Não vou desistir



Mary olhou para a janela estreita, que mostrava um céu começando a clarear, e finalmente se deu conta de que havia perdido uma noite intera de sono.
Depois de que voltara para o se quarto correndo, ela tentou ordenar os seus pensamentos, mas isso acabou levando embora as suas horas de sono. E, depois de todo aquele tempo, só conseguira chegar a uma decisão: deixaria que Doumajyd resolvesse seu problema com a metamorfomaga, assim como ela decidira resolver o seu com Hainault.
- Sangue-ruim! – Nana a chamou delicadamente, chutando a porta, como fazia todas as manhãs – Comece os seus afazeres!
Dando um grande suspiro, Mary esfregou os olhos, esperando que suas olheiras não fossem tão visíveis, e levantou, ajeitando seu uniforme amassado, se preparando para mais um dia de trabalho.


***


- Você o quê?! – perguntaram Nissenson e MacGilleain em coro.
- Acabei com essa história de casamento! – repetiu Doumajyd, cutucando irritado o seu curativo na testa.
Nana curara o seu ferimento na cabeça, mas ele insistira que continuava doendo e passara a manhã inteira reclamando para chamar a atenção. Quando ele começou o seu discurso de que não poderia comer sozinho por estar ferido, Mary se viu obrigada a lhe fazer um curativo, o que fez o mau humor do dragão diminuir consideravelmente. E a tarde, quando ela saiu para o se encontrar com Hainault, ele também saíra para se encontrar com o restante do D4 no refeitório da Academia.
- E a Vanderbilt aceitou isso? – perguntou MacGilleain ainda surpreso com a notícia.
- Aceitar?... – Doumajyd pensou um pouco – Acho que não. Ela ficou chorando o tempo todo.
- Mas... – começou Nissenson analisando a situação e rindo – Ela precisa aceitar para você e a Mary poderem ficar juntos, não é?
Doumajyd concordou e riu feliz junto com ele.
- Do que vocês estão rindo? – perguntou MacGilleain, e os outros dois o encararam sem entender – Os problemas estão só começando!
- Problemas? – perguntou Doumajyd.
- Acha que a sua mãe vai ficar quieta com isso? – explicou ele.
- Mas o Chris tem um plano. – disse Nissenson – Não é mesmo, Chris?
- Um plano?
- Sim, terminar com a Vanderbilt foi algo planejado, não foi?
- Na verdade, não tenho... um plano. – confessou Doumajyd.
- Como assim? – perguntaram os dois juntos novamente.
- Vou apenas me desculpar formalmente sobre o cancelamento do noivado, só isso.
- Mas e a Mary? – perguntou Nissenson tentando entender o pensamento do amigo.
- Por enquanto, vou esconder. Devemos agir como adultos.
- ...Namorarem escondidos é agir como adultos? – perguntou MacGilleain perplexo.
- Isso não vai dar certo. – suspirou Nissenson.
- E o Ryan? – lembrou MacGilleain – Ele não vai desistir tão facilmente.
- Mesmo se tratando da Mary, estragar uma amizade como a de vocês por causa de uma mulher é uma idiotice. – aconselhou Nissenson – E como ficaria o D4 se isso acontecer?
- O Ryan... – começou Doumajyd, não muito certo do que iria dizer, se levantando e tentando não olhar para os amigos – Vai entender.


***


Na praça do relógio, em um banco perto de uma grande árvore que começava a querer florir, Ryan Hainault esperava enquanto lia distraidamente um livro.
- Desculpe pela demora! – exclamou Mary ao chegar até ele, com passos apressados – A Nana não queria me deixar sair.
- Não tem problema. – disse ele dando espaço para que ela pudesse sentar ao lado dele.
- Obrigada. – ela agradeceu por poder descansar, depois de ter praticamente corrido para conseguir chegar ao local marcado.
- Então, o que quer falar comigo? – perguntou Ryan.
A pergunta direta a pegara desprevenida. Não esperava que o dragão, logo de início, quisesse saber por que ela o chamara ali. Mas, mesmo assim, respirou fundo e se preparou para falar:
- Sabe, eu-
- Ah, a propósito, – ele a interrompeu – Não vou desistir de você.
- O quê?! – perguntou ela surpresa.
- Não importa o que você diga, Mary. Não vou desistir. Eu sempre desisto no último momento, e me arrependo depois. Por isso decidi que não vou desistir... E então, o que quer falar comigo?
Depois de ouvir o que ele dissera, Mary pensou por alguns instantes, e então falou:
- Eu não posso responder.
- Como? – perguntou ele rindo – Desculpa, mas eu a confundi? Não sabe o que falar?
- Não é isso. – Mary tentou reformular o que dissera – Eu não posso responder a esse seu sentimento. É isso.
O sorriso que ele manteve desde que chegara desapareceu.
- É tudo o que eu posso dizer. – acrescentou ela, como se pedisse desculpas.
- Então, vai escolher o Chris? – perguntou ele sério – Não vai sofrer de novo com isso? E a noiva dele?
Mary se lembrou do que viu na noite anterior, e disse, olhando para o chão:
- Realmente, talvez eu sofra... Mas... Eu já decidi. Doumajyd disse que eu sou a única para ele, e vou acreditar nisso.
- Você já acreditou tantas vezes. E quantas vezes você chorou por acreditar nele?... Por essas tantas vezes é que eu decidi não desistir de você, Mary. – ele fechou o seu livro cuidadosamente e se levantou – Eu acredito que a única pessoa que pode fazer você feliz, seja eu. – ele voltou a sorrir e saiu sem se despedir, dando por encerrada aquela conversa deles.

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