Capitulo 22



CAPÍTULO 22

Anoitecia quando Harry e Leland saíram do hotel. Haviam procurado por toda a parte e nem sinal de Hermione. Decidiram ir até o escritório de terras. Harry praguejou, ao ver o prédio às escuras. Tinha certeza de que Stoner não estava lá. Mesmo assim, desmontou e, em passos rápidos, chegou à porta. Bateu com os punhos, gritando pelo nome do inimigo. Não houve resposta.
_Acho melhor irmos falar com Daisy - disse, voltando-se para Leland. - Ela deve saber onde está Stoner.
_Não quero envolvê-la nisso - replicou o médico.
_Ela já está encrencada demais.
Harry relanceou os olhos para o companheiro. Montou o cavalo, apressado.
_Por ora, Daisy está a salvo. E tem você para cuidar dela. Hermione, ao contrário, está nas mãos de Stoner. E sozinha. Vou trazê-la de volta, custe o que custar.
_Tem razão! - exclamou Leland, vendo-lhe o desespero. - Vamos procurar Daisy.
Cavalgaram em silêncio. Harry tentou acalmar-se. O coração lhe dizia que chegara tarde demais. Recusava-se, porem, a aceitar tal possibilidade. Stoner não tinha motivos para assassinar Hermione. O que ela viera fazer na cidade, Harry não fazia idéia. Suspeitava, no entanto, que tentara ajudá-lo, fingindo-se passar por uma fugitiva. Se conseguisse ganhar a confiança de Stoner, poderia arrancar dele informações valiosas. Ela deveria estar bem, era esperta. A não ser que houvesse sido desmascarada.
Por que ela deixara a fazenda sem nem uma palavra sequer? Remexeu-se na sela, desesperado. Sabia a resposta. Ele a teria impedido se soubesse de seus planos.
O peito doeu-lhe, corno se comprimido por poderosas amarras. Embora pudesse seguir os pensamentos de Hermione e adivinhar seus propósitos, o coração recusava-se a entender. Como ela tivera coragem de ir atrás de Stoner, depois de passarem a noite nos braços um do outro?
Engoliu em seco, tentando afastar da mente as inquietações. Ao se aproximarem da casa de Daisy, já repassara todos os lugares onde Stoner poderia estar se ocultando. Na verdade, pouco sabia. Nunca descobrira onde ficava o esconderijo dos primos dele. Se Hermione houvesse sido levada para lá...
Daisy foi encontrá-los no portão. Seu rosto, normalmente bonito, estava contraído. Os olhos demonstravam fadiga, e a boca, apertada, mais parecia um traço reto.
_Você a encontrou? - perguntou.- Ela está no hotel?
_Não, não está - respondeu Harry, amarrando o cavalo na cerca. - Estivemos lá. O quarto está vazio, e os empregados não sabem dizer quando ela saiu.
_Você viu Orin? Ele estava de guarda quando eu tentei vê-la à tarde.
_Não. - Harry olhou para Leland, que meneou a cabeça, em uma negativa.
_Também não estão no restaurante - esclareceu Daisy. - Passei por lá, há uma hora.
_Nem no escritório - disse Harry, sentindo-se enregelar por dentro. Alguma coisa estava errada. - O prédio esta às escuras e vazio.
_Não tenho idéia de onde podem estar - disse Daisy com a voz trêmula.- Nunca consegui descobrir onde os sobrinhos dele se escondem. Tenho medo de que Stoner tenha levado Hermione para lá. Ou a outro esconderijo secreto.
Harry disse a si mesmo para tranqüilizar-se. Precisava de um plano. Dirigiu-se a Leland.
_Remo Lupin deve estar chegando à cidade dentro em breve. Espere por ele na estrada. Quando o vir, diga-lhe o que está acontecendo. Assim que possível, vou reunir-me a vocês.
_Aonde você vai? — perguntou Leland.
_Saber se o delegado está disposto a nos ajudar.
Harry montou, esporeando o animal, que saiu a galope. Ao chegar à delegacia, desceu de um salto, e entrou apressado.
Lindsay estava sentado à escrivaninha com uma postura esquisita. Harry percebeu que o homem estava embriagado e dormindo, a sono solto. Soltou uma praga, furioso. Em um ímpeto, agarrando-o pelo colarinho.
_Acorde, seu bastardo imprestável.
Lindsay, a custo levantou a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos, o hálito recendendo a álcool.
_Es... tou acordado - gaguejou. - O que... você... quer?
_Stoner pegou Hermione, a noiva que arranjou por correspondência. Levou-a para algum lugar. Tenho de encontra-la antes que ele a mate.
O delegado tentou erguer-se. Harry soltou-o e ele desabou na cadeira.
_Procure... no esconderijo - murmurou, a voz quase inaudível.
_Sabe onde fica?
A única resposta foi um sonoro arroto. Frustrado, Harry deu um chute na escrivaninha, e saiu para a rua escura.

Hermione encolheu-se, a um canto, na cozinha da cabana parcialmente destruída pelo fogo. O ar frio da noite, entrando pelas paredes em ruínas, provocava-lhe arrepios. No outro cômodo, os homens discutiam seu destino. Não conseguia ouvir direito o que diziam, mas imaginava o que planejavam.
Encolheu-se ainda mais, trazendo os joelhos até o queixo. Os elos da corrente que a prendia ao fogão bateram, soando como um sino. Estremeceu, com medo de ser ouvida. A conversa, no entanto, prosseguiu sem uma pausa. Respirou, aliviada.
Estavam em uma fazenda nas proximidades de Whitehorn. Depois que Stoner a surpreendera, ele a amarrara, cobrira-lhe os olhos com uma venda e a arrastara para fora do escritório, jogando-a em uma carroça. Não tinha certeza da distância que haviam percorrido, irias não demoraram a chegar ao esconderijo. Quando ele retirara a venda, ela pudera ver, de relance, o vale ao longe, o gado e a vegetação. O lugar era lindo, o tipo de paisagem com que sempre sonhara. Mas, antes que pudesse se deter em algum detalhe. Stoner a empurrara para dentro da casa em ruínas.
Tentou, mais uma vez, decifrar o que diziam os homens. Stoner e os três primos estavam reunidos no cômodo vizinho. Os três brutamontes haviam insistido em inata-la de imediato. Stoner, no entanto, resolvera acorrentá-la na cozinha até se decidir. Palavras ocasionais e frases soltas chegavam a seus ouvidos. Parecia que avaliavam os riscos de se livrarem dela. Começou a rezar, implorando por uma chance de fugir.
De repente, ouviu o barulho de passos. Sentou-se. Não iria dar a Stoner o privilégio de vê-la aterrorizada, tinha de demonstrar coragem. Era corajosa. Sobrevivera aos mais duros percalços da vida e iria continuar lutando, muito mais agora, que tinha um motivo para viver. O amor por Harry haveria de sustentá-la.
Stoner irrompeu na cozinha. Carregava um lampião, que colocou a um canto. A luz bruxuleante iluminou os restos do fogão, de uma mesa e seis cadeiras.
_Srta. Granger, quero que saiba que meus primos vão acabar com sua vida esta noite.
Ela fitou-o com desassombro. Foi sua única demonstração de coragem. Não conseguiu pronunciar nem uma palavra sequer. E não apenas por medo. A bofetada que recebera abrira-lhe um profundo corte nos lábios. Estavam inchados, doloridos, sangrando a qualquer movimento.
Stoner agachou-se, afagando-lhe o rosto ferido.
_Sinto muito que as coisas tenham tomado esse caminho. Você é exatamente o que eu desejava para esposa. Porém, o que mais prezo, acima de tudo, é a lealdade. E você me decepcionou nesse sentido.
Ela encarou-o com frieza.
_Você não vai se safar dessa! - ela gritou, a raiva sobrepondo-se ao medo, à dor e ao bom senso.
_Já me safei, Hermione. E é isso que torna tudo mais interessante. Parece que Harry Potter chegou à cidade, procurando desesperadamente por você - continuou, com um sorriso cruel. - Com você em meu poder, posso controlá-lo. Mas não é isso que quero. Meus planos são outros.
Ela balançou a cabeça, o que fez a dor aumentar.
_Sabemos tudo sobre a estrada de ferro e aquele homem, de Boston - murmurou. - Harry vai impedi-lo de continuar.
Stoner fitou-a por um longo tempo, como se lhe pesasse as palavras. Depois, ficou em pé.
_Gostaria de deixar que meu primos liquidassem você ainda esta noite. Para problemas difíceis, prefiro as soluções mais simples. Contudo, muita gente nos viu juntos e não quero que venham me fazer perguntas. Não, por enquanto. Assim, só me resta pedir paciência a eles, pelo menos por alguns dias. - Empurrou a corrente com a ponta da bota. - Não creio que você possa ir a parte alguma, o que é muito bom. Saiba que não confio nem um pouco em você, noivinha querida. Vou espalhar o boato de que você foi embora, ao saber que sua reputação estava manchada. E depois, deixo os rapazes livres para matá-la. - Sorriu, mais uma vez. Tinha a crueldade estampada no rosto. - Não se preocupe. Eles gostam de fazer o trabalho bem rápido. É um ponto de honra, para eles.
_Honra? O que patifes como vocês, que atiram em mulheres e crianças pelas costas, sabem sobre honra?
_Não pretendo perder meu tempo discutindo com você. Tente não chamar muita atenção para sua pessoa, Hermione querida. Os rapazes têm estado muito ocupados, ultimamente, sem tempo de ir à cidade para satisfazer suas necessidades. São homens, sabe como é. Ou você ainda continua uma virgem estúpida?
Levantando o queixo, ela encarou-o, o ódio soltando chispas de seus olhos.
_Não importa - gargalhou ele com deboche. - Você vai morrer em breve. Adeus.
Saiu, deixando o som de sua risada maldosa vibrando no ar.
Hermione encolheu-se até sentir as costas prensadas contra a parede. Tremia descontroladamente. Um dos brutamontes entrou, jogando sobre ela um lençol, e saiu sem dizer palavra.
Enrolando-se no tecido fino, ela percebeu que o homem deixara a porta aberta. Podia ouvir o que diziam no outro cômodo. Ao que tudo indicava, planejavam o próximo assalto.
_Lucas disse que devemos atacar a fazenda - disse um deles.
_Mas não faz sentido - comentou o outro. - Não fica no traçado da ferrovia.
_Não temos de discutir isso - refutou o primeiro.
_Lucas mandou a gente fazer, a gente faz. Daqui a três dias, então, vamos para a fazenda dos Lupin. E não deixaremos ninguém vivo para contar a história.

Harry tinha ganas de demolir a cidade com as próprias mãos. Por dois dias, ele e Remo haviam escarafunchado cada pedaço de Whitehorn, e nada haviam encontrado. Hermione desaparecera, e ninguém sabia onde podiam encontrá-la.
_Ninguém, a não ser Stoner - resmungou Harry para si mesmo.
Remo olhou-o sem dizer nada.
A única coisa que mantinha Harry lúcido era o fato de Stoner encontrar-se na cidade, exibindo-se à vista de todos, o que significava que não estava com Hermione. Significava, porém, que a moça ficara nas mãos dos primos dele, o que era ainda pior. Aquelas criaturas, totalmente amorais, eram como cães ferozes, rosnando, prontos a atacar qualquer um que surgisse em seu caminho.
O aperto na garganta já se tornara costumeiro, tal como o pavor. Não queria admitir quanto estava preocupado. Mas, a idéia de ter chegado tarde demais o perseguia como um fantasma. Era impossível esconder seus sentimentos de Remo.
_Ela tem de estar em algum lugar - disse com aflição.
_E está. Só temos de descobrir onde - murmurou o amigo, a voz calma contrastando com a de Harry.
Harry fez menção de pegar o cavalo. Parou. A distância, viu um homem alto, caminhando em direção ao restaurante de Millie. Reconheceu os passos largos, o jeito altivo, as roupas caras. Havia dois dias que se consumia nas chamas do inferno por causa daquele homem. Mas ia reverter a situação. Resolutamente, voltou para a calçada. Remo correu atrás dele.
_Harry, o que você vai fazer?
_Vou fazer umas perguntas a Stoner.
_Não vai adiantar nada.
_Pode ser, mas ainda assim vou perguntar - resmungou, apressando o passo.
Stoner chegou à porta do restaurante. Levantou os olhos e viu Harry, que se aproximava. Em vez de entrar, parou, arqueando uma das sobrancelhas, como se o esperasse.
_Boa noite, Potter - cumprimentou, assim que o outro pôde ouvi-lo.
Harry obrigou-se permanecer calmo. Entrar em luta corporal com o facínora não levaria a nada. No intimo, porém, sentia-se como um vulcão prestes a explodir. Tinha uma vaga impressão de que Remo se postara às suas costas e que o povo parara para observar. Alguém berrou o nome dele. Parecia a voz de Lindsay. Não deu atenção.
_Onde ela está? - perguntou, a voz contida. - Onde está Hermione?
Stoner ajeitou as mangas do paletó, desprendendo um fiapo invisível com os dedos.
_Não sei a quem se refere. Quem? Hermione do quê?
_Não me venha com essa. Ela veio até a cidade há dois dias para procurá-lo. Ninguém mais a viu depois disso. Onde você a prendeu?
_Exatamente do que você está me acusando, Potter? - perguntou Stoner, abrindo os olhos desmesuradamente, fingindo surpresa. - Se bem me recordo, é você que tem o hábito de seqüestrar mulheres inocentes. Realmente, a srta. Granger esteve aqui. Por pouco tempo. Partiu, dizendo algo a respeito de voltar para Chicago. Mas não foi muito clara, de modo que não posso confirmar essa informação. E, mesmo que pudesse, não diria a você. Obviamente, a jovem se cansou de sua companhia. Por que outro motivo ela teria abandonado a fazenda?
Harry precisou agarrar-se aos últimos resquícios de seu auto-controle. Sabia exatamente por que Hermione deixara a fazenda. Estava tentando ajudar, aproximando-se de Stoner. Queria encontrar as informações, as provas de sua culpa, demonstrar que era ele quem roubava as terras e assassinava pessoas inocentes.
Os lábios de Stoner abriram-se em um sorriso cruel.
_Afinal de contas, a jovem parece ter bom gosto. Só lamento não ter tido a oportunidade de descobrir todos seus segredos, se é que você deixou algum para trás.
O insulto à honra de Hermione era algo que Harry não podia suportar. Consumido pela culpa, sabendo que arrastara o nome da mulher amada à lama, lançou-se sobre Stoner.
_Seu bastardo - gritou, desferindo um soco contra o adversário. - Onde ela está? Onde a escondeu?
Stoner tentou defender-se. Procurou golpeá-lo, mas Harry, enlouquecido e dominado pela raiva, atacou-o com golpes duros e rápidos até fazê-lo cambalear.
Mãos firmes agarraram Harry. Lutou para desvencilhar-se, mas eram muitas. Cego pelo ódio, voltou-se, lançando-se contra aqueles que o impediam de continuar seu ataque. Foi seguro por vários soldados. Consolou-se, ao ver o filete de sangue escorrendo dos lábios de Lucas.
_Potter, você não pode agir assim - Lindsay dizia. - Todos sabemos que está preocupado com a srta. Granger. Meus homens vão ajudá-lo na busca.
_Não é necessário - exclamou Stoner, com os olhos gélidos.
Lindsay ignorou-o.
_Está me ouvindo, Potter? Vamos trabalhar melhor se trabalharmos juntos.
_Desde quando você se preocupa com alguma coisa, a não ser com seu patrão? - Harry desvencilhou-se e encarou Stoner. - Ainda não terminamos nosso assunto.
_Claro que terminamos - respondeu Stoner. - Você vai se arrepender amargamente, Potter. Eu prometo.
Harry sentiu a angústia aumentar de intensidade. Seria Hermione a vítima que pagaria por seu ato impulsivo? Era doloroso demais. Deu um passo em direção a Stoner. No mesmo instante, Remo e Lindsay impediram-no de seguir.
_Não é hora para isso - resmungou Remo. - Você sabe que não, Harry. Mais tarde, talvez.
Lindsay concordou.
_Ouça seu amigo. Acalme-se, Harry.
Eles tinham razão. Havia gente demais à volta. O que pretendia, afinal? Havia hora e lugar para tudo. Primeiro, devia encontrar Hermione. Depois, poria um fim aos desmandos de Stoner. Estava disposto a morrer por aquilo.
Voltou-se. Então, pela primeira vez desde que voltara com a boiada, deparou-se com um delegado de verdade. Lindsay ainda parecia estar à beira do túmulo, mas não tremia nem cheirava a uísque. Talvez pudessem contar com ele, afinal.
Desceu da calçada, com Remo em seus calcanhares.
_E agora? - perguntou o amigo.
_Não sei. Vamos andar por aí.
Foram até os limites da cidade. O sol principiara a se pôr. Dirigiram-se ao escritório de terras. Harry olhou para os lados. Não havia ninguém na rua. Teve uma idéia. Aproximou-se, dobrou o braço e, com o cotovelo, arrebentou o vidro da porta.
_Harry! - exclamou Remo, correndo para perto. - O que está tentando fazer?
_Aquilo que já devíamos ter feito, assim que soubemos que as informações que precisávamos estavam aqui neste escritório.
Enfiou as mãos através dos vidros estilhaçados, virou a chave, abrindo a porta, e entrou.
A sala estava escura. Harry demorou alguns instantes para encontrar um lampião e acendê-lo. Assim que pôde enxergar, viu uma pilha de correspondência sobre a escrivaninha. Nas estantes, havia várias caixas cheias de papéis. Um grande arquivo de aço estava encostado à parede. Correu na direção dele, abrindo as gavetas.
_Por que você não procura lá? - perguntou a Remo, apontando a escrivaninha.
_O que estamos procurando? - perguntou o amigo.
_Alguma coisa a ver com as transações de terra, algo que indique ser Stoner o homem que está por trás dos ataques às fazendas. Talvez a carta que Hermione disse ter lido.
Durante horas, vasculharam os papéis. Harry encontrou duas correspondências enviadas por investidores do leste. Remo teve mais sorte. Encontrou a carta a que Hermione se referira, em meio a algumas escrituras. Com provas suficientes nas mãos, deixaram o prédio.
Caminharam através da rua deserta e escura.
_Stoner vai saber que fomos nós - disse Remo.
_Ótimo. Assim virá atrás de nós, e terei uma desculpa para matá-lo.
_Se fizer isso, nunca saberemos onde Hermione está.
Harry concordou, relutante. O amigo tinha razão. Tinha de resgatar Hermione. Precisava. Havia tantas coisas que queria lhe dizer. Sentia por tudo o que havia lhe acontecido. Desejava abraçá-la e confortá-la. Ansiava por estar com ela. As palavras fugiam de sua mente. Queria contar-lhe que a compreendia. E também compreendia seus sonhos. Não passava de um homem, com uma fazenda parcialmente destruída pelo fogo, e alguns milhares de cabeças de gado. Não era capaz de fazer frases românticas. Nunca, porém, havia se sentido tão envolvido com alguém como com ela. E, se Hermione aceitasse, queria ficar com ela. Não importava como.
Fechou os olhos. As palavras não eram bonitas mas vinham do fundo do coração. Ele, que nunca quisera ouvir falar de amor nem se julgava capaz de amar, acabara enredado por aquele sentimento, Estava disposto a dedicar-se a ela pelo resto da vida. Mas, primeiro, era preciso encontrá-la. Se ainda estivesse viva.

Hermione esticou o pescoço, tentando ouvir o que se falava no cômodo ao lado. Distinguia um leve murmúrio, mas era incapaz de compreender o que diziam. A frustração abateu-a, aumentada pelo cansaço e pela fome. Nos últimos três dias, não ingerira quase nada, a não ser um pouco de água de um balde, que enchiam a cada manhã, e um prato com uma porção de carne cozida, sem gosto e quase queimada. Talvez Stoner pretendesse matá-la de inanição.
Rolou o corpo, procurando chegar até a porta trancada. Colou os ouvidos na madeira, na esperança de ouvir alguma coisa. Chegara o dia em que os primos de Stoner fariam o ataque à fazenda dos Lupin para matar a todos.
Um soluço incontrolável subiu-lhe à garganta. Pôs-se a rezar, baixinho, pela segurança de Harry. Era a única coisa que podia fazer. Estava acorrentada, imobilizada. Mesmo assim, queria saber quais eram os planos daqueles facínoras. Conseguiu entender umas poucas palavras. Falavam em roubar alguns cavalos de Remo, considerados os melhores das redondezas. De repente, o ruído de cadeiras sendo arrastadas fez com que se apressasse a voltar para o lado do fogão. Os homens entraram na cozinha, encontrando-a de cabeça baixa, enrolada nos lençóis sujos.
Lançaram-lhe um olhar vago, seguindo para o estábulo para selar os cavalos. Estavam prontos para a missão modal.
Assim que deixaram a casa, Hermione pôs-se em pé com dificuldade, e seguiu-os com o olhar. Não podia permitir que partissem. Não sabia como, mas tinha de impedi-los. Já era horrível pensar que planejavam incendiar a linda casa dos Lupin, mas o pior era que pretendiam liquidar com Remo e Harry. Graças a Deus, Tonks estava a salvo.
As lágrimas subiram-lhe aos olhos. Não era justo. Deus Todo-Poderoso, tinha de haver uma solução. Não se importava em morrer, mas não queria que nada acontecesse a Remo e, muito menos, a Harry. Não poderia viver com a culpa de ser, em parte, a responsável pelos assassinatos.
Chorou, caindo de joelhos, sacudida pelos soluços. A dor era grande demais. Estava enregelada de medo.
De repente, uma idéia cruzou-lhe a mente. Podia fazer uma fogueira. Não para se aquecer mas para sinalizar onde estava. Se Deus quisesse, Remo e Harry iriam ver a fumaça no céu, e pensariam que se tratava de mais um ataque. E viriam salvá-la.
Levantou-se e deu alguns passos. A corrente não permitia que fosse muito longe. Mas podia chegar até a pilha de lenha, estocada a um canto do fogão. Puxou uma das achas, e as outras rolaram pelo chão, fazendo-a perder o equilíbrio e cair. Ajoelhou-se, reunindo os pedaços de madeira tio centro da cozinha, longe o suficiente do lugar onde a corrente estava presa. Juntou o lixo espalhado e restos dos escombros no mesmo lugar. Foi até o fogão, uma estrutura de ferro ainda intacta, e remexeu nos compartimentos à procura de fósforos. Achou um palito em bom estado. Riscou-o, e uma pequenina chama surgiu. Protegendo a tímida faísca, aproximou-a da lenha e dos papéis velhos. Logo, o fogo crepitou. Agora, era esperar que a fogueira ardesse. Jogaria, aos poucos e com cuidado, a água do balde nas chamas para produzir fumaça. Também poderia reduzir os lençóis a trapos, umedecê-los e queimá-los. Foi o que fez. Rezou para que os amigos vissem os indícios do incêndio e viessem averiguar.
As chamas aumentaram de intensidade. O calor invadiu a cozinha. Hermione olhou a pilha de lenha, sabendo que não duraria muito. Apanhou algumas cadeiras quebradas e jogou-as na fogueira. Com as mãos, lançou água nas cinzas.
A fumaça envolveu-a, fazendo-a sufocar. Tossindo, tentou afastar-se. O vento mudara de direção, soprando as chamas para o canto onde se escondera. Abaixou-se, cobrindo a boca com um pedaço de lençol. Não adiantou muito. Percebeu, com os olhos ardendo, que o fogo tomara conta do assoalho de madeira. Horrorizada, viu que as labaredas moviam-se, tomando conta de tudo. A casa estava em chamas, e ela, aprisionada dentro.
_Não! - gritou, puxando a corrente.
O fogão, largo e pesado, não se moveu. A ponta da corrente continuava presa a um de seus pés. Hermione usou o restante de suas forças, inutilmente. A fumaça continuava a se espalhar. Tossiu, sufocada. O calor ardia em sua pele. Fagulhas voavam chamuscando seu vestido, queimando-lhe o rosto e as mãos. Em desespero, começou a gritar.




Obs:Oiiii pessoal!!!!Capitulo postado!!!Espero que tenham curtido!!!!Vou viajar no feriado de Páscoa, por isso quarta tem mais atualização!!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!!

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