Capitulo 3
CAPITULO TRÊS
—Ora, você não sabia que até os terroristas mais sanguinários alimentam seus cativos com comida chinesa?
Mione levou à boca um rolinho primavera e fitou Harry com uma expressão inocente. Ele não parecia um torturador, pelo menos não enquanto improvisava uma mesa de jantar com a tábua de passar roupa. Mas isso não queria dizer nada. Ele também não tinha cara de seqüestrador!
— Mais um rolinho? — ofereceu.
Ela fez que não. Estava satisfeita. Não costumava exagerar na comida, contudo, exceder-se fora a única maneira que encontrara para se acalmar. E Mione precisava realmente se acalmar depois de ouvir aquela história de investigador da KGB e agulhas nas unhas, muito embora Harry houvesse assegurado que era apenas uma brincadeira.
Pobre Will. Será que também ele estava recebendo sua porção de comida chinesa? Ou o estavam tratando a pão e água? A comida era tão fundamental na vida do noivo. Mais do que Mione podia tolerar. Will era fanático por confeitarias, padarias e lanchonetes. Ficava praticamente histérico quando não fazia suas três refeições diárias intercaladas dos famosos lanchinhos. Gostava tanto de comer que seus programas favoritos na televisão eram os de culinária.
Ela suspirou angustiada e jurou que, se voltasse a ver o noivo, nunca mais o importunaria por causa da gulodice. Will poderia passar o resto de seus dias beliscando os petiscos que quisesse. Ela não diria uma palavra.
Mione se deu conta de que Harry a observava, talvez porque, sem perceber, ela não tivesse tirado os olhos dele um único minuto. Pudera! Era difícil deixar de olhar um homem estirado no chão, posando de deus da mitologia grega.
—Bem — sorriu ele —, acho que agora só nos resta matar o tempo, saboreando um biscoitinho da sorte.
—Pode comer o meu se quiser.
Ele enrugou a testa como se tivesse acabado de ouvir a maior das heresias.
—Vai dispensar o biscoitinho da sorte?
—Vou. Eles engordam.
Sem deixar de encará-la, Harry rasgou o papel celofane e, com um sorriso malicioso, quebrou o biscoito e o levou à boca. Mione jamais imaginara que degustar um biscoito da sorte pudesse se transformar em uma experiência tão sensual. Aquele homem tinha o poder de tornar tentador até mesmo o excesso de calorias.
Aquele era o problema. Se havia uma coisa da qual ela não tinha a menor dúvida, era que em suas veias corria o perigosíssimo e efervescente sangue dos Granger. Era preciso estar muito vigilante para conseguir resistir a certas tentações, e a maior delas era a proximidade de homens charmosos e bonitos como Harry A terrível experiência com Skippy Dewhurst, aos vinte e dois anos, dera-lhe prova mais que suficiente disso. E depois da nefasta experiência, Mione precisou amargar seis longos anos até encontrar o que ela denominou o ‘homem ideal’. Will. Ela precisava ater-se ao noivo. Pobre Will!
—Escute isso — disse Harry, lendo o pequeno papel que encontrara dentro do biscoito. — “Sua vida vai virar de pernas para o ar”!
Mione mergulhou o rosto nas mãos.
—Oh!
Ele ergueu os olhos.
—Que foi? Aconteceu alguma coisa?
—Claro! — gemeu ela, reprimindo o riso. — A previsão não podia ser mais acertada. Minha vida está de pernas para o ar!
Ele arqueou as sobrancelhas.
—Por quê? Will significa tanto assim para você?
—Mas é claro! Íamos nos casar, esqueceu-se?
—Sim, mas, ele não pode significar tudo em sua vida. Você deve levar uma vida independente da dele. Ou não? Você não trabalha?
—Trabalho. No mesmo banco que Will — respondeu ela com rispidez.
—Sei... Em que setor?
—No de empréstimos, o que significa que sei perfeitamente quando estou sendo submetida a um interrogatório!
Harry lhe endereçou o sorriso mais sexy do mundo. Seu modo de piscar, quando se sentia desafiado, provocava um frio no estômago de Mione.
—Parece que você não gosta muito de discutir sua vida particular.
—Você conhece alguém que goste?
Harry deu de ombros e correu os olhos pela sala.
—Eu não tenho nada a esconder. Sou exatamente o que você está vendo.
—Um policial de senso estético discutível e, ao que tudo indica, sem faxineira! — debochou Mione. — Ah, e, segundo você mesmo admitiu há pouco, totalmente contra o casamento.
Ele fez que sim com um movimento de cabeça.
—Exato!
Mostrando-se mais interessada do que gostaria de admitir, ela tornou a examinar o minúsculo apartamento. Chamava a atenção a ausência de fotografias e de qualquer outra coisa que indicasse que Harry tivesse parentes ou namorada.
—Com certeza você tem família. Mas, pelo visto, sua família não se importa muito com você. Uma mãe que se preze não suportaria ver o filho em um apartamento como este.
Harry desfez o sorriso.
—Não tenho mãe. Ela morreu quando eu era menino.
Mione ficou sem jeito. Não sabia o que dizer.
—Desculpe, eu não...
—Tudo bem — murmurou ele, forçando um sorriso.
Durante uma fração de segundo, Mione pôde notar-lhe o sofrimento. Era como se Harry não passasse de um garotinho abandonado. Ela teve vontade de abraçá-lo. O que seria ridículo. Afinal, aquele homem era seu... seqüestrador, a causa de todos os seus problemas!
—Eu tenho família, sim. Mas não convivemos muito... Não gosto de me envolver...
Ficaram em silêncio. Mione pôs-se a imaginar que espécie de problemas ele poderia enfrentar na casa dos pais.
—Eu também procuro me manter longe da minha. Infelizmente minha irmã é psicanalista, das mais intrometidas aliás, e me persegue com suas análises. Sou seu ‘caso’ favorito. — Ela franziu a testa. — Will também. Embora seja perfeito em quase tudo, ele não é muito apegado à família. Bem, pelo menos nunca fala nos parentes.
Mione teve medo. Estava tão próxima de Harry que podia sentir o perfume de sua loção de barba. Ele era tão forte, tinha músculos bem delineados, era tão atraente! Curiosamente, havia momentos em que parecia muito vulnerável. Um magnetismo os envolveu. Talvez se chegasse mais perto...
Ela sacudiu a cabeça, tentando afugentar da mente a ideia absurda. Seria possível que estivesse se sentindo atraída por seu próprio seqüestrador? Claro que não! Harry era bonito, sim, mas como um milhão de outros homens. Como Skippy Dewhurst. Muito embora Skippy Dewhurst não a tivesse perturbado daquela maneira. E, tecnicamente, também não perpetrara nada de tão grave contra ela.
Talvez fosse esse o problema. Sua irmã Joan, que apesar de totalmente desmiolada, era doutora em psicologia, falara-lhe uma vez de um fenômeno, a síndrome de Estocolmo, no qual os prisioneiros acabavam se apaixonando por seus algozes. Talvez ela estivesse sofrendo desse mal.
—Mione?
Ela estremeceu ao sentir que Harry a tocava no braço. Ele a encarou preocupado.
—Pensei que você quisesse conversar... — murmurou com voz doce.
—Conversar? — perguntou ela. — Nós já falamos mais do que devíamos. Quero ver Will.
Mione não queria dar a impressão de que havia se esquecido do noivo. Nem um segundo sequer!
—Sinto muito, mas não será possível. Pelo menos por enquanto.
Ela cruzou os braços.
—Posso ao menos saber o que ele fez de tão grave?
Harry ergueu as sobrancelhas.
—Você não estava convencida de que Will era inocente?
—O problema é que vocês não estão!
—Já ouviu falar em desvio e remessa ilegal de dinheiro?
—Claro que já, mas como é possível... — interrompeu-se ela subitamente. — Will jamais faria uma coisa dessas! — arrematou com ênfase.
—E se eu lhe disser que existem indícios suficientes?
Ela sacudiu a cabeça.
—Absurdo. Chega! Não quero mais discutir esse assunto.
—Mas foi você que começou.
Ela se levantou. Estava trémula.
—Pois bem, já que não posso falar com Will, vou me deitar.
—Mas não são nem seis e meia — surpreendeu-se ele.
—Sim, mas... Bem, foi um dia longo, não?
Harry ficou penalizado com a expressão transtornada de Mione.
—O ‘chefe’ ficou de me ligar. Não vai demorar muito.
—Sim, mas ele pode telefonar só amanhã — Ou daqui a uma semana, o que seria um verdadeiro desastre, pensou ela. — Vou para a cama. Você lava os pratos?
—Claro. Você é minha hóspede...
E como hóspede tinha direito a todas as mordomias, inclusive a uma escova de dente. Cortesia de quem?, perguntou-se ela, espremendo o tubo de pasta de dente. A simples ideia de que Harry possuía um estoque para oferecer às mulheres que eventualmente resolvessem passar a noite em sua companhia fez Mione estremecer. Mas, afinal, que mais ela podia esperar de um homem que não se lembrava nem sequer do nome das namoradas! De certa forma, Harry a fazia recordar o pai, sempre envolvido com uma centena de mulheres, enquanto sua mãe aguardava pacientemente, entre uma meditação e outra, que ele superasse a tão propalada crise da meia-idade. Mione pôs-se a imaginar quantas noites Harry passara com a garota das almofadas com franjas...
“Não seja tola”!
Começou a escovar os dentes vigorosamente. Pouco lhe importava com quem Harry, ou sabe-se lá como se chamava aquele sujeito, passava as noites. Ela parou. Mas qual era o nome dele afinal? Olhou o monograma bordado nas toalhas: HJP III.
“Terceiro”? Mione ficou ainda mais curiosa. Abriu o gabinete da pia e constatou que não havia, ali, nada que a maioria das pessoas costumava ter em casa. Apenas uma caixa de band-aid e um frasco de aspirina. Ela respirou aliviada. Pelo menos não havia estoque de escovas de dente.
Voltou a pensar no noivo. Como era possível que alguém desconfiasse que Will, o valoroso e honestíssimo Will, estivesse envolvido em alguma falcatrua? Ainda que remotamente? Era absurdo!
A não ser por uma razão: a viagem às ilhas Caimãs. Harry tinha razão, Will nada tinha de romântico. Na verdade, o plano original era passar a lua-de-mel na Filadélfia. Mas na última hora, o noivo acabara mudando de ideia! Por quê? Será que havia se metido em uma encrenca?
Mione sacudiu a cabeça, recriminando-se por estar pondo em dúvida a honestidade de Will. Ele não havia feito nada de errado, repetiu uma vez mais com os olhos fixos na pequena janela do banheiro. Na verdade, nunca se metia em nada que não fosse de sua conta. Nem mesmo nas fofocas do banco. Era um funcionário exemplar, por isso vinha sendo promovido sistematicamente, recebendo maiores responsabilidades e, conseqüentemente, obtendo maior liberdade de ação.
“Espere”! Mione sentiu um frio no estômago, lembrando-se das inúmeras noites que o noivo ficara trabalhando sozinho. E das tardes inteiras de sábado que dizia ter passado no escritório organizando a escrivaninha!
“Oh, Will”, gemeu ela. “Desvio e remessa ilegal de dinheiro”! As palavras de Harry ecoaram em sua mente. Mas de que quantia eles estariam falando? Mione estremeceu ao se lembrar das passagens de avião que deixara junto à bagagem, no hall do apartamento. Será que a acusariam de cumplicidade? E pensar que estivera a ponto de se tornar a “sra. Vigarista”!
“Não”! Tornou a repetir com ênfase. Não havia prova alguma que comprometesse Will. E qualquer um era inocente até que se provasse o contrário. Se nem a noiva lhe desse crédito, o que seria dele?
O problema era Harry. Era ele que a estava confundindo com aquele olhar penetrante, aquela história de biscoitinhos da sorte... Imagine, fazendo-a suspeitar de Will! Ela precisava fugir dali. Precisava encontrar o noivo.
Mione estava tão mergulhada em pensamentos que quase não se deu conta da janela a sua frente. Sentiu o coração disparar. Aproximou-se e pôs a cabeça para fora. Havia uma escada de emergência ao lado, não seria difícil alcançá-la. Mas, que sorte! Provavelmente Harry havia se esquecido. Ou talvez tivesse imaginado que o vão fosse pequeno demais.
Ela se aproximou da porta e ouviu o barulho da torneira da cozinha. Ele ainda estava lavando a louça. Não havia tempo a perder. Correu de volta à janela, enfiou a cabeça para fora e escorregou o corpo até que... Opa! Os quadris. Estava presa! Entalada!
Tomada de pânico, tentou voltar para dentro. Impossível. Só então percebeu que fora otimista demais. A escada de incêndio ficava a uma distância considerável. Ainda que conseguisse passar pela estreita janela, não a alcançaria. E então sobreveio o pior.
—Mione? — chamou Harry, batendo na porta. Ela mal podia ouvir o que ele dizia. — Você ainda está viva?
—Estou tomando banho! — gritou ela.
—O quê?
Ela encheu os pulmões e gritou o mais alto que pôde.
—Estou no chuveiro. Resolvi tomar banho.
—Oh, não! Não me diga que você está tentando fugir pela janela?
—Não! — desesperou-se Mione, ouvindo-o esmurrar a porta.
Quando finalmente percebeu que ele a arrombara, ouviu algo ainda pior. A risada de Harry.
—Onde você pensa que vai?
Ela sentiu o rosto ferver. Sem falar na posição embaraçosa em que se encontrava e na visão que estava propiciando! Sentiu as mãos de Harry nos quadris.
“Droga! Será possível que hoje nada dá certo”!
—Venha, vou ajudá-la a voltar para dentro — disse ele.
—Que sorte a minha!
Ele a puxou.
—Por acaso, você...
—Sim. Fiquei entalada!
Harry soltou uma gargalhada tão forte que ela chegou a sentir o corpo vibrar. Irritada, começou a espernear. Ele a puxou com mais força, e as nádegas finalmente se soltaram da janela. Depois, trouxe-a para dentro, amparando-a nos braços. Ao fitar aqueles olhos sensuais, ela suspirou aliviada. Não sabia se o bem-estar se devia a íntima acolhida ou ao fato de estar livre.
—É a segunda vez que você arrisca a vida hoje — ralhou ele.
E o pior era que tinha razão! Mione se arriscara a despencar do terceiro andar para fugir dele, e agora se encontrava em seus braços!
—E pensar que eu admirava os policiais! — suspirou ela, soltando todo o peso do corpo. Será que ele a aguentaria? — Se você é mesmo da polícia e tem tanta certeza de que Will e eu fizemos algo de errado, por que não nos prendeu simplesmente?
—Porque nós ainda não temos certeza — respondeu Harry, levando-a para a sala.
—Nós quem? Quem é você, afinal? Se pensa que vou ficar sentada calmamente enquanto vocês torturam Will... Isso sem falar no estrago que estão fazendo na úlcera do pobrezinho!
—Escute — rosnou Harry, colocando-a no chão. — Não recebi autorização para fazer isso, mas já que você insiste em arriscar a vida... — Tirou a carteira de policial do bolso. Abriu-a, exibindo-lhe a fotografia.
Aqueles olhos verdes eram inconfundíveis. Mas não foi a foto que chamou a atenção de Mione. E sim o nome. Capitão Harry Potter.
Ela pestanejou completamente confusa.
—Não pode ser! Você se chama Harry Potter?
Ele fez que sim.
—Então — murmurou ela, engolindo em seco —, você deve ser primo ou...
Harry voltou a exibir um sorriso satisfeito.
—Primo não, Mione. Eu sou o irmão mais velho de Will.
Obs:Oiiii pessoal!!!!Capitulo postado!!!Espero que tenham curtido!!!Logo logo tem mais atualização e fic nova na área!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!E obrigada também a todos que me desejaram sorte e rezaram por mim em virtude da minha 'terrivel' prova de Estatística!!!hehehe....VALEU GALERA!!!!
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