A Crise Doumajyd
- Demitido?!– exclamou Mary assim que Doumajyd lhe contou o que havia acontecido pela esfera.
- Minha mãe não sabe mais o que faz...
- Sabe, o Richardson me contou o que aconteceu em Nova York. – falou Mary.
- Como? – perguntou o dragão confuso, nem imaginando que ela soubesse alguma coisa.
- Ele me contou tudo e... E ele me pediu para te perdoar. Se não fosse por ele, eu não teria decidido te dar uma nova chance...
- Aquela... aquela vez em que você desmaiou e foi para o hospital, quem me contou também foi ele... Ele sempre nos ajudou de alguma forma.
- E foi prejudicado por isso. – concluiu Mary – Foi por nossa causa que ele foi demitido...
Mary sentiu uma sensação ruim no peito, exatamente como ela sentia na época em que Doumajyd estava incomunicável.
Mesmo que o secretário não fosse alguém diretamente ligado a ela, era alguém que queria o bem para Doumajyd e ela. Mesmo se o dragão tivesse decidido enfrentar o que fosse para eles ficarem juntos, ele ainda não havia experimentado a agonia de ter as pessoas a sua volta prejudicadas como acontecera com Mary no passado. E isso só a deixava mais preocupada.
***
- Mas, isso é só o começo da vingança da sua mãe, não é? – disse MacGilleain quando Doumajyd se reuniu com os outros dragões na sua casa para contar o que havia acontecido – Ela acha que demitindo o Richardson vai o pressionar a desistir da Mary?
- Ela me deserdou também.
Essa novidade pegou o restante do D4 desprevenidos. Assim como o líder, os outros ficaram tão surpresos com esse extremo e não conseguiram responder.
- Aquela velha de merda. – resmungou Doumajyd.
- Chris, – começou Hainault com sua voz calma, apesar de estar se mostrando muito preocupado com o amigo – pode pedir nossa ajuda.
- Isso mesmo! – ajudou MacGilleain – Em primeiro lugar não precisa se preocupar com-
- Dinheiro! – os outros dois fizeram coro, assustando o antigo dragão da Lufa-lufa, mas demonstrando que concordavam com ele.
- Me desculpe. – pediu o líder do D4 sorrindo, feliz pelos amigos quererem ajudá-lo como podiam.
- Se conseguimos fazer o Chris dizer um ‘me desculpe’, é praticamente uma questão de honra ajudarmos, não é? – disse Nissenson rindo também.
- Ei! – protestou Doumajyd e foi atender a sua esfera, que começara a esquentar para chamar a sua atenção.
Enquanto os outros concordavam e comentavam que outras coisas, antes impensáveis, poderiam acontecer dali por diante, Doumajyd foi para um canto afastado, pensando que poderia ser Mary, mas foi a pequena figura da sua mãe que surgiu por detrás do vidro.
- O que quer? – perguntou ele, fazendo questão de mostrar que não estava nenhum um pouco feliz em vê-la.
- Vou te dar uma última chance. – disse ela.
- Não brinque! – ele rosnou – Acha que demitindo o Richardson ou me deserdando vai me fazer mudar de idéia?! Você tem uma mente muito pequena, velha!
- ...Essa é a sua resposta? – perguntou ela permanecendo imparcial aos esbravejos dele – Não há mais volta, Christopher. Os Vanderbilt se recusaram a aliança com a nossa família, apesar de todos os meus esforços. De agora em diante, tudo o que acontecer, será exclusivamente culpa sua!
- O quê-
Mas o dragão não pôde pedir mais nada, porque a senhora Doumajyd já havia desaparecido.
***
- Foi Mal, Ryan. – pediu Doumajyd, quando o amigo lhe mostrou o quarto que ele poderia usar pelo tempo que precisasse em sua casa – Por estar te dando trabalho.
- Eu estou acostumado. – disse o dragão, andando calmamente até a janela para conferir como estava o tempo lá fora – Ser manipulado pelos seus caprichos, é algo que me acostumei desde criança.
Doumajyd riu, mas pensou um pouco nisso e perguntou:
- Eu manipulava tanto assim?
Hainault o encarou por um tempo e disse sério:
- Dá vontade de rir da sua falta de consciência... – e então perguntou rindo – Vai se desculpar de novo?
- Inacreditável. – respondeu o dragão, imitando o jeito de Mary falar.
***
- Professora... por acaso, alguém disse que cancelaria os pedidos dos seus doces? – perguntou Mary no dia seguinte, enquanto ajudava nas estufas.
A professora, percebendo na hora onde ela queria chegar com aquilo, respondeu:
- Tudo bem não se preocupe. Desde daquela vez, eu só tenho relações com pessoas de bom coração.
- Ah, é? – disse Mary, não sabendo se deveria se sentir aliviada ou não com aquilo.
- Não caia na mesma armadilha, Mary. Corra atrás do que você quer!
- Obrigada, professora. – ela agradeceu com um sorriso, mas a sensação incômoda, como se um buraco estivesse novamente se abrindo dentro dela, ainda continuava.
***
No almoço, Vicky aparecera nas estufas e chamou Mary para ir até a Ala dos Dragões. Lá, Nissenson e MacGilleain esperavam por elas.
- A aliança não deu certo?! – Mary sentiu que o chão havia sumido pro debaixo de seus pés.
Essa aliança com os Vanderbilt era onde ela e Doumajyd haviam se agarrado para poderem ficar juntos. Ela representava o esforço de Summer em abandonar o sentimento que sentia pelo dragão para que ele pudesse ser feliz com que ele realmente gostava. Era, principalmente, o trunfo que eles tinham contra a senhora Doumajyd.
- E o Chris foi oficialmente deserdado. – continuou Nissenson – Ele não apenas não tem mais o direito de usar o dinheiro da família como foi expulso da mansão Doumajyd.
- As coisas estão ficando cada vez mais graves. – continuou MacGilleain – Agora-
- Onde está o Doumajyd? – perguntou Mary o interrompendo, preocupada, já procurando pela sua esfera nos bolsos para falar com ele.
- Ele está na casa do Ryan em Londres. – disse Nissenson.
- Na casa do Ryan... – repetiu ela aliviada.
Se Doumajyd pensasse em fazer algo estúpido e precipitado, Hainault o impediria.
- Mary, isso não é tudo. – MacGilleain tentou continuar, e entregou a edição do dia de O Profeta Diário para ela – Olhe isso.
A primeira coisa que Mary pôde ver foi uma foto da senhora Doumajyd tirada no Ministério, onde ela parecia estar fazendo um discurso, com vários bruxos importantes atrás dela. A manchete que encabeçava da foto dizia com letras gigantes ‘Crise Doumajyd atinge a economia bruxa inglesa’, e a notícia abaixo continuava:
“Kheteryn Doumajyd, atual administradora dos negócios da família Doumajyd, anunciou hoje uma demissão em massa e o fechamento de vários dos seus negócios e lojas na Inglaterra. ‘As medidas drásticas tomadas em Nova York não foram o suficiente para superar a crise. Preparem-se para uma redução significativa’, disse ela aos seus assessores e representantes comerciais. Depois, ao se apresentar no Ministério da Magia para dar mais informações sobre o ocorrido, a senhora Doumajyd também tornou pública a sua decisão de deserdar seu filho, Christopher Doumajyd, o líder do D4, estudante de administração na Academia Bruxa de Nova York. Segundo ela, Christopher é um mau administrador e o principal culpado pela crise, motivos suficientes para ser descartado da linha sucessória da família. Já Christinne, representante do Departamento de Relações Internacionais e filha mais velha dos Doumajyd, sem muitas palavras à imprensa, apenas disse que a culpa é exclusivamente de sua mãe.
A família Doumajyd, o maior nome dentro da sociedade bruxa, há anos vêm contribuindo com o crescimento econômico e com desenvolvimento da comunidade mágica. Com negócios espalhados pelo mundo inteiro, o principal produto representado pelos Doumajyd é a Esfera, meio usado para comunicação rápida, que permite o contato entre os bruxos de qualquer localidade do planeta.
A crise que começou no final do ano passado em Nova York, culminou com o fechamento da principal produtora de Esferas no exterior. Agora a crise chega à Inglaterra e causa pânico em todo o setor comercial. Ligada diretamente às lojas da família Doumajyd, há cerca de 2.000 empresas terceirizadas e prestadores de serviços, além de vários outros negócios dependentes.”
A reportagem ainda continuava em mais duas páginas no jornal, que incluíam comentários de economistas sobre os efeitos dessa crise na sociedade e os vários problemas que surgiram decorrentes às demissões. Mas em lugar algum Mary conseguiu encontrar alguém que falasse sobre uma possível solução, o que só fez seu ânimo afundar ainda mais.
- Como diz aí, – falou Nissenson, quando Mary pôs o jornal de lado, que foi logo agarrado por Vicky – se isso acontecer, muitas empresas vão quebrar e será um abalo imenso na economia mágica.
Com isso, Mary ficou em pé com um impulso.
- O que foi? – perguntou Vicky assustada com a reação surpresa da amiga.
- Eu... eu preciso pensar sozinha! – e saiu, sem mais explicações.
- Precisavam mostrar isso para ela e ficar falando desse jeito? – Vicky brigou com os outros dois – Agora ela vai se culpar!
- Bom... é culpa dela. – disse Nissenson de forma direta.
- Não tem como ela fugir da verdade, Vicky. – explicou MacGilleain com mais tato – Seria melhor que ela soubesse pelos amigos do que por outros, não acha?
- Estar com o herdeiro de uma grande família, significa suportar e assumir responsabilidades. – suspirou Nissenson – Com o Chris deserdado e a crise revelada, como amigos, ficamos de mãos atadas.
- Tudo o que podemos fazer por eles é darmos forças. – ajudou MacGilleain – Mas, com todas essas dificuldades e esses problemas irreversíveis... Será que, mesmo assim, eles conseguirão ficar juntos?
Vicky olhou de um para o outro e pensou na sua própria situação. Sua família era alguém que tinha negócios indiretamente ligados à família Doumajyd. Os principais clientes de seus pais eram empresas que trabalhavam para as lojas de esferas. Se elas chegassem a fechar, sua família também estaria com problemas financeiros, e Mary se culparia por isso também. Apesar de não ter contado nada para a amiga, Vicky sabia muito bem que não haveria como esconder isso dela por muito mais tempo.
***
Mary voltou para a estufa e pediu que a professora Karoline lhe desse alguma tarefa. Precisava se distrair fazendo alguma coisa com as mãos para que os pensamentos sobre tudo o que ficara sabendo não a deixassem como uma zumbi fora da realidade. Depois de ter quebrado três vasos na simples tarefa de tentar por adubo dentro deles, a professora Karoline pediu pacientemente que ela fosse até Hogsmeade comprar os itens de uma lista.
Porém, ter ido para a cidade não foi uma boa coisa. Em todos os lugares por onde passava o assunto era só um: a Crise Doumajyd. Mary ouvia pedaços de conversas e várias delas eram em tom de lamentação. Ela percebeu que as pessoas prejudicadas estavam muito mais próximas do que ela podia imaginar. Praticamente toda Hogsmeade teria as suas lojas afetadas pela crise, como um efeito dominó.
Então ela parou quando viu na sua frente o mesmo Profeta Diário que Nissenson havia lhe mostrado, com a foto da senhora Doumajyd na capa. Ao perceber atenção dela no jornal, o senhor que lia a matéria comentou:
- Vamos passar por tempos difíceis. – e então ele reparou no uniforme dela e perguntou – Em que ano você está, moça?
- Sé-sétimo.
- Pois é... Os mais prejudicados serão vocês jovens. Hoje são os Doumajyd, levando metade de todos os negócios com eles. Amanhã serão os outros grandes nomes bruxos...
O senhor ainda falou mais algumas frases antes de ver que Mary já havia se afastado, com passos incertos e um olhar perdido.
***
- Ryan?... Será que eu vou conseguir proteger a Mary?
Hainault demorou para processar essa pergunta e associá-la a expressão pensativa do amigo, e então comentou:
- Agora, além de se desculpar, aprendeu a mostrar fraqueza?
Os dois estavam almoçando na casa de Hainault, que resolvera não ir para a Academia naquele dia.
- Segundo minha mãe, eu estou arruinando a reputação dos Doumajyd por causa dela... Isso é egoísmo, não é?
Hainault sorriu, entendendo a preocupação do amigo, e propôs:
- Não seria bom se você provasse o contrário a partir de agora?
- O contrário?
- A vida inteira, sua mãe sempre lhe deu tudo o que quis. Agora que existe uma coisa que você realmente quer, ela é contra... Você fez a sua escolha e foi deserdado. Por que não encara isso como um meio de recomeçar e ver o mundo do ponto de vista da Mary?
Esse conselho do amigo deixou Doumajyd ainda mais pensativo, e no mesmo instante um elfo apareceu na sala e, com uma reverência, entregou para Hainault o jornal.
- ...Chris. – chamou Hainault assim que olhou para a primeira página.
- O quê?
- Você deveria ver isso...
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