Capitulo 7
CAPÍTULO 7
Hermione estava furiosa. Sua vontade era de amarrar Harry Potter nos trilhos da ferrovia e esperar que o trem passasse por cima dele. O fato de ele ter voltado, como prometera, e ter trazido comida, não mudava o que ele havia feito com ela. Nem o cheiro delicioso que vinha da panela, nem a fome que sentia, iriam fazê-la mudar de idéia.
_Por quanto tempo vai ficar emburrada? - Harry perguntou.
Ela virou-se e encarou-o. Queria que ele se sentisse pouco à vontade. Queria ver o sentimento de culpa estampado no rosto dele.
_Pelo resto da vida - ela resmungou com azedume. - Como pôde me tratar daquela maneira?
_Já discutimos esse assunto, Hermione. Você sabe muito bem que eu não tinha escolha.
_Claro que tinha. Podia ter me deixado aqui, tranqüila. Eu disse que não iria fugir.
_Eu precisava ter certeza de que você estaria aqui quando eu voltasse.
_E se algum animal selvagem me atacasse? Eu não teria como me defender. E se houvesse acontecido alguma coisa com você? Eu ficaria aqui, amarrada, até morrer de frio. E se os índios ou algum renegado me encontrasse?
_Não acha que já foi longe demais com essa conversa? - ele resmungou, irritado.
Ela aproximou-se, furiosa, as mãos nos quadris, e enfrentou-o.
_Longe demais? Vou amarrar você e abandoná-lo durante uma tarde inteira para que veja se é bom.
_Eu sabia que nada de mal aconteceria a você.
_Você não estava aqui para ter certeza disso! - exclamou Hermione, tremendo de raiva.
_Não vou pedir desculpas pelo que fiz - Harry retrucou. - Você é minha prisioneira. Sei que não gostou de ser amarrada, mas isso já passou. Chega!
_Não vai me fazer esquecer isso, mudando de assunto - disse ela, encarando-o desafiadoramente. - Você não tinha o direito de me largar aqui, desprotegida, e sabe disso.
_Conheço estas paragens. - O rosto de Harry continuava impassível. Apenas um músculo tremia em seu maxilar. - Você estava segura. De outra forma, eu não a teria deixado.
Ela gostaria de acreditar nele. Porém, ser deixada para trás, amarrada como um animal, era demais.
_Não creio que estivesse segura. - As palavras soaram aflitas. - Nem tinha certeza de que você voltaria.
Harry deu um passo na direção dela e, então, parou. O sol já sumira no horizonte, e a única luminosidade vinha da fogueira Com a escuridão da floresta às suas costas ele quase desaparecera em mero as trevas. Sua silhueta enorme transformava-o em um homem potencialmente perigoso, que deveria assustá-la. Ela, porém, não sentia medo, ao contrário. Assustador era o desconhecido, espreitando no escuro, nos limites do acampamento.
_Desculpe-me - ele disse, por fim, tornando-a de surpresa
Lentamente, ela deixou cair os braços ao longo do corpo e murmurou, num queixume:
_Eu fiquei apavorada, e não havia nada que eu pudesse fazer.
_Compreendo. Qualquer um ficaria apavorado em uma circunstância dessas. Você tem sido muito corajosa
_Sei que você não queria que eu fugisse de novo. Porém, eu tinha lhe dado a minha palavra. Antes eu não havia prometido nada.
_Eu sei, Hermione.
_Eu não minto.
_Sei disso, também - ele murmurou, procurando-lhe os olhos.
_Prometa que não vai mais me deixar sozinha e amarrada - ela implorou.
_Não posso...
_Harry, não vou aceitar uma coisa dessas. - ela bateu os pés no chão com raiva. - Juro que vou brigar com você e.. - Ela cerrou os lábios, tentando encontrar as palavras certas. Depois, concluiu: - Bem, vou pensar em alguma coisa.
_Tenho certeza de que sim - ele resmungou com um sorriso de malícia.
Pela segunda vez, o sorriso dele desconcertou-a. Deu-se conta de que gostaria de vê-lo sorrir mais vezes. Queria ouvir o som de sua risada. Queria rir com ele. O pensamento confundiu-a. Harry não significava nada para ela. Estava comprometida com outro homem, praticamente casada. Ainda assim, ele tinha o dom de perturbá-la. Tentou disfarçar, esboçando um leve sorriso, e virou-lhe as costas. Ajoelhou-se ao lado da fogueira e ocupou-se em mexer o cozido. Eram as circunstâncias, justificou-se para si mesma. Estavam viajando juntos, e aquilo propiciava uma familiaridade impossível em outra situação. Devia agradecer ao fato de ele se mostrar uma companhia relativamente agradável. Se fosse um homem cruel, os últimos dias teriam sido insuportáveis. Quando estivesse em segurança, ao lado de Lucas, haveria de esquecer todo aquele incidente. Esqueceria os sorrisos de Harry, e também o som de sua voz. E como ele era atraente e bonito, embora um tanto rude. Lucas iria...
Quase deixou cair a colher dentro do ensopado. Como poderia ter se esquecido de perguntar pelo noivo?
_O sr. Stoner deu alguma resposta? - Dirigiu-se a Harry, que se servia de café.
_Não fui à cidade, Hermione. Marquei encontro com um amigo a alguns quilômetros daqui. Não vi Stoner, nem falei com ele.
_Mas... Ele está preocupado comigo, não está? Ele vai fazer o que você quer para me ter de volta, não é mesmo? Afinal, sou sua noiva. Sei que isso é importante para ele. Deve ser importante para qualquer homem...
Ela percebeu que estava nervosa e falando de forma incoerente. Resolveu calar-se.
_Stoner sabe que você está comigo - murmurou Harry, tomando um gole de café e escolhendo as palavras com cuidado. - Ele já tinha concordado em fazer o que eu havia pedido, só que eu resolvi mudar os termos do acordo.
_O quê? - Ela levantou-se, encarando-o com surpresa.
Harry tomou outro gole de café.
_Pedi um resgate. Cem mil dólares.
_Cem mil dólares? - ela perguntou, espantada. - É muito dinheiro! Quem tem tanto dinheiro assim?
_Lucas Stoner, por exemplo - ele respondeu, irônico. - Vai demorar uns dois dias para que ele arranje essa quantia, por isso dei-lhe um prazo maior. Não se preocupe, Hermione. Ele vai conseguir.
Ela o encarou com um leve traço de decepção no rosto.
_Pensei que você queria apenas algumas informações.
_Mudei de idéia.
A cabeça de Hermione rodava. Cem mil dólares. Não fazia idéia que existisse tanto dinheiro. Será que alguém poderia ter uma fortuna como aquela?
_Você acha que ele vai pagar?
_Tenho certeza.
A afirmativa dele deveria tê-la confortado, porém o instinto lhe dizia que havia alguma coisa errada naquela história. Harry talvez precisasse do dinheiro. Tinha perdido a fazenda e a família. Devia estar passando por dificuldades financeiras. Se ela tivesse alguma coisa, poderia ajudá-lo. Porém, tudo o que possuía no mundo estava dentro do bati que ficara na diligência. Pedia aos céus que Lucas tomasse conta de seus poucos pertences.
Mexeu o ensopado mais uma vez, e afastou a panela do fogo. Apanhou dois pratos e colocou a comida neles. Gostaria de fazer mais algumas perguntas, para afastar as dúvidas, mas não tinha certeza de que Harry iria responder. O mais importante, afinal de contas, era ir para Whitehorn e casar-se com Lucas.
Daisy pegou dois sabonetes e colocou-os na cesta. Evitava, sempre que possível, sair para fazer compras. Infelizmente, porém, a necessidade a obrigara a ir ao armazém. Escolhera o meio da tarde, pois sabia que haveria pouca gente na loja. Sempre que saia, tinha a sensação de que o mundo inteiro a estava espionando.
Não adiantava muito dizer a si mesma para manter a cabeça levantada. Principalmente quando cruzava com as mulheres que, um dia, tinham sido suas amigas e que, naquele momento, viravam o rosto para não cumprimentá-la. Whitehorn era uma próspera comunidade com as mesmas regras sociais que imperavam em qualquer cidade, algumas mais elásticas, outras, bem mais rígidas. Sentia o peso dos preconceitos e das normas. Porém, tinha seu orgulho. E seu dinheiro era tão bom e valioso quanto o de qualquer um.
Caminhou até o final do corredor. Já havia comprado farinha e açúcar. Começou a escolher um tipo de chá entre as inúmeras latas. Queria comprar alguma coisa diferente, exótica. Talvez aquilo a ajudasse a levantar seu estado de espírito. A vida lhe havia ensinado a desfrutar dos pequenos prazeres quando era possível.
No fundo do armazém, algumas mulheres trocavam idéias ao lado de rolos de tecidos, folheando os figurinos que traziam moldes de vestidos. Fosse no passado, Daisy poderia, sem hesitação, ir juntar-se a elas. Mas agora sentia-se como uma intrusa. Talvez algumas fossem delicadas e até falassem com ela. Outras, porem, iriam afastar-se ou mesmo ignorá-la. Não estava se sentindo especialmente forte para enfrentar o desafio. Por isso, resolveu pagar as compras e ir embora.
Quando se aproximou do caixa, a porta se abriu, fazendo soar a sineta pendurada no batente. Daisy virou-se para olhar, e o coração subiu-lhe à garganta. O dr. Leland Prescott acabara de entrar na loja, seguro e confiante, como um homem que conhece seu lugar na sociedade.
Daisy sentiu vontade de sair correndo dali, mas conteve-se. Agarrou as alças da cesta com força, sabendo que era apenas uma questão de tempo até que ele a visse. Decidiu que iria sorrir, fazer um aceno de cabeça e, depois, fingir que ele não se achava ali. Estava perturbada de vergonha. Nada mais.
Ele a viu. O rosto sério e bonito abriu-se em um sorriso. Com gentileza, ele tirou o chapéu e aproximou-se para cumprimentá-la.
_Sra. Newcastle, que surpresa agradável!
_Dr. Prescott - ela murmurou, fazendo uma ligeira inclinação.
Leland Prescott era um homem alto, forte, de cabelos cor de ouro. Os olhos tinham um matiz extraordinário de cores, marrom-esverdeado, tendendo para o aveia. Devia ser mais novo que Daisy uns dois anos. Era o médico da cidade, conhecido por sua perícia e por sua compaixão. Fora educado no leste, mas viera estabelecer-se em Whitehorn porque queria viver ao ar livre longe das grandes cidades. Pelo menos, era aquilo o que ele mesmo dissera a Daisy. Circulavam alguns boatos de que ele havia perdido a esposa, muitos anos atrás, durante o parto do primeiro filho. As mulheres da cidade, solteiras ou corri filhas na idade de casar, borboleteavam em torno dele. Não sem motivo. Ele era gentil, charmoso e, com exceção de Harry Potter, o melhor partido da região.
_Você está simplesmente encantadora hoje - disse Leland Prescott, sem tirar os olhos de Daisy.
Ela tinha plena consciência de que o vestido bege que usava favorecia-lhe a silhueta. Também sabia que estava com olheiras, conseqüência das longas noites sem dormir. Os cabelos estavam bem penteados enfeitando-lhe o rosto com pequenos caracóis. Suspeitava, no entanto, que nada daquilo importava. Por razões que não entendia, nem podia explicar, Leland estava interessado nela.
_Obrigada, dr. Prescott - respondeu encabulada.
_Já terminou suas compras ou posso acompanhá-la pela loja? Teria muito prazer em carregar sua cesta.
Fez menção de pegar a sacola, porém Daisy apertou-a fortemente contra o peito, dizendo:
_Eu já estava de saída, doutor.
Ele não escondeu o desapontamento, contraindo os lábios carnudos e bem-feitos.
_Se eu soubesse que você estava aqui, teria chegado mais cedo, para passar mais tempo a seu lado.
_Eu... - Ela gaguejou, sem saber o que dizer. Olhou aflita para o caixa. - Billy, você já colocou a farinha em minha charrete?
_Já, senhora. E o açúcar, também. Não quer levar um pacote de café?
Mesmo sem precisar, ela concordou, apenas para manter o sr. Leland longe da conversa.
_Não a tenho visto, ultimamente. Tem andado muito ocupada?
O embaraço tingiu de vermelho o rosto de Daisy. A face lhe queimava. Por que, afinal, ele fazia uma pergunta como aquela? Devia saber que ela andava com Stoner. Todos, na cidade, sabiam.
_Dr. Prescott, eu...
Ele deu um passo à frente, ficando apenas a alguns centímetros dela. Antes que ela pudesse impedi-lo, tomou-lhe a cesta das mãos e colocou-a sobre o balcão.
_Tenho sido paciente, Daisy - disse, em voz suave. _Sei que você era apaixonada por James Potter. Enquanto ele estava vivo, respeitei esse fato. Depois que ele morreu, esperei até que você se conformasse. Já se passaram mais de seis meses. Gostaria de saber se você se sente em condições de deixar as lembranças Para trás e recomeçar sua vida.
Daisy apertou os olhos constrangida. Podia sentir os olhares curiosos das mulheres. Ela e Leland seriam o assunto das fofocas durante o resto do dia. Sabia que muitas daquelas senhoras tinham vivido a vicia inteira sem nunca terem sido bafejadas pelo amor. Ela tinha sido bem mais afortunada. Havia se casado aos dezoito anos. O marido morrera, prematuramente. Chegara a pensar que ficaria sozinha para sempre. Então, encontrou James Potter. Ele também era viúvo. Juntos consolaram-se mutuamente. Enquanto ela via seu amor crescer com a convivência, ele mantinha-se fiel á esposa morta. Embora gostasse de freqüentar a cama de Daisy, não pretendia casar-se com ela.
Naquela época, Leland mudara-se para Whitehorn. Imediatamente, passou a cortejá-la de forma educada e gentil. Daisy ficara confusa. Ao mesmo tempo que julgava amar James, era tentada por tudo o que Leland lhe oferecia, principalmente a possibilidade de um novo casamento. Então, James fora enforcado e Leland demonstrou ser um bom amigo. Ela, porém, havia decidido ajudar Harry a limpar o nome da família. Deliberadamente, propôs-se a seduzir Lucas Stoner.
Agora, ela não passava de uma prostituta, aos olhos de toda a cidade. Se Leland ainda não havia se dado conta daquilo, em breve o faria. E então, não iria mais querer saber dela.
Daisy desejou sumir dali, enfiar-se num buraco, desaparecer. Bem que gostaria de contar a Leland as razões de sua atitude. Explicar tudo para que ele a entendesse, que a desculpasse e a esperasse. Que tolice. Nenhum homem entenderia os motivos que podiam levar a mulher desejada a dividir sua cama com outros homens. Leland tinha sido compreensivo ao se referir ao relacionamento dela com James. Uma nova transgressão seria imperdoável.
_Continuo ligada a James de uma forma que não posso explicar - ela murmurou, baixando a cabeça.
_Daisy - Leland aproximou-se ainda mais -, você sabe o tipo de sentimento que nutro por você. Não quero esperar a vida inteira.
Ela sentiu-se estremecer. O suave perfume que emanava do corpo de Leland perturbava-lhe os sentidos. Gostaria de poder dar-lhe esperanças. Gostaria de ter esperanças.
_Eu sei e não quero que me espere. Eu...
A sineta, sobre a porta, soou novamente. Daisy levantou os olhos e sentiu-se enregelar. Stoner acabara de entrar na loja. Viu-a e, imediatamente, dirigiu-lhe um sorriso de dono e senhor.
_Olá, Daisy - disse, desviando-se de Leland e beijando-a no rosto. Cumprimentou o médico, em seguida. - Pensei ter visto você vindo para cá, Prescott.
Ela percebeu o olhar inquisitivo de Leland sobre ela, as indagações não formuladas, a situação constrangedora. Não havia nada, porém, a fazer.
Billy veio dos fundos e aproximou-se deles.
_Está tudo na charrete, sra. Newcastle - disse o merceeiro. - Vou pôr as compras em sua conta.
_Não - disse Lucas, alto o bastante para ser ouvida por todos na loja. - Coloque na minha.
O rubor voltou ao rosto de Daisy, ainda mais forte. Gostaria de dizer alguma coisa. Protestar, porém, tornaria as coisas ainda piores.
Billy franziu as sobrancelhas, algo confuso.
_Tem certeza, sr. Stoner?
_Claro. É o mínimo que posso fazer, não acha, Daisy?
Ela não respondeu. Nem podia. Tinha um nó na garganta, Contudo, fez um gesto de concordância, levantou o queixo, e dirigiu-se á saída de cabeça erguida. Leland apressou-se a abrir a porta para ela. Em seu olhar, uma pergunta muda. E desapontamento. Lá atrás, no fundo da loja, os cochichos aumentaram. Uma palavra, uma só, chegou aos ouvidos de Daisy: prostituta
Levantou o queixo um pouco mais e endireitou a espinha. Podia ser uma prostituta, porém tinha sei orgulho. Afinal, sabia que tudo o que fazia tinha uma finalidade: ver Stoner pendurado na ponta de uma corda, enforcado. Era o que lhe bastava.
_No inverno, a neve se acumula e ultrapassa a altura das portas muitas vezes - disse Hermione. - Muitas pessoas morrem congeladas. Algumas acendem uma fogueira dentro de casa, para se aquecer, e acabam vítimas de um incêndio.
harry aproximou-se para ajudá-la a montar.
_Não sabia que fazia tanto frio em Chicago.
_Aposto que os invernos em Chicago são tão gelados quanto os daqui. E mais inclementes. Ainda que seja uma grande cidade, não significa que seja mais fácil suportar o frio intenso.
_Pensei que fosse. Nunca vivi em uma cidade grande.
_Não creio que você gostaria. - Ela voltou-se e o fitou, estudando-o pensativa. - Não consigo imaginá-lo trabalhando em uma fábrica ou dirigindo uma carruagem na cidade. Acho que é bem mais feliz vivendo aqui, ao ar livre.
_Tem razão - respondeu Harry. Ele sentiu como se fossem conhecidos de muito tempo.
Nos últimos três dias de jornada, vinham cumprindo uma rotina. Cavalgavam pelas trilhas da floresta, parando a cada duas horas para dar de beber aos cavalos e para descansarem. A cada manhã, Hermione repetia a promessa de não tentar fugir, e ele, de não amarrá-la. Algumas vezes, passavam horas sem trocar uma palavra. Outras, conversavam sobre os mais diferentes assuntos, principalmente sobre o passado. Evitavam, porém falar do futuro. Harry tinha consciência de que ela não queria saber dos planos dele de levar Stoner aos tribunais. E não suportava ouvi-la falar maravilhas a respeito do noivo.
Hermione levantou o rosto para o céu.
_Estou ficando bronzeada, não estou?
_No nariz e nas faces - ele concordou, fitando-a com intensidade.
_Sempre fico queimada se me exponho ao sol. Nunca gostei de usar chapéu. Creio que, por aqui, isso não tem muita importância.
Dizendo aquilo, continuou a contar suas experiências de quando trabalhava como enfermeira.
Ela não era parecida, em nada, com Claire. A diferença entre as duas mulheres cada vez mais o surpreendia. Claire tinha medo de tudo, jamais se acostumara ao trabalho pesado, e era tímida, muito tímida. Nunca expressara uma só opinião a respeito de qualquer coisa. Hermione, ao contrário, revelava-se uma pessoa excepcional, a cada nova experiência. Ele nunca havia pensado que pudesse vir a apreciar uma companhia feminina, pelo menos por tanto tempo. E no entanto, estava gostando. E muito. Lamentava ter mentido para ela.
Harry examinou os arredores para se assegurar de que estavam no caminho certo e, manobrando o cavalo, rumou para leste. Tinha os pensamentos tumultuados. Não planejara inventar uma mentira. Porém, quando ela perguntara se Stoner estava preocupado, não tivera outra escolha. Como iria contar que o homem que ela julgava perfeito em todos os sentidos, pouco ou nada fizera para tê-la de volta? Por razões que nem mesmo ele entendia, não queria magoá-la ainda mais. E então inventara a história do resgate. Assim ela ficaria com a ilusão de que Stoner era o príncipe encantado com o qual ela sonhava.
Hermione parecia distante, distraída. Aspirou o ar profundamente e comentou, encantada:
_Adoro este cheiro de mato.
_É engraçado. Você já disse isso outras vezes Não sinto nada de especial. Já sentiu o cheiro de uma estrebaria?
Com um sorriso malicioso, ela o encarou.
_E você, já sentiu o cheiro de esgoto a céu aberto? Você nem pode imaginar. Montana tem um cheiro muitas vezes melhor que Chicago.
_Se você pensa assim...
Harry puxou as rédeas e desmontou. Aproximou-se de uns arbustos e enroscou uma tira de renda nos galhos.
_Você tem certeza de que a milícia está atrás de nós? - Hermione perguntou com dúvida.
_Tenho. O delegado Lindsay colocou meia dúzia de homens em nosso encalço. - Na opinião de harry, os homens do delegado estavam fazendo um péssimo trabalho. Não sabia se por incompetência ou se haviam recebido ordens para fazer vistas grossas. Talvez Lindsay, mesmo sendo pago por Stoner, tivesse tido uma crise de consciência. - Vamos parar mais cedo - disse, observando o céu. - Ali é um bom lugar para montarmos acampamento.
Ela acompanhou-lhe o olhar. Depois, encarou-o, desconfiada.
_Estamos perto de onde era sua fazenda? - perguntou.
Harry voltou a montar, mantendo o cavalo rumo ao leste.
_Ela ficava ao norte, a uns vinte quilômetros daqui.
_Era grande?
_Era. Tínhamos cerca de trezentas cabeças de gado, mais duas mil que eu estava trazendo do Texas. Meu pai sonhava em ter a maior fazenda de Montana.
_Onde está seu gado, agora?
_A maior parte foi dispersada e recolhida pelos fazendeiros. Quando eu terminar o que planejei, vou refazer o rebanho. Um amigo meu está tomando conta do gado que eu trouxe do Texas.
_Então, você pretende voltar à fazenda?
_É meu lar.
_Mas não foi tudo destruído?
_Os celeiros não foram tocados. A casa foi parcialmente queimada. Sobraram algumas paredes e uma parte do teto. Tudo que havia dentro foi roubado, queimado, ou destruído.
Os olhos de Hermione estavam fixos nele, cheios de pesar.
_Pelo menos você tem uma casa que pode reconstruir. Eu nunca tive um lar. Claro, morei em quartos alugados, que eu fingia que eram meus, mas não é a mesma coisa. Você tem raízes, pertence a esse lugar. Tem um passado e um futuro pela frente. - Ela hesitou por um instante e depois, continuou: - E tem também, o broche que era de sua mãe. Os bandidos o deixaram entre as ruínas?
_Não. Os homens que acabaram com minha família o roubaram. Um deles presenteou uma garota com o broche.
Harry recordou-se de sua indignação quando recebeu o bilhete de Daisy, contando-lhe que poderia recuperar a jóia. A garota estava disposta a se desfazer dela por um bom preço.
_Então, você sabe quem é esse homem?
_ Orin Stoner.
Hermione ficou visivelmente perturbada.
_Que está dizendo? - perguntou.
_Que Orin Stoner deu o camafeu de minha mãe para uma garota de bar.
_Ele é irmão de Lucas?
_Não, é primo dele. São três, ao todo. Vivem rondando a cidade. Como os renegados.
Hermione mordeu o lábio inferior nervosamente.
_Deve haver uma explicação.
_Sem dúvida - concordou Harry com um sorriso irônico. E ele sabia qual era. Os primos trabalhavam para Stoner, faziam tudo o que ele mandava, inclusive assassinatos. Porém, saber a verdade era diferente de prová-la.
Aproximaram-se de um riacho, Harry puxou as rédeas.
_Vamos acampar aqui.
_É cedo, ainda - murmurou Hermione, deixando-se escorregar da sela.
_Tenho que me encontrar com alguém.
Ela virou-se e olhou-o, aflita.
_Por favor, Harry. Não me amarre novamente. Você prometeu.
_Hermione, não posso simplesmente deixá-la aqui.
_Por que não? Vou ficar bem. Posso acender o fogo e preparar o jantar. Sei como fazer isso. - Colocou as mãos nas costas, os olhos verdes praticamente implorando. - Harry, você não pode me deixar amarrada de novo. Não pode. Por favor.
Ela tinha razão. Ele não podia. Não tinha coragem. Praguejou, intimamente.
_Tenho certeza de que vou me arrepender de ter dado ouvidos a você. - Tirou as bolsas da sela e jogou-as no chão. - Os fósforos estão aí dentro. Acha que pode acender uma fogueira?
_Juro que posso. Você vai ver. Posso até fazer biscoitos.
_Você não vai tentar fugir?
_Para onde eu iria? Faz mais de cinco dias que estamos cavalgando. Sei que estamos muito longe da cidade. Vou ficar aqui. Só quero que me prometa que voltará antes do pôr-do-sol.
_Prometo - ele disse, tomando as rédeas e esporeando o cavalo.
Sentiu-se estranhamente perturbado pelo fato de deixá-la sozinha. Ao tentar descobrir o motivo, percebeu que não temia que ela fugisse nem temia por sua segurança. O motivo era outro. Sentia falta dela a seu lado. Já estava com saudade.
Obs:Oiiii pessoal!!!!Como uma forma de agradecer a paciência de vocês, estou postando hoje dois capitulos de cada fic!!!!Espero que tenham curtido e ate quinta eu atualizo todas elas novamente!!!Também estou postando no meu site a capa de "Receita de amor", por favor passem por lá e me digam se gostaram!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!!Ah, pra quem não sabe o meu site é http://jugrangerpotter.spaces.live.com/default.aspx
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