Capitulo 9
CAPÍTULO 9
Hermione logo percebeu que Harry não queria falar com ela. A princípio, pensara que estivesse cansado. Que não dormira direito. Todas as vezes que acordara, durante a noite, vira que ele estava sentado à beira do fogo, tomando café. Havia se limitado a murmurar um bom-dia, quando desmontaram o acampamento pela manhã.
Ajeitou-se na sela, pensando se deveria dirigir-lhe a palavra. Talvez ele não estivesse só cansado. Talvez estivesse zangado. Ela também estava. Afinal, por que ele aumentara o valor do resgate? Será que precisava de tanto dinheiro? Será que Lucas era muito rico? Não era provável, sendo dono de um escritório imobiliário. Não conseguia entender. Se Harry estava atrás de dinheiro, por que não assaltava a diligência no dia em que trouxesse o malote de pagamento?
_Você está mesmo me levando para uma fazenda? - perguntou, em dúvida.
Por longo tempo, Harry permaneceu em silêncio.
_Estou - murmurou por fim. - Chegaremos dentro de dois dias. Vai gostar de lá.
_Eu preferia ir para a cidade - ela retrucou frustrada.
_Tenho certeza de que sim, mas não posso levá-la. Preciso esperar mais alguns dias.
_Por que não? Harry, por favor. Se é por causa do dinheiro, estou certa de que o sr. Stoner vai pagar. Ele é um homem honrado e...
Calou-se, ao perceber que Harry remexia-se na sela visivelmente aborrecido. Uma palavra o irritara. Honrado. Era natural. Ele acreditava que Lucas era o responsável pela morte do pai e por isso só queria vingança.
Antes que ela pudesse dizer alguma coisa, Harry resolveu responder:
_Dê-me mais uns dias. Você vai ficar na fazenda e, assim que Lucas fizer o pagamento, eu a libertarei.
_Você não vai me trancar a chave, vai? Prefiro mil vezes ficar ao relento do que confinada em um quarto.
_Não estou levando você para a prisão - ele murmurou, em voz baixa. - Os Lupin são meus amigos e vão tratá-la como uma hóspede. Ninguém vai trancá-la. Prometo.
_Acredito em você.
Continuaram a cavalgar pela floresta em completo silêncio. O céu começou a escurecer, coberto por pesadas nuvens. A temperatura caiu. Hermione já podia sentir o cheiro da chuva. Encolheu-se dentro do casaco, suspirando por uma boa fogueira. Bem que podiam parar em um lugar abrigado, em vez de ficarem encharcados pela tempestade que se avizinhava. Podia até imaginar a lenha queimando, o cheiro da fumaça.. De repente, sobressaltou-se. Não estava imaginando coisas. Virou-se para Harry, perguntando:
_Você está sentindo um cheiro de..
_Fumaça - completou ele. - Estou. Se é o que estou pensando, já é tarde demais.
_O quê?
Em vez de responder, ele esporeou o cavalo, forçando-o a galopar. Ela o seguiu, agarrando-se como pode na sela.
Meia hora mais tarde, chegaram a uma colina, de onde se descortinava o vale. A pastagem se estendia até se perder de vista. O gado, centenas de cabeças, esparramava-se por toda a extensão de terra. A direita, a fumaça subia do que restava de uma casa. Mesmo de longe, podiam ver as labaredas lambendo o telhado. Lentamente, a estrutura cedeu e desabou, com estrondo.
_O que terá acontecido? - perguntou Hermione, aturdida.
_Renegados - explicou Harry. - Maldição! Sabia que iríamos chegar tarde demais. Venha. Vamos verificar se deixaram alguém vivo.
Ao se aproximarem, Hermione sentiu náuseas, ao deparar com vários corpos estendidos no chão. Nenhum deles se movia. Procurou se controlar, fazendo uma lista mental de tudo o que tinham de suprimentos. Se houvesse alguma pessoa queimada... Nem queria pensar naquela possibilidade. Queimaduras eram difíceis de serem tratadas. Causavam uma dor insuportável e quase sempre infeccionavam.
Olhou ao redor. Pelo menos, havia água. Iriam necessitar de ataduras e, talvez, de talas. Teriam de improvisar.
Harry desmontou, e Hermione o seguiu, aflita. Correu para perto dos corpos. Eram cinco ao todo. Deviam ser parte de uma família. Harry ajoelhou-se perto de um deles e encostou-lhe os dedos no pescoço, buscando pulsação. Abriu-lhe o casaco e viu o buraco de bala à altura do coração.
_Está morto - disse.
Hermione aproximou-se de dois outros corpos. Eram crianças, ainda. Tinham sido baleadas pelas costas. Embora habituada a lidar com a morte e a cuidar de acidentados, sentiu ânsia de vômito diante do quadro terrível Uma delas devia ter uns sete anos. Seus olhos encheram-se de lágrimas.
_Que tipo de ameaça essas crianças podiam representar para alguém? - murmurou. limpando a lágrimas.
_Não eram ameaça alguma - respondeu Harry.
_Apenas serviram de lição para os pais e para os fazendeiros da região.
Um gemido abafado chamou-lhes a atenção. Hermione virou-se na direção do som e viu uma mulher mexendo-se lentamente. Também recebera um tiro. Tinha um buraco de bala no peito, de onde o sangue jorrava a cada batida do coração.
Com a experiência adquirida ao longo dos anos de trabalho com o dr. Redding, Hermione rasgou uma tira de tecido da saia da mulher. Aplicou o pano dobrado sobre o ferimento, sabendo que nada mais tinha a fazer. Com carinho, afastou os fios de cabelo que lhe cobriam a face e começou a rezar. A morte era inevitável.
_Minhas crianças - gemeu a moribunda. Tentou abrir os olhos. - Estão bem? Aqueles homens as machucaram?
_Não se preocupe - Hermione sussurrou. Tinha de inventar uma mentira piedosa. - Os vizinhos estão cuidando delas. Estão em segurança.
_Precisa de alguma coisa? - perguntou Harry, sem saber como ajudar. Tinha a fisionomia tensa, contraída. - De lençóis? De uísque?
_De ambos - disse-lhe Hermione, embora tivesse a impressão de que a mulher não resistiria nem mais alguns minutos. Ajeitou a cabeça da pobre infeliz, consolando-a – Estou aqui. Seus meninos estão seguros e seu marido está esperando por você.
A mulher arregalou os olhos e fitou o vazio. O rosto estava cada vez mais descorado, e os lábios tremiam e com o resto de suas forças, murmurou:
_Meu marido era um bom homem, mas muito teimoso. Eu disse a ele que entregasse a fazenda. Poderíamos começar tudo de novo, um com ajuda do outro. Ele não me ouviu. Quis resistir. Lutar... - Fechou os olhos, lentamente.
_Calma, calma. Não pense nisso agora - Hermione murmurou, com doçura. - O que está feito, está feito. – Tomou-lhe as mãos frias entre as suas.
_Eu o amava. - Os lábios quase não se moviam, o som era quase um gemido. - Desde que era uma menina, eu o amava. Era tão bonito... O homem mais bonito da região. Parece que eu o estou vendo. - Arregalou os olhos esgazeados e tentou sorrir. - Hank, é você? Seu bobo, eu amo você. De verdade.
Soltou um longo suspiro e estremeceu. A respiração cessou. O sangue parou de correr. Os dedos tornaram-se inertes entre as mãos de Hermione. A alma abandonou o corpo.
Hermione fechou-lhe os olhos e murmurou uma prece. Pelo menos, a agonia não fora longa.
_Eu trouxe o... - Harry estacou, o lençol pendendo do braço. Na mão, uma garrafa de bebida. - Cheguei tarde, não é?
Com um movimento de cabeça, Hermione concordou. Levantou os olhos, Harry pôde ver-lhe a dor, a perturbação.
_Não compreendo. Quem iria atirar em uma mulher e em seus filhos?
_Você não gostaria de saber.
Se Harry pretendia insinuar que Lucas era responsável também por aquelas mortes, realmente ela não queria saber.
_E agora? - perguntou.
_Vou cavar as sepulturas.
Harry virou-se e seguiu para o celeiro que ainda ardia em brasas. As primeiras gotas de chuva começaram a cair.
Hermione examinou a pequena caverna e suspirou. Preferia ter ficado na fazenda. Mesmo semi-destruído, o celeiro poderia abrigá-los. Porém, Harry não queria correr o risco de deparar-se com o delegado. Achou que estariam mais seguros no vale.
Assim que Harry começara a cavar, dois vaqueiros haviam chegado à fazenda. Tinham ouvido tiros e também viram a fumaça. Ajudaram com as sepulturas e depois foram para a cidade, avisar o delegado das mortes.
Ela e Harry haviam cavalgado em meio à chuva. Estava ensopada até os ossos. Os dedos estavam adormecidos de frio. Os pés doíam. Batia os dentes sem cessar.
_Você está bem? - perguntou Harry, ajeitando alguns galhos secos para fazer fogo. - Está quieta demais.
_Estou enregelada - ela resmungou, com os lábios trêmulos. - Acho que nunca mais vou me aquecer.
_Agüente firme, Hermione. Deixe eu terminar de acender o fogo e você poderá se sentar perto das chamas. Vai se sentir aquecida, logo, logo.
_Pode ser - ela murmurou, em duvida.
Sentia-se péssima. Não conseguia afastar da mente a imagem das crianças mortas. Ainda estavam, em seus ouvidos, as últimas palavras da mulher moribunda. Aquelas mortes sem sentido haviam-na perturbado profundamente.
O ruído do fósforo riscado e o luzir da pequena chama quebraram o silêncio e a escuridão da caverna. A lenha seca pegou fogo rapidamente. Harry procurou alguns gravetos a mais para alimentar a fogueira. Depois saiu, enfrentando a chuva. Precisava juntar bastante madeira para queimar durante toda a noite.
Hermione chegou bem perto do fogo e aproximou as mãos das chamas. O calor aqueceu-lhe os dedos, mas o corpo tremia. A água escorria-lhe pelos cabelos. A roupa estava encharcada.
_Assim, você vai morrer de frio - disse Harry, voltando com os braços carregados de galhos.
A despeito do fogo, a caverna estava muito escura. A sombra de Harry desenhou-se na parede de pedra, dançando, distorcida. Era uma figura apavorante. Sem saber por que, Hermione começou a ficar com medo.
_Eu trouxe alguns lençóis da fazenda - continuou ele, apontando para o canto onde havia colocado as selas. - Tire a roupa e se enrole em um deles. Seu vestido talvez não seque durante a noite. Pelo menos, você não vai pegar um resfriado.
Ela arregalou os olhos surpresa. Ele devia estar brincando. Tirar a roupa?
Ele praguejou, baixinho.
_Que droga, Hermione. Pensei que confiava em mim, depois de tanto tempo juntos. Se eu quisesse forçar você a alguma coisa, já teria tentado.
Hermione sentiu o rubor queimar-lhe a face.
_Eu sei. É que... - Fez um gesto de desamparo. Como iria explicar? Nunca havia tirado a roupa na frente de um homem. - Estou bem, assim - mentiu.
_Não, não está - ele insistiu.
Harry caminhou até as selas e os suprimentos. Tirou um dos lençóis que trouxera e voltou. Virou de costas abriu-o como se fosse uma cortina e ordenou, impaciente:
_Tire o vestido.
_Está bem - ela concordou, um tanto assustada. Começou a desabotoar o corpete. Os dedos endurecidos recusavam-se a obedecer. Com dificuldade, abriu os botões. Em seguida, livrou-se das anáguas.
_Precisa de ajuda? - Harry perguntou sem se voltar.
_Não - ela respondeu mais do que depressa. - Estou quase terminando.
Arrancou o corpete, lutando contra as mangas que se agarravam a seus braços. Finalmente, deixou cair o vestido no chão sujo da caverna. Um arrepio de frio percorreu-lhe o corpo, coberto apenas por uma leve combinação. Pulou por sobre a pilha de roupas, pegou o lençol. Enrolou-se toda e ajoelhou-se junto à fogueira.
_Pronto? - perguntou Harry, ainda de costas.
_Sim - ela murmurou, sem coragem de encará-lo. - Obrigada. - Sentia-se exposta. Nua. Completamente embaraçada.
Um barulho de tecido assustou-a. Voltou-se e viu que Harry estendia o vestido sobre a superfície de uma pedra. Ao perceber que ele ia apanhar uma de suas anáguas, ela tentou impedi-lo.
_Fique aí mesmo - ele disse com delicadeza. - Está tremendo. Não quero que adoeça.
_É que... Você não pode... -Apontou para as roupas íntimas.
_Está tudo bem, Hermione. Esqueceu que já fui casado?
Ela encolheu-se, morta de vergonha. As mãos de Harry, alisando suas roupas de baixo, haviam-na perturbado de uma forma inexplicável. Um arrepio estranho percorreu-lhe a espinha. Sentiu um aperto no estômago. O coração disparou. Tremendo de medo e sentindo-se confusa, balbuciou a primeira coisa que lhe veio à cabeça.
_O que pode ter acontecido naquela fazenda?
Harry aproximou-se. Estendeu no chão alguns lençóis e um oleado. Fez um gesto para que ela se sentasse. Tocou um lugar ao lado dele.
_A mesma coisa de sempre - respondeu, deprimido. - Os renegados chegaram sem avisar. Houve um confronto, que eles venceram, é lógico. Se o fazendeiro tivesse aberto mão da terra sem lutar, teria saído vivo com a família. Se resistisse, como aconteceu seriam mortos.
_Não entendo - ela murmurou, apertando o lençol de encontro ao peito. - Eles, simplesmente, se apoderam das terras? Não há quem possa impedi-los?
_Nós tentamos. Lindsay, o delegado, também deve ter tentado, embora sem muito empenho. Não é bem de seu interesse...
_Que quer dizer com isso?
_Ele foi comprado - disse Harry, desviando o olhar. - É pago pelo seu noivo.
_Não diga bobagens - ela retrucou. Não gostara da insinuação. - É a cidade que paga o salário do delegado.
_Em parte. Stoner completa a diferença e ainda paga um pouco mais. Ele tem muito interesse no trabalho de Lindsay.
Hermione se recusava a acreditar no que ouvia. Gostaria de refutar as acusações, porém estava começando a ter dúvidas. Sua fé nas qualidades de Lucas estava fraquejando. Não podia permitir que aquelas dúvidas aumentassem. Lucas representava seu futuro, suas esperanças, suas maiores aspirações. Contudo, precisava saber mais. Abraçou os joelhos e reclinou a cabeça, pedindo, ainda que hesitante:
_Harry, gostaria que me contasse tudo o que realmente está acontecendo por aqui. Pode me dizer desde o começo?
Ele olhou-a relutante.
_Você não vai gostar.
_Deixe de lado as acusações. Só me conte o que está havendo. Por favor.
Harry fez um gesto de irritação.
_Hermione! Por que tem de ser tão teimosa? Você é bem esperta. Por que não descobre a verdade por si mesma? Por que é tão importante para você que Lucas Stoner seja um santo?
_Não quero que ele seja um santo - ela respondeu agressiva. - Quero que seja um homem correto. Bom. Quero... - Hesitou, sentindo-se ridícula.
Harry segurou-lhe o braço. O calor das mãos dele queimou-lhe a pele, mesmo através do lençol.
_Diga. O que você quer?
_Promete que não vai rir?
_Dou-lhe minha palavra.
_Eu quero... - Respirou profundamente, criando coragem. - Eu quero pertencer a alguém. Ter um homem que cuide de mim. Ter uma vida boa. Nada de luxo. Não preciso de riqueza. Estou disposta a dar duro para que as coisas dêem certo. Quero ter filhos saudáveis e felizes. E um lar, só meu. Quero um teto para minha família... Amigos... Boas recordações... - Mordeu o lábio. - Isso, provavelmente, parece bobagem para você.
Por alguns instantes, Harry fitou o fogo pensativo.
_Entendo o que você quer dizer. Stoner, porem, não é o único homem sobre a terra. Por que interessou-se por ele?
_Ele é o único que quer se casar comigo.
_Deve haver outros.
_Não creio. Tenho vinte e um anos. Sou, praticamente, uma tia. Poucos homens passaram pela minha vida. - Aquela conversa estava se tornando cada vez mais embaraçosa. - Nunca encontrei alguém adequado. Não tive família nem relações de amizade que pudessem me apresentar a alguns rapazes. Minhas horas sempre foram vazias e solitárias. Então... - A voz lhe faltou.
_Então, tornar-se uma noiva sob encomenda foi o jeito que achou para realizar seus sonhos?
Ela relanceou os olhos para ele. Não parecia estar fazendo uma caçoada. Estava sério. À luz do fogo, o rosto dele parecia ter sido esculpido em pedra.
_É - ela respondeu. - Pensei que podia encontrar tudo o que eu sonhara, em Montana.
Harry levantou-se e foi até onde havia colocado os mantimentos.
_Acho que nós dois precisamos de um drinque. Vai nos aquecer por dentro.
_Bebida alcoólica? - perguntou ela, ao vê-lo retirar uma pequena garrafa do saco de couro. - Não tomo bebida alcoólica.
_Nem eu, normalmente. Acho que devemos abrir uma exceção esta noite. - Estendeu-lhe a garrafa. - Tome um gole. Pequeno, senão vai se engasgar.
Ela colocou a garrafa na boca e sorveu um pouco da bebida. Começou a tossir e cuspiu. Sentiu a língua queimando. Engoliu o resto que ficara na boca, e o fogo desceu por sua garganta.
_Que é isto? - perguntou, a voz rouca. Os olhos encheram-se de lágrimas.
_Uísque.
Harry apanhou a garrafa e bebeu um trago. Depois, sentou-se novamente ao lado dela. Ficou em silêncio por um longo tempo. Tomou mais alguns goles e arrolhou a garrafa, pondo-se a observar as chamas.
Hermione tinha uma pergunta a fazer que queimava-lhe a língua. Finalmente, decidiu-se a fazê-la.
_Poderia me falar mais sobre os ataques, Harry?
_Começaram poucos meses antes de eu partir para o Texas. Segundo Remo, os dois primeiros aconteceram quase em seguida. A família dos fazendeiros foi morta, puseram fogo nas casas e o gado foi dispersado.
_Ninguém sabe o motivo desses ataques?
Ele meneou a cabeça em um gesto negativo.
_Remo e eu marcamos em um mapa todas as fazendas atacadas. Algumas tinham reservas de água, outras, reservas minerais. A maioria, porém, nada tinha de especial. Não faz sentido.
Ela agradeceu, mentalmente, o fato de ele manter o nome de Lucas fora de toda a história.
_A terra é valiosa?
_Suponho que sim. Mas existe muita terra por aqui. - Ele inclinou-se e apanhou um graveto incandescente. Riscou com ele um quadrado no lençol. Depois, fez vários círculos. - Aqui fica Whitehorn - disse, apontando para o círculo maior. - E aqui, minha fazenda. Aqui e aqui, algumas das outras propriedades atacadas. - Apontou para os círculos menores. - E aqui, a fazenda que encontramos hoje - concluiu, apontando um outro círculo.
Hermione inclinou-se sobre o lençol, observando atentamente o desenho. Os círculos formavam uma linha tortuosa, a oeste de Whitehorn, mantendo um eixo norte-sul.
_Você deve estar pensando na ferrovia - murmurou Harry. - Se a localização fosse leste-oeste, teríamos percebido do que se tratava.
_E por quê? A ferrovia não pode correr de norte a sul?
_Não há nada ao sul. Nenhuma cidade grande, nenhuma indústria. Nada. Tudo fica ou a leste ou a oeste.
Ela olhou-o espantada.
_O Texas fica ao sul. Não foi lá que você conseguiu o rebanho? Talvez alguém também queira fazer a mesma coisa, usando a ferrovia.
Harry virou-se, fitando-a com surpresa. Depois, desatou a rir. O som de sua risada encheu a caverna de ecos. Mesmo sem querer, Hermione também sorriu.
_O que há de tão engraçado? - perguntou. Harry deixou cair o graveto, inclinou-se e apertou-lhe os braços.
_É isso! E óbvio! Não sei por que Remo e eu não pensamos nisso. Você tem toda a razão. A ferrovia pode estar sendo construída no sentido norte-sul. - Ficou subitamente sério. - Tudo se encaixa. Os ataques, a época... As fazendas estão crescendo, espalhando-se. Há uma procura maior pelo gado. Stoner tem todos os dados, sabe a quem pertence cada pedaço de terra. Ele é o dono do escritório de terras. - Calou-se com a expressão sombria. - Aposto que é um dos investidores. Canalha! Vai ficar milionário à custa de todos nós.
Hermione afastou-se para longe dele. Detestava a forma como ele se referia a Lucas.
_Harry, por favor, pare. Não fale mal de Lucas. Talvez ele não tenha nada a ver com tudo isso. Tenho certeza de que deve haver uma explicação para o que está acontecendo.
_Estou farto de ouvir você defender seu precioso Stoner - gritou ele, encarando-a com fúria. - O homem não passa de um assassino.
_Não, não é - ela retrucou sem se intimidar. -Ele é bom, gentil e...
_Cale a boca! - ele exclamou, interrompendo-lhe as palavras.
_Não calo! Vou continuar falando e é melhor que se acostume com isso.
_Vou obrigá-la a ficar quieta – disse Harry, inclinando-se sobre ela.
Ela não pareceu assustada, Harry podia gritar, mas nunca a machucaria. Tinha certeza. Enfrentou-o mais uma vez.
_Não tenho medo de você.
Ele agarrou-a pelos braços, puxando-a para si.
_Pois devia.
Antes que ela pudesse imaginar o que ele pretendia, Harry agarrou-lhe a cabeça e fechou-lhe a boca com um beijo.
Obs:Calma que tem mais....
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