Observem em silêncio
Mary e Doumajyd levaram Vicky até a ala hospitalar de Hogwarts, onde uma curandeira a examinou e informou que não havia nada grave com a garota, apenas exaustão.
- ...Tomara que não seja nada sério. – suspirou Mary, sentada ao lado da cama, observando a amiga descansar.
- O que será que é isso? – perguntou Doumajyd, entregando para Mary um caderninho de anotações, que eles haviam encontrado sendo segurado firmemente nas mãos de Vicky quando ela desmaiara.
Mary pegou o caderninho e Doumajyd sentou ao seu lado para poder ver também. Ele estava repleto com nomes de lugares, muitos deles já riscados.
- Parece... parece que ele esteve nesses lugares. – comentou Mary passando as folhas.
Foi nesse instante que Vicky respirou forte, como se estivesse voltando a si, e então abriu os olhos. Mary colocou o caderninho de lado e voltou toda a sua atenção para a amiga:
- Vicky? Como está se sentido? Tudo bem?
- ...Onde eu estou? – perguntou a garota.
- Em Hogwarts. – respondeu Mary.
- Ah... – ela olhou em volta confirmando, e então se afundou ainda mais no lugar em que estava – Eu... estou bem.
- O que estava fazendo vagando sozinha a noite? – perguntou diretamente Doumajyd, e acabou recebendo uma cotovelada de Mary pela falta de delicadeza.
- Não precisa falar agora, Vicky. – acrescentou ela tentando remediar o que o dragão fizera.
- Eu preocupei vocês, não? – começou ela, como se pedisse desculpa – Preciso explicar... No Dia do Encanto, fui entregar os chocolates que eu tinha para o Simon. Ele falou só comigo, e por isso fiquei com muitas esperanças. – ela deu um sorriso fraco e se recostou melhor, para poder conversar com eles – Mas...
***
- Eu queria perguntar uma coisa. – disse Nissenson depois de levar Vicky para os fundos da loja, onde poderiam conversar sem serem perturbados pelo tumulto do Dia do Encanto.
Vicky, que segurava a sua mochila, só esperando o melhor momento para retirar o seu embrulho, acabou perdendo o sorriso ao perceber o tom de voz sério que ele usava. Então, desistindo totalmente de dar seus chocolates, vendo que esse não era o propósito dele ao chamar somente ela para entrar, perguntou:
- O quê?
Ele procurou por entre armários antigos e retirou uma caixa de madeira empoeirada e antiga, colocou-a na frente de Vicky e a abriu. No mesmo instante, a garota reconheceu os frascos coloridos que via, e exclamou:
- São como os que a professora Hannah usa!
- A Hannah... esteve em Hogsmeade por todo esse tempo, não é? – perguntou Nissenson, como se estivesse admitindo isso.
Com isso, Vicky confirmou sua suspeita sobre o que conversara com a professora Karoline do dia anterior. Nissenson e a sua professora de poções se conheciam há muito tempo, e ela não fora qualquer pessoa na vida dele.
- Ela... – Vicky pensou bem no que ia dizer – Ela não está mais em Hogsmeade. O pai dela tem uma imobiliária bruxa em Londres, onde ela trabalhava durante a semana, mas ela vivia em Hogsmeade. Mas... depois de ontem... ela disse que iria embora, que estava se mudando.
- ... Fugindo de novo. – comentou Nissenson para si mesmo.
Diante disso, Vicky teve coragem para perguntar uma coisa que já há algum tempo estava a incomodando:
- Simon... Por acaso, a professora Hannah é aquela bruxa que chamou você para ir a um lugar ao nascer do sol?
***
- Ao nascer do sol? – perguntou Mary confusa.
- No ano passado, – Vicky explicou – alguns dias antes do Dia do Encanto, alguém foi visitar o Simon em Hogwarts. Quando eu cheguei na antiga Ala dos Dragões, ouvi uma moça dizer isso e sair logo em seguida, apressada. Eu perguntei quem ela era para o Simon, mas ele não me respondeu. Apenas me perguntou ‘É certo chamar alguém para ir a um lugar no Dia do Encanto logo ao nascer do sol?’. Naquele dia eu ri e respondi que não fazia sentido algum. Então ele disse ’Vou parecer um idiota se eu for. Não tenho tempo para isso. – ela respirou fundo mais uma vez para conseguir continuar – E eu concordei, porque não queria que ele saísse do castelo justo no Dia do Encanto.
- Então ele não foi?
- Foi minha culpa! – Vicky quase chorou – Eu atrapalhei a professora Hannah! Mesmo não a conhecendo na época, foi muito egoísmo da minha parte! E por isso os dois estão sofrendo! Eu disse isso para o Simon no Dia do Encanto, mas ele falou para eu não me preocupar porque, na verdade, ela nunca gostara dele.
- Não gostava? – Mary ficou confusa.
- Ele disse que o que ela queria com aquele convite era dar um fora nele, porque na verdade ela gostava do irmão dele.
- Irmão?! – Mary se surpreendeu e então encarou Doumajyd, perguntando – Simon tem um irmão?
- Sim. – confirmou o dragão – Um irmão quatro anos mais velho. Mas eles são totalmente contrários. Apesar de não ser o filho mais velho, o Simon sempre foi o que mais se preocupou com a reputação e as tradições dos Nissensons, já o seu irmão nunca valorizou a sua posição de herdeiro. Por isso ele desapareceu e foi deserdado. Ninguém sabe onde ele está, e o Simon não fala sobre ele. Eu mesmo nunca o vi.
- As tradições... – murmurou Mary, mais uma vez se deparando com questões nem um pouco normal para sangue-ruins como ela.
- Foi quando esse irmão desapareceu que a amiga do Simon começou a chorar. – finalizou Doumajyd – e foi quando o Simon falou que não se importava mais com ela.
- Mas ele se importa, não é? – questionou Mary – Pensou nela esse tempo todo. Por isso não deixa ninguém subir na moto.
- A moto, – contou Vicky – era do irmão dele, e a Hannah adorava passear nela. A família dela fabrica frascos para poções em um lugar no interior, e eles iam muito para lá, desde crianças. Isso era importante para eles. Então, eu entreguei para o Simon os frascos que a professora Hannah havia deixado na escola e que eu tinha me encarregado de levar para o pai dela em Londres... Fui embora, e não consegui parar de pensar no que a professora queria ter dito para ele no Dia do Encanto ao nascer do sol.
- Então, é isso que você esteve fazendo desde aquele dia? Procurando por esse lugar?
- O Simon me contou que era perto daquele vilarejo. Então pensei que, se fosse até lá, conseguiria descobrir alguma coisa, e consertar o que eu fiz.
***
- Então ela estava procurando por esse lugar? – perguntou MacGilleain, depois de ter ouvido todo o relato do que acontecera de Mary e Doumajyd.
- Sim. – confirmou o Mary – E depois de se recuperar, ela voltou para o vilarejo.
- Mas, como? – perguntou ele surpreso – Como deixaram ela sair de Hogwarts novamente?
- Eu pedi. – respondeu o líder do D4.
MacGilleain encarou Mary, como se perguntando como ela havia concordado com aquele absurdo.
- Sabe, eu conheço a Vicky há muito tempo e nunca a vi daquele jeito, tão preocupada. É como se ela não fosse conseguir fazer mais nada na vida se não resolver esse problema.
- Então, não seria melhor se ajudássemos ela? – pediu MacGilleain.
- ‘Observem em silêncio, por favor’ . – repetiu Mary, e então explicou – Eu nunca vi ela pedir algo com um olhar tão forte e determinado como aquele... A Vicky-
Mas Mary não pôde terminar de falar, porque no mesmo instante Nissenson apareceu na Ala, carregando uma grande caixa repleta de verduras e ervas, e cumprimentou todos:
- Olá! Soube que estavam em uma reunião aqui. – ele colocou a caixa no meio da mesa e sentou em um lugar vago – ...O que houve? Por que essas expressões de preocupados?
- Onde você estava?! – MacGilleain quebrou o silêncio de espanto dos três – Deixou todos preocupados!
- Então isso é por mim? – perguntou ele rindo – Eu estava passeando.
- Passeando? – perguntaram Mary e Doumajyd em coro, não acreditando na resposta.
- E trouxe presentes! – ele apontou para a caixa – Podem pegar o que quiserem... Mas, realmente, o tempo não estava muito bom para se viajar de moto.
- Sabe, Simon, você-
Novamente Mary foi cortada, dessa vez por Doumajyd:
- Simon, vai fazer alguma coisa agora?
O Dragão Nissenson o encarou, não tendo certeza do que responder, já que não tinha certeza da intenção da pergunta, e então questionou:
- Por quê?
- Porque, – Doumajyd levantou do seu lugar e o puxou pelos ombros para que levantasse também – às vezes sair só nós dois não é tão ruim assim, não?
E então arrastou o amigo consigo, não dando chance nem para ele reclamar qualquer coisa.
- O que ele está aprontando? – perguntou Mary desconfiada, depois dos dois terem saído.
- Não se preocupe. – a tranqüilizou MacGilleain, dando uma olhada no conteúdo da caixa – Não importa o tamanho da besteira que o Chris fala, ele continua sendo o líder do D4... Quer cenouras?
Mary foi para verificar os ‘presentes’ quando percebeu a sua esfera tentando chamar a sua atenção no bolso do casaco. E assim que a pegou na mão, a miniatura de Vicky se formou.
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