Cara a Cara com o Perigo



CAPÍTULO 15


 


CARA A CARA COM O PERIGO


 


 


 


 


 


 


 


 


Os acontecimentos dos últimos dias deram a Harry Potter muito em que pensar. Se, por um lado, ele inclinava-se a pensar que o agente de Voldemort em Hogwarts poderia ser Snape, por outro ele ficava triste, pensando na decepção que sua amiga, Nereida, teria.


Sabia que Voldemort estava atrás da Pedra Filosofal e que ela estava em Hogwarts. O que ainda não sabia era como mesmo o Lorde das Trevas conseguiria dar um jeito de neutralizar as defesas criadas pelos professores, das quais ele só tinha conhecido o Fofo (“O que já é o bastante para desencorajar qualquer um”, pensava ele).


Mas havia uma outra coisa que o preocupava. Hagrid. O grandalhão era um cara muito legal, mas tinha um graaande problema: por ser uma criatura relativamente ingênua, freqüentemente acreditava nos outros e acabava dizendo mais do que devia, geralmente para quem não devia. Afinal, nada sabiam sobre o tal estranho que havia dado a ele o ovo de dragão, do qual havia nascido Norberto... Caracas! Tinha esquecido completamente! O dragão norueguês já devia estar do tamanho de um Dogue Alemão, estando mais do que na hora de providenciarem sua transferência para a Romênia. Tratou de correr à procura de Rony, para que ele entrasse em contato com Carlinhos. Distraído, trombou com Draco, em uma curva dos corredores, ambos caindo sentados no chão.


_Ei, Harry, está no mundo da lua? _ perguntou Draco, rindo com a cena de pastelão, protagonizada pels dois _ Se alguém estivesse com uma câmera, daria uma bela “Vídeo-Cassetada”.


_Foi mal, Draco. Eu estava meio distraído. _ disse Harry, ajudando o loiro a levantar-se, também rindo _ Viu o Rony?


_Acho que vi o Weasley, lá pelos lados dos jardins. Estava com a Granger e a Black.


_Obrigado, Draco. Fui! _ e Harry correu na direção dos jardins (“Que coisa mais estranha. Nunca vi o Harry assim”, pensou o sonserino, seguindo seu caminho, mas mudando de idéia e indo para o mesmo lado para onde Harry havia ido).


Nos jardins, Harry encontrou Rony, Hermione e Soraya. Dali a pouco, Neville e Nereida juntaram-se a eles e seguiram para fora do castelo, até próximo da Floresta Proibida. Enfim, chegaram à cabana de...


_Hagrid? _ Draco murmurou para si mesmo (“Sei que são todos amigos, mas daí a procurá-lo, no meio da tarde...”, pensou ele).


 


No interior da cabana, serviram-se de chá e Hagrid levantou o assunto, com uma cara meio triste.


_É, gente. Para mim é difícil admitir, mas vocês têm razão. Está na hora do Norberto ir embora. Afinal de contas, ele já está bastante grande e logo será impossível esconder sua presença aqui.


_Calculo que ele deve estar mais ou menos do tamanho de um Dogue Alemão, não é, Hagrid? _ perguntou Harry.


_Exatamente, Harry. E o problema é que ele logo vai ter de comer comida sólida, pois já está passando da fase de tomar líquidos.


_E como você está conseguindo alimentá-lo, Hagrid? _ perguntou Soraya.


_Bem, ele tem de tomar um balde de conhaque com sangue de galinha, a cada quatro horas. Como a escola consome bastante carne de galinha, não tive problemas com o sangue. Quanto ao conhaque, se eu tiver uma certa quantidade da bebida, posso usar um Feitiço de Multiplicação, pois ainda conservo os pedaços da minha velha varinha e... _ então Hagrid calou-se, como se tivesse falado demais _ Um dia lhes conto por qual razão acabei sendo expulso, quando eu estava no terceiro ano, em 1943, se não me engano. Como eu dizia, vocês devem saber que em um Feitiço de Multiplicação a quantidade final será diretamente proporcional...


_... À quantidade inicial de matéria a ser multiplicada, de acordo com a Lei da Transfiguração Elementar de Gamp. _ disse Hermione.


_Exato. Não é à toa que você é o cérebro mais privilegiado dos alunos de Hogwarts. _ disse Hagrid, enquanto Hermione ficava vermelha _ Não sou eu quem diz, essa é a opinião de todos os professores, mesmo do Snape.


_Para o papai reconhecer e elogiar alguém da Grifinória, só sendo muito especial. _ disse Nereida _ Ele sempre defendeu a Sonserina com todas as forças.


_Com certeza. Mas o ponto central é o que vamos fazer com o Norberto. E, o mais importante, como colocarmos em prática o plano que havíamos bolado para tirá-lo daqui. _ disse Harry.


_Eu já me adiantei, Harry. Escrevi para Carlinhos e ele me disse que poderá tirar Norberto daqui hoje à noite, junto com alguns amigos da Reserva de Dragões onde ele trabalha, na Romênia.


_Ótimo, Rony. Mione, por acaso vocês conseguiram preparar a caixa?


_Sim, Harry. Eu, Soraya e Nereida preparamos uma caixa à prova de fogo e reforçamos com alguns feitiços. O mais difícil foi pedir a orientação da Profª McGonnagall e do Prof. Flitwick, sem deixá-los desconfiarem da finalidade. E como colocaremos Norberto na caixa?


_Deixem essa parte comigo e com Neville. Nós preparamos uma Poção de Sono que será capaz de derrubar Norberto. Ainda bem que ele não é um dragão adulto. Acho que só teremos de adicioná-la no conhaque dele e, em cinco minutos, pof! Ele estará dormindo como um anjinho. _ disse Harry _ E, para levar a caixa até a Torre de Astronomia, usaremos minha Capa de Invisibilidade. Só precisaremos fazer com que nenhum casal resolva usar a Torre para namoros mais... íntimos, nesta noite.


_Um balde de conhaque a cada quatro horas. Como é que o Norberto não fica nem tonto? _ perguntou Rony _ Qualquer pessoa desmaiaria de bêbada, só de respirar os vapores daquilo.


_O metabolismo dos dragões é bem interessante, Rony. Eles utilizam o álcool para processarem o fogo, em seu sistema digestivo. Para isso, tomam bebidas destiladas bem fortes. _ disse Hagrid _ Inclusive, eu fiquei sabendo que, no Brasil, existe uma espécie de serpente que é aparentada com os dragões, chamada Serpente Emplumada que, quando criada em cativeiro, toma um litro de cachaça a cada duas horas.


_Cachaça? _ perguntou Soraya _ O que é isso?


_Pelo que eu já li, é uma aguardente destilada a partir do caldo fermentado da cana-de-açúcar, produzida em todo o território do Brasil e exportada para o mundo todo. _ disse Hermione _ Bastante valorizada, forte e consumida pura ou em coquetéis.


_Eu já cheguei a provar. _ disse Hagrid _ Quando nova, ela é fortíssima e transparente mas, quando envelhecida em tonéis, fica mais suave e com uma cor amarelada, devido à madeira, o que também determina seu sabor final. Carvalho, sassafrás e outras madeiras emprestam um sabor e um perfume próprios à bebida. Voltando ao principal, acho que dá para interditar o corredor da Torre de Astronomia, com a desculpa de que houve uma infestação de baratas-artilheiras. Ninguém gosta de receber o jato fedorento que elas usam para defenderem-se dos predadores.


_Boa idéia, Hagrid. _ disse Neville, enquanto todos riam _ Sem contar que, além de feder bastante, o líquido que elas lançam também provoca uma coceira dos diabos. A última coisa que um casal de namorados iria querer seria ser atingido por aquilo.


_Então está resolvido. _ disse Nereida _ A que horas Carlinhos chegará?


_Às onze e meia da noite. _ disse Rony.


_É bem além do nosso horário de recolher. _ disse Hermione.


_Ainda bem que, graças ao Feitiço de Ampliação Interna da Capa de Invisibilidade de Harry, cabem todos vocês e mais a caixa do Norberto. Para mim não haveria jeito. _ disse Hagrid _ Só posso preparar o terreno para vocês. Boa sorte, crianças.


_Obrigada, Hagrid. _ respondeu Soraya _ Vamos indo?


_Sim. _ disseram os outros.


 


Saindo da cabana e tomando a direção da ponte coberta que levava ao castelo, ninguém além de Hermione percebeu um vulto que escondeu-se atrás de um monte de pedras que havia entre a plantação de abóboras e a orla da Floresta Proibida. Utilizando as técnicas aprendidas com Derek Mason, tentou reconhecer o Ki da pessoa e realmente o fez. Primeiramente pensou em avisar aos outros sobre quem era, mas desistiu da idéia, ao notar que o Ki percebido, em lugar de vibrar com malignidade, como ela pensava que vibraria, na verdade vibrava de um modo que lhe provocou uma sensação estranha, que ela não conseguiu definir de início, mas que logo firmou-se como uma espécie de compaixão e de pena, pois o Ki vibrava como o de alguém triste, dividido e atormentado. Involuntariamente, a garota sentiu que duas lágrimas deslizaram por sua face, enquanto uma rajada de vento soprava.


_Ei, Mione, o que houve? _ perguntou Nereida.


_Ciscos nos olhos. _ disse Hermione, indo até uma pia de pedra e lavando o rosto na água gelada que jorrava da boca de uma gárgula, vinda diretamente das montanhas. _ Vamos indo?


 


 


Onze horas da noite. Os bruxinhos já estavam na Torre de Astronomia, à espera de Carlinhos e seus colegas. O Feitiço de Ampliação Interna da capa de Harry permitia que todos os seis e mais a caixa de Norberto, submetida a um Feitiço de Levitação, tivessem chegado até ali sem serem percebidos.


_Deu certo. _ disse Neville.


_Também, bastou que Hagrid dissesse que havia uma infestação de baratas-artilheiras... _ disse Nereida.


_... Para que os casais resolvessem namorar em outras bandas, o que nos favorece bastante. _ disse Hermione.


_Sem dúvida. _ disse Harry _ Agora é só aguardarmos por Carlinhos. E aí, Rony? Foi fácil dar a poção ao Norberto?


_Colocar a poção no conhaque daquele dragão foi fácil. O pior foi quando cheguei perto para deixar o balde e ele quase me mordeu. Ainda bem que ele errou, por pouco. Sabiam que a saliva dos dragões noruegueses é tóxica?


_Sim, li sobre isso. _ disse Hermione _ Não é o bastante para matar, mas dá uma infecção bem dolorosa e o local da mordida fica necrosado e inchado. Realmente, você teve sorte, Rony.


_Cadê o Carlinhos? _ Nereida consultou o relógio _ São quase onze e meia.


_Ali está ele! _ disse Soraya _ E veio acompanhado por mais cinco colegas da Reserva de Dragões!


 


Com efeito, seis vassouras, todas elas pilotadas por bruxos da Reserva de Dragões, aterrissaram no terraço da Torre de Astronomia.


_E aí, Roniquinho? Tudo bem? _ Carlinhos implicou com o irmão, que odiava ser chamado daquela maneira _ Então, vocês têm um dragão para nós?


_Sim, Carlinhos. _ disse Harry _ Hagrid ganhou um dragão norueguês, mas ele está começando a ficar muito grande.


_Sei, Harry. Eles atingem uns vinte metros de comprimento, por outros tantos de envergadura de asas, na idade adulta. Está dentro da caixa?


_Sim. _ disse Nereida _ E não se preocupem, a caixa é à prova de fogo.


_Ótimo. Ele está sedado?


_Está. _ disse Rony _ coloquei uma Poção de Sono no balde de conhaque dele. Neville e Harry prepararam uma bem forte, suficiente para mantê-lo nanando até que vocês cheguem à reserva.


_Legal. Boa caixa, tem as alças para prendê-la às vassouras. Gente,vamos levar esse lagartinho para casa! _ a caixa foi presa às vassouras e logo tudo estava pronto.


_Vou ver se dou uma chegada em casa, no próximo mês.


_Dê um abraço no pessoal por mim. _ disse Rony, abraçando o irmão.


 


Em um instante, os seis bruxos levantaram vôo, com a caixa presa às vassouras e Norberto dormindo a sono solto. Dali a pouco, foram encobertos pelas nuvens e sumiram de vista.


_Vamos voltar? _ sugeriu Harry.


_Vamos. _ disse Hermione _ Cadê a Capa de Invisibilidade?


_Ficou no terraço. _ disse Soraya _ Estou indo buscar.


 


Mas não teve tempo de pegá-la, pois uma figura magra entrou na Sala de Astronomia, Madame Nor-ra. E, logo depois dela...


_Sr. Filch! _ exclamou Nereida.


_Garotinhos e garotinhas, violando o horário de recolher e sendo encontrados no local de pior fama de Hogwarts, sem contar que está interditado, devido a uma infestação de baratas-artilheiras. Três delitos que vão custar muuuuitos pontos para suas Casas, tanto por causa de vocês, quanto por causa daquele outro, a quem eu acabei de pegar.


_Que outro, Sr. Filch? _ perguntou Rony.


_Aquele ali. _ disse Filch, apontando para um garoto, parado no corredor. Draco Malfoy.


_Malfoy?! _ espantou-se Neville _ Você nos entregou?


_Como você soube que estaríamos aqui? _ perguntou Nereida.


_Ele estava do lado de fora da cabana de Hagrid, hoje à tarde. Deve ter ouvido nossos planos. _ disse Hermione, olhando para ele com um olhar de quem não acreditava no que via. Será que a sua interpretação da vibração do Ki, sentida à tarde, havia sido errônea? Draco percebeu aquele olhar, interpretando-o como desprezo e repulsa, olhando de volta para a garota com uma expressão de quem suplicava por seu perdão.


_Eu não esperava isso de você, Draco, por mais que sua fama lhe comprometesse. _ disse Harry.


_Mas eu sim, Harry. Lembre-se de que essa lombriguinha oxigenada é um Malfoy. E uma vez Malfoy, sempre Malfoy. _ disse Rony, olhando de forma assustadora para Draco. O ruivo percebera o olhar dele para Hermione.


_Tá, tá! Chega de conversa e vamos descer logo e resolver isso com a Vice-Diretora, Profª McGonnagall. _ disse Filch, conduzindo o grupo de bruxinhos até a sala da severa bruxa escocesa.


 


_Realmente, é bastante triste ver que vocês estão incursos em três transgressões. Por mais que me magoe, terei de tirar pontos da minha própria Casa. Trinta de cada um de vocês, perfazendo cento e cinqüenta, ao todo. Além disso, terei de tirar mais trinta da Srta. Snape e do Sr. Malfoy. Isso inverte a situação, mantendo a Sonserina em segundo lugar e baixando a Grifinória para quarto. Além disso, haverão detenções para todos vocês, a serem cumpridas amanhã, à noite. Agora, para suas Casas, todos vocês. Vão dormir e refletir na besteira que fizeram.


 


 


Na manhã seguinte, Wood procurou por Harry:


_Cara, o que houve? Todos estão comentando que a perda de pontos da Grifinória deve-se a você e seu grupo! Como é que você conseguiu nos baixar de primeiro para último?


Harry explicou a Wood o que aconteceu, em voz baixa, pedindo a ele que não espalhasse para ninguém.


_Cara, eu não imaginava! Bem, se aquele dragão fosse descoberto, a coisa seria pior. Eu também gosto de Hagrid e acho que faria algo parecido, se estivesse no seu lugar.


_O problema é que isso coloca em praticamente zero as nossas chances de vencer a Taça das Casas deste ano. _ disse Harry.


_Nem tudo está perdido, Harry. Mas vai dar bastante trabalho. Corvinal está em primeiro e Sonserina em segundo. Teremos de vencer a Lufa-Lufa por uma vantagem enorme e ainda torcermos para que Corvinal vença a Sonserina apertado e perca da Lufa-Lufa, por uma diferença grande. Uma combinação difícil, mas não impossível. E procurem não fazer mais loucuras, pelo amor de Deus e Merlin! Fica frio, que eu vou limpar sua barra com o time e com os outros colegas.


 


Harry seguiu seu caminho, aliviado por não estar com seu nome sujo com a turma. Realmente, nas horas que se seguiram, Oliver Wood explicou aos outros que os Inseparáveis tiveram fortes razões para incorrerem nas transgressões que custaram os pontos à Casa, embora sem entrar em detalhes. Durante as aulas, Harry tentava descobrir que tipo de detenção teriam de cumprir naquela noite. Depois do jantar, descobriu.


 


_Vocês cumprirão sua detenção de hoje com Hagrid. Pessoalmente, prefiro a maneira antiga, com os punidos postos a ferros e sendo açoitados. Ah, mas que bons tempos eram aqueles. _ disse Filch, com um ar saudoso.


_Deixe de ser brutal, Filch. _ disse Hagrid _ Assim vai assustar as crianças.


_Ainda triste pelo dragão, Hagrid? Você não poderia mesmo ficar com ele, criar dragões em casa é proibido, você sabe. _ disse Filch _ Embora as crianças tenham transgredido as regras, o que elas fizeram foi o melhor para todo mundo. Já pensou, o... Norberto, solto, soprando fogo por aí? Bem, vou deixá-los com você. Boa noite a todos.


_Boa noite, Filch. Bem, crianças, vocês terão de ir comigo à Floresta Proibida.


_Floresta Proibida?! _ repetiu Draco.


_Medinho, Malfoy? _ ironizou Rony.


_E você não, Weasley? Dizem que há lobisomens e acromântulas, em certas partes da mata. _ disse Draco, notando que a expressão de Rony ficou menos irônica, quando o loiro falou de aranhas.


_Calma, vocês estarão comigo e com o Canino. _ disse Hagrid, mostrando seu enorme cão de caçar javalis, enquanto ajeitava algumas setas em uma aljava e revisava sua besta _ Ele pode ser até meio covarde, mas qualquer um pensa duas vezes antes de atacá-lo, ao ver sua aparência.


_Com certeza. _ disse Soraya _ E o que vamos fazer na Floresta Proibida, Hagrid?


_Vamos indo, que eu explico no caminho. _ disse Hagrid, dirigindo-se para o interior da floresta, iluminando o caminho com uma lanterna, prestando atenção no chão e em troncos de árvores.


Certo momento, pareceu encontrar o que procurava. Nas folhas de uma moita, um líquido espesso e viscoso pingava, em grossas gotas.


_Hagrid, isso é o que eu estou pensando? _ perguntou Harry, o seu sonho retornando à memória _ Sangue de unicórnio?


_Exatamente, Harry. Há algumas semanas, fui avisado de que haviam unicórnios morrendo dessangrados, em uma parte da Floresta Proibida. Pela consistência dessas manchas, o animal foi ferido há pouco tempo, podendo ser localizado.


_E aí... _ Draco deixou a frase na metade.


_... Talvez possamos descobrir quem ou o quê está matando os unicórnios, Malfoy. _ completou Hermione _ Não é, Hagrid?


_Exato, Hermione. Por isso, vamos nos dividir. Como eu disse, Canino não é um exemplo de coragem, mas seu tamanho e aparência assustam. Quem vai com ele?


_Eu. _ disse Harry.


_Eu, também. _ disse Draco.


_Contem comigo. _ disse Soraya, estranhando o fato de Draco oferecer-se para ir junto com Harry.


_Comigo, também. _ disse Neville.


_Então, Rony, Hermione, e Nereida virão comigo. Fiquem nas trilhas e, caso haja algum perigo, lancem faíscas vermelhas com as varinhas.


_OK, Hagrid. Vamos.


 


Os grupos separaram-se e, mais adiante, Harry ouviu um ruído. Aproximando-se, os bruxinhos chegaram a uma clareira, cercada por raízes entrelaçadas. No meio da clareira, uma sombra movia-se, um ruído de sucção podendo ser ouvido.


_Harry, o que está havendo? _ perguntou Soraya, em voz baixa, vendo que o garoto ficou pálido e começou a suar, colocando as mãos na cabeça.


_Saiam... saiam daqui, agora! _ sussurrou o bruxinho, sua cabeça parecendo que ia explodir, tal era a dor em sua cicatriz.


_Mas, o que é aquela coisa? _ perguntou Draco, baixinho.


_Perigo, dos grandes. _ murmurou Neville.


 


De repente, a coisa parou o que estava fazendo e saiu de onde estava, indo para onde estavam as crianças.


_CORRAM! _ exclamou Harry, a dor em sua cabeça aumentando cada vez mais.


Os quatro bruxinhos saíram correndo, mas Harry e Draco prenderam os pés em um entrelaçado de raízes.


_Draco, lance faíscas vermelhas, rápido! _ exclamou Harry, enquanto a coisa aproximava-se, preta e encapuzada, porém permitindo entrever fios prateados de sangue de unicórnio, escorrendo pelo tecido.


Mas o que Draco fez, foi outra coisa. Vendo que o vulto aproximava-se, fingiu apontar para o alto, entretanto mudando repentinamente sua mira.


_ “IMPEDIMENTA”!!! _ a azaração atingiu a criatura em cheio, lançando-a a uma certa distância. Mas ela logo voltou a avançar na direção dos dois garotos e foi aí que, bradando “PERICULUM”, Draco lançou faíscas vermelhas para o alto. Quase a alcançar Harry, a estranha figura foi novamente jogada longe, desta vez pelos fortes golpes de um par de vigorosos cascos.


Quando a criatura malévola, vendo que não teria sucesso no seu intento, perdeu-se na distância, o recém-chegado aproximou-se e soltou Harry e Draco das raízes.


_Harry Potter, Draco Malfoy, vocês estão a salvo. Aquela coisa não voltará a ameaçá-los. _ disse ele, meio humano, meio eqüino, de bela cor baia.


_Você é um centauro. _ disse Draco.


_Exato, Draco Malfoy. Nossa manada vive na Floresta Proibida e nós estudamos o céu, tentando prever os acontecimentos.


_Algo de importante, Sr...


_Firenze. Apenas Firenze, Harry Potter. O brilho de Marte indica guerra futura. Talvez próxima, talvez mais distante. Mas o fato é que haverá. Sabem o que aquela criatura estava fazendo, não é?


_Sim, Firenze. _ disse Draco _ Sugando o sangue de um unicórnio.


_E vocês sabem o que o sangue de unicórnio faz?


_Sim, prolonga a vida, ainda que a pessoa esteja à beira da morte, mas condena o usuário a uma maldição. _ respondeu Harry _ Ele tem de agir como que um vampiro de unicórnios, até que encontre outro modo de prolongar sua vida.


_E você sabe o que está guardado em Hogwarts? _ perguntou Firenze, sem referir-se à Pedra Filosofal.


_Sim, sei. _ respondeu Harry, novamente, também omitindo. Não seria interessante que ninguém mais soubesse.


_E vocês sabem quem é que tem interesse em recuperar suas energias?


_Quer dizer que aquela coisa, sugando o sangue do unicórnio era...


_Sim, Draco Malfoy. Era ele mesmo.


_Então, isso significa, com certeza, que Lord Voldemort está de volta à Inglaterra. _ disse Harry, notando que Draco teve um pequeno estremecimento ao ouvir o nome, mas não tão intenso quanto ele imaginava que seria.


_Sim, Harry Potter. E vocês devem preparar-se, pois ele quer readquirir seu poder total. Ah, aí vem Hagrid.


Hagrid vinha chegando, acompanhado pelos outros bruxinhos e por mais dois centauros.


_Firenze! Que bom que você os encontrou! _ disse Hagrid _ Soraya e Neville encontraram Magoriano e Agouro no caminho e vieram me avisar.


_Sim, Hagrid. Mas, se Draco Malfoy não tivesse lançado uma Azaração de Impedimento, creio que eu não teria chegado a tempo. Obrigado, Draco Malfoy.


_De nada. Sabe, eu tinha de fazer aquilo. Além de salvar a mim mesmo, não podia deixar Harry ali. _ disse Draco, para espanto dos outros.


Creio que será melhor que ninguém mais fique sabendo do que aconteceu aqui. _ disse Hagrid.


_Pode contar conosco para mantermos segredo, Hagrid. Mas, quanto a certos outros, não posso garantir nada. _ disse Rony, olhando de forma bastante significativa para Draco.


_Podem até não acreditar, não sou tudo o que dizem de mim, talvez apenas uma parte. Mas uma coisa eu, com certeza, não sou. Eu não sou dedo-duro, entendeu, Weasley? _ respondeu Draco, irritado com a acusação de Rony _ Ontem à noite, eu estava indo avisá-los de que o Filch ia atrás de vocês. Infelizmente, ele deve ter pego alguma passagem secreta, pois chegou antes de mim e ainda me pegou.


 


Houve um alívio para Hermione, ao perceber que Draco estava dizendo a verdade. Sua percepção das vibrações do Ki do loiro não estavam erradas, afinal de contas.


_Certo, gente. Vamos voltar para o castelo. _ disse Hagrid e todos concordaram.


 


 


Antes de irem dormir, Harry e Rony resolveram jogar uma partida de xadrez de bruxo, para aproveitarem e discutirem sobre alguns pontos dos acontecimentos recentes.


_Já vão jogar esse xadrez brutal de novo? _ perguntou Hermione.


_Não é brutal, Mione. _ disse Rony _ Nós jogamos a modalidade “Game”, mas existe a modalidade “Battle”, na qual as pedras disputam a posse da casa, lutando, em vez de a pedra que chega à casa conquistá-la automaticamente.


Enquanto Rony falava, um bispo de Harry deu um chute no traseiro de uma de suas torres, lançando-a para fora do tabuleiro.


_E o que determina qual pedra vence na modalidade “Battle”?


_Pelo que eu sei, é a experiência do jogador, bem como seus níveis de magia que fazem com que a pedra vença. _ disse Harry.


Continuaram jogando, até que Rony venceu a partida. Então, Soraya perguntou:


_Harry, aquela coisa era mesmo o...


_Lord Voldemort. Sim, parece que ele está de volta à Inglaterra, embora não esteja poderoso como antes.


_Então, isso significa que ele, realmente, está atrás da Pedra Filosofal, a fim de recuperar todos os seus poderes. _ disse Neville.


_Mas ele parece estar precisando da ajuda de alguém aqui em Hogwarts. _ disse Hermione.


_Um espião na escola, como desconfiávamos. _ comentou Rony, pensativo, enquanto guardava seu tabuleiro.


_Mas quem poderia ser? Snape, talvez? _ perguntou Harry _ O cara já tem um passado, por mais que esteja limpo hoje.


_Mas, por outro lado, Dumbledore jamais iria aceitá-lo como professor, se não confiasse nele. _ disse Hermione.


_Mas essa corrente possui um elo fraco, com o qual eu me preocupo bastante. Hagrid. _ comentou Soraya.


_Por quê? _ perguntou Rony.


_Acho que faço uma idéia, Rony. _ disse Neville _ Quando você olha para Hagrid, você fica assustado, mas passa a adorá-lo, depois que o conhece um pouco mais.


_É verdade. Ele tem a força de um titã e o coração puro de uma criança. E é aí que mora o perigo, pois isso o torna vulnerável a pessoas mal-intencionadas. Sem contar que fica com a língua meio solta, após tomar uns tragos. _ disse Hermione.


_O que nos leva a pensar... e se, por várias razões, os últimos fatos ocorridos, tipo Hagrid ter ganho um ovo de dragão, não foram coincidência?


_Onde você está querendo chegar, Harry? _ perguntou Neville.


_Vejam, Hagrid sempre quis ter um dragão. E então, inesperadamente, acaba ganhando um ovo de dragão de um completo estranho. E se, não por acaso, essa pessoa queria puxar assunto para descobrir alguma coisa?


_Tipo, detalhes sobre alguns segredos de Hogwarts? _ perguntou Rony.


_Concordo. _ disse Hermione _ Se, conosco e sóbrio, a língua de Hagrid já se soltava, imagine em uma conversa de bar, com a bebida rolando solta? Ele iria, certamente, contar o que não devia.


_E, se ele por acaso entregar algo sobre as defesas da Pedra Filosofal, qualquer bruxo das Trevas poderia ultrapassá-las, facilmente. _ disse Soraya.


_E, com isso, obter a Pedra, não para si, mas para Lord Voldemort. Assim ele poderia recuperar seu corpo e seus poderes. _ disse Rony.


_E então, ele poderia conquistar Hogwarts e transformá-la em uma escola de magia e bruxaria voltada para as Trevas. _ disse Harry, com um olhar firme e uma expressão dura no rosto _ E isso é algo que, por Deus e por Merlin, eu jamais permitirei. Posso ter apenas onze anos, mas sei muito bem o que seria um mundo sob o tacão de Lord Voldemort e, certamente, não é isso que eu desejo. Há dois objetivos principais que precisamos estabelecer: primeiro, tentar descobrir quem é o espião de Voldemort. Segundo, impedir que ele obtenha a Pedra Filosofal para seu mestre. Se for um estranho, melhor. Mas, se for Snape, sinto muito por Nereida. Ela é minha amiga, gosto muito dela, mas sei que ela também não iria querer que Voldemort tomasse o poder.


_E o que você acha melhor que façamos, Harry? _ perguntou Neville.


_Primeiro, vamos falar com Hagrid. Vamos ver se ele não falou algo que não devia para alguém.


_O que é bastante provável. _ disse Hermione, com um suspiro. Bem, vamos dormir, pois já está tarde. Amanhã, falaremos com Hagrid.


_OK, Boa noite, meninas. _ disseram os garotos.


_Boa noite. _ e recolheram-se aos seus dormitórios. Chegando à sua cama, Harry encontrou um pacote e, ao abri-lo, viu que continha a Capa de Invisibilidade, com um pequeno bilhete, no qual lia-se: “Creio que você precisará dela novamente, em breve”.


 


 


No dia seguinte, depois das aulas da tarde, foram à cabana de Hagrid e Harry perguntou:


_Hagrid, como era o estranho que lhe deu o ovo de dragão?


_Não vi o rosto dele, ele permaneceu encapuzado.


_E sobre o que vocês conversaram? _ perguntou Nereida.


_Sobre várias coisas, principalmente sobre animais. Ele me perguntou como eu conseguia me dar bem com certos animais ferozes. Então eu disse a ele que tudo dependia de estudar bem o comportamento deles, saber de certas coisas que não estão nos livros de Trato das Criaturas Mágicas, uma matéria que vocês terão, a partir do terceiro ano.


_Sei, é o Prof. Kettleburn quem a leciona, não é? _ perguntou Hermione.


_Exato. E eu dei a ele o exemplo do Fofo. Ele é extremamente feroz e assustador, mas fica quietinho e dorme, quando ouve música. Creio que é uma característica dos Cérberos originais, que eram bastante sensíveis à lira de Orfeu... que caras são essas? Aah, já sei. Falei algo que não devia.


_OK, Hagrid. Muito obrigada pela conversa. Até mais. Temos de voltar ao castelo, antes que escureça. _ disse Hermione, enquanto todos levantavam-se e saíam da cabana.


No caminho para o castelo, Hermione comentou com os amigos:


_Acho que o espião, seja ele quem for, deve saber passar pelas defesas. Pelo menos por aquele monstro de três cabeças, eu creio.


_E o que você sugere? _ perguntou Soraya.


_Creio que devemos dizer a Dumbledore e McGonnagall que já sabemos sobre a Pedra. Então eles saberão o que fazer, talvez reforçarem as defesas ou removerem a Pedra Filosofal de Hogwarts, quem sabe?


_De acordo... Papai, o que houve? _ disse Nereida, quando eles cruzaram com Snape, que mancava e tinha uma das pernas de suas calças rasgada, deixando entrever um ferimento, que sangrava.


_Nada, minha filha. Machuquei a perna e estou indo até Madame Pomfrey, para ver se ela dá um jeito. _ disse Snape, disfarçando uma careta de dor e seguindo seu caminho.


_Aquilo parece marca de mordida. _ disse a garota _ Será que o espião... Não, por Merlin! Não quero, não posso acreditar!


_Calma, Nereida. _ disse Harry _ Pode haver um sem-número de causas para aquele ferimento do Prof. Snape. Não vamos tirar conclusões precipitadas.


No gabinete da Profª McGonnagall, os bruxinhos encontraram-na, sentada à sua escrivaninha, corrigindo provas.


_Professora, precisamos conversar. _ disse Hermione.


_Pois não, Srta. Granger, claro que podemos. Sobre o que querem falar?


_Nós sabemos sobre a Pedra Filosofal, Profª McGonnagall. Também sabemos que ela está sendo guardada em Hogwarts. _ disse Harry.


_Como... como é que vocês sabem? _ perguntou _ Bem, sabendo de quem Harry Potter e Soraya Black são filhos e de quem Ronald Weasley é irmão, fica fácil. Mas não se preocupem, meus jovens. A Pedra Filosofal está muito bem defendida, não há bruxo das Trevas capaz de passar pelas defesas que os professores prepararam.


_Será que o Prof. Dumbledore não deveria ser avisado? Afinal de contas, depois dos acontecimentos de ontem... _ comentou Neville.


_Sim, nós estamos sabendo sobre o assassino de unicórnios. Mas o Prof. Dumbledore não está aqui, recebeu uma coruja, convocando-o ao Ministério. Decerto o Ministro Fudge precisa dos conselhos dele, novamente. Deverá estar de volta em dois dias.


_Dois dias?! _ espantou-se Harry _ Até lá Voldemort terá tido tempo de sobra para agir!


_Calma, Sr. Potter. As defesas da Pedra são capazes de deter até mesmo o Você-Sabe-Quem. Não se preocupem e, por favor, mantenham segredo. Podem ir, agora.


 


Os bruxinhos saíram e Nereida disse:


_Não importa se meu pai for o espião de Voldemort ou não. Devemos impedir que a Pedra Filosofal caia nas mãos do Lorde das Trevas.


De acordo. _ disse Harry _ Iremos atrás dela, hoje à noite.

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