No Resort MacGilleain



Com apenas um movimento de faca, Mary cortou três cabeças de peixe de uma vez. achando ótimo poder descontar toda a raiva que havia sentido aquele dia em algo.
Depois de ter saído de Hogwarts, ela voltara para a vila decidida a dar mais atenção para outros problemas. Como a sua família, por exemplo. Com o crédito que tinha com o seu trabalho no porto, ela podia trazer peixes para reforçar o cardápio de casa, dando mais atenção para as necessidades deles.
- Desde que você começou a trabalhar como pescadora, a nossa comida melhorou! – comentou Charles, não tirando os olhos de cima dos peixes, deslumbrado em poder matar a sua fome de adolescente com algo que não fosse algas.
- Mary! – sua mãe chamou do outro lado do depósito – Sua bola de vidro está soltando fumaça!
Abandonando rapidamente o decapitamento dos peixes e passando a continuação da tarefa para o irmão, ela correu para tender a chamada. Assim que pegou a esfera, a pequena imagem de Hainault se formou nela.
- Aparentemente, o Chris está melhor. – contou ele – Fomos visitá-lo e, tirando o fato de que ele não lembra de você e daquela garota zunindo em volta dele, tudo está normal.
- É? – ela respondeu, dando o seu máximo para demonstrar total desinteresse.
- Mas não foi por isso que a chamei. Tenho um convite do Adam.
- Convite?
- Os pais deles estarão inaugurando um resort no norte no próximo final de semana. Fica em um lugar que não pode ser mapeado, onde neva durante todo o ano.
- Neva o ano todo?
- Sim. Além das pistas de gelo para patinação e dos lugares próprios para esqui, o hotel tem piscinas com águas quentes.
- Que legal. – Mary comentou admirada.
Já ouvira falar desses resorts onde as famílias bruxas gastavam fortunas em seus finais de semana e nas férias, mas nunca imaginara que esse fosse o negócio da família MacGilleain. Lugares como esses, para ela, existiam apenas nos álbuns de fotografias da família de Vicky ou em propagandas nas revistas bruxas.
- Você vai?
- Para o resort?! – Mary se engasgou.
Não poderia ir a um lugar daqueles. Não somente pelo fato de ela não ter dinheiro, mas principalmente por ela ser uma sangue-ruim, o que anulava qualquer credencial que ela tivesse no mundo bruxo.
- É por conta do Adam, não se preocupe. – explicou ele adivinhando o que ela estava pensando – E o Simon convidou a Vicky e ela aceitou. Vai deixá-la sozinha com ele?
Sim. Realmente Hainault sabia como a convencer de alguma coisa. Claro que ela não deixaria a sua melhor amiga sozinha com o Dragão conquistador! Não porque não confiasse nele, mas porque conhecia muito bem a amiga.
Então, quando ela estava prestes a abrir a boca para dizer que aceitava o convite, ela lembrou de perguntar:
- O Doumajyd vai também?
- Vai. – respondeu Hainault, sério.
- Mas... eu ficar perto dele...
- O resort é enorme, Mary. E você vai estar com a Vicky e conosco, não precisa se preocupar... Ou está com medo?
- Não estou com medo! – ela bufou ofendida – Pode avisar para o Adam que eu vou sim!


***


O queixo de Mary já havia caído assim que ela chegara na frente do resort, mas ele definitivamente não voltaria ao lugar tão cedo depois de ela ter pisado no hall de entrada.
Hainault, Nissenson, Vicky e ela haviam chegado juntos e foram recebidos calorosamente por MacGilleain, que lhes entregara as chaves dos seus quartos, dizendo:
- Ainda bem que vieram! – e então ele comentou baixinho – Com vocês aqui, não preciso participar das formalidades.
Mary olhou em volta e entendeu no mesmo instante o que o dragão queria dizer. Aquela era inauguração de um grande resort bruxo, e é claro que grandes bruxos estariam ali. Não somente pessoas famosas ou de famílias renomadas, mas também pessoas que trabalhavam para jornais e revistas, que fariam a cobertura do evento.
Estando com o D4, MacGilleain poderia agir mais como dragão do que como o filho do dono do resort.
- Que incrível, Adam. – comentou Vicky, olhando em volta admirada, falando por Mary também.
Se a garota, que já havia freqüentado resorts bruxos, achara aquilo incrível, Mary não se sentia constrangida por estar tão deslumbrada com tudo.
- E o Chris? – perguntou o anfitrião.
- Ele disse que viria depois. – informou Hainault.
- Ah, é? Bom, aqui as chaves dos quartos, as piscinas ficam na ala sul, – MacGilleain indicou – e a pista de esqui já está aberta. Fiquem a vontade e divirtam-se!
- Você sabe esquiar, Simon? – Vicky aproveitou a oportunidade.
- Sou profissional. – ele respondeu como se fosse algo óbvio, mas com um tom de exibicionismo – E também sei snowboarding, conhece? Um esporte trouxa que pratico por diversão.
- Incrível! – admirou-se a garota – Me ensina?
- ...Claro. – ele não teve como fugir, já que se deixara cair na conversa dela.
- Legal! – ela agarrou o braço dele e o puxou para a direção em que MacGilleain havia indicado ser a pista de esqui – Você vem também, Mary?
A garota levou um susto ao ouvir o seu nome, pois ainda estava olhando em volta.
- Eu? – ela tentou definir o olhar carregado que a amiga lhe lançava – Anhm... eu acho que vou dar uma olhada no lugar primeiro e talvez ir nas piscinas. Podem ir vocês.
- Ok. – Vicky concordou contente e continuou arrastando Nissenson para fora.
Mary riu. Hainault podia ter conseguido trazê-la para lá usando Vicky como desculpa, mas agora, ela não sabia quem estava agindo mais como um conquistador, se era a amiga ou o dragão.
Porém, o seu sorriso desapareceu assim que ela viu quem estava entrando pelas portas principais. Era Doumajyd, sendo seguido de perto por May Burnsdale.
- Oh. – cumprimentou o líder do D4 da sua maneira típica, passando direto por Mary, sem a perceber, e indo para onde estavam Hainault e MacGilleain.
- Olá! – May acenou alegre para eles, seguindo o dragão e olhando em volta admirada – Que lugar lindo! Muito obrigada por terem me convidado!
MacGilleain a encarou com um sorriso amarelo, deixando bem claro que ele não sabia quem a havia convidado. Então ele entregou a chave do quarto para Doumajyd dizendo:
- Chris, vem cá. – e o afastou do grupo – Por que trouxe ela?
- Eu disse para ela não vir. – defendeu-se o dragão, mas não acrescentou nada que indicasse que ele havia feito algo para realmente a impedir.
- Ah, Mary! – exclamou May, se dando conta da presença dela ali – Há quanto tempo! Está bem?
- Ah... sim. – Mary respondeu, não sabendo como agir.
Ao percebê-la, Doumajyd deu um suspiro irritado e seguiu para os salões internos.
- Espera por mim, Chris! – May correu atrás dele.
- O que é isso? – reclamou MacGilleain para Hainault – Ela age como se fosse a namorada dele.
Deixando todo o seu deslumbramento de lado, Mary já estava totalmente arrependida de ter vindo.


***


Além das piscinas, o hotel também oferecia salas de banhos quentes, o que lembrava muito os banheiros especiais de Hogwarts, e saunas, como extensões das piscinas. E fora na sauna que Mary decidiu se enfiar por um tempo, para não ter que encontrar Doumajyd no seu caminho.
Sentada em um canto, com a cabeça apoiada na parede, Mary tentava fugir de pensamentos relacionados à Doumajyd, quando alguém sentou ao seu lado.
- Desculpe por ter vindo. – pediu May, com um tom totalmente contrário ao de alguém que pediria desculpas – Mas achei que era uma boa oportunidade para te contar.
- Contar?
- Infelizmente, parece que não há jeito do Chris lembrar de você. – afirmou ela com um suspiro – Mas ele já não está mais tão mal humorado, o que eu vejo como um bom sinal!
- É mesmo? – perguntou Mary, tentando demonstrar que não queria mais sobre o assunto.
- Sim, ele-
- Vou sair. – decidiu ela, vendo que a garota não falaria de outra coisa, e se levantou.
- Eu gosto dele! – declarou May.
Mary parou.
- Me desculpe. No começo essa não era a minha intenção. Eu tentei segurar esses sentimentos para não trair a sua confiança, mas... Parece que ele também sente o mesmo, então...
Mary saiu, não querendo mais ouvir nenhuma palavra dela.


***


- Será que o Chris está achando que namorava essa May antes de perder a memória? – perguntou MacGilleain, enquanto os três dragões haviam se reunido na pista de esqui para observar os esforços de Vicky em esquiar.
Depois de todas as instruções que recebera de Nissenson, ela insistiu em tentar sozinha, o que deu tempo para que os três pudessem fazer aquela pequena reunião sem a presença do líder.
- Vamos dar um jeito nessa garota! – sugeriu Nissenson.
- Isso! – MacGilleain concordou – Vamos estuporá-la, apagar a sua memória e mandá-la para a Sibéria!
Os outros riram, demonstrando que achavam aquela uma boa idéia.
- Tudo bem. – finalmente Hainault deu a sua opinião – Não será preciso que nós façamos alguma coisa. Aquela garota não consegue superar o poder que a Mary tem sobre o Chris.
- Mas a Mary já desistiu. – lembrou MacGilleain.
- Isso, – Hainault sorriu do seu jeito calmo – é o que ela fala. Mas dêem tempo ao tempo. Os laços desses dois são mais fortes do que eles mesmos sabem.
- Hum, e nós não sabemos disso? – falou Nissenson, também acreditando que tudo era apenas uma questão de tempo – Quem, além de nós, acompanhou a saga Weed versus Doumajyd desde o início?


***


Não querendo conversar com ninguém, Mary se aventurou a explorar o resort sozinha. Passou por vários salões convidativos, com lareiras enormes e crepitantes, mas um deles em especial chamou a sua atenção.
Ele tinha uma grande janela, que se abria para uma das mais belas vistas de todo o lugar. Porém, o tempo do lado de fora não contribuía com para que ela pudesse ser observada direito. Mesmo assim, Mary se sentou em uma das grandes poltronas e ficou olhando para lá.
Uma voz feminina, provavelmente da recepcionista do resort, ressoou amplificada por todo o hotel, anunciando que uma tempestade estava prevista para o final da tarde e que, por precaução, os hóspedes não deveria permanecer muito mais tempo fora.
- Oh.
Mary sentiu o sangue gelar ao ouvir aquela voz e virou para trás. Lá estava Doumajyd, parecendo muito mais surpreso do que ela por vê-la ali.
Ela estava certa de que ele daria a volta e sairia, fingindo não a ter notado, assim como fez quando chegara.
- Por que não tem aparecido ultimamente? – perguntou ele depois de um tempo, procurando por algo para iniciar um assunto, contrariando totalmente o que ela imaginara.
- Você disse para eu não ir. – respondeu ela seca.
- Você... – ele pensou um pouco, visivelmente tendo dificuldades em dizer o que queria – Você sabe de alguma coisa, não sabe? Sobre a memória que eu perdi.
- Sei sim. – confirmou ela.
- Então porque não me conta?! – perguntou ele, não agüentando mais disfarçar a irritação que sentia em confirmar a sua suspeita.
Mary o encarou por um tempo e então se levantou da poltrona, indo até ele.
- Porque não terá significado nenhum se você mesmo não lembrar! – falou ela, sem olhar para ele, e saindo do salão.
Na direção contrária a que Mary saiu, espiando pelo corredor, May ouvia toda a conversa, e esperou até a outra estar bem longe para entrar em cena.


***


Assim que May entrou no salão, viu Doumajyd na janela, observando o mal tempo que anunciava uma nevasca lá fora. Mas, reparando bem, percebeu que ela não olhava para nada especificamente. Então, de repente, ele chutou a parede, furioso.
- Chris! – ela chamou, para ele parar com os pensamentos que estavam o atormentando, e lhe mostrou o que trazia nas mãos – Eu fiz os biscoitos! Você não tinha dito que queria comer de novo?
- Ah. – murmurou ele, pegando a caixa que ela lhe oferecia.
- Assei na cozinha aqui, – ela contou alegremente – por isso ainda estão quentes. E tenho certeza de que estes estão melhores do que os outros!
Ele abriu a caixa e encarou os biscoitos por um tempo. Eram biscoitos redondos de chocolate.
- A propósito, quando eu contei sobre você aos meus amigos eles não acreditaram que você é mesmo o líder do D4! Por isso, você poderia sair um dia conosco? Eles iriam adorar o conhecer!
Sem ouvir o falatório dela, Doumajyd pegou um dos biscoitos e o comeu.
- Ah, tem um lugar que eu gostaria que você-
Doumajyd subitamente jogou a caixa de biscoitos com raiva no chão, a assustando e fazendo com que calasse a boca.
- O-o que foi? – perguntou ela gaguejando, diante do olhar sombrio que ele lhe lançava.
- Você mentiu, não é? – perguntou ele de uma maneira calma e por isso mesmo assustadora.
Pela primeira vez, May realmente se viu diante do temível Líder do D4, e não conseguia abrir a boca para se defender.
- Os biscoitos daquele dia, – ele continuou – não foram feitos por você.
Vendo que não tinha como fugir, a garota tentou perguntar.
- Você se lembrou de tudo?
- NÃO CONSIGO LEMBRAR! – ele explodiu.
Ela se encolheu e ele tentou se acalmar, mas continuou usando seu tom furioso para falar:
- Não lembrei, mas eu sei o quanto o que eu esqueci é importante!
- Mas... – May tentou desesperadamente achar algo para dizer – Eu acho que você não lembra porque você mesmo não quer lembrar! Essa memória só deve conter coisas ruins e por isso você a bloqueou! Você não deve continuar se agarrando a ela! Preencha esse vazio com novas memórias felizes!... – então ela se agarrou ao braço dele – Realmente, não fui eu quem fez aqueles biscoitos, mas... eu só queria que você seguisse em frente de alguma forma!
- Você diz que fez isso por mim, mas está fazendo por si mesma! – acusou ele, se soltando do abraço dela.
May ficou chocada com o a afirmação dele.
- Mesmo você estando aqui, meu nervosismo e irritação não passam! Era assim que eu vivia antes! Essa memória que eu perdi foi que me fez mudar e por isso ela é tão importante!... Desaparate da minha frente, mentirosa! Você não tem nada a ver comigo!
Ela começou a chorar e disse baixinho:
- Mas... eu gosto tanto de você, Chris.
Percebendo que ele não daria mais ouvidos ao que ela falava, a garota saiu correndo do salão, soluçando.

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