Uma nova chance
- Encontrei! – declarou Vicky assim que voltou para a estufa de Hogwarts onde Mary esperava por ela.
- Mesmo? Que bom!... E agora?
- Agora? – ela suspirou e se sentou ao lado de Mary, parecendo novamente exausta – Preciso que ele vá lá ao amanhecer... essa vai ser a parte mais difícil.
- Ele está com o Doumajyd. – contou Mary – Posso pedir para que ele fale sobre isso e o convença a ir.
Mary pegou a sua esfera no bolso do casaco ao mesmo tempo em que perguntava:
- E então, o que tinha lá?
- Algo importante. – respondeu Vicky com um sorriso – Algo muito importante para o Simon e a professora Hannah.
***
- Simon, – começou Doumajyd, depois de ter voltado de sua chamada particular pela esfera, e se sentando na frente do amigo no bar – somos amigos há muito tempo, não?
O Dragão Nissenson limitou-se a lhe lançar um olhar de quem sabia que havia várias intenções por detrás daquela pergunta:
- Hum.
- Não somos mais pirralhos e você sabe que não consegue esconder que há algo acontecendo com você.
- ...Nem eu mesmo sei direito o que está acontecendo. – confessou Nissenson com uma risada fraca, tomando mais um gole da sua bebida.
- Por que não tenta me contar? – pediu Doumajyd confiante – Eu posso no mínimo ouvir a sua história.
Nissenson pensou por um tempo, achou a oferta razoável vindo de quem vinha, e então falou:
- Quando eu percebi, já havia saído de casa e estava voando com a minha moto para um lugar que eu não visitava há muito tempo...
***
Hannah havia terminado o trabalho e convidara Nissenson para entrar na casa e tomar uma caneca de chocolate-quente com ela.
- Eu... pensei em me desculpar por não ter feito o que você me pediu no ano passado. – disse Nissenson sem jeito.
Apesar dela se mostrar calma, ficou bem visível que o pedido repentino de desculpas a surpreendera.
- Mas, – ele continuou, sem tirar os olhos da sua caneca, tentando falar algo que tirasse todo o efeito da frase anterior – você sempre dá um jeito de aparatar no mesmo instante em que me vê, não é mesmo?... Você parou de dar aulas por que eu fui até lá?
- ...Foi por causa disso que você veio até aqui? – ela respondeu com outra pergunta.
- É estranho, não? Somos amigos de infância, mas nem conseguimos nos cumprimentar direito quando finalmente nos revemos.
Ela não conseguiu esconder que concordava com aquilo e que sabia que tinha grande parte da culpa por aquilo.
- Mas... eu não me mudei pra cá por sua causa, Simon.
- Hannah, eu-
- E como vai todo mundo?
- O quê?
- Seus pais? Estão bem? E o D4?
- Ah... estão todos bem, sim.
- E o Stuart?
Foi a vez de Nissenson se surpreender com a pergunta.
- Alguma notícia dele desde que desapareceu? – acrescentou ela vendo a reação dele.
- Não. – respondeu o dragão simplesmente, deixando claro que não queria falar daquele assunto.
Dessa vez, a bruxa não conseguiu esconder o seu tom desapontado:
- Ah, é... quer mais?
E isso foi o suficiente para que Nissenson reunisse coragem para perguntar:
- Você gostava dele, não é?
- Como? – perguntou ela, distraída em servir mais chocolate para ele.
- Quando o meu irmão foi embora, você ficou chorando pelos cantos.
- Claro que eu fiquei! – disse ela rindo – Nós sempre estávamos juntos, e ele decidiu ir tão repentinamente que eu levei um susto! Naquela época eu não consegui entender.
- E... ainda hoje você chora por ele?
Ela lhe lançou um olhar carregado, mostrando que havia entendido o que ele queria dizer com a pergunta, e então disse:
- Não. Ele foi como um irmão para mim, e por isso chorei muito. Mas hoje eu entendo o que ele fez e penso que foi o certo. E é só isso.
- E eu... também era um irmão para você?
Diante dessa nova pergunta, ela pensou bem no que falar, mas assim que abriu a boca para dar uma resposta, alguém surgiu na porta.
- Hannah, vou sair daqui a pouco. – informou um rapaz, o que estava trabalhando com ela antes.
- Eu já vou. – respondeu ela com um sorriso – Me espere só mais um pouco.
Nissenson olhou dela para o rapaz e achou que ele a tratava com muita intimidade. Diante disso, o rapaz o cumprimentou com um alegre aceno de cabeça e saiu, sem falar nada.
- A Vicky... – começou ela, feliz por poder mudar de assunto com a intromissão – É uma boa garota, não é? Eu a conheci a há pouco tempo, mas posso dizer com certeza que ela gosta muito de você. Uma pessoa como ela, que pense tão puramente em você, acho que não existe. É melhor tratá-la com carinho! Ela foi a aluna mais dedicada para quem já ensinei!
- Hannah, você não quer dar um passeio na moto? – perguntou Nissenson, tentando achar algum meio de manter a conversa, vendo que a professora a levava para um ponto final.
- Eu vou me casar. – anunciou ela, de forma tão repentina quando a pergunta dele.
Nissenson ficou chocado e não conseguiu mais dizer nada.
- Aquele era meu noivo. – explicou ela sorrindo – Ele é o aprendiz do meu tio. Na minha família, somente eu herdei o dom para fazer estes frascos, e pretendo continuar com isso. Ele tem um talento nato, que desenvolveu trabalhando aqui. Nosso trabalho em equipe resulta nos melhores frascos já produzidos. Meu tio disse que minha mãe ficaria orgulhosa de mim... Ele, – ela se referiu ao seu noivo – também é uma boa pessoa. Uma pessoa que pense tão puramente em mim como ele... não deve existir.
Essas últimas palavras atingiram Nissenson como flechas, por que era exatamente isso que ele vinha fazendo há muito tempo.
- Sabe, às vezes as coisas não são do jeito que imaginamos que elas poderiam ser. E, talvez elas não aconteceram para que algo melhor aconteça... A vida é cheia de momentos injustos, e na paixão há muito mais injustiça. Só de gostar de alguém, você já pode estar machucando outra pessoa. – ela recitou – Stuart disse isso uma vez para nós, lembra? Quando estávamos fazendo aqueles frascos.
Ele confirmou com um sinal de cabeça.
- Hoje, relembrando dessas palavras, eu posso dizer que ele pensou muito antes de abandonar vocês. Já naquela época ele sabia que teria que escolher entre a família ou ser quem ele queria ser... Ele sempre soube que você seria o herdeiro perfeito, e que seria feliz com essa situação. Mesmo assim, deve ter sido difícil para ele ter feito essa escolha... Por isso, eu quero me esforçar em deixar o passado nas lembranças e ser feliz com o que eu tenho agora. Deste modo, quando ele voltar, ele não irá se arrepender, pensando que eu me machuquei por ele ter sido feliz...
- Eu... – Nissenson entendeu que não havia mais nada que pudesse falar para ela, além de uma única coisa – Espero que você seja feliz.
- Eu também, Simon. – ela agradeceu com um grande sorriso.
***
- Eu fui um completo idiota indo até lá. Só confirmei o que eu já sabia: eu nunca fui uma opção para ela.
- Simon. – Doumajyd tentou falar com ele.
- Mas eu não estou deprimido! – disse o dragão terminado sua bebida em um grande gole e fazendo um sinal para que mais uma viesse para a mesa – Não tem como algo ter terminado sem ao menos ter começado! – ele olhou bem para o seu novo copo e se afundou ainda mais no seu lugar admitindo – Desde o começo já havia terminado...
- Simon. – Doumajyd tentou mais uma vez.
- O quê? – ele o encarou por cima da bebida.
- Sabe o lugar onde ela tinha marcado de se encontrar com você?
- Hum?
- Lembra onde era?
- Era... – ele apontou incerto para o seu lado, então pensou melhor e olhou para o outro lado – Onde era mesmo?...
- A amiga da Mary procurou por isso desde o Dia do Encanto para você, sem parar.
- ... Ela... fez isso?
- Sim, até ficar exausta. E ela encontrou esse lugar e disse que há algo importante lá... Agora, você é quem deve decidir se vai ou não. Novamente, ao amanhecer, você tem um encontro. Mas, dessa vez, que estará esperando será a Vicky.
Nissenson voltou a encarar o copo, mas seus olhos estavam em algum ponto muito além dele.
- Eu não vou. – respondeu ele decidido – Não vale mais a apena.
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