Sonserina x Grifinória
A temporada de quadribol começou em novembro. O primeiro jogo seria um clássico, como Carlos não se cansava de repetir. Ele, o pai e o irmão mais velho já tinham ido a um jogo de quadribol. O Sr. Weasley às vezes conseguia umas entradas para ele e as crianças.
- Carlinhos, você não fica animado assim nem quando vamos assistir aos Chuddley Cannons! - Guilherme disse, servindo-se de mais cereal, estavam na mesa da Grifnória. Toda a escola estava no Salão Principal tomando café-da-manhã.
- É mesmo! Podemos saber o porquê de tanta animação? - Samara estava do outro lado da mesa, os cabelos loiros presos num espesso rabo-de-cavalo revelando um rosto rosado.
- Bom... Pelo menos nesse time eu tenho esperança de entrar... - Carlos passou geléia numa torrada - É que o apanhador - Callahan - está no sétimo ano.
- Ah... Está explicado! Você tem esperanças de entrar?! - Gus falou como se estivesse entendido um feitiço complicadíssimo - Vai sonhando, ou melhor, treinando. Apanhador da Grifinória é uma vaga muito concorrida - dessa vez ele falou da maneira mais simpática possível.
- Carlinhos é muito bom, sim! E muito veloz. - Samara defendeu o amigo. A discussão entre ela e Gustavo seguiu até o campo. Não era um dia muito agradável para um jogo. Fazia Sol, mas não parecia o suficiente. Os alunos de todas as casas se amontoaram nas arquibancadas para assistir ao jogo, ao mesmo tempo que tentavam se esquentar.
Vinte minutos de partida: Grifinória com 60 pontos e Sonserina, 80.
- Droga, se o apanhador não pegar logo esse pomo, não sei por quanto tempo resistiremos! - Carlos gemeu, sendo apoiado por Samara e Troy, que não tiravam os olhos do jogo.
Algumas cadeiras acima, Holy e Ayasha conversavam:
- Ela não quis mesmo vir? - Ayasha perguntou de olho na goles que passava de jogador para jogador da Grifinória.
- Não! Vê se pode: ela não gosta de quadribol! É quase um sacrilégio! - Holly respondeu tentando ficar nas pontas dos pés.
- Ao terminar a frase um grito alto soou e foi seguido por vários outros. Um apito longo. O apanhador grifinório pegou o pomo há uns dois metros do chão.
- Que milagre! Uma aluna que não está assistindo ao jogo? Tsc, tsc... Te proibiram de entrar no campo? - uma voz simpática e zombeteira soou à frente de Samantha, que estava sentada à uma mesa da biblioteca. E agora ela mirava um garoto de pele morena e olhos muito verdes e brilhantes. Tentou ter raiva do comentário, mas não foi muito feliz nisso. - Me diz, branquinha, por que você não está lá? Com os outros? - completou sentando-se à frente dela e afastando o livro que esta lia.
-Sinceramente? Não gosto quando me chama assim! Nem fomos apresentados! E você...
-Chad Murray, muito prazer! - disse sorrindo, tinha conseguido irritar a menina.
-Samantha Warren, e o prazer é todo seu!
Tudo o que Chad fez foi dar uma risada abafada.
-Você é sempre assim? Tão desaforada e respondona?
-Você é sempre tão chato, impertinente e intrometido? Ayasha esqueceu de me dizer o quanto você é chato...
-Mentirosa... Ela deve ter dito... - disse levianamente, como se aquilo não fosse nada - Agora me diz o que você prefere tanto fazer a estar assistindo ao jogo.
-Por que você não está lá?
-Sonserina x Grifinória? Tenho mais o que fazer... Me diz o que você está lendo.
- Le petit prince d'antoine de St-Exupéry.
-O quê?
-O pequeno príncipe, de Antoine de St-Exupéry. É um livro trouxa que meu avô me deu no Natal passado.
-Ah... O pequeno príncipe, eu conheço. Eu só não falo francês.
A conversa durou até o murmúrio de vozes de alunos voltar ao castelo. Foi aí que notaram que já tinha anoitecido e foram juntos para o Salão Principal. Lá se separaram e cada um seguiu para sua respectiva mesa.
Samantha se juntou à irmã e aos amigos que comentavam o desenrolar do jogo animados.
-Você estava conversando com o Chad?
-Fala baixo! - Samantha sibilou. Estavam na Sala Comunal, sentadas a um canto - Só conversamos. Ele é chato, mas legal ao mesmo tempo.
-É, eu sei. Experimente ser criada com ele! - Ayasha falou entendiada. Holly, sentada no tapete, ajoelhou-se para olhar melhor para Samantha, que estava sentada atravessada numa poltrona.
-Você gosta dele? - a pergunta fez Ayasha se endireitar no sofá ao lado e Samantha soltar um gritinho desafinado, que chamou a atenção de pessoas ao redor.
-Você está louca? - Ela retrucou indignada ao ver os sorrisinhos das duas amigas. - Francamente... E ainda se dizem minhas amigas... - E jogou uma almofada na amiga que, literalmente, caiu na risada.
Tão rápido quanto um testrálio, o Natal chegou e se foi logo em seguida. O tempo parecia que não estava mais respeitando suas próprias regras. O gelo derretia rápido demais.
A primavera chegou e alguns casaizinhos podiam ser flagrados pelos corredores e jardins de Hogwarts.
O clima estava bom demais para ficarem dentro do castelo. As três amigas estavam sentadas sob a sombra de uma bela árvore florida. Algumas garotas estavam à beira do lago, outros grupinhos conversavam pelos jardins. As aulas daquele dia já tinham chegado ao fim e eles aproveitavam o finalzinho da tarde.
-Sam, Holly?! Er... Eu pedi para minha mãe convidar vocês para passarem um pedacinho das férias comigo em Londres. Vocês querem?
- Claro! - As duas responderam quase ao mesmo tempo.
O ano letivo terminou rápido demais, principalmente para as crianças que preferiam a escola a voltar ao mundo trouxa. O senhor e a senhora Weasley foram buscar os filhos na estão de King’s Cross acompanhados de Stockard Warren.
A estação estava abarrotada de pais que esperavam seus filhos passarem pela coluna entre as estações 9 e 10.
- Então, você acha que a sua tia vai deixar? - Ayasha perguntou a Samantha, ajudando-a com as bagagens.
- Vai, sim! É só você fazer como o combinado. Nós sempre somos os últimos a sair, pois esperamos tia Morgan. Fala para a sua mãe só ir falar conosco quando ela se juntar a nós... Bom, o plano é da tia Morgan, não meu. - ela acrescentou vendo a cara de descrença de Samara.
- Ai, acho difícil, Samantha! Você sabe como a tia Stockard é histérica em relação à segurança. - Samara respondeu sem conseguir disfarçar o azedume.
- Ih.. Que azeda! Ai, fadinha, é só uma semana e eu volto!
- Não é você que vai passar uma semana toda sozinha naquela casa, bruxinha! - a loirinha respondeu, fazendo Ayasha ri dos apelidos que elas adoravam trocar entre si, quando na verdade as tias chamavam Samantha de fadinha e Samara de bruxinha. E a garota fingiu ser aquele o único motivo. Na verdade, além de não gostar nem um pouco da idéia de ficar sozinha um pedaço das férias, sentia ciúmes das amigas da irmã. Afinal, antes ela não precisa dividi-la com nenhuma menina. Aliás, se sentia super mal, por sentir falta da Samantha calada e sem amigos....”Mas ao menos ela brincava mais comigo”
- Ah, Samara, só vai ser uma semana! E você não estará sozinha! E outra: você acha que nós não vamos nos divertir depois? - Samantha sorriu para a irmã menor, o que a fez desarmar um pouco.
O plano correu como o combinado: junto com a tia, a irmã e os vizinhos, Samantha observava os Murray esperando pacientemente a chegada da segunda Warren, que não demorou muito.
Quando a professora de Hogwarts chegou e cumprimentou a todos, o senhor e a senhora Murray se aproximaram e se apresentaram às duas Warren.
Exóticos! Esse seria o melhor adjetivo para descrever os Murray. O Dr. Maxwell Murray era um senhor magro, alto e pálido, usava roupas trouxas que deixou o Sr. Weasley mais do que interessado. Na verdade, Molly teve que dar um chute nas canelas do marido para que ele parasse de olhar tão inconvenientemente para as roupas do homem que falava com as vizinhas. Fátima Murray já era bem diferente. Seria o meio termo de trouxa e bruxa se ela estivesse num bazar de Fez ou Tanger, no Marrocos. Tinha a pele muito morena e olhos incrivelmente verdes. Trajava uma túnica verde que ia até o chão. Os cabelos impecavelmente lisos estavam presos em uma distinta trança com fios de ouro. Aparentava ser bem mais nova do que o marido, mas não era assim tão mais nova.
Os dois estavam acompanhados dos dois filhos que ainda freqüentavam Hogwarts, Chad e Ayasha. Samantha viu que a amiga seria uma versão de Fátima Murray mais nova se os cabelos de Ayasha não fossem crespos e, claro, se a amiga perdesse uns quilinhos...
Samantha também olhou apreensiva para a tia mais velha, será que ela não aprovaria os trajes exóticos da senhora? Bom, se bem que as vestes da bruxa roxo berinjela e cinza escuro, por mais que tenham sido compradas na Trapo Belo de Paris e por mais que fossem elegantíssimas, não passariam despercebidas por trouxa algum.
- Ora, Stockard! Será ótimo para a nossa Samantha! Um pouco de experiência e diversão! - Morgan falou animada; Samantha olhou para a tia um pouco mais apreensiva.
- Bom, Sr e Sra. Murray... Teremos que conversar sobre a segurança de Samantha, porque ninguém da... hum... parte do pai dela pode se aproximar das meninas. - falou a bruxa - Samantha, você quer ir?
- Ah, claro! Adoraria! - respondeu o mais depressa que pode. E tudo ficou acertado, o dia e a hora que ela iria para a casa deles em Londres.
Bom, dois dias depois, Samantha estava no carro com as tias e a irmã voando para Londres.
- Tia, isso é permitido? - perguntou vendo a estrada lá em baixo como uma linha bem fina.
- Não exatamente. Mas não se preocupe, ninguém nos verá. Tive essa idéia depois do que a Molly fez naquele dia, lembra? - acrescentou com uma risadinha. Depois foram perdendo altitude lentamente e pegaram a via dos trouxas. As duas Warren deixaram a garota na casa dos Murray e depois foram ao Beco Diagonal para resolver certas pendências.
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