Capitulo 15



CAPÍTULO 15


Hermione, depois de caminhar por longo tempo, finalmente, chegou à estrada. Parte de sua raiva havia se desvanecido, substituída por uma férrea determinação. Como ousara Lucas Stoner voltar-lhe as costas? Agora, era ela que não se casaria com ele nem que fosse o único homem sobre a terra. Isso não a impediria, contudo, de procurá-lo. Iria lhe dizer, exatamente, tudo o que pensava a seu respeito.
Primeiramente, porém, teria de encontrar Whitehorn . Saíra de casa agitada e nervosa e pusera-se a andar a esmo, seguindo a trilha que conduzia à estrada. Não sabia a que distância ficava a cidade e qual a direção a seguir. Talvez devesse voltar e arranjar um cavalo. Pelo menos não se cansaria tanto. Mas alguém poderia vê-la. Nem os Lupin nem Harry permitiriam que ela pegasse uma montaria e saísse cavalgando para a cidade. Muito menos para se confrontar com o ex-futuro-noivo.
Antes que se decidisse, ouviu um som característico. Voltou-se a tempo de ver uma carroça dobrando a curva, guiada por um senhor já entrado em anos. Ao aproximar-se, o homem sorriu e cumprimentou-a, tirando o chapéu.
_Senhora - disse ele com cortesia. Depois, olhou ao redor. - Está indo para a cidade?
Ela estudou-o por instantes. Não parecia perigoso.
_Sim. Eu... - Tinha de pensar rápido e inventar uma mentira convincente. - Estou de visita aos Lupin. Sou uma prima distante de Tonks. Pensei em sair para fazer umas compras, mas não queria dar trabalho a ninguém. Whitehorn fica muito longe?
_A uns cinco quilômetros - respondeu o homem. - É uma caminhada e tanto para uma dama como a senhora. Se não se importar, terei prazer em levá-la. Meu nome é Albert Cooper. Tenho uma fazenda a algumas léguas daqui.
Hermione lembrou-se de ter ouvido os Lupin mencionarem um vizinho chamado Albert Cooper. Haviam se referido a ele como um bom homem. Portanto, miada teria a temer, se aceitasse o convite. Quanto mais rápido se aproximasse da cidade, mais cedo poria todo em pratos limpos com Stoner.
_Obrigada, sr. Cooper. Fico feliz em aceitar seu oferecimento.
Assim que subiu na boléia, o velho instigou o cavalo, que retornou a marcha em um passo sossegado. Hermione ficou em dúvida. Pelo jeito, a viagem seria tão demorada quanto se houvesse seguido a pé. A única vantagem é que não ficaria cansada.
_Vai ficar até quando? - perguntou Albert.
_Só mais algumas semanas.
_O verão é muito agradável aqui nessas bandas. Temos alguns dias muito quentes, mas, durante a noite, sempre esfria. Você é do leste?
Ela assentiu.
_Minha esposa era da Pensilvânia. Ela morreu há alguns anos.
_Sinto muito.
Albert deixou escapar um suspiro fundo.
_Ainda sinto saudade dela. Quando meu dia chegar não vou ficar triste. Ela disse, antes de morrer, que me esperaria lá do outro lado. Espero que esteja mesmo.
Continuou a falar da esposa e da fazenda. Contou que tinha cerca de quinhentas cabeça de gado, o que afinal de contas, não era muito se comparado ao rebanho de Harry e de Remo. Por sua vez, ela falou da vida em Chicago, tomando o cuidado de não citar o nome da cidade. Era melhor evitar entrar em detalhes. Não queria que o homem desconfiasse de que ela poderia ser a noiva de Stoner.
Depois de algum tempo, a conversa morreu. Estavam se aproximando de Whitehorn. Hermione sentia-se cada vez mais nervosa. Pensou em ensaiar o que diria a Stoner, assim que o encontrasse, mas nada lhe vinha a cabeça. O que dizer a um desconhecido a que lhe prometera desposar? Tinha que pôr um freio no seu temperamento ou acabaria aos berros com ele. Cada vez. que se lembrava da maneira com que ele voltara atrás em seu compromisso, tinha vontade de esganá-lo.
Como podia ter pensado que ele era decente e gentil? Harry ainda que a houvesse raptado, era dez vezes melhor. Sempre se portara como um cavalheiro. Depois de Stoner tê-la rejeitado, teria sido simples para dizer-lhe a verdade e livrar-se dela. Ele, porém, preferira mentir a destruir-lhe os sonhos
Estava com a reputação manchada. E como não iria estar? Quando se encontrava na floresta a sós com Harry isso nunca lhe passara pela cabeça. Agora, porém, tinha de reconhecer que fazia sentido. Tinha sido tola em não levar em conta o que haveriam de pensar. Apertou as mãos no rosto em chamas, tentando controlar o embaraço. Dizer a si mesma que, não importava o que falassem, era inocente, não a tranqüilizou.
A verdade é que ele a tinha beijado. Permitira que ele a tocasse nos seios. Permitiria muito mais, se ele houvesse tentado. O fato é que, nos braços dele, desfrutara de sensações desconhecidas. E tudo lhe parecera natural. E certo. Afinal, havia apreciado tanta intimidade sem nem ao menos protestar.
Uma multidão de pensamentos ameaçou aturdi-la. Pensou em Stoner, em Harry, no que fazer. Precisaria de um emprego, mas onde o conseguiria? Quem iria empregá-la em Whitehorn? Será que desejava mesmo fixar residência ali? Teria outra escolha? Não podia ficar para sempre na casa dos Lupin.
Deixou as mãos caírem no colo. Entrelaçou os dedos, apertando-os com força. De nada adiantava preocupar-se. O mais importante, naquele momento, era o encontro que teria com Stoner.
Ao chegarem à cidade, ela ainda não sabia o que dizer. Cada vez que ensaiava uma frase a raiva ressurgia. Tinha ganas de gritar.
Observou as casas que circundavam a rua principal. Whitehorn era pequena, embora um pouco maior que muitas das cidades pelas quais passara durante a viagem. Havia uma porção de bares, dois bancos, a filial da empresa de transportes, um armazém e, bem no final da rua, o escritório de terras.
Hermione virou-se quando passaram pelo escritório de Stoner, com medo de ser reconhecida. Que tolice, pensou, quando se deu conta daquilo. Ninguém a conhecia.
_Você disse que ia fazer umas compras - falou Albert. - O que acha de deixá-la bem em frente ao armazém? Estaria bem assim, senhora?
_Claro. Obrigada.
Assim que ele parou a carroça, ela desceu, agradecendo novamente com um enorme sorriso. Albert tocou a aba do chapéu e murmurou um até-logo.
Hermione ficou esperando que ele se afastasse para olhar ao redor. No calor do meio da tarde, havia poucas pessoas na rua. Duas mulheres, que caminhavam pela calçada oposta, lançaram um olhar de curiosidade em sua direção. Porém ninguém mais pareceu notá-la. Ficou por alguns instantes, olhando a vitrine da loja como se estivesse interessada em algo. Então rumou para o fim da rua, diretamente para o escritório de terras.
Ao se aproximar do edifício, lutou para controlar a ira. O sangue fervia-lhe. Cerrou as mãos com força por um segundo, imaginou-se esbofeteando Stoner, girando nos calcanhares e saindo de cabeça erguida do escritório. Em sua fantasia ele a seguiria, pedindo desculpas, procurando se explicar, implorando por uma nova chance. O ridículo de tal pensamento fez com que sorrisse. Porém, ao parar em frente à porta, o sorriso desapareceu. Endireitou os ombros, enchendo-se de coragem.
_Boa tarde - murmurou, entrando no escritório.
Olhou ao redor. O escritório parecia vazio. Aproximou-se do balcão.
_Olá - chamou.
Silêncio.
Uma grande escrivaninha dominava o ambiente do outro lado do balcão. Sobre ela, uma montanha de papéis. Tinha-se a impressão de que o dono do lugar havia sido chamado às pressas e saíra, deixando o trabalho inacabado. Ao fundo, havia um arquivo de gavetas, encostado à parede. Provavelmente, era ali que estavam todos os registros, envolvendo a compra e venda de terra na região. Ficou a imaginar se não estariam ali, também, as informações sobre a estrada de ferro.
Relanceou os olhos por sobre o ombro, certificando-se de que não havia ninguém nas imediações. Será que Stoner demoraria? Quanto tempo teria para vasculhar os arquivos?
Perdeu alguns valiosos segundos tentando decidir-se. Era arriscado demais. Porém, nada teria a perder se tosse até a escrivaninha e desse uma verificada nos papéis.
Empurrou a portinhola que separava o balcão do escritório propriamente dito e avançou rapidamente pela sala. Havia papéis espalhados por toda a parte, alguns no chão e outros nas estantes de madeira, que iam até o teto. Pelo jeito, Stoner não era muito cuidadoso com seus arquivos.
Apanhou o primeiro documento que havia sobre uma pilha de papéis. Era uma carta endereçada para alguém em Washington, com a relação das áreas pertencentes ao governo na região. Franziu as sobrancelhas e deixou-a de lado. O que procurava era outra coisa.
Remexeu as pilhas, correndo os olhos pelos nomes e pelas primeiras linhas dos documentos pala tentar apreender com a maior rapidez possível, o conteúdo dos mesmos. Os minutos corriam. De tempos em tempos, olhava para a janela. Não havia viva alma na rua. Podia aproveitar e ler mais alguns papéis antes de se colocar do outro lado do balcão.
Quase perdera as esperanças de encontrar alguma coisa quando descobriu uma carta interessante. Era de um homem de Boston, que assinava com o nome de John Cahill. Na correspondência, ele confirmava o compromisso de que as terras, pelas quais a ferrovia deveria passar, em breve estariam em nome de Stoner. Havia apenas mais alguns procedimentos legais a serem cumpridos. O sr. Cahill expressava também sua satisfação, acrescentando que, dentro de pouco tempo, ele e os demais investidores estariam livres para dar início à construção da estrada de ferro.
_É isto! - exclamou Hermione, triunfante.
Tinha em mãos a prova de que precisavam. Em vez de se confrontar com Stoner, iria retornar à fazenda levando o precioso documento. Assim que Harry o lesse poderia...
Uma mão enluvada agarrou-lhe o rosto, apertando-lhe a boca. Instintivamente, Hermione tentou gritar, mas era-lhe impossível. Soltou a carta, deixando as mãos livres para poder se defender. O documento flutue no ar por um segundo, indo perder- se em meio à confusão de papéis. Em pânico, ela começou a se debater.
_Fique quieta - uma voz ordenou. - Se não fizer exatamente o que eu disser, você vai morrer.


O garanhão abaixou a cabeça, começando a escoicear. Harry estava preparado. Seguro-se à sela com firmeza. Depois de alguns minutos, o cavalo bufou, disparando em um trote de arrebentar os ossos. Harry conduziu-o pelo curral, girando em círculos por umas duas vezes para depois desmontar.
_Você nunca vai se tornar um bom cavalo de passeio - disse, dirigindo-se ao animal -, mas pode servir para pastorear o gado. - O garanhão resfolegou como se entendesse e se sentisse ofendido.- É só por alguns meses - Harry emendou - Remo vai deixá-lo livre quando chegar o inverno. É bem melhor do que puxar uma diligência através do país ou fazer carreto para o pessoal da cidade. Não se esqueça disso.
O cavalo não pareceu nem um pouco impressionado com aquelas palavras. Harry retirou a sela e os arreios, abrindo o portão para que o animal pudesse sair para o pasto. Já ia em busca de outro garanhão quando viu Remo, que se aproximava. Pelo jeito do amigo, alguma coisa estava errada. Foi encontrá-lo ao lado da cerca.
_O que aconteceu? - perguntou.
Remo balançou a cabeça, confuso.
_Não tenho desculpas, a não ser que não pensei....
Harry cerrou os maxilares.
_Stoner apareceu por aqui? Viu Hermione?
_Não. Tenho certeza de que Stoner está na cidade. Porém, é sobre Hermione que quero falar. Pela manhã, fui até minha casa para tomar um café com biscoitos. Tonks estava descansando. Eu e Hermione ficamos conversando. Juro que não pretendia dizer nada. Escapou...- Remo olhou para o chão. - Harry, eu contei a ela a verdade. Que não havia resgate algum, nem nunca houvera. Que Stoner não a queria mais porque ela ficara muito tempo sozinha com você pelas matas. Que ele a chamou de mercadoria usada.
Harry sentiu um aperto no peito. Sabia que Hermione, mais cedo ou mais tarde, teria de conhecer a verdade. Porém, queria achar um jeito de contar sem feri-la demais. Não queria que soubesse assim, de supetão, sem estar preparada para tal notícia.
_Lamento muito - murmurou Remo.
_Se alguém errou, fui eu - respondeu Harry. Não podia culpar o amigo. - Faz tempo que devia ter contado tudo a ela.
_Fácil falar - resmungou Remo. - Quando percebi que você estava mentindo, pensei que talvez houvesse se apaixonado ou coisa assim. Porém, depois que conheci Hermione um pouco melhor, também fiquei gostando dela, Harry. Ela é uma pessoa doce. Você estava fazendo a coisa certa.
As palavras do amigo não o ajudaram em nada.
_Como ela recebeu a noticia?
_Aparentemente bem. Ficou quieta, por alguns instantes, sem chorar, nem gritar, nem fazer escândalo. Foi para o quarto e se trancou.
Quieta? Hermione? Não a Hermione que conhecia, temperamental e durona. Não era possível.
_Tenho de falar com ela. Vou tentar explicar porque agi deste modo.
_Quer que eu vá com você? - Remo perguntou.
_Não. Fui eu que menti, é responsabilidade minha. Vou procurá-la.
Jogou a sela e os arreios no chão e pulou a cerca. Como iria se explicar? Hermione entenderia? No que estaria pensando? Imaginou-a curvada de dor, arrasada pela verdade e pela destruição de seus sonhos. Pós-se a correr na direção da casa.


_Não dê um pio - ordenou a voz. - Entendeu?
Atônita, paralisada de susto, Hermione concordou. A trajo que lhe tapava a boca afastou-se, agarrando-a, agora. pelo braço. Com um suspiro, Hermione voltou-se lentamente.
Em vez de ter a sua frente um homem alto, assim como Harry havia descrito Stoner, deparou-se com tinta mulher pouco mais velha que ela. Tinha um belo rosto, adornado por uma vasta cabeleira ruiva e olhos azuis penetrantes. A boca, bem-feita, tinha um dos cantos ligeiramente arqueados. Porém, não se tratava de um sorriso. Parecia zangada. Um pouco assustada, também.
_Você deve ser a misteriosa noiva por correspondência de Stoner - disse em tom baixo.
_Sim, sou eu - respondeu Hermione. - E você, quem é?
_Daisy Newcastle, uma amiga de Harry. Espero que ele não esteja na cidade. Ele se arriscou demais quando esteve aqui, outro dia.
_Ele não veio - Hermione apressou-se a dizer, tentando imaginar quem poderia ser aquela mulher. Recordou-se de ter ouvido Harry mencionar uma amiga que o havia ajudado a recuperar o camafeu de sua mãe.
_Então, o que você está fazendo aqui? - perguntou Daisy.
_Vim falar com o sr. Stoner - murmurou Hermione, compreendendo a tolice que fizera.
_Sobre o quê? - Daisy meneou a cabeça. - Não importa. Temos de sair rapidamente. Stoner está furioso com alguma coisa. Acredite em mim, você não iria gostar de ser surpreendida aqui quando ele voltar. Quando fica zangado, a melhor coisa a fazer é ficar longe dele.
_Mas... Há uma carta no meio daqueles papéis - disse Hermione, virando-se para a escrivaninha. - É sobre a estrada de ferro que será construída. Stoner está envolvido. Tenho de pegá-la para entregá-la a Harry.
_Não temos tempo - murmurou Daisy. Porém, começou a revirar os papéis, examinando-os. - De quem era a carta?
_De um tal sr. Cahill, de Boston. Era...
Um barulho, vindo dos lados do prédio, assustou-as.
_Stoner vem vindo! - exclamou Daisy. - Temos de sair daqui.
_Mas... Nós não encontramos a carta ainda.
Daisy agarrou-a pelo braço. Os olhos dela faiscavam de medo.
_Você não entende? Se Stoner nos encontrar, estaremos mortas. Mais tarde, poderemos voltar e procurar. Venha!
Puxou-a, passando pelo balcão. Hermione lançou um olhar aflito para a escrivaninha. Naquele momento, porém, ouviu o barulho de uma porta sendo aberta. O coração disparou-lhe no peito.
_Estão aqui dentro - sussurrou, procurando não entrar em pânico.
A porta da frente estava longe demais para ser alcançada sem serem vistas. Daisy olhou ao redor e abaixou-se, puxando Hermione.
_Vamos nos esconder aqui - disse. - Fique agachada atrás do balcão.
_Se eles saírem por aqui, seremos vistas.
_E você acha que não sei disso? - retrucou Daisy com a voz denunciando seu medo. - Não temos outra escolha. - Abaixou-se, empurrando a cabeça de Hermione.
Hermione procurou equilibrar-se nas pernas trêmulas, o corpo todo lhe tremia. Tinha medo de que os dentes começassem a bater, fazendo barulho. Alguma coisa horrível estava para acontecer. Podia sentir aquilo no ar.
Ouviu-se o som de vozes masculinas, seguido do barulho de passos.
_Aconteça o que acontecer - sussurrou Daisy, tão baixo que Hermione mal conseguiu ouvir - seja o que for que você veja ou que Stoner faça, não diga uma palavra. Entendeu?
Ela assentiu com a cabeça, incapaz de falar. Mordeu o lábio e pôs-se a rezar.
_Você está me colocando em uma situação difícil - disse um dos homens.
Hermione soube, no mesmo instante, com uma certeza, que não poderia explicar, que se tratava de Lucas Stoner.
Daisy apertou-lhe o braço. Hermione não soube se o gesto era de proteção, ou um aviso para que não falasse. Mas ela não pretendia fazer ruído algum. Só queria sair viva daquela situação.
_Sr. Stoner, eu não quero ser um problema. - Hermione retesou-se. A voz pareceu-lhe familiar. Era impossível, não conhecia ninguém na cidade. Com exceção de... Albert Cooper, o fazendeiro que a trouxera à cidade.
_Sr. Stoner, por favor - Albert implorava. - Fiz tudo o que o senhor pediu. Tudo.
_Mas não desistiu da fazenda.
_É tudo o que tenho.
_Compreendo.
Um arrepio subiu pelas costas de Hermione. Seu corpo retesado estava pronto para correr em fuga. Não sabia por quanto tempo agüentaria ficar abaixada atrás do balcão. Só sabia que, se tentasse escapar, seria pega. O medo colocou um gosto amargo em sua boca. Respirava aos sorvos, o ar queimando-lhe os pulmões, fazendo um ruído que parecia alto demais. Levantou-se ligeiramente para aliviar a dor que se espalhava pelos quadris pela posição forçada. Uma fresta chamou-lhe a atenção. Percebeu que, se pudesse inclinar-se, poderia ver através dela. Fechou o olho esquerdo e encostou-se no balcão, espiando.
A cena que vislumbrou encheu-a de pavor. O rosto de Albert Cooper estava deformado e recoberto de sangue. Os olhos inchados e parcialmente fechados. A boca sangrava. Faltavam-lhe alguns dentes. Um homem enorme segurava-lhe as mãos atrás das costas enquanto outro o golpeava no peito e na barriga. A cada soco, o fazendeiro gemia de dor.
Hermione sentiu o estômago revirar. Engoliu em seco, procurando controlar a ânsia de vômito. Apertou os lábios com a mão para conter um grito de horror. Olhou para a direita e viu Lucas Stoner. Aquele monstro só poderia ser ele. Era tão alto quanto os outros dois. Encorpado. Porém, em vez de estar vestido com roupas de trabalho, usava um terno de aparência cara. Alguém poderia dizer que era um homem bem-apessoado. Ela, no entanto, estremeceu ao olhar para ele. Naquele instante, ele virou-se, e ela pôde ver a cicatriz que lhe marcava a face.
Hermione sentiu que iria gritar. Queria ter como fugir. E queria também impedir Stoner de continuar com o que estava fazendo. Encolheu-se ainda mais, rezando para que aquele pesadelo acabasse.
Um violento soco fez com que Albert caísse de joelhos.
_O senhor me prometeu, sr. Stoner - ele murmurou, o sangue escorrendo de sua boca. - Disse que eu poderia ficar com a fazenda. Eu fiz tudo o que o senhor mandou. ludo
_Mudei de idéia. Quero a fazenda. Pode ficar coam o gado. Só preciso da terra.
_E onde eu iria colocar meu rebanho?
_Não é problema meu.
Albert dobrou-se em dois, gemendo. Balançou a cabeça, concordando.
_Está bem. Vou fazer o que o senhor quer.
Stoner sorriu, um sorriso mau.
_Tinha certeza disso. É uma pena, mas você demorou demais para se decidir. - Fez um gesto de despedida.
Daisy puxou o braço de Hermione como se quisesse impedi-la de continuar olhando pela fresta. Hermione, porém, ignorou-a. O homem que mantivera o fazendeiro seguro, soltou-lhe as mãos. Agarrou-o pelos cabelos, forçando-lhe a cabeça para trás. Alguma coisa brilhou. Ouviu-se um grito. O sangue começou a esguichar do pescoço de Albert, espalhando-se por toda a parte.
Hermione foi tornada de pânico. Quase vomitou diante do horror da cena. O sangue continuava a espirrar, mesmo depois do brutamontes ter soltado os cabelos de Albert e deixado o corpo desabar no chão, sem vida.
Deus de Misericórdia! Com um gesto, Stoner havia ordenado a morte do pobre infeliz. Ele tivera a garganta cortada, a menos de alguns passos de onde Hermione se encontrava. Ela vira muita gente morrer, porém, nunca havia presenciado um assassinato. Mesmo depois de o fazendeiro ter concordado em deixar as terras, Stoner o matara friamente. Não empunhara a faca, mas era como se tivesse feito. O homem era um matador. Harry tinha razão.
_Que bagunça - reclamou um dos homens, de costas para Hermione. - Quer que a gente limpe isso, Lucas?
_Claro. Mas, primeiro, livrem-se do corpo. Levem-no para longe daqui. Não acredito que alguém tenha visto Albert chegar à cidade. Os filhos dele foram embora há muito tempo, e a mulher já morreu, portanto não haverá perguntas. Apesar de tudo, o assunto foi resolvido da melhor forma. - Olhou para o sangue no assoalho. - A não ser por essas manchas. Mas isso tem solução. - Passou por cima do corpo, dirigindo-se aos fundos. - Andem logo.
Os dois homens inclinaram-se, apanharam o corpo inerte e carregaram-no para fora. Hermione permaneceu imóvel, enquanto os via se afastando. Não podia acreditar no que tinha presenciado. Devia ter sonhado. Aquilo não podia ser verdade.
Daisy puxou-a pelo braço.
_Venha - disse, levantando-se. - Temos de sair daqui antes que Stoner volte.
As pernas de Hermione estavam adormecidas e cansadas. Com dificuldade, pôs-se em pé e seguiu a mulher até a porta, saindo para a calçada.
_Ande direito - disse Daisy, tomando-lhe o braço e empurrando-a para a frente. - Deixe as mãos soltas e procure não demonstrar tanto horror. Finja que nada aconteceu.
Hermione deu-se conta de que ainda apertava a boca com os dedos. Abaixou o braço e tentou sorrir.
_Estou bem - disse. - Verdade.
_Não, você não está nada bem. Porém, tem de se esforçar para ficar. Pelo menos por enquanto. Você precisa sair da cidade antes que Stoner descubra que esteve aqui.
_O que está dizendo? - Hermione, indignada, olhou a mulher com espanto. - Acabamos de assistir a um assassinato. Temos de procurar o delegado e contar tudo a ele.
A expressão de Daisy era de cansaço.
_Até que Lindsay resolva investigar, o escritório já vai estar sem nenhum vestígio de sangue. E o corpo nunca vai ser encontrado. Será nossa palavra contra a de Stoner.
_Mas... nós duas vimos o que aconteceu. Além disso, o desaparecimento de Albert será notado.
_Lindsay é pago por Stoner. Será que você não entende? Não podemos fazer absolutamente nada. Se você contar o que viu ao delegado, Stoner vai matá-la. É isso o que quer?
Hermione não podia acreditar no que estava acontecendo. Nada mais fazia sentido. O mundo se transformara em um lugar desconhecido e perigoso. Será que, realmente, tinha visto um homem ser assassinado?
_Não consigo entender - murmurou, apertando as mãos em uma prece. - Isso não pode ter acontecida. Não pode.
Daisy abraçou-a pelos ombros.
_Aconteceu. Se você não der o fora daqui, terá o mesmo fim que Albert Cooper. Volte para a fazenda o mais rápido que puder. Corra e não olhe para trás. Entendeu? Corra.
Os olhos de Hermione encheram-se de lágrimas. Sentia-se sozinha, com medo, nada fazia sentido.
_Não posso.
Daisy soltou-a.
_Então, você vai morrer - murmurou, simplesmente.
Hermione olhou-a com desespero. Depois, virou-se e começou a correr.





Obs:Oiiiii pessoal!!!Aqui termino mais uma fic...snif...snif...snif...Mas como tudo que é bom dura pouco, o que vamos fazer não é???Eu tenho a resposta pra essa pergunta:O que vocês acham de duas fics novas postadas uma no dia 24 e outra no dia 25 como presente de natal para vocês???Espero que tenham gostado da surpresa e que gostem das fics que escolhi!!!Tomara que tenham curtido "Receita de Amor" como eu curti em adaptá-la!!!!Bjux e até segunda de noite, que será quando eu postarei a 1º fic!!!Adoro vocês!!!!

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