De joelhos



- Por onde estava andando, Sangue-ruim?!
Mary quase teve a alma arranca do corpo quando passou pelo portão da mansão Doumajyd e Nana aparatou na frente dela.
Depois de ter ficado um bom tempo na praça, simplesmente pensando em o que poderia fazer, já que Hainault dissera que não iria desistir, ela não se apressou em voltar. Só se lembrou de Nana, e dos seus castigos, quando começara a escurecer. E, mesmo rezando para não ser descoberta entrando de mansinho na mansão, Nana já esperava pelo momento em que ela passasse pela entrada da propriedade.
- Pensa que pode simplesmente sair e voltar à hora que quiser?! – continuou a elfa com o seu sermão.
- Me desculpe. – pediu Mary baixinho.
- Troque-se logo e vá preparar o jantar do senhor Christopher!
- Sim.
- Agora! – a elfa apontou para dentro.
- Sim. – Mary correu para não ter que escutar mais e murmurou no caminho – Me ferrei.
Ainda no portão, Nana fez uma careta azeda, vendo a garota quase tropeçar na sua pressa de entrar logo na mansão, e então desaparatou.


***


Enquanto Mary tentava vestir o mais rápido possível o seu uniforme de criada, alguém bateu na porta do seu quarto.
Pensando que fosse a velha elfa lhe apressando, Mary correu para abri-la, ainda a meio caminho de amarrar seu avental:
- Eu já-
- Oi! – Summer a cumprimentou alegremente.
Mary a encarou surpresa, se esquecendo completamente do seu avental, reparando principalmente no cabelo vermelho intenso dela.
- Posso falar com você? – perguntou a metamorfomaga deixando de lado o sorriso.


***


Hainault praticava com seu violino quando alguém começou a bater insistentemente na porta do seu quarto.
- Quem é? – perguntou ele desconfiado, já que os elfos não haviam anunciado ninguém.
Mas não houve resposta do lado de fora.
Então, deixando o seu violino de lado, o dragão foi abrir a porta.
- Preciso falar com você. – declarou Doumajyd entrando sem cerimônias.


***


- Aconteceu alguma coisa? – perguntou Mary assustada com a mudança repentina da sua visita.
- Ontem o Chris e eu conversamos sobre várias coisas. – contou ela, entrando no quarto e andando por ele, fingindo estar interessada nas coisas velhas espalhadas pelo lugar.
- ...É? – perguntou Mary não sabendo o que dizer.
- Mas, de repente, ele me agarrou e me jogou na cama... Você não ouviu algum barulho alto vindo de lá?
- Bem... – Mary achou melhor não negar, já que a metamorfomaga a tinha visto na noite passada – Eu ouvi sim.
- Aquilo foi ele me atacando a força.
- Atacando... – Mary murmurou, repetindo a palavra.
- No começo eu fiquei assustada e não queria, mas... Somos noivos, não? É normal, não fizemos nada de errado. Mas aí você apareceu bem na hora em que estava ficando bom e... Enfim, o que eu quero lhe dizer é que parece que o Chris reconsiderou sobre o casamento, por causa da família, essas coisas. Então ele disse que se casará comigo.
Mary pestanejou tentando entender aquilo. Ela tinha decidido não perguntar para Doumajyd como ele resolvera as coisas na noite passada. Mas, pelo machucado que ele tinha na testa, podia deduzir que aquilo fora o resultado de ele ter ido contra a vontade Summer Vanderbilt. Então, como podia ter concordado com o casamento, como ela afirmava?...
- Você está feliz por mim, não? – o sorriso de Summer reapareceu, tão instantaneamente como desaparecera.
- Bem, eu-
- Ah, você tem que ir trabalhar, não é? – disse ela de repente, reparando no uniforme de Mary – Desculpe por estar atrapalhando. Já estou indo. Até! – e saiu, fechando a porta em seguida, não dando chance para que Mary falasse mais nada.


***


- O que quer? – perguntou Hainault com má vontade, deixando bem claro que a última pessoa que ele queria ver naquele momento era o líder do D4.
- Você se encontrou com a Weed hoje, não foi?
- Sim, encontrei. E não vou desistir. Disse isso claramente para ela. Você não é capaz de fazê-la feliz.
Ao ouvir isso, Doumajyd avançou, parecendo furioso e capaz de socar o amigo em sua própria casa. Mas parou, a centímetros de Hainault, respirando fundo, tentando se acalmar. Hainault, por sua vez, não se moveu de onde estava, encarando o dragão com a sua calma de sempre, mas visivelmente o desafiando a continuar.
- Ryan... – murmurou Doumajyd, parecendo estar pensando em várias coisas ao mesmo tempo.
Então, para a total surpresa de Hainault, ele se ajoelhou no chão e pediu:
- Desista dela, por favor!
- O quê? – foi tudo o que Hainault conseguiu dizer diante da complexidade da cena que via: pela primeira vez na sua vida, o Ilustríssimo Dragão Doumajyd estava implorando para alguém.
- Eu sei que eu a fiz sofrer muito! – continuou Doumajyd falando de uma forma determinada, ainda ajoelhado e encarando o chão – Eu sei que fui um arrogante idiota, e que a fiz chorar! Eu sei que eu falei e fiz coisas que davam a entender que eu não ligava para ela, e também falei que você poderia fazer o que quisesse com ela, mas... Mas, para mim... Para mim a Mary é a única que eu coloco acima de todos! E nada desse mundo pode mudar isso! Posso ir contra a minha mãe e todas as conseqüências disso, mas não posso perder um amigo precioso! Então, por favor, Ryan, desista dela!
Hainault permaneceu imóvel, olhando para o dragão na sua frente, sem saber o que fazer.

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