Capitulo 2
Obs:Pessoal, com esse capitulo vai ficar mais fácil de entender a fic, ok?Aproveitem!!!
CAPITULO DOIS
A ordem havia sido clara: ‘Sequestrar a noiva’! Bem, talvez Harry Potter tivesse se excedido. Não era costume seu raptar mulheres, muito menos às portas do altar. Uma coisa, porém, ele tinha de admitir: calculara mal a reação da vítima. Esperava que a noiva fosse como seu irmão. Dócil... uma mocinha "completamente sem graça". Mas Hermione Granger se mostrou agressiva, valente, e, sobretudo, muito mais bonita do que ele suspeitava.
Harry riu. Era um policial, não um bandido. Muito menos um assassino. Uma parte dele, a que trabalhava com afinco havia dez anos, tentando tornar mais seguras as ruas de Nova York, tinha vontade de adverti-la de quanto era perigoso aceitar carona de um estranho. Qualquer um. Inclusive ele.
Suspirou cheio de frustração.
—Faz ideia do que pode acontecer a uma mulher em uma cidade grande como esta?
Mione o fuzilou com o olhar.
- Não! Mas imagino que você seja perito no assunto.
—Precisa tomar mais cuidado, moça. Não deve confiar em ninguém.
—Tem razão! — gritou ela. — Você me obrigou a confiar em você e veja o que aconteceu. Em menos de cinco minutos minha vida foi por água abaixo!
Harry não lhe podia recriminar a hostilidade. Muito menos o pânico. Porém esperava que Mione não tentasse fugir novamente. Ao vê-la se atirar na frente dos carros, ele quase teve um ataque cardíaco! Será que ela ainda não havia percebido que as ruas de Nova York estavam cheias de motoristas lunáticos?
—Precisa ser mais cuidadosa ao atravessar a rua também.
— Sei — rosnou ela. — Da próxima vez que estiverem me sequestrando, vou tentar me lembrar disso.
Toda aquela confusão fizera com que Harry se comportasse como um policial violento. Logo ele, um sujeito tão tranquilo! Tranquilo demais, segundo seu pai. James Potter, um imigrante irlandês, que sonhara para os filhos a mesma rotina tipicamente americana que impusera à própria vida: negócios, um enorme palacete, filhos. Que decepção! Harry não podia falar pelo irmão, Will, mas, pessoalmente, havia rompido com o pai e sobretudo com sua filosofia de vida no momento em que percebeu que os filhos, o dinheiro e o palacete não lhe haviam trazido a tão sonhada felicidade. Apenas o casamento dera algum alento à vida do pai. Infelizmente a morte prematura da esposa havia destruído tudo.
E ali estava Harry. Metido até o pescoço naquela confusão! E por quê? Pena? Depois de dez anos sem se falarem, o pai o procurara implorando ajuda. E o que mais impressionou Harry foi ver quanto James envelhecera, e imaginar quanto lhe havia custado pedir ajuda. Harry tinha um dom especial para socorrer pessoas em necessidade... Talvez por dever profissional. Afinal, era policial e, conseqüentemente, especialista em ouvir histórias tristes e oferecer uma xícara de café e o ombro amigo a todos que o procurassem. Pouco importava que o plano do velho fosse uma maluquice, que Harry, pessoalmente, não tivesse nada a ver com a vida do irmão, que preferisse recorrer a outros métodos para descobrir se Will estava de fato envolvido em negócios escusos. Diante do pedido desesperado, ele não pensara duas vezes. Cometera seu erro número um! Concordara em sequestrar a noiva.
Harry tornou a olhar para a noiva. Linda!, comprovou uma vez mais. Coisa que o deixava ainda mais perturbado. Como era possível que Will, um consumado panaca, tivesse tanta sorte? Talvez, afinal de contas, o velho James Potter não estivesse tão errado: o dinheiro era o único passaporte para as coisas boas da vida. O emprego de Will, no banco, sem dúvida lhe rendia o bastante. E, se se confirmassem as suspeitas do pai, bem mais do que ele realmente tinha direito. E Mione, com aqueles cabelos castanhos, os olhos da mesma cor, o corpo capaz de levar um homem à loucura, era uma das ‘coisas boas da vida’.
Harry sacudiu a cabeça. Nunca imaginara que um dia viria a sentir inveja do irmão! Ele não era um sujeito invejoso. Não mesmo! Voltou a fitar Mione. E, ao confrontar-se com seu rosto indefeso e apavorado, sentiu-se envergonhado e cheio de culpa.
Que comportamento ridículo! Tão ridículo quanto a ideia que lhe ocorrera no cartório. Durante os poucos minutos em que esteve sentado ao lado dela, Harry ficou imaginando como seria a vida se tivesse uma mulher como aquela, alguém com quem passar as noites frias de inverno depois de um dia de trabalho duro. Que absurdo! As duas palavras que ele mais abominava eram: "relacionamento" e "permanente". A fusão das duas pressupunha inevitavelmente uma encrenca.
Ele estremeceu ao ouvir a risada de Mione.
—Ah, já sei! — exclamou ela, batendo palmas. — É um trote, não é? Ideia de Bernie Morton, aposto. Ele inventou essa história de sequestro só para nos passar um trote, não foi?
—Bernie Morton? Quem é Bernie Morton?
—Ora — sorriu ela com um muxoxo —, Bernie!
—Não sei quem é.
—Ah, por favor pare com isso. Puxa, vocês me pegaram. Quase morri de medo!
—Esse tal Bernie também trabalha no banco?
—Para onde vocês estão me levando? — perguntou ela. — A Taverna Verde? Ah, já sei! A suíte nupcial do Plaza.
Oh, não! Se ela realmente acreditava que a estivessem levando a um desses lugares sofisticados, ia ficar muito decepcionada com o apartamento.
—Escute, moça. Eu detesto bancar o desmancha-prazeres, mas nosso destino é: rua Court, Brooklyn.
Diante da expressão inabalável de Harry, Mione sentiu o estômago gelar.
—Quer dizer...
Ele sacudiu a cabeça.
—Não, não é a suíte nupcial do Plaza... Mas você ainda não me disse quem é Bernie Morton.
O desapontamento turvou a expressão de Mione. E não demorou muito para se transformar na mais ostensiva manifestação de beligerância.
—Ora, acha que vou responder as perguntas de um... um... sequestrador de noivas? A propósito, o que você tem contra o casamento?
— Ei! Isso não tem nada a ver com meus sentimentos em relação ao casamento.
—Mas não é fanático também. Aposto. Do contrário não sairia por aí destruindo a felicidade... a vida... — Mione parou de falar, os lábios trémulos.
Harry sentiu uma pontada no peito. “Não! Por favor, não vá começar a...”
—...das pessoas que você nem conhece! — completou ela em prantos.
“Droga! Era só o que faltava”. Ele não aguentava ver uma mulher chorando. Na verdade, não suportava ver ninguém debulhando-se em lágrimas. Sobretudo, quando sabia que era cem por cento responsável. Harry enfiou instintivamente a mão no bolso do paletó à procura do lenço. Ofereceu-o a Mione.
Ela sacudiu a cabeça. A recusa fez com que ele se sentisse ainda pior. Talvez a moça tivesse razão, pensou. Não fosse sua resistência ao casamento, talvez ele jamais concordasse em ajudar o pai.
—Tudo bem — admitiu Harry.
Mione voltou-se para encará-lo. Os olhos vermelhos, a maquiagem borrada.
—Talvez eu não seja mesmo fanático pelo casamento... Não sei. É o meu trabalho, sabe? Não há um único dia em que eu não esteja às voltas com brigas...
Mione fez um biquinho. Ia começar a chorar novamente.
—Will e eu nunca brigamos! Nunca! Temos ótimo temperamento!
—Que bom — murmurou ele, tentando acalmá-la. — Tomara que dê tudo certo para vocês. Agora, por favor, limpe o nariz.
Harry esperava mais lágrimas. Talvez Mione até voltasse a lhe dar as costas. Não ficaria surpreso se ela tentasse saltar do carro novamente. Só não contava com o violento e inesperado soco que lhe atingiu o nariz em cheio.
Atordoado, ele se deixou cair no encosto do banco.
Mione contorceu os lábios de satisfação.
—Limpe você o nariz. Está sangrando.
Ele obedeceu de imediato. ‘Droga’! Estava mesmo sangrando! Graças ao maldito solitário de brilhante que ela trazia no dedo. Era bom não esquecer: Mione era canhota.
—É isso que você chama de ótimo temperamento? – resmungou.
Ela sorriu, como se houvesse acabado de levar George Foreman à lona.
—Sua... sua... Como é mesmo seu nome? Ah, sim. Mione ‘Tyson’.
—Pois saiba que você merece muito mais, seu... pulha.
Esse era o problema. Talvez ele fosse mesmo um pulha.
Precisava telefonar urgentemente para o pai. Urgentemente.
Não queria aquela mulher um segundo além do necessário em sua casa. Pouco lhe importavam as confusões em que o irmão havia se metido. Quando concordara em tomar conta da noiva de Will, tinha em mente uma mocinha de olhos açucarados e muito pálida, não uma morena deslumbrante. Muito menos com uma ‘pegada’ daquelas.
—Lar, doce lar — debochou o ‘sr. Gravata Cafona’ quando o carro estacionou em frente ao que parecia ser um conjunto comercial de uma típica rua italiana. Um quarteirão abarrotado de pizzarias e cantinas.
Mione ficou lívida. Italianos! Will jamais viria a um bairro de imigrantes!
—Obrigado, Tony. Pode levar a ‘belezinha’ para casa, agora.
“Oh, graças a Deus”! Mione quase chorou de alegria. Jamais imaginou que um dia ficaria tão feliz de rever seu apertadíssimo apartamento. O motorista destravou as portas. Ela suspirou aliviada. Em breve, tudo voltaria à santificada normalidade!
—Não vai descer?
Confusa, ela fixou os imensos olhos verdes do raptor. Harry havia descido, e fazia sinal para que ela o acompanhasse.
—Mas você acabou de mandar o motorista me levar para casa — argumentou.
—Eu estava me referindo ao carro, não a você, ‘Tyson’.
—Ah, sei — resmungou ela sem disfarçar o desapontamento. — Eu teria compreendido se você tivesse usado o genero correto. O masculino, idiota! — gritou. Olhou para a frente e ficou imóvel. Talvez, se se recusasse a descer, ele a deixasse ir embora.
Harry bateu a porta e contornou o carro.
—Vamos, não temos o dia todo — disse, abrindo a outra porta.
Como Mione não reagisse, ele se abaixou e a tomou nos braços.
—Ei! — gritou ela.
A despeito da demonstração anterior, ela não imaginava que o sujeito fosse tão forte. Forte mesmo! Devia fazer sessões diárias de halterofilismo ou estava acostumado a sequestrar mulheres!
Harry a colocou na calçada, bateu a porta e esperou que o carro partisse.
—Vamos — repetiu.
—Aonde?
—A minha casa — disse, apontando para um prédio verde com toldo branco e, na entrada, vitrines atravancadas por prateleiras com pães e doces.
—Você mora em uma padaria?
—Em cima da padaria. No terceiro andar. Cario é o dono da panificadora e do prédio.
Mione contorceu o rosto.
—Se você acha que vai me fazer entrar em um lugar desses, é mais louco do que eu imaginava. Aliás, eu não entro na casa de desconhecidos!
Harry abriu um sorriso cínico.
—Oi, Mione prazer em conhecê-la. Meu nome é Harry.
—Não vou entrar.
—Escute — suspirou ele. — Eu sei que a situação não é das mais convencionais...
Ela bufou contrariada.
—Talvez, se eu lhe disser quem sou... — tentou explicar ele.
—Esqueça — rosnou Mione, colocando as mãos na cintura. — Mesmo que você consiga provar que é Harrison Ford, não vai me convencer a entrar em seu apartamento.
—Sério? — riu ele.
—Pode me esquecer — resmungou ela, dando-lhe as costas.
Mione observou a rua e viu quando o semáforo abriu para os pedestres. No final do quarteirão havia uma estação de metro. Respirou fundo e saiu em disparada. Antes que tivesse percorrido dez metros, sentiu a mão de Harry no ombro novamente.
—Eu não acredito que você vai me obrigar a fazer uma coisa dessas — queixou-se ele.
—O quê?
Ela não teve tempo de esboçar qualquer reação. Harry agarrou-a pela cintura e, sem a menor cerimonia, ergueu-a no ombro.
—Solte-me! — gritou ela, esperneando.
Ele a segurou com firmeza pelos joelhos e sacudiu a cabeça indignado. Dando-se conta de que ainda tinha na mão o buque de margaridas, Mione o usou para bater nele.
—Puxa, como você é agressiva, ‘Tyson’ — riu ele, caminhando de volta para o prédio. Tirou a chave do bolso, abriu a porta e subiu a escada.
—Ponha-me no chão!
—Só um minuto. — E continuou subindo a escada, como se estivesse chegando da tinturaria com um tapete nas costas. — Não tenho a menor intenção de contrariá-la. Afinal, agora você é minha hóspede.
—Hóspede! Eu posso imaginar o tipo de tratamento que você dá aos hóspedes nesta pocilga.
Tendo chegado à porta do apartamento, Harry a colocou no chão.
—Escute — disse, enfiando a chave na fechadura. — Vamos parar com o melodrama, por favor. Você pode não acreditar, mas ninguém vai machucá-la.
—Tem razão. Não acredito mesmo! Como também não vou entrar neste pardieiro.
Ele tornou a sacudir a cabeça.
—Não? Mas não há muito que fazer aqui no corredor.
Mione estremeceu de raiva. Como era possível que estivesse se sentido atraída por um brutamontes daquele?
—Ótimo. Eu não tenho a menor intenção de fazer nada mesmo. Nada, ouviu bem? Minha única preocupação é encontrar Will. Para onde seus capangas o levaram? E por quê?
—Não vou discutir este assunto aqui fora, Mione. Entre, e explicarei tudo nos mínimos detalhes.
Ela cruzou os braços.
—De jeito nenhum!
—As coisas podem se complicar para Will se você for teimosa.
Ela mordeu o lábio.
—Quem é você? Conhece meu noivo?
—Ah, conheço. Muito!
—São amigos ou inimigos?
Harry deu de ombros.
—Nem uma coisa nem outra.
Mione suspirou, estava cansada de tantas evasivas. Deixou cair os ombros, desanimada, e, com passadas trémulas, mergulhou no covil do raptor. Que mais poderia ter feito? Ao ouvi-lo fechar a porta, teve a sensação de estar sendo trancafiada em uma cela. Depois de examinar o apartamento, a sensação foi ainda pior. Era como se a estivessem jogando em uma jaula fétida. A cada passo, ela respirava com mais dificuldade. As pernas bambas. Não era possível... Oh, não podia ser verdade!
Em 1988, Mione saíra da casa dos pais, ou daquilo que alguns chamavam de museu temático dos anos 60, para erigir o que considerava ser uma vida normal. Mudou de nome, cursou a faculdade, arrumou um excelente emprego e, o mais importante, encontrou um homem cujo caráter ela podia moldar segundo suas conveniências, com quem passou a compartilhar os sonhos de privacidade, sucesso e felicidade. Conseguiu inclusive convencê-lo a se casar. E, justamente no momento em que todo seu esforço parecia convergir para um nirvana doméstico, o que acontecera?
Um maluco, saído sabe-se lá de onde, resolvera sequestrá-la. Às portas do altar! Mas o pior ainda estava por vir. O pervertido morava em um paraíso hippie! Oh, não! Era demais!
—Eu não vou ficar aqui! — gritou ela em pânico. E, virando-se, começou a esmurrar o peito de Harry. — Deixe-me sair daqui!
Ele se afastou assustado; não antes, porém, que ela quase lhe arrancasse a gravata.
—O que aconteceu?
Mione tornou a olhar o interior do pequeno apartamento. Viu um tatame colorido. Oh, como ela odiava aquela coisa, e mais! Viu dezenas de almofadas listradas e com franjas. Franjas dá cor do arco-íris! Mione desviou a vista, sentindo todos os músculos do corpo vibrarem. Olhou para o chão e deu com um par de tênis imundo e três pés de meia. Três!
À parte o tatame, a mobília se restringia a uma prancheta velha e a uma poltrona que parecia ter acabado de chegar do aterro sanitário, ambas abarrotadas de revistas, jornais velhos e copos descartáveis usados.
E, como se não bastasse, como se ela já não tivesse suportado muito além de suas forças, havia a cozinha! Mione sentiu uma fisgada no peito, o coração prestes a parar.
—Miçangas!? — bradou.
Harry arregalou os olhos.
—Como?
—Você tem uma cortina de miçangas? É um pervertido!
Ele recuou atordoado. E ofendido. Tudo bem, talvez sua casa não fosse mesmo maravilhosa... Talvez precisasse de uma arrumação... mas chamá-lo de pervertido? Ora, a mulher era muito exigente.
—Não quer se sentar? — pigarreou, oferecendo o tatame. — A não ser que eu esteja muito enganado, você está à beira de um ataque de nervos.
Mione agitou os braços quase sem fala.
—Estou à beira de um ataque do coração! — gritou, afastando-se tanto quanto possível do tatame. Ao recuar, chocou-se com uma máscara mexicana pendurada na parede e levou outro susto.
Harry sentiu pena, nunca tinha visto alguém reagir tão negativamente à decoração de um ambiente. Mione estava com o peito arfando, parecia um animal acuado.
—Escute, eu imagino que você tenha ficado chateada...
—Chateada? — Ela corou de raiva. — Você destruiu o dia mais feliz de minha vida. O meu casamento! Nesse exato momento, eu deveria estar embarcando para as ilhas Caimãs em lua-de-mel! E veja onde estou. No Brooklyn. Em um paraíso hippie!
—Paraíso hippie? — Harry olhou a sua volta. — Olhe, meu apartamento pode não ser tão sofisticado quanto os que você está acostumada a frequentar...
—Você não tem a menor ideia de como são os lugares que estou acostumada a frequentar. E jamais vai ter!
—Tudo bem. Está com fome? Quer que eu peça alguma coisa?
Ela o fuzilou com o olhar.
—Não estou interessada em comida. Quero saber de Will. Se você não me explicar, imediatamente, por que fomos sequestrados...
Harry estava começando a simpatizar com aquela moça, e muito. Precisava telefonar imediatamente para o pai. Tinha de tirá-la de lá antes que as coisas se complicassem.
—Mas, eu não sei — mentiu ele.
Mione o encarou atordoada.
—Não sabe? Quer dizer que o gênio que está por trás dessa história ainda não teve tempo de elaborar um plano?
Harry fez uma careta. .
—Depende.
—Depende de quê?
—De você. E principalmente de Will... De quanto estão dispostos a cooperar.
—Cooperar! — gritou ela. — E por que eu deveria cooperar com um... um gângster hippie?
Harry sentiu o sangue ferver. Mione tinha razão de estar furiosa, mas começava a se exceder.
—Quer fazer o favor de parar de me chamar assim?
—De gângster ou de hippie?
—Os dois!
Ela o fuzilou uma vez mais com o olhar.
—Escute, primeiro você me ameaça com uma arma e me sequestra. Depois me traz para um apartamento cheio de almofadas com franjas e cortinas de miçangas. Você precisa se decidir, rapaz. Ou profissionalize-se seqiiestrador ou se torne decorador de uma vez por todas! Decida-se, por favor. Escolha a perversão a que quer se dedicar.
Harry revirou os olhos, rogando por paciência.
—Escute, moça — pigarreou, assumindo seu tom mais formal —, lamento muito o incómodo, como lamento ter ofendido seu delicadíssimo senso estético, mas nada disso estaria acontecendo se o idiota do seu noivo não estivesse se metido em falcatruas.
Mione arregalou os olhos.
— Falcatruas? Mas é o cúmulo! — gritou ofendida. — Will é um santo!
Ela não deixava de ter razão. Afinal, era o que Harry achava também. Pelo menos antigamente!
—Pois saiba que há uma chance enorme de esse seu pilar de virtuosidade estar envolvido com um desfalque.
—Que absurdo! Vocês não têm prova... Will jamais faria uma coisa dessas.
—E a tal viagem para as ilhas Caimãs?
Mione sobressaltou-se.
—A nossa lua-de-mel?
—Iam passar a lua-de-mel em um dos paraísos fiscais mais conhecidos do mundo? Que coincidência!
—É um lugar turístico também. Será que escolher uma praia para passar a lua-de-mel nos transforma em criminosos?
—Ninguém aqui a incriminou de nada por enquanto — corrigiu ele.
—Ah, que alívio! — disparou ela cheia de sarcasmo. Jogou os cabelos para trás. — Acontece que vocês também não têm nada contra Will. Aposto que não.
—E você acha que Will, justamente Will, iria para as ilhas Caimãs exclusivamente para desfrutar uma semana de romantismo?
—Foi para isso que inventaram a lua-de-mel, não? – rosnou ela. E então assumiu um ar ainda mais duro. — Ou você me considera repugnante demais para tanto?
Harry a mediu da cabeça aos pés. Além do rosto encantador, Mione tinha um corpo maravilhoso. E pernas lindíssimas!
—Não é nada disso. Ora, por favor, tente compreender. Nós estamos falando de Will.
Ela sentiu o rosto em chamas.
—De onde você o conhece?
Harry não estava certo se devia ou não entrar em detalhes. De fato, ele quase lhe revelara quem era quando ainda estavam na rua, queria convencê-la a subir, evitar um escândalo na vizinhança. Mas Mione tinha dito que não estava interessada! Além do mais, seu pai, fazia questão que o assunto ficasse em família.
—Do jeito que você descreve a situação, até parece que Will estava tramando fugir do país — completou ela, sem esperar a resposta. — Por que diabos ele precisaria se casar para agir assim? Poderia simplesmente ter fugido.
—Talvez ele prefira fugir em companhia de uma mulher bonita.
Mione ficou vermelha de constrangimento. Harry tornou a medi-la. Então, pensou ele, a moça não estava acostumada a receber elogios. Pelo visto, o velho Will não vinha se mostrando um noivo tão apaixonado quando ela afirmava.
—Parece que você não tem muito a dizer em defesa de seu noivo — sorriu.
—Eu não preciso defendê-lo. Will não fez nada. Tenho certeza absoluta. Ele é tão boboca que... — Mione interrompeu-se, levando a mão à boca.
Harry caiu na gargalhada.
—Puxa, que maneira delicada de se referir ao noivo.
—A culpa é sua. Foi você que me obrigou a dizer uma bobagem dessas!
—Eu? Como assim?
—Não se faça de bobo. Você me deixa nervosa, confusa com esse monte de absurdos. Por que me trouxe para cá? Não vai me levar à delegacia?
—Não.
—E Will?
Ele sacudiu a cabeça.
—Que eu saiba também não.
—Onde ele está. Quero ver meu noivo!
—No momento não é possível.
—Mas preciso falar com ele.
—Já disse qúe não!
Mione suspirou contrariada.
—E o que vou ficar fazendo aqui?
Harry sorriu.
—Aproveite para relaxar um pouco.
Ela o fitou indignada.
—Eu não tenho a menor intenção de relaxar.
—Escute, por que não se senta e descansa um pouco?
—Não, obrigada.
Mione era linda. Linda e geniosa. Pensando bem, talvez Will não fosse tão sortudo assim.
—Não podemos passar o dia inteiro em pé.
—Eu posso.
—Tudo bem. Quer, pelo menos, beber alguma coisa? Cerveja, vinho, refrigerante?
—A única coisa que eu poderia querer em um lugar desses seria um enorme aspirador de pó.
Harry voltou a sorrir.
—Que tal um pouco de música? — Talvez isso a acalme, pensou ele. — Os CD's estão ali no canto.
Mione atravessou a sala sem o menor entusiasmo. Aproximou-se do aparelho de som, examinou os discos e afastou-se, sacudindo a cabeça.
—Qual o problema agora? — perguntou ele, querendo saber o que a teria feito recuar como se houvessem encostado o cano de uma arma calibre 15 em seu rosto.
—Dylan?
Ele deu de ombros.
—Que tem ele?
—Quer saber? Eu não dou a mínima para o que Will fez. Estou pouco me importando se ele deu desfalque na Casa da Moeda ou no Banco Central. Ninguém vai me obrigar a ouvir ‘Blowin' in the Wind’. Fui clara?
—Tudo bem. Não precisa se exaltar.
Mione ajoelhou-se em frente ao aparelho de som e ligou o rádio. Girou freneticamente o dial até encontrar sua estação preferida. Por fim Hãndel invadiu a sala. Apesar dos reiterados protestos, ela parecia estar começando a relaxar.
Harry balançou a cabeça satisfeito.
—Muito bem, dessa eu gostei — disse. Mas ao notar o ar cético com que Mione o encarava, protestou. — Eu não sou hippie. Se faz tanta questão dos detalhes, saiba que as almofadas foram presentes de uma namorada.
—É mesmo? — provocou ela. — Como ela se chama?
Harry hesitou.
—Sei lá... Acho que Susan.
—Você acha? Impressionante!
—Faz mais de três anos.
—Curioso, eu me lembro muito bem do homem com quem estava namorando há três anos.
Harry simulou um sorriso.
—Deixe-me adivinhar... Will?
—Por que o deboche? Se você vive como um xeique, problema seu.
Ele desatou em uma gargalhada.
—Escute, posso não ser muito fanático pelo casamento, mas isso não significa que tenho um harém a minha disposição. E quanto à cortina de miçangas, saiba que só está aí porque o batente da porta é menor que o padrão, e sou preguiçoso demais para bancar o marceneiro nas horas vagas.
—Compreendo.
—Puxa, quanta cafonice! Eu imaginava que as pessoas da sua idade andassem por aí cobertas de piercing.
Mione franziu o nariz.
—Eu tenho vinte e oito anos — disse com brusquidão. — E sempre fiz questão de respeitar os valores tradicionalmente aceitos pela sociedade.
—Foi por isso que você e Will organizaram um casamento tão tradicional? Com padrinhos, convidados, familiares...
Ela mordeu o lábio.
—Bem... Minha família e eu... A verdade é que não convivemos muito.
—Você já me contou. Eles estão escondidos do FBI na Bolívia.
—Na Guatemala. — Mione o fuzilou com o olhar. — Digamos que optaram por uma vida menos ortodoxa que a minha.
—Sei, sei. Isso explica a urgência de se tornar a sra. Will? Você me parece desesperada.
—Claro que estou desesperada! Era meu casamento, não?
—Em nenhum momento, você se perguntou se era isso mesmo que queria?
—Óbvio que não!
Por alguma razão, a resposta desapontou Harry. E o intrigou também. Mione se mostrava inflexível demais. Não podia estar tão segura assim. Muito menos sendo noiva de Will. A menos que estivesse disposta a viver conforme os preceitos ditados pelas damas da televisão da época de Eisenhower.
Em todo caso, lembrou-se, a noiva do irmão não era problema dele. Talvez fosse melhor telefonar para o pai de uma vez por todas. Se lhe dissessem que as coisas estavam resolvidas ou pelo menos encaminhadas, ele poderia colocá-la em um táxi e livrar-se da encrenca.
Apanhou o telefone sem fio, foi para a cozinha e discou para Connecticut. Atendeu Swithin, o mordomo inglês que James Potter contratara quando os filhos ainda eram pequenos. Mais que um simples empregado, era o conselheiro de seu pai. Tinha sido ele, por exemplo, que James enviara ao banco para investigar o desvio de dinheiro. E também ele havia decidido que Will era o principal suspeito e que o melhor seria raptá-lo para prosseguir a investigação sem chamar a atenção da imprensa.
—Ah, sr. Harry — atendeu o mordomo com frieza. — Seu pai está ocupado no momento. Interrogando seu irmão.
Harry riu. Já podia imaginar o que Will estava passando. O pai não era propriamente um modelo de delicadeza e compreensão.
—Já lhe enfiaram agulhas em baixo das unhas?
—Acredito que o sr. Potter ainda não chegou a esse ponto, senhor.
Uma hora de "conversa" com o velho James, pensou Harry, fazia uma sessão de tortura parecer um domingo no parque.
—Bem, diga a meu pai que, se estiver tendo dificuldade para arrancar as informações de Will, conheço um sujeito que se exonerou da KGB por não concordar com seus métodos brandos. Está no Departamento de Polícia de Nova York agora.
—Eu direi, senhor.
—Pode também pedir-lhe que me telefone o mais depressa possível?
—Sim, senhor.
Harry desligou e voltou para a sala, onde Mione o esperava horrorizada. Seu rosto estava mais branco que uma folha de papel.
—KGB? Agulhas nas unhas?
Obs1:Oi pessoal!!!!Ai está o 2 capitulo para vocês!!!Espero que tenham curtido!!!!No domingo tem mais atualização!!!Tenham um ótimo feriado!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!!
Obs2:Quero pedir um favor à vocês!Tenho um prova de Estatística no sábado muito importante, por isso rezem muuuuuuito por mim, para que eu vá bem!!Ok?Obrigada a todos!!!!Bjux!!!!
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