Artesã de frascos



- Agora faz sentido, não faz? – perguntou Doumajyd enquanto ele e Mary andavam pelas ruas de Hogsmeade – Os dois terem desaparecido.
- Hum...
Na verdade, Mary achava que não fazia muito sentido, porque ainda não via o motivo para eles terem desaparecido. Depois da conversa com MacGilleain, apenas conseguiram achar um rumo para investigar, mas nada mais concreto.
Foi pensando nisso que Mary lembrou de algo que talvez pudesse ajudar:
- Por acaso conhece a história da moto do Simon? – ela perguntou para o dragão.
- História sobre a moto? – repetiu ele, já dando a entender que não sabia mais do que ela.
- Ele disse que não leva mais ninguém na moto dele. E a professora Karoline nos contou que tinha relação com um amor antigo dele... Com certeza isso tem a ver com a professora da Vicky... Será que ele não leva ninguém porque ainda gosta dela?
- Com certeza que eles ainda estão em retângulo! – confirmou o dragão.
Mary teve que parar para tentar conseguir compreender o que ele dissera.
- Não seria um triângulo amoroso? – ela deduziu.
- Triângulo? – perguntou ele confuso – Acho que não daria certo.
Felizmente, eles haviam chegado ao local onde acontecia o curso de poções de Vicky, e Mary não precisou explicar para o dragão quais eram as diferenças entre um triângulo e um retângulo.
Na recepção havia apenas uma bruxa distraída com uma revista de fofocas e mal olhou para eles quando entraram. Porém, quando ela percebeu que estava diante de Christopher Doumajyd, líder do D4, quase caiu da sua cadeira e se apressou em se mostrar como a recepcionista mais eficiente do mundo:
- Em que posso ajudá-lo, senhor?
- A professora McPherson está? – perguntou Mary, reparando que uma outra bruxa, que vinha pelo corredor, dera meia volta e correra para onde eram as salas de aula.
- Não. – respondeu ela um tanto seca para Mary, já que havia dirigido a pergunta para o dragão – A senhorita McPherson não está mais dando aulas aqui.
Logo em seguida, várias bruxas saíram das salas de aulas e viram espiar na recepção, provavelmente depois de terem sido comunicadas pela bruxa que saíra correndo. Quando confirmaram a ilustríssima presença, ficaram todas alvoroçadas, como Mary já tinha acostumado a ver em Hogwarts em relação aos dragões. Porém, o mais incomodado com aquilo parecia ser o próprio dragão, que lançava olhares mortais para as moças sorridentes, e essas se sentiam no mínimo honradas por ele olhar na direção delas.
- Mas o que ela disse por ter parado de vir dar aulas? – insistiu Mary.
- Ela simplesmente parou. – disse a recepcionista com muita má vontade.
- Simplesmente parou?! – perguntou Doumajyd.
Uma enxurrada de gritinhos excitados percorreu a pequena platéia, que ficaram eufóricas em poderem ouvir a voz do herdeiro mais poderoso da sociedade mágica. Com isso, a recepcionista se mostrou mais interessada em contar detalhes:
- Sim. Ela disse que iria se mudar por vários motivos e deixou de ministrar as aulas aqui.
- Mas para onde ela se mudou? – perguntou Mary.
- Não sabemos. – a bruxa voltou ao seu estado normal de resposta, e Mary percebeu que não conseguiria saber mais do que aquilo.


***


Nissenson aterrissou com sua moto na entrada de uma propriedade cercada por um grande muro de pedra, praticamente todo revestido de musgo, indicando o quão antigo eram as construções que guardava. No portão de madeira havia uma placa que dizia simplesmente: frascos artesanais. Apesar de já estar no começo da primavera, um vento gelado varria toda aquela região, uma das mais frias do país.
Depois de um tempo, em que ficara apenas olhando para o velho portão de madeira, como se decidisse se entraria ou voltaria pelo mesmo caminho que viera, Nissenson tirou o seu capacete e desceu da moto. Com a mesma decisão, ele entrou pelo portão, empurrando a sua moto para não fazer barulho.
Lá dentro havia uma casa da época feudal, que parecia ter passado por várias reformas e adaptações, e outras várias construções também de pedra, onde pareciam funcionar diversas oficinas. Foi de frente para uma dessas que ele parou com a moto, deixando-a e levando consigo apenas uma pequena caixa, que segurava firmemente nas mãos. Então, passou a observar os bruxos que trabalhavam lá dentro.
Da porta podia se ver que eles trabalhavam com a fabricação de vidros coloridos, usando fogo mágico, e estavam muito concentrados para notarem a visita. Mas os olhos de Nissenson recaiam sobre uma única pessoa, que se ocupava em modelar com a varinha pequenos frascos.
Quando Hannah McPherson sentiu a presença de alguém na porta e olhou, acabou errando o que estava fazendo e estragou o seu vidro. Então, tirando as luvas que usava e limpando o rosto em uma toalha, ela disse algo para um rapaz que trabalhava ao seu lado e foi até a entrada.
- Simon! – cumprimentou ela, usando um tom que mais sugeria preocupação do que felicidade por vê-lo – Por que está aqui?
- Eu... estava passando. – respondeu ele, tentando mostrar que fora uma simples coincidência – E resolvi visitar esse lugar.
Ela saiu de dentro da oficina, não ousando olhar diretamente para ele, o que poderia revelar o que ela pensava sobre ele estar apenas ‘passando’. Então ela viu a moto e correu até ela, comentando:
- Ah, eu achei que nunca mais a veria de novo!
- Esse lugar não mudou nada, não é? – perguntou ele, tentando começar outro assunto ao chegar até ela – Antigamente costumávamos vir muito aqui.
- No que depender do meu tio, esse lugar vai ser assim sempre. – comentou a bruxa.
- Isso... – ele mostrou a caixa e entregou para ela – Me pediram para devolver... caso eu a visse.
Ela abriu a caixa e se deparou com a sua colação de frascos, os mesmos que usava nas suas aulas de poções.
- Eu... eu achei que você iria querer eles de volta, já que são importantes.
Hannah McPherson ficou olhando para os frascos por um tempo e então fechou a caixa dizendo:
- Sabe, hoje eu sei fazer frascos muito melhores do que estes.
- Mas estes foram os primeiros que você fez! – disse ele não conseguindo esconder que achava que ela pensar daquele modo fosse um absurdo – Lembra? Ficamos o dia inteiro para conseguir fazê-los!... – e então admitiu – Quando eu lembrei disso, fiquei com saudades daqui.
- Me desculpe por fazê-lo vir aqui me devolver isso. – disse ela, rindo da reação dele – Mas eu não preciso mais desses frascos. Não vou mais dar aulas.
- Por que não? – perguntou ele perplexo – Você pode ser melhor do que a sua mãe se quiser.
- Minha mãe foi uma grande bruxa, e eu sou muito grata pela sua família ter dado condições para ela demonstrar o seu talento com poções. Mas... havia apenas um motivo para eu continuar em Hogsmeade, e continuar dando aulas.
- E que motivo era?
- Ele perdeu o sentido há um ano atrás. – respondeu ela com um sorriso, que dizia isso já não importava mais.
Nissenson reparou que, mesmo ela sorrindo, os seus olhos não eram capazes de sorrir.
- Você está muito ocupada? Posso esperar até terminar o seu trabalho?
Ela olhou mais uma vez para a moto, e então disse, como quem não podia dar uma outra resposta:
- Pode. Logo eu termino. Fique à vontade.
E com mais um sorriso fraco, ela voltou para a oficina. Nissenson se apoiou na moto, olhando em volta, e murmurou para si mesmo:
- Finalmente a encontrei...


***


- Tem certeza disso? – perguntou Mary andando apressada, seguindo os passos largos de Doumajyd.
- Sim. Sabe como a família do Adam é capaz de conseguir qualquer informação! Ele me disse que viram ela andando por essa região.
Os dois haviam aparatado em um vilarejo fora dos limites de Hogsmeade e de Hogwarts. Segundo o que MacGilleain falara, Vicky fora vista vagando pelos arredores, um lugar conhecido por ser coberto de vegetação mágica variada.
- Parece que você está se divertindo, não é? – comentou Mary, depois de ver Doumajyd pulando em cima de um muro de pedras baixo na beira da estrada e passar a tentar andar se equilibrando.
- Estou mesmo. – admitiu ele, um tanto sério, pulando do muro da frente dela – Porque agora posso estar com você em qualquer hora.
Mary não conseguiu responder, tamanho o estado de sem-jeito que ficara. Mais uma vez confirmando que nunca estava preparada o suficiente para ouvir o que o dragão falava.
- Por que a cara de sem-graça? – perguntou ele a seguindo.
- Não estou sem-graça! – disse ela brava.
- Ah, esqueci que essa é a sua cara normal. – provocou ele.
- Quer apanhar?! – perguntou ela, se esquecendo completamente do motivo pelo qual estava ali.
Mas antes mesmo dela terminar de levantar o punho no ar em forma de ameaça, Doumajyd apontou para algum lugar atrás dela, além do muro de pedras:
- Olha!
Assim que Mary viu o que era, gritou:
- Vicky!
A garota andava muito devagar, quase se arrastando, e não parecia muito certa de onde estava indo. Ao procurar, lentamente, por que falara seu nome, ela deu um pequeno sorriso e logo em seguida desabou no chão, como se as suas forças tivessem se esgotado.
- VICKY! – Mary saiu correndo, pulou o muro e atravessou toda a distância que os separavam, sendo seguida por Doumajyd.

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