Capitulo 4
CAPITULO QUATRO
Irmão de Will?
Mione voltou a examinar o documento. “Mas é claro!” Só então, se dava conta da semelhança... Harry era uma versão bem-acabada e ‘diabolicamente’ mais atraente de Will! Pouco importava que a revelação tornasse a situação menos ameaçadora. Não havia como disfarçar o espanto. Ela havia sido sequestrada pelo futuro cunhado!
Mione fixou os olhos de Harry e suspirou aliviada. Ao menos, não estava à mercê de um terrorista, de um maníaco. Muito menos sofrendo da síndrome de Estocolmo.
—Não me admira que Will nunca tenha lhe contado que tinha um irmão — sorriu ele. — Sou ‘persona non grata’ na família.
Sua expressão já não era a de um garotinho frágil, abandonado, havia um quê de ressentimento em sua voz, qualquer coisa que compelia à solidariedade. E Mione conhecia de longa data aquele sentimento.
—Will nunca fala da família. Nem mesmo dos pais. Acho que nem fotografias ele tem... — balbuciou ela, tentando remediar.
Harry se afastou em silêncio. Tirou de uma gaveta um enorme álbum e colocou-o colo de Mione.
Ela hesitou. Não tinha o direito de invadir a privacidade do noivo. Na certa, Will tinha motivos para evitar falar da família. Como ela. Não foi por acaso que Mione passou a infância fantasiando ter sido vítima de um lamentável descuido na maternidade em que nascera. Sua verdadeira família, provavelmente os Rockefeller, um dia voltaria a Santa Fé para resgatá-la. Talvez Will sonhasse a mesma coisa.
Mal contendo a curiosidade, ela respirou fundo e abriu o álbum. A primeira fotografia a fez rir. Will e Harry, adolescentes, brincando com um kart no gramado de um enorme palacete. O cunhado, ao volante, acenava para a câmara. Mione sentiu um forte estranhamento ao deparar-se com a imagem do noivo, entre quatorze e quinze anos, com o mesmo sorriso tímido e infantil.
—Ah, as férias! Onde vocês estavam, na Inglaterra?
—Inglaterra? — pestanejou Harry inteiramente surpreso. — Não. É nossa casa.
Mione franziu a testa e voltou a examinar a fotografia.
—Vocês moravam nesse casarão?
Ele fez que sim.
—Pensei que fosse a mansão de veraneio da rainha Elizabeth. Will comentou qualquer coisa sobre a família ter uma cervejaria, mas...
—Você nunca ouviu falar da Cervejaria Potter? — perguntou Harry.
—Claro — murmurou ela, engolindo em seco. — Mas vocês não são... Quer dizer... Vocês são ‘aqueles’ Potter?
—Meu irmão não lhe contou?
—Não. Ora, mas por que ele me esconderia uma coisa dessa? — Mione hesitou antes de continuar. — E por que está sendo sequestrado pela própria família?
—Parece que andam desviando dinheiro da conta de meu pai. Gente do FIB, sem dúvida.
—Mas não Will! Eu não acredito que ele esteja envolvido.
Harry sacudiu a cabeça.
—Ninguém acredita. Will e eu rompemos com o velho, é verdade. Mas, em momento algum, demos motivo para que duvidassem de nossa honestidade. Deve ser por isso que meu pai ainda não procurou as autoridades.
—Ainda bem! — suspirou Mione. — Quer dizer, não que Will tenha alguma coisa a ver com a história... O que você acabou de me contar só confirma a inocência do pobrezinho. Por que ele iria roubar o que em tese já lhe pertence? Will é herdeiro natural dessa fortuna.
—A questão é que ele não é. Muito menos eu. — Harry deu de ombros. — Nós dois fomos deserdados quando escolhemos uma carreira profissional que não atendia aos interesses da cervejaria.
—Deserdados? Que horror! Seu pai nunca ouviu falar no livre-arbítrio?
Harry deu uma gargalhada.
—Essa é muito boa! Livre-arbítrio? Esqueceu-se de que foi James Potter quem ordenou seu sequestro?
—Mas é ridículo! Se ele desconfia de alguma coisa, por que não procura a direção do banco, requisita uma auditoria e...
— O velho James costuma resolver os problemas de uma maneira toda especial — atalhou Harry. — Principalmente quando há um Potter envolvido. Pode ter certeza de que meu pai está convencido de que é o homem mais benevolente do mundo. Por isso está dando a Will a oportunidade de restituir o que foi roubado. Quem seria capaz de um ato tão magnânimo?
—Isso se Will for culpado. Mas não é. — Mione refletiu um instante. — Então, eles o levaram para Connecticut?
Harry fez que sim.
—Mas quem vocês pensam que são, afinal? — indignou-se ela. — Acham-se no direito de sair por aí sequestrando as pessoas no dia de seu casamento...
—Estávamos tentando facilitar as coisas. Era a única maneira de não notarem a ausência de Will no banco.
—E eu? O que tenho a ver com essa história?
—Bem, como não havia outro jeito senão interromper as núpcias dos pombinhos, o velho achou que devia tirar vantagem disso também.
—Vocês são completamente loucos. Não admira que Will nunca tenha me falado dos parentes! Os Potter são a família mais desajustada de que já tive notícia...
“Mais que a minha!”
—É, digamos que não somos um exemplo de equilíbrio...
—Na certa, estão dizendo a Will que vão me torturar. Querem fazê-lo confessar um crime que não cometeu.
Harry arregalou os olhos.
—Mesmo depois de tantas mentiras, você ainda insiste em defendê-lo?
—Will não mentiu. Pode ter omitido algumas coisas. Mas e daí? Você certamente não exibe a declaração de bens de sua família a todas as mulheres que conhece.
—É verdade. Mas também nunca pedi alguém em casamento. — Fitou-a com aquele olhar devastador. — Escute, a verdade é que eu não tenho nada a ver com essa história. Apenas concordei em tirá-la de circulação um dia ou dois para que não entrasse em pânico com o desaparecimento de Will.
Mione sentiu um alívio. Alívio e raiva.
—Um dia? Mas por que não me disse isso antes?
Harry ergueu as sobrancelhas.
—Ora, o que esperava? Que eu chegasse educadamente e dissesse, "Com licença, madame, é apenas um sequestro. Mas não se preocupe, é coisa rápida. Vinte e quatro horas, no máximo". Mudaria alguma coisa?
—Pelo menos eu não teria me desesperado, imaginando que corria risco de vida!
—E não corria mesmo. Se não tivesse se atirado na frente dos carros e tentado escapar pela janela...
—Pensei que fossem me matar! — gritou Mione. — Por que você não disse que era irmão de Will? — “Eu não teria achado que estava ficando louca. Imagine só, sentir-se atraída pelo próprio sequestrador!”
—Mas você nem sabia que ele tinha irmão — lembrou Harry. — Escute, Mione, eu sinto muito. Nunca sequestrei alguém. Sei que isso não serve de consolo — vacilou —, mas confesso que...
Ela engoliu em seco.
—Quê?
—Bem, eu sempre menosprezei meu irmão. — disse Harry acercando-se. — Nunca imaginei que um dia viria a sentir inveja dele.
Durante um instante momento que lhe pareceu infinito, Mione teve certeza de que seria tragada por aqueles imensos olhos verdes.
Nunca havia experimentado uma sensação tão perturbadora, como se o sangue corresse aos borbotões, prestes a transbordar das veias. Harry a encarava de um jeito diferente. Da maneira como ela, tantas vezes, desejara que o noivo fizesse... Mas, ainda que Will se esmerasse, jamais conseguiria provocar reação semelhante. Mione não sabia o que dizer. Para onde olhar.
Harry deu mais um passo. Um movimento sutil, quase imperceptível, que ela não só notou, como retribuiu, indo involuntariamente ao encontro dele. Ao sentir sua respiração quente a acariciar-lhe a face, umedeceu os lábios, ansiando o contato de suas mãos. Quando ele, finalmente, pousou-as delicadamente em seus braços, Mione se lembrou do noivo e sentiu uma fisgada no peito.
Levantou-se precipitadamente do tatame e esfregou o rosto. Mais um minuto e teria beijado o futuro cunhado! O ambiente tornara-se repentinamente claustrofóbico. Ela precisava de ar, precisava dar um basta à atmosfera de intimidade que os envolvia... Precisava se afastar de Harry.
Um homem como aquele não servia para ela, servia para mulheres de espírito independente. Como Joan. Joan! Sua irmã certamente o veria como um príncipe encantado surgido no último instante para salvá-la de um casamento infeliz.
“Que tolice!”, pensou Mione, tentando se fixar na imagem do noivo. Precisava dele... Antes que fosse tarde demais!
—Pare de dizer bobagens — gemeu ela, chocando-se com a tábua de passar roupa.
—É uma pena que tenhamos nos conhecido desse jeito, Mione — lamentou Harry. — Eu gostaria muito de poder facilitar as coisas para você.
Quanto mais ele se esforçava para ser gentil, mais a situação se complicava. Não faltava muito para que Mione se atirasse em seus braços. Coisa que não poderia fazer em hipótese alguma, ela repetiu para si mesma. Do contrário, em poucos segundos, os dois estariam rolando no tatame!
—Mas você pode me ajudar — murmurou Mione, tentando retomar o autocontrole.
—Como?
—Levando-me a Connecticut.
Certamente, não era isso que Harry esperava ouvir.
—Agora?
—Se eu puder conversar com seu pai, tenho certeza de que vou convencê-lo de que Will não tem nada a ver com o desfalque.
—Você diz isso porque não o conhece — resmungou Harry. — Meu pai não é um sujeito que se deixe convencer com facilidade.
—Tenho minhas dúvidas. Afinal, ele não hesitou em sequestrar duas pessoas, fiando-se exclusivamente na conversa... de quem? De um contador?
—Exatamente. Mas não há dúvida de que o homem estava falando a verdade.
—E como você pode estar tão convencido disso?
—Meu pai o demitiu. Se houvesse a menor possibilidade de engano, James não o teria despedido.
Mione ficou pasma.
—Está me dizendo que ele despediu o funcionário simplesmente porque o infeliz cumpriu a obrigação? Que absurdo!
—Estamos falando de James Potter. Ele detesta ser contrariado, e gosta menos ainda de ver o nome da família envolvido em escândalos.
—Isso não vem ao caso — disse ela, sacudindo a cabeça. — Se Will e eu pudermos checar os livros, tenho certeza de que vamos acabar descobrindo o que aconteceu.
Harry respirou fundo.
—E tem de ser hoje? Você não pode esperar até amanhã?
—Eu preciso ver Will! — gritou ela. Sabia que estava se comportando como uma criança mimada, mas o que fazer? Se ficasse mais um minuto sozinha com o futuro e irresistível cunhado, seria um desastre.
Mesmo a contragosto, Harry acabou concordando.
—Tudo bem. Vou levá-la a Connecticut. Mas fique sabendo que vai ter de se virar sozinha lá.
—Eu nunca andei em um carro tão desconfortável! — queixou-se Mione, examinando o interior escuro do jipe.
Era verdade, muito embora o desconforto se devesse mais ao fato de ela estar muito encolhida no banco que a qualquer outra coisa. Detalhe, por sinal, que deixou Harry irritado.
—Por que o banco do passageiro fica do lado contrário? — perguntou ela.
—É um modelo antigo, exclusivo dos correios. Comprei em um leilão do Estado.
—E será que esta coisa consegue chegar a Connecticut?
—Bem, eu espero que sim... — respondeu ele, já perdendo a paciência.
Harry imaginara que, satisfazendo-lhe os desejos, Mione melhorasse de humor. Grande engano!
—Devíamos ter tomado um trem — resmungou ela.
—Escute, eu só concordei em pegar a estrada a uma hora dessas para evitar que você tivesse mais um ataque de histeria. Obviamente, não espero qualquer manifestação de gratidão. Seria pedir demais. Mas você não acha que já está começando a abusar da sorte?
Ela suspirou com impaciência.
—Ora, se você não é capaz de tolerar uma crítica, não deveria circular por aí em uma lata de sardinha.
—Qualquer um que a escute, vai pensar que você nunca passou um desconforto na vida.
—Para sua informação, a primeira vez que entrei em uma casa com ar-condicionado, eu tinha dezoito anos — apressou-se em dizer ela. — E até os dez, dormia em um quarto com mais quatro meninas, das quais, apenas uma era minha irmã. E quanto a carros...
—Tudo bem, tudo bem. Eu já posso imaginar o resto — interrompeu ele. — Você ia à escola a pé, percorria cinco quilómetros todos os dias com neve até o pescoço. Oh, quanto sofrimento! Hermione Granger, a ‘riquinha’ infeliz.
—Meu nome de batismo é Flor — resmungou ela com certo orgulho, como se sobreviver a tamanho desastre, já lhe garantisse, no mínimo, uma honraria.
E talvez fosse o caso, pois Harry a encarou assombrado.
—Flor?
—Para ser exata, Flor de Maio Granger. Uma experiência e tanto, não acha? Daquelas indispensáveis para o fortalecimento do caráter.
Harry voltou a tirar os olhos da estrada e os fixou no perfil daquela que, sem dúvida alguma, era uma mulher de muita personalidade. Pela primeira vez desde que entraram no jipe, ela parecia menos tensa e principalmente menos assustada.
—E como você chegou à conclusão de que queria se chamar Mione? — perguntou ele.
—Aos dezoito anos, pouco antes de sair de casa, eu estudei cuidadosamente meu álbum de formatura. Fiz um levantamento dos nomes que se repetiam em todas as turmas. Houve praticamente um empate entre Mione e Lisa, mas três das representantes de classe mais populares chamavam-se Mione. No final, acabei optando por Mione.
—E pensar que eu me considerava o ser mais infeliz do planeta...
—Qual era seu problema? — perguntou ela.
—Não ter problemas — sorriu Harry.
—E...
—Mais nada. Todas minhas necessidades e desejos eram satisfeitos em um piscar de olhos. As coisas simplesmente apareciam em minha frente em uma bandeja de prata. Meu pai não admitia que absolutamente nada se interpusesse em meu caminho. Se um professor mais desavisado, por um motivo qualquer, insistisse em me disciplinar, meu pai logo cuidava de tirá-lo de circulação. Se eu ficasse de fora do time de futebol, pronto! Ele organizava um time só para mim.
Mione contorceu os lábios.
—Compreendo. Você passou a infância sonhando ser "o sr. João-ninguém". Queria ter uma vida normal, ou melhor, cheia de problemas. Que nobre!
—Qual o problema? Quer coisa mais obtusa que esse seu fanatismo pela normalidade, ‘Tyson’?
—Fanatismo! Só por que eu precisava de uma vida minimamente estruturada?
—Então me responda uma coisa: Se sua experiência familiar foi tão traumática, por que resolveu se casar com Will, ter uma casinha em um condomínio de classe média e filhos?
Ela franziu as sobrancelhas indignada.
—Ora, que pergunta idiota!
—Idiota por quê? Acaso não lhe passou pela cabeça que podia estar se metendo em outra enrascada?
—Claro que não! Will e eu constituiremos uma família, não há dúvida, mas completamente diferente da minha.
—Diferente em quê?
—Ora, em tudo. Vamos fazer a coisa certa — rosnou ela, empinando exageradamente o queixo. — Quando meus filhos estiverem crescidos, não tenho dúvida de que vão me parabenizar pelo ótimo trabalho.
Harry caiu na gargalhada.
—Qual o problema agora? — rosnou ela.
—Nenhum. Eu só acho que você está sendo muito otimista.
Era difícil não se deixar cativar por aquele rosto. Mione tinha um brilho no olhar, uma maneira altiva de elevar o queixo que contrariava seu discurso. Será que alguém capaz de desafiar um seqüestrador armado em plena Manhattan se contentaria em passar o resto da vida protegida por uma cerca branca?
—Pois bem, deixando de lado os filhos eternamente agradecidos, você acredita mesmo que Will possa corresponder as suas expectativas?
Mione endireitou os ombros e voltou a olhar para frente.
—Acredito.
—Duvido. E, quer saber, você duvida mais ainda.
—Um dia como seqüestrador não o transforma propriamente em um especialista em Hermione Granger, sabia?
Harry tornou a rir. Agora, não havia mais dúvida: ele não fora o único a ansiar por um beijo quando estavam no apartamento.
—Pois aposto que você não tem nem a metade dessa convicção.
—Que absurdo! Você se esqueceu de que está me levando a Connecticut porque eu não suportaria passar uma noite longe de Will?
—É mesmo? Ou será que teve medo do que poderia acontecer se não houvesse alguém por perto para controlá-la?
Mione não respondeu, apenas endureceu ainda mais o queixo e voltou a olhar para a estrada.
—Deixe para lá, ‘Tyson’ — disse Harry, notando-lhe o rosto corado de constrangimento. — Não sou tão idiota quanto você imagina. Sei quando perdi a parada. Você vem acalentando há tanto tempo esse sonho idiota de normalidade que dificilmente se interessaria por um estilo de vida diferente.
—Como você é arrogante — disse ela, fuzilando-o com o olhar. — Tudo isso por quê? Simplesmente porque não me interessei por você, um sujeito que não sabe nem se vestir?
Harry tornou a rir.
—Ah, claro! Suponho que Will seja especialista nisso também?
—Ele não anda por aí feito um palhaço.
—Pois para mim o que interessa é o conforto.
—Mas nada o impede de pelo menos tentar combinar as roupas. Um short caqui, por exemplo, não seria má escolha para alguém que coleciona camisetas.
—Puxa, você entende de tudo, não?
—Não, mas tenho bom gosto.
—Bom gosto! Uma questão bastante relativa — retrucou ele. — Você não é a dona da verdade, sabia?
—Não sou mesmo. Mas a maioria das pessoas pensa assim.
—Oh, sim, eu havia me esquecido. Você é daquelas que seguem os padrões ditados pela maioria. A começar pelo destino que dá à própria vida.
—E você é daqueles que sentem muita pena de si mesmos. Oh, pobrezinho, quanto sofrimento... Ele mal abria a boca, e o mordomo já lhe enfiava a mamadeira de prata goela abaixo!
Eles passaram mais de meia hora em completo silêncio. Mas, afinal, o que estava acontecendo com Harry? Ele daria qualquer coisa para se livrar daquela encrenca.
Já devia ter aprendido que não valia a pena se meter nas confusões da família. Aliás, era esse o problema das famílias. Costumavam suscitar tantas emoções incompreensíveis que o melhor era manter distância. Seu pai, por exemplo, só de lhe ouvir a voz, Harry foi tomado pelo mesmo sentimento de culpa e decepção que conhecera quando resolvera sair de casa. E por quê? Porque desejava ser policial, levar uma vida comum, independente? Ora essa! E agora a confusão com Will. Justamente o irmão que não dava a mínima para ninguém!
A medida que se aproximava de casa, Harry ia se sentindo mais arrasado. Não queria se encontrar com o pai, muito menos em seu território. Para combinarem o esquema do sequestro, James o havia encontrado em um bar no centro de Manhattan. Território neutro! Agora ele se via obrigado a entrar na jaula da fera.
E Mione? Que aconteceria com ela? Será que esperava que Harry apenas a levasse até lá? Ele endureceu o queixo e a olhou de relance.
—Já estamos quase chegando — resmungou de maneira quase incompreensível. — Espero que você não conte comigo para mais nada. Vou sair daquela casa tão logo amanheça.
Mione não disse nada. Continuou olhando para frente, girando nervosamente o anel de noivado no dedo.
Harry não tinha a menor intenção de magoá-la. Se ao menos Mione fizesse um esforço para ser agradável, dissesse qualquer coisa gentil...
—Diga-me uma coisa — resmungou ele, não resistindo à tentação de provocá-la. — Nessa vida arrumadinha que você está projetando com Will há lugar para o amor?
Mione entreabriu os lábios surpresa.
—Ora, não é da sua conta!
—Como não? Will é meu irmão! Eu me sentiria um canalha se soubesse que ele estava sendo vítima de um golpe do baú e não fizesse nada.
—Eu não sou uma golpista! E você sabe disso.
Harry mordeu o lábio para não rir.
—Sim, mas em nenhum momento eu a ouvi falar uma palavrinha sequer sobre amor... Puxa... Eu fico chateado imaginando que Will pode vir a se casar com uma mulher incapaz de satisfazê-lo em todos os quesitos.
—Para seu governo, eu admiro muito seu irmão. Ele é um homem íntegro...
—Oh, sim. Will é um poço de virtudes, você já me disse — debochou Harry, parando o jipe no portão da mansão de James Potter. Abriu o vidro e digitou o código de segurança. — O que eu estou perguntando é se você sente... hum, como dizer... se você sente pelo menos um comichão de vez em quando?
—Comichão? — indignou-se Mione. — Bob e eu não somos mais adolescentes! E saiba que eu já superei a fase dos comichões.
—Oh, compreendo — sorriu Harry, entrando pela alameda que levava à casa. — Será que superou mesmo ou resolveu simplesmente, digamos... sublimar? Aposto que é assim que sua irmã fala, não?
—Will e eu vamos nos casar. É natural que sintamos certo desejo um pelo outro — resmungou Mione, fitando-o com o canto dos olhos.
—É, é natural. Mas diga-me uma coisa, ‘Tyson’. Ao planejar os detalhes dessa vida feliz de fotonovela, você chegou a cogitar a possibilidade de compartilharem a mesma cama ou o filme acabava antes dessa cena?
—E você acha que tenho tempo de me preocupar com camas? — Ao ouvir a gargalhada de Harry, Mione cruzou os braços sem graça. — Eu me recuso a discutir esse assunto com você.
—Tudo bem, ‘Tyson’. Bem, chegamos — disse ele, estacionando em frente à casa. — Lar, doce lar — resmungou antevendo a recepção que o pai lhe daria.
Mione desceu apressadamente, examinou a fachada da casa e não se conteve:
—Puxa! Quantas pessoas vivem aqui?
—Só meu pai e uns treze empregados.
Os dois foram para a porta, mas, antes que tivessem terminado de subir os degraus da varanda, ouviram o ruído de uma janela acima de suas cabeças.
—Mione!
Ela desceu a escada e olhou para cima. Era Will.
—Will!
—Mione!
—Will!
Harry franziu as sobrancelhas.
—Puxa, que romântico!
Mione o fuzilou com o olhar, depois voltou a fitar o noivo.
—Will, você está bem?
Ele se ajeitou na janela para responder.
—Meu pai me trancou no quarto!
—E mandou me sequestrar! — contou Mione, pousando as mãos na cintura.
—Mas por que você veio até aqui, Mione? Não devia...
Antes que Will houvesse terminado a frase, a porta de entrada se abriu com um estrondo.
—O que está acontecendo? — rugiu James Potter.
Ao som grave de sua voz, Will fechou a janela. Mione olhou ansiosa para o homem plantado na soleira. Um ser minúsculo, por sinal.
Harry sorriu. O pai era mesmo uma versão irlandesa de Napoleão. Do alto de seu um metro e quarenta, parecia mais um duende que um magnata ameaçador. O que lhe faltava em estatura, porém, era compensado pela força explosiva dos pulmões. E pelo brilho gelado dos olhos.
Mione olhou para Harry com uma expressão nervosa.
Ele riu.
—Hermione Granger, apresento-lhe seu futuro sogro.
O velho se adiantou alguns passos.
—Ah, então é você a noiva de Will? — rosnou com forte sotaque. — Ora, ora... O que pretende vindo até aqui, bancar a Rapunzel para salvá-lo?
Ela engoliu em seco.
—É a maneira de ele dizer que está muito feliz em conhecê-la — traduziu Harry às gargalhadas.
—E você? — grunhiu o velho, voltando-se para o filho. — O que está fazendo aqui?
Harry deu de ombros. Sabia que a indiferença era a melhor arma contra o autoritarismo de James Potter.
—A moça queria ver Will.
—Droga, pensei que você fosse um policial! — rugiu James já vermelho de irritação. — Está me dizendo que não foi capaz de tomar conta da moça nem vinte e quatro horas?
—Com licença — disse Mione, pousando as mãos na cintura. — Para começo de conversa, eu não sou a ‘moça’. Em segundo lugar, o senhor não tem o direito de sair por aí sequestrando e trancafiando as pessoas! Na minha opinião, o senhor não passa de um... um... tirano!
—Nossa! — caçoou James. — Eu não sabia que Will tinha arranjado uma noivinha tão corajosa!
—Pai...
Mione se acercou do futuro sogro e fitou-o diretamente nos olhos.
—Eu não vou tolerar esse tipo de tratamento nem mais um segundo. Quero ver Will agora mesmo!
—Ele está de castigo no quarto. Vai ficar lá até confessar a verdade.
—Will é inocente!
— Otimo. Sendo assim não terá problemas em me dizer onde foi parar o dinheiro — insistiu James. Mione revirou os olhos.
—Mas é ridículo. Eu me recuso a continuar discutindo um absurdo desses! Quero falar com Will. Vamos voltar a Manhattan hoje mesmo! — Decidida, ela empurrou o velhote de lado e foi para a porta.
James ergueu imperiosamente o indicador.
—Swithin! Oliver!
O mordomo e o jardineiro apareceram de imediato. Mesmo de roupão e pijama, os dois tinham aparência muito digna. James apontou para Mione que já se encaminhava para o vestíbulo.
—Acompanhem nossa hóspede até o quarto. O Monet!
Mione virou-se a tempo de ver os dois empregados aproximando-se para agarrá-la pelos braços.
—E que ela não saia de lá até amanhã cedo! — rosnou o velho.
—O quê? — perguntou ela assombrada. — Pretende mandar me prender também?
—Pretendo executar a tarefa de que o inútil de meu filho não foi capaz — disse James olhando Harry de esguelha. — Policial, essa é boa!
Vendo-se arrastada escada a cima, Mione se voltou para Harry com expressão indignada.
—Mas isto é simplesmente medieval! Você não vai dizer nada?
“Eu disse que você devia ficar no Brooklyn! Mas você fez tanta questão...”
Harry acenou para ela.
—Bem-vinda à família.
Obs:Capitulo postado!!!!!Desculpe a demora, mas como estou na reta final do semestre na facul e tenho muuuuito trabalho e muuuuita prova, fica dificil atualizar tão rápido!Prometo que entre sábado e domingo eu atualizo todas as fics!Bjux!!!!!Adoro vocês!!!
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