a escola com onze anos.
– ONZE ANOS? Ninguém entra para a escola com onze anos! – disse Petunia.
– Bruxos entram para a escola aos onze anos! – respondeu Severus fria e calmamente.
– Bruxos. – repetiu a Sra. Evans – Bruxos?
– Sim, senhora. Bruxos. Pessoas como eu e Lily.
– LILY NÃO É BRUXA! – gritou Petunia.
– Ah! Lily não é bruxa? – perguntou Severus ainda calmo – Então, acho que você poderia explicar como ela conseguiu fazer aquilo com a flor e como ela conseguiu pular do balanço sem se machucar.
– Bem... eu.. não.
– Lily Evans! A senhorita fez aquilo no balanço novamente?
– Eu?! – Lily ruborizou – Fiz. Fiz, sim. O que só prova as conclusões de Severus. – disse firmemente.
A mãe abriu a boca, mas voltou a fechar, pois não conseguiu encontrar o que falar.
– Bom, eu vou para o meu quarto. – disse Petunia, levantando-se da mesa.
– Escrever cartas para o Vernonzinho? – perguntou Lily, sorrindo.
Então tudo começou a ir tão rápido que uma pessoa fora da casa não conseguiria entender o que acontecera. Petunia virou-se subitamente, com o rosto lívido, pegou um copo de vidro e jogou-o em Lily.
– NÃO! – gritou Severus, se jogando na frente de Lily. Inesperadamente, o copo explodiu no ar antes de chegar a encostar em Severus ou Lily.
Severus, Lily, Petunia e a Sra. Evans ficaram imóveis olhando para o ponto onde o copo sumira. Petunia deu um grito de horror e subiu correndo para o seu quarto. Severus virou-se para Lily e para a Sra. Evans, que estavam surpresas e perplexas. Então, disse:
– Desculpe. Não foi intencional. – estava com medo que elas fossem gritar como Petunia e expulsá-lo de casa.
– Você tá brincando. Desculpe? DESCULPE? Você me salvou. Se aquele copo tivesse pegado em mim eu poderia ficar com uma cicatriz muito feia no rosto – disse Lily, abraçando Severus. Severus sentiu-se como naqueles momentos em que seu corpo se enche de um calor descomunal.
A Sra. Evans ainda estava imóvel. Aos poucos foi recuperando os movimentos e quando falou, sua voz saiu tremida:
– Como? Como você fez?
– Bruxos menores de idade não conseguem controlar os poderes. É o que estou tentando dizer. Bruxos são reais. – disse Severus – E sua filha é uma – completou, olhando para Lily.
A Sra. Evans ficou mirando Severus por um tempo, então começou a arrumar a mesa e disse a Lily para ir brincar com Severus em algum outro lugar. Lily pegou a mão de Severus e puxou-o para a porta, sussurrando:
– Vamos para o parquinho! E você precisa me explicar algumas coisinhas, menino Snape! – e sorriu.
– Como quiser, menina Evans. – respondeu Severus, retribuindo o sorriso.
N/A: Outro capítulo totalmente feito por mim.! :D
Pequeno detalhe: Vernon é o tio Válter, mas eu estou usando os nomes originais, e na versão inglesa o nome do tio Válter é Vernon. É por isso que Petunia está sem acento, é Lily e não Lílian, Severus e não Severo, etc.
Brendan, William e Nidia são nomes criados. JK nunca disse como se chamavam os pais de Lily e de Vernom.
É só.
COMENTEM, POR FAVOR!
Obrigado, Rafael Kaleray!
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