Capitulo 21



CAPÍTULO 21


Hermione ajeitou-se na sela, acariciando o pescoço do garanhão castanho. Refletiu se o fato de pegar um dos cavalos dos Lupin não a tornava uma ladra. Explicaria tudo a Remo, se saísse viva de sua empreitada. E, com certeza, ele haveria de entender. Precisava ir à cidade e não podia correr o risco de Harry voltar mais cedo e notar que ela se fora. Se aquilo acontecesse e ela estivesse a pé, Harry teria condições de apanhá-la. Com um pouco de sorte, ele não retornaria antes do anoitecer. E, àquela hora, ela já teria se encontrado com Stoner.
Contornou a última curva da estrada e divisou, a distância, as primeiras construções de Whitehorn. Sentia o corpo dolorido e o estômago revirado. Estava tomada pelo medo. Já passara por outras situações perigosas, amedrontadoras, e se safara. Iria sair-se bem. Havia muita coisa em jogo. Todas as esperanças de Harry para o futuro, a vida de gente inocente e, principalmente. justiça. Stoner havia agido impunemente por tempo demais. Matara e destruíra, atendendo aos próprios interesses, e alguém tinha de pôr um fim naquilo. E esse alguém era ela, que conhecia seus segredos e tinha a desculpa perfeita para se aproximar dele. Embora soubesse que Harry não aprovaria seu plano, sabia que ele não tinha outro melhor.
Em nome do amor, faria qualquer coisa, qualquer sacrifício. Seguiria em frente, movida por aquela força e pelas lembranças da noite anterior.
Entrou na cidade, revestindo-se de coragem. Empertigou-se, imaginando o que haveria de dizer quando se defrontasse com Stoner.
A leste, no final da rua reconheceu o prédio onde se instalava o escritório de terras. Foi até lá, puxou as rédeas, parando o cavalo, e escorregou da sela, alcançando o chão. Da calçada, vislumbrou uma silhueta escura através dos vidros da janela. Ele estava lá dentro. Chegara a hora.
Respirou profundamente, endireitou os ombros e, então, caminhou decidida para a porta. Abriu-a e entrou.
Lucas Stoner levantou os olhos, um tanto espantado com a intromissão. Em seu rosto, não havia sinal algum de que a tivesse reconhecido. Nem poderia, lembrou-se Hermione. Embora ela tivesse tido a ocasião de observá-lo, ele nunca a vira antes.
_Lucas? - gritou, levando as mãos ao peito, a voz soando com uma aflição genuína.
_Sou eu - respondeu ele, em um tom cauteloso, Hermione pensou em Harry e que talvez nunca mais o visse, novamente; pensou em Albert Cooper e em sua morte, estúpida e sem sentido; pensou nas duas crianças mortas, que ela e Harry haviam descoberto, na fazenda semi-destruída. Associou as lembranças ao medo que sentia e deixou as lágrimas aflorarem. Deixou que lhe corressem pelo rosto sem enxugá-las. Precisava que Lucas acreditasse que a emoção a esmagava.
_Finalmente! - exclamou, rompendo em soluços. - Pensei que nunca iríamos nos encontrar. - Interrompeu-se, correndo até ele aos prantos.
Foi difícil representar. O estômago revolveu-se a ponto de quase fazê-la vomitar. Dominando-se a custo, abraçou-se a Stoner, como se estivesse pedindo proteção e ajuda. Embora o odiasse, deixou que ele pousasse as mãos em seu ombro e lhe levantasse o rosto. Encarou-o, os olhos cheios de lágrimas.
Assim tão perto, pôde ver que era um homem bonito, ainda que de feições sinistras. Mais do que a cicatriz, o que a amedrontava era a frieza mortal que luzia em seus olhos. Como tinha sido tola ao idealizar um canalha como ele. Graças aos céus, Harry a seqüestrara. Senão estaria casada com aquele assassino.
_Você deve ser Hermione Granger, minha noiva desaparecida.
Ela concordou, fingindo soluçar.
_Oh, Lucas, foi tudo tão horrível! Para nós dois, creio eu. Você deve ter ficado terrivelmente preocupa­do. E eu... Eu estava desesperada.
As feições de Stoner endureceram. Era moreno, como Harry, mas as semelhanças paravam aí. Era bem mais alto e as roupas, caras e bem-feitas, realçavam sua força e seu tamanho. Um assassino e ladrão bem vestido, pensou ela, sabendo que, se levantasse suspeitas, seria morta, com uma frieza ainda maior que a que matara Albert Cooper.
_Você pensou em mim? - ele perguntou.
Hermione passou a mão pelo rosto, enxugando as lágrimas.
_A todo instante. Fiquei arrasada com o seqüestro. Só conseguia pensar que viera de tão longe e que conseguira chegar tão perto de você. - As palavras soavam convincentes. Talvez porque, em parte, fossem verdadeiras. - Foi terrível ver meus sonhos destruídos, assim, de repente.
Ele continuava segurando-lhe o queixo. Olhou-a, como se a examinasse, virando-lhe o rosto para a direita e, depois, para a esquerda. Será que passaria no teste?
_Você é bem mais bonita do que pensei - ele murmurou, por fim.
Baixando os olhos, ela fingiu embaraço diante do elogio.
_Bondade sua - retrucou, praticamente lendo os pensamentos dele.
Stoner era esperto, muito esperto, ou não teria atingido a posição que ocupava. No entanto, estava tentado a acreditar nela. Tentado apenas, não convencido. Precisava ser cautelosa, pensou Hermione.
Tomando-lhe a mão, ele levou-a até uma poltrona, ao lado da escrivaninha. Hermione deixou-se afundar no assento, olhando disfarçadamente ao redor, procurando pela cada que lera quando estivera no escritório, Os papéis estavam perfeitamente organizados sobre a mesa. Nem sinal da correspondência. Teria de voltar na primeira oportunidade, para fazer uma busca.
_Então - disse ele, sentando-se na ponta da escrivaninha e cruzando os braços -, conte-me o que aconteceu.
_Detesto ter de me lembrar disso. - Com um suspiro, ela começou a falar, tentando reproduzir o medo que sentira quando Harry a seqüestrara. - A diligência quebrou e aquele homem surgiu, apontando uma arma. Ele me arrancou para fora e me obrigou a ir com ele. - fitou-o nos olhos. - Eu não queria e lutei com todas as minhas forças. Ele, porém, era mais forte e me jogou sobre os ombros e me carregou até o cavalo.
Ela dizia a verdade, tanto quanto possível. Falou da primeira noite no acampamento, de seu terror e da tentativa desesperada para fugir. Contou que ficara amarrada enquanto Harry fora encontrar-se com alguém. Também detalho a forma como tentara escapar pela segunda vez.
Stoner a tudo ouvia, com as sobrancelhas levantadas.
_Você é bastante determinada, não é assim?
_Claro, Lucas. A única coisa que eu queria, depois que recebi sua cada, era vir para Whitehorn e casar-me com você. Não conseguia acreditar que alguém pudesse querer nos afastar. - Pousou as mãos no colo, em um gesto de desalento. - Acho que fui uma prisioneira bastante difícil de conter.
Os olhos frios de Stoner se estreitaram.
_O que você acha desse homem?
_Potter? - ela perguntou, dando de ombros, com um leve toque de desprezo. - Ele não me machucou nem agiu com brutalidade. Mas nunca vou perdoá-lo por ter me seqüestrado. Disse a ele que não passava de um criminoso, que não chegava aos pés do homem que você era.
Daquela vez, o embaraço era genuíno. Ela, realmente, dissera tais coisas a Harry. Agora, que conhecia a verdade, agradecia que ele não a tivesse libertado. Como pudera ser tão tola?
_Aposto que ele divertiu-se com isso - disse Stoner, rindo à socapa.
_Na verdade, não - murmurou ela, forçando-se a sorrir.
_E como conseguiu fugir da fazenda?
Era uma pergunta difícil, mas Hermione pensara em várias maneiras de contar o fato no caminho até a cidade.
_Eles me mantiveram presa em um quarto, nos fundos. Havia uma mulher e um homem estranho. Acho que era marido dela...
Fez uma pausa. Como esperava, Stoner concordou.
_São os Lupin. Você ficou na fazenda deles.
Então, pensou ela, ele sabia onde ela estava o tempo todo e nem se preocupara em resgatá-la. Bem, iria pagar por aquilo e por todas as maldades que fizera. Daria o melhor de si para fazê-lo sofrer uma punição adequada.
_Há dois dias, eles deixaram a fazenda. Quando percebi que estava sozinha, quebrei os vidros da janela e consegui pular a janela para escapar. Apanhei um dos cavalos que encontrei e fugi.
Esperou, tentando dar ao rosto um ar de expectativa. Para todos os efeitos, era uma noiva esperançosa, ansiosa para ser aceita pelo futuro marido. A boca, entretanto, estava seca e amarga, o estômago continuava a revirar a ânsia subia-lhe até a garganta. Será que ele acreditaria nela?
O silêncio durou tanto que Hermione estava prestes a gritar. Mas, finalmente, ele inclinou-se, segurando-a pelo queixo.
_Bem, minha querida, você deve estar exausta com tantos contratempos. Creio que é melhor levá-la até o hotel. Descanse a tarde toda. À noite, se me permitir, gostaria de levá-la para jantar.
Hermione quase desmaiou de alivio. Ele engolira a história. Forçou um leve sorriso.
_Você é muito gentil. Mal posso descrever como estou feliz neste momento. Não posso imaginar felicidade maior.
_Ah, está me propondo um desafio. - Stoner levantou-se, oferecendo-lhe a mão. - Aceito, com o maior prazer.
Hermione pôs-se em pé, apoiando-se nele, que a conduziu para fora.
A tarde estava ensolarada e quente. Várias pessoas, que caminhavam pela calçada, detiveram-se, observando-a. Hermione desejou poder voltar, desaparecer, fugir. Teve vontade de gritar, dizendo a todos que tudo não passava de uma encenação, que odiava Lucas Stoner, que queria que ele fosse para o inferno. Mas, muito ao contrário, levantou os olhos, fitando-o amorosamente. Quando ele abriu a porta do hotel para que Hermione entrasse, ela lhe sorriu e agradeceu. Faria qualquer coisa por justiça. Inclusive aceitar partilhar o leito com ele.

_Já vou! - gritou Daisy ao ouvir as batidas na porta.
Estava ocupada, fazendo pão. Tinha o avental cheio de farinha, assim como as mãos e os braços. Atravessou a sala, relanceando o olhar para o relógio de parede. Passava das duas da tarde. Quem teria vindo visitá-la, a uma hora daquelas?
O coração bateu-lhe um pouco mais forte ao pensar que podia ser Leland. Não o via desde o dia em que se declarara a ela. Atitude sensata, pois, se Stoner descobrisse, o médico estaria morto. Por enquanto, o melhor era manter tudo em segredo. Quando as dificuldades e aflições a atormentassem, lembraria as promessas que Leland lhe fizera. A força de seus sentimentos iria ajudá-la a tudo suportar.
Abriu a porta e engasgou de surpresa. Parado no pequeno alpendre, estava Lucas Stoner. Ele raramente aparecia, no meio do dia, e jamais sem avisar.
_Lucas - murmurou ela, mantendo a porta aberta.- Que surpresa inesperada. - Colocou na boca um sorriso de mentira. - Pensei que só fosse vê-lo à noite.
_É por isso que estou aqui - disse ele, entrando e beijando-a no rosto. - Só posso ficar um instante, mas quero que saiba que terei que mudar o combinado.
_Claro - ela respondeu, rezando para que ele cancelasse o encontro. Odiava tê-lo por perto, conversando com ela, tocando-a, tomando-a como esposa.
Tomando-lhe a mão, ele apertou-a entre as suas, os dedos limpando a farinha que as cobria.
_Daisy, querida, trago más notícias.
_Que aconteceu? - ela perguntou, estremecendo.
_Minha noiva apareceu na cidade, procurando por mim.
Daisy nem precisou fingir para demonstrar o espanto. Hermione estava na cidade? Tinha ido procurar Stoner? Será que tinha enlouquecido?
_Eu... Não estou entendendo... - murmurou, em estado de choque.
_Parece que me enganei a respeito dela. Aparentemente, ela não se submeteu aos encantos de Potter. Tentou escapar diversas vezes e, hoje, conseguiu. Ela me pareceu muito convicta do que quer e devotada a mim. - Sorriu, como se pedisse desculpas. - Sei que isso vai aborrecer você.
_De fato! - exclamou ela, mal podendo continuar em pé.
Afinal, o que pretendia Hermione, voltando a Whitehorn depois de tudo o que acontecera? Será que não avaliava o perigo que estava correndo? Não tinha aprendido a lição? Ao recordar-se do risco que haviam enfrentado, de como poderiam ter sido surpreendidas e pegas no escritório, Daisy quase desmaiou. Tinham escapado por pura sorte.
Lucas conduziu-a ao sofá, fazendo-a sentar-se bem perto dele.
_Tenho de prosseguir com meus planos - disse. - Ela tem boa aparência, é bastante apresentável, e, sendo órfã, tem todos os requisitos que quero em uma esposa. Vou jantar com ela hoje à noite. Por isso só posso vir ver você bem mais tarde.
_Mais tarde? - ela perguntou, tentando descobrir se Hermione tinha um plano em mente.
_Claro! — exclamou ele, achegando-se e beijando-a. - Eu a deixarei no hotel e virei ver você. O que acha? - Tomando o arrepio que a perpassou como um sinal de desejo, ele soltou-lhe a mão, pondo-se a acariciar seus seios. - Ah, Daisy - sussurrou -, você é uma mulher adorável. - Levantou-se. - Preciso voltar ao escritório. Vejo você mais tarde.
_Tudo bem - disse ela, levantando-se na ponta dos pés e beijando-o com ardor. - Por favor, venha.
Ele soltou uma risada.
_Seu ciúme me deixa contente - confessou, caminhando para a saída.
Daisy fechou a poda e recostou-se contra a madeira. O que estava acontecendo? Será que Hermione não passava de uma grande tola? Ou tinha um plano? Deveria ser isso. Não viria a cidade sem um motivo forte.
_Oh, não! - exclamou, lembrando-se da carta que a moça encontrara e lera. Sem dúvida, viera apanhá-la, como prova dos desmandos de Stoner. - Ela vai se matar.
Hermione era uma idiota, se pensava que poderia voltar-se contra Stoner e sair viva. Daisy tentou imaginar o que pretendia a tola. E como Harry permitira que Hermione voltasse à cidade. Provavelmente, ele nem sabia o que estava se passando. Andou de um lado para o outro, pela cozinha. Desamarrou o avental e lavou as mãos. Desenrolou as mangas e abotoou os punhos. Precisava ter uma conversa com Harry. Era o único que poderia tomar uma atitude. Parou. Não podia ir à fazenda dos Lupin. Não podia arriscar ser apanhada. Havia apenas uma pessoa em quem podia confiar para uma missão como aquela.
Quinze minutos mais tarde, Daisy entrava no consultório do dr. Leland Prescott. Encontrou-o sentado atrás da mesa de trabalho. Quando levantou os olhos e a viu, o rosto dele brilhou de felicidade, e os olhos reluziram de amor. Ela, por sua vez, ainda que quisesse corresponder, não se permitiu. Aquele não era o lugar para demonstrações de carinho. Alguém poderia surpreendê-los e correr a contar para Stoner.
_Preciso de sua ajuda - disse, atropelando as palavras. Ao ver que ele fazia menção de levantar-se, fez um gesto, impedindo-o. - Por favor, continue sentado. Se alguém passar e me vir aqui, quero que tudo pareça natural.
_Estou com saudade.
_Eu também. Mais do que gostaria.
_Fico feliz. Quero confirmar o que eu disse, Daisy. Quando tudo acabar, vou casar-me com você.
Daisy não tinha certeza de mais nada. Depois de tudo o que fizera, não sabia, ao certo, se merecia tanta felicidade. Suas dúvidas, porém, tinham de esperar.
_Hermione Granger está aqui. - Ao notar-lhe o ar de confusão, acrescentou: - A noiva de Stoner. Veio até a cidade, e Stoner está com ela neste momento.
_Então, era ela? - perguntou Leland. - Eu o vi caminhando ao lado de uma jovem algum tempo atrás. Não imaginei quem fosse.
_Onde eles foram?
_Ao hotel.
_Graças a Deus, ele não a escondeu, Assim, tudo ficará mais fácil. - Aproximou-se da mesa. - Leland, preciso que vá até a fazenda dos Lupin contar a Harry que Hermione está aqui na cidade. Não sei por que ela veio, mas suspeito que tem algum plano. Está agindo como uma tola e pondo todos em perigo, principalmente a ela mesma. Harry precisa vir buscá-la.
_Vou sair já! - ele exclamou, sem tirar os olhos de Daisy. - Diga que me quer como eu a desejo.
_Claro que quero você, Leland - ela respondeu, mordiscando o lábio e sorrindo. - Você é o homem mais maravilhoso que já encontrei em toda minha vida.
Saiu do consultório, parando na calçada. O que faria, agora? Poderia voltar para casa, mesmo sabendo que não pensaria em outra coisa a não ser em Hermione. Talvez fosse melhor tentar ver a moça e convencê-la a voltar para a fazenda.
Dirigiu-se ao hotel. Ao entrar no saguão, viu uma silhueta forte e conhecida. Antes que pudesse voltar atrás, ele virou-se. Vendo-a, Orin Stoner, um dos primos de Lucas, aproximou-se.
_O que está fazendo aqui? - perguntou.
O brutamontes era uma versão empalidecida de Lucas. Alto e moreno, não tinha a beleza das feições de Stoner ou a sua inteligência. Agia como um cão selvagem, preferindo atacar a conversar.
Daisy praguejou, mentalmente. Orin iria contar a Lucas que ela havia estado no hotel. Fizera uma tolice e estava enrascada. Precisava encontrar uma saída. Levantou os ombros e apertou os lábios.
_Lucas me contou que ela está aqui. A mulher de Chicago. A que ele vai... desposar. - Deu um passo em direção a Orin, procurando ignorar o fedor rançoso que se desprendia de seu corpo sujo. - Quero vê-la. Saber se é mais bonita do que eu. Quero saber... - Virou-se, como se fosse desabar em lágrimas.
_Não posso permitir que suba - disse Orin. - Lucas me disse que não deixasse ninguém entrar no quarto dela. É melhor ir para casa, srta. Newcastle.
Sem ter outra alternativa, ela recuou. Meneando a cabeça, concordou, dirigindo-se à saída. Lá fora, relanceou os olhos para as janelas. Rezou para que Hermione soubesse o que estava fazendo.

Harry saiu do estábulo e deteve-se. A casa estava completamente às escuras. Cheirou o ar e não sentiu o costumeiro aroma de comida. Estranhou. Parecia que todos haviam desaparecido, inclusive Hermione. Sentiu um baque surdo no peito.
Será que acontecera alguma coisa a ela? Teria caído? Sofrido um acidente?
O som de um galope chamou-lhe a atenção. Intuiu, imediatamente, que o cavaleiro que se aproximava tinha alguma coisa a ver com Hermione. Mudou o rumo e correu para o atalho que conduzia à estrada.
O cavaleiro aproximou-se e, só então, Harry reconheceu Leland Prescott, o médico de Whitehorn. O peito se lhe apertou, ainda mais.
_O que aconteceu? - perguntou, assim que o médico pôde ouvi-lo.
Prescott puxou as rédeas e desmontou.
_Daisy pediu que eu viesse - respondeu. - Sua amiga, Hermione, foi para a cidade pela manhã, não sei bem a que horas. Está no hotel com Stoner,
Harry fitou-o, como se não entendesse o que ele dizia. Por que Hermione haveria de abandonar a fazenda e ir para Whitehorn?
_Deve haver algum engano - murmurou.
_Não, não há. O próprio Stoner contou a Daisy. Ela me procurou e me pediu que viesse avisá-lo. Disse que você tem de ir buscar Hermione e afastá-la de Stoner antes que ela seja morta.
Harry se pôs a correr na direção do estábulo.
_Espere por mim. Vou voltar com você. - Entrou na construção, procurando pela sela. - Que ela está pensando? - perguntou, encilhando o cavalo. - Ela sabe demais. - Um frio percorreu-lhe o corpo, ao pensar em Hermione e em Stoner. Se o maldito descobrisse o que ela procurava, não hesitaria em matá-la. E se divertiria com aquilo, principalmente se soubesse os sentimentos que Harry nutria por ela. - Como ela pôde fugir assim? - perguntou-se.
Só Hermione tinha as respostas. Rezou aos céus, pedindo que ela nada sofresse até que pudesse resgatá-la. Então, Hermione teria de se explicar.

Hermione esgueirou-se através do escritório de Stoner. Não conseguia livrar-se da sensação de estar sendo espreitada. Cada vez que se voltava, via apenas a sala vazia.
_São meus nervos - sussurrou, em voz baixa, ao empurrar a portinhola e se aproximar da escrivaninha.
Havia deixado o hotel meia hora antes do horário que Stoner combinara para levá-la a jantar. Ele deveria estar em casa, arrumando-se para o encontro. Podia usar o tempo para fazer uma busca no escritório. Mais tarde, quando o encontrasse, fingiria ter compreendido mal o local de encontro. Não era propriamente um plano, mas, nas circunstâncias atuais, era o melhor em que conseguira pensar.
Inclinou-se sobre a escrivaninha, observando as pilhas de papéis. Onde estaria a carta? Sabia que não dispunha de muito tempo. Estava escurecendo, logo teria dificuldades em enxergar, Decidiu-se por uma das pilhas. Pegou algumas folhas, examinando-as.
Trabalhando febrilmente, passou os olhos pelas primeiras linhas de uma carta. Deixou-a de lado, pegando outra. Não via nada parecido com a que tivera nas mãos na incursão anterior. Era frustrante saber que deixara para trás uma prova tão importante e...
Ouviu um estalido atrás de si. O ruído, fino e metálico, assustou-a. Saltou, virando-se na direção de onde vinha o barulho. Lucas Stoner estava em pé, no meio da sala, o rosto impenetrável.
_Meu primo me contou que você havia saído - disse, a voz fria e cortante. - Achei que estivesse confusa, não sabendo onde me encontrar. Por isso, vim procurá-la. Infelizmente, em vez da noiva bem-educada e de boas maneiras, deparei-me com uma pessoa capaz de remexer a minha correspondência em minha ausência.
Hermione não sabia o que dizer. O medo a assaltara de tal forma que ficara paralisada. Deixou cair os papéis das mãos. Pensou em sair correndo. Não conseguia mover-se, porém, nem mesmo quando Stoner aproximou-se.
Sem nem um aviso sequer, ele esbofeteou-a com violência. O impacto fez os ouvidos de Hermione zunirem. Ela soltou um grito de dor e tentou afastar-se. Ele a impediu, prendendo-a pelo braço. Os dedos dele enterraram-se em sua carne.
_Você me paga, sua vagabunda - ele rosnou, os olhos escuros brilhando de crueldade.
Hermione mal conseguia engolir. A face queimava em brasa, e seu braço parecia que ia partir-se em dois. Sabia o preço de ter sido pega em flagrante. Iria morrer.




Obs:Capitulo postado!!!!Espero que tenham curtido!!!Essa semana tem mais!!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!!

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