Nunca mais o perder
A senhora Doumajyd estreitou os olhos para ler a edição especial do Profeta Diário que haviam lhe trazido.
Dragão Doumajyd enfrenta nevasca para resgatar sangue-ruim
Durante a primeira noite da inauguração do novo Resort MacGilleain, que está ocorrendo esse final de semana somente para convidados, o herdeiro da família Doumajyd, Christopher Doumajyd, líder do D4, desapareceu em meio a uma tempestade de neve. Nossos enviados especiais informaram que o fato aconteceu na noite passada ás 21 horas, quando o Sr. Doumajyd recebeu a informação do desaparecimento de uma sangue-ruim que havia saído a procura de uma suposta amiga perdida.
Apesar de equipes terem sido enviadas para o resgate, não foi encontrado sinal algum dos dois desaparecidos e o tempo ruim prejudica as buscas.
A região foi encantada há milhares de anos para que a estação das neves ficasse permanentemente. E, segundo especialistas, a tempestade só irá diminuir a sua intensidade amanhã, o que poderá facilitar um resgate.
Conforme informações apuradas no local, a sangue-ruim chamasse Mary Ann Weed, estuda em Hogwarts através de uma bolsa de estudos que obteve na última edição do Totalmente Bruxa. Também correm rumores de que ela seja a namorada do Sr. Doumajyd, cuja sua a origem impede que ele admita o relacionamento.
Até a publicação deste, não houve novidades sobre o incidente.
A senhora Doumajyd, furiosa, amassou o jornal e o jogou na lareira. Ao mesmo tempo, Nana aparatou no escritório e informou a sua senhora de que havia um antigo funcionário solicitando uma reunião. Sem pensar muito, ainda com o que lera preenchendo sua mente, a bruxa permitiu a entrada. A elfa desaparatou e logo a porta foi aberta e alguém entrou, parando em frente a sua mesa.
- Você?! – ela se sobressaltou ao perceber de quem se tratava.
- Há quanto tempo, senhora. – cumprimentou Ken Cleanwater.
- Imprudente! – ela o acusou – O que está fazendo?! Como pôde se mostrar assim?!
- Pretende deixá-lo morrer? – ele perguntou ao invés de responder o questionamento dela.
A senhora o encarou por um tempo, e então disse firmemente, se levantando da sua cadeira:
- Ele não é mais meu filho! Saia daqui! Você não é uma pessoa que pode aparecer em público!
- Ele já sabe que estou vivo! Mas... parece que ele não lhe falou sobre isso.
- O que está dizendo? – ela se deixou cair sentada.
- Eu confessei tudo quando o senhor Christopher me encontrou. Contei sobre toda a sua armação!... Eu pensei que ele iria me matar depois disso, mas...
- E a sua família, Ken? – Doumajyd exigiu saber – Sua esposa e seus filhos estão bem?!
O bruxo, ajoelhado no chão, ainda tremendo pelo que imaginava que iria lhe acontecer, olhou para o dragão sem entender, e então respondeu com um fiapo de voz:
- Estão.
Instantaneamente, Doumajyd também caiu de joelhos na frente dele, para poder o encarar no mesmo nível. Foi então que Ken viu uma cena que nunca imaginou ser possível de acontecer: o dragão Doumajyd estava chorando.
- Que bom, Ken. – Doumajyd abaixou a cabeça, esfregando os olhos, mas parecendo extremamente aliviado – Que bom que você está vivo, Ken!
- O senhor Christopher chorou por saber que eu estou vivo. – Ken contou a senhora Doumajyd – O temível herdeiro da família Doumajyd, aquele que ditará os caminhos da sociedade mágica, o líder dos Dragões, chorou por saber que um simples bruxo como eu, apenas um funcionário da sua família, estava vivo! Para mim, no mundo todo, não existe alguém mais admirável! O senhor Christopher é a pessoa mais capacitada para ditar o futuro em que meus filhos vão viver! Por isso, eu farei de tudo para ajudá-lo! Ordene um resgate especializado, senhora Doumajyd! Mande os aurors resgatarem seu filho!... Antes que seja tarde demais!
***
Mary abriu os olhos e viu um teto de madeira. Demorou um tempo para ela se dar conta de que se sentia aquecida. Seu pé ainda doía e agora ela tinha consciência de todos os esfolados em seus braços e mãos, mas estava totalmente aquecida.
Pestanejando, ela olhou em volta e viu ao seu lado uma fogueira acesa com um fogo mágico, de onde vinha a uma sensação agradavelmente quente. Percebeu que estava sem o casaco que lembrava estar usando, e que estava sobre uma montanha de cobertores, deitada no chão em cima de mais cobertores.
Então, ela se deu conta de um som estranho, vindo da direção de seus pés. Era inconfundivelmente uma respiração irregular, de alguém que tremia.
Ela se ergueu com dificuldade e viu Doumajyd sentado no chão, abraçando os joelhos com os braços e com a cabeça enterrada neles.
- Doumajyd? – ela chamou cautelosamente.
Imediatamente ele se levantou e olhou em volta assustado, como alguém que tivesse sido pego dormindo ao invés de estar de vigia. Ele olhou para o fogo, para conferir se ele ainda estava acesso e então olhou para ela.
- Acordou? – ele perguntou – Você está dormindo desde que eu a encontrei. O combustível da moto do Nissenson congelou e por sorte achei esse lugar. Parece ser uma cabana usada por funcionários para emergências. Tem muitas coisas úteis aqui. – ele indicou em volta – Achei cobertores, lenha, e tem algumas batatas naquele armário.
Mary recebia toda aquela informação, mas ainda não conseguia processar. E ele relatava tudo aquilo de uma forma estranha, que ela não conseguia identificar.
- A sua amiga está bem. – acrescentou ele.
- ... Ela... está? – perguntou ela, começando a pensar de forma mais clara.
- Sim. Parece que a May a enganou.
- Ainda bem que a Vicky está bem. – comentou Mary, o surpreendendo.
Ele provavelmente esperava que, no mínimo, ela xingasse aquela garota que quase fora responsável pelo seu congelamento.
Foi então que Mary se deu conta de uma coisa: Doumajyd havia lhe salvado a vida.
- Ah, obrigada por ter me ajudado! – disse ela rápido, sem pensar direito.
E então ela se deu conta de outra coisa: Doumajyd havia lhe ajudado?
- A... a sua memória voltou? – ela perguntou, esperançosa.
- Não.
- Então... Então por que você me ajudou?
Ele encarou o fogo por um tempo, procurando por uma resposta:
- Por que será?... – ele respirou fundo, mas de uma maneira tão estranha quando o jeito como falava – Quando eu soube que você estava perdida... foi como se o meu corpo agisse sozinho. Como se fosse algo que eu deveria fazer.
- ...Obrigada. – disse ela novamente.
Ele assentiu com a cabeça e então começou a tossir. No mesmo instante Mary identificou o modo estranho como ele agia. Ele tremia inteiro, mesmo estando agasalhado, e a respiração arfada demonstrava que ele estava totalmente doente.
- Ei! – ela pulou de dentro dos cobertores, o socorrendo no momento em que ele tombava no chão, parecendo estar no seu limite – Tudo bem?! – ela colocou a mão na testa dele e confirmou a febre – Meu Merlin! Desde quando está assim?!
Mary o puxou para o lugar em que ela esteve, e o cobriu com todos os cobertores. Depois começou a vasculhar o local, procurando por qualquer coisa que pudesse ajudar, mas só havia batatas no armário. Ela então pegou algo que pudesse ser transfigurado para uma taça e conjurou um pouco de água. Procurou pelos seus bolsos e encontrou o único chocolate que sobrara dos que ela tinha comprado com Vicky durante a viagem até o resort.
Então voltou até o dragão, se ajoelhando ao lado dele:
- Você está com febre. – ela disse erguendo a cabeça dele, para que ele pudesse beber – Aqui, tome isso.
- O que é isso? Eu não vou-
- Cala boca e toma! É água!
Ele a encarou por alguns instantes e então obedeceu sem questionar.
- Coma isso também. Vai ajudar... – ela apoiou a cabeça dele nos seus joelhos, para que ele pudesse mastigar o chocolate – Alguém virá, assim que parar de nevar. Então agüente firme até lá.
- Você... você não está com frio? – ele perguntou.
- Não se preocupe. – ela tirou o seu cachecol e cobriu da melhor que forma pôde o pescoço dele – Os pobres já estão acostumados com o frio.
- Você... você é pobre?
- Isso mesmo. Mais pobre do que você pode imaginar. Além disso eu sou uma sangue-ruim bolsista. Algum problema?
Ele riu, de uma maneira soluçada, achando graça no modo desafiador como ela falara.
Mary sorriu também. Há um tempo já começara imaginar que nunca mais veria Doumajyd rindo de algo que ela dissesse.
Então ele fechou os olhos e Mary suspirou, pensando que não deveria alimentar esperanças. Se ele não estava mal humorado agora com a presença dela era totalmente devido ao seu estado. Assim que ele estivesse melhor, as grosserias iriam recomeçar.
- ... Eu sinto que isso já aconteceu antes. – disse ele, ainda com os olhos fechados.
- Como? – perguntou Mary se assustando, pois pensava que ele já havia caído no sono.
- Eu esperei... debaixo da neve... e continuei esperando... por muito tempo... Depois... um lugar sem saída... então eu estava com febre e sem forças... fui forçado a comer um chocolate... tinha um cachecol... e durante toda a noite... alguém esteve comigo...
Mary prestava atenção em cada palavra do que ele dizia. Será que ele se lembrava daquela noite em que ficaram presos na Casa dos Gritos?
- Esse alguém... – ele abriu os olhos e olhou bem para Mary, como se, pela primeira vez, estivesse realmente a vendo – é a pessoa... por quem eu me apaixonei... – e então ele sorriu – Era você não era, Mary?
Ela sentiu que tudo começara a girar a sua volta e nada mais importava porque reconhecera o sorriso metido a superior que Doumajyd tinha especialmente para ela. Então, sem conseguir se conter, ela começou a chorar.
- Finalmente você lembrou! – disse ela em tom de bronca, mas fungando.
- Claro que eu lembrei, idiota! – ele afirmou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo – Achava que o Ilustríssimo Eu não seria capaz de lembrar da garota que... Ah, é mesmo! – ele se contorceu por debaixo dos cobertores e então tirou uma mão para fora, entregando algo para ela.
Mary abriu a mão e o recebeu, reconhecendo na mesma hora o colar com o pingente de saturno.
- Guardou isso? – ela perguntou, feliz por poder tê-lo novamente.
- E você também, não é? – ele se arrastou nos cobertores, se erguendo, para poder ficar de frente para ela – Você foi pegar dentro do rio naquela vez?
Ela confirmou contente, segurando o colar com toda a sua força, e prometendo mentalmente nunca mais se separar dele. Então ele abriu a mão dela e pegou o colar, colocando ele mesmo no pescoço dela.
- Realmente... não podemos fugir de ficarmos juntos.
Ela confirmou, não conseguindo parar de chorar. Tanto pela felicidade de Doumajyd ter se lembrado dela quanto de alívio por finalmente ter saído das sombras em que vivera nos últimos tempos por o ter perdido.
- Não precisa chorar. – pediu ele com a voz fraca, tentando limpar o rosto dela – Nós vamos... ficar... juntos... – e então ele caiu no ombro dela, perdendo totalmente para a exaustão causada pela febre.
Mary o abraçou forte, afundando o rosto nos cabelos bagunçados dele, prometendo para si mesma que nunca mais o perderia novamente.
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