O primeiro amor de Nissenson



Summer Vanderbilt entrou, como sempre, sem cerimônias na mansão Doumajyd e correu pela escadaria para chegar ao quarto do seu noivo. Porém, no meio do caminho, ouviu passos apressados vindos da direção de um dos corredores que davam para o hall e parou, reconhecendo de quem eles eram. Poderia reconhecer o som daqueles passos mesmo entre uma multidão. Então desceu alguns degraus e esperou que Doumajyd aparecesse para poder assustá-lo com um grito de boa noite. Mas assim que o dragão surgiu no hall, ela viu que ele levava alguém consigo, segurando firmemente pelo braço.
- Se a Nana descobrir que eu sai vou levar uma bronca! – disse Mary Ann Weed, tentando se soltar.
- Amizade é mais importante que broncas! – retrucou Doumajyd, pegando o seu casaco que estava perto da porta e escolhendo outro aleatoriamente, jogando-o em Mary logo em seguida – Tome.
- Eu sei andar sozinha! – reclamou ela conseguindo, por um momento, se soltar.
Mas Doumajyd a pegou novamente depois de colocar o seu casaco, dizendo:
- Vamos rápido!
E os dois saíram da mansão, Doumajyd praticamente correndo e arrastando uma Mary aos tropeços atrás dele.
Sem ter sido percebida, ainda parada na metade da escada, Summer acompanhou toda a cena sem conseguir pronunciar uma única palavra.


***


- O Simon ainda não apareceu também. – informou Doumajyd para Mary, saindo da loja de poções da família Nissenson em Hogsmeade – E o gerente falou que ele não voltou para casa nos últimos dias... Será que eles estão juntos?
Ela deu um grande suspiro. Tinham pensado nessa possibilidade antes, mas agora a achava pouco provável. Se os dois estivessem juntos, Vicky entraria em contato para lhe contar, por que era justo o que a amiga queria. Por isso era mais provável ela estar sozinha, mesmo se Nissenson estivesse desaparecido também.
- Não sei. – ela respondeu para o dragão, quando os dois voltaram a andar pela rua – ...Mesmo que digamos que vamos procurar por ela, não temos pista nenhuma de onde ela possa estar.
- Então vamos falar com o Departamento de Aurors! – decidiu Doumajyd.
- Aurors?! – perguntou Mary surpresa, vendo ele pegar a sua esfera no bolso do casaco.
- Claro, temos que-
- NÃO! – ela o impediu de começar um contato, tirando a esfera das suas mãos e a guardando no bolso dele novamente.
- Mas... é a sua melhor amiga! – disse ele em tom de quem reclamava por ter sido repreendido ao fazer a coisa certa – Temos que colocar o Chefe dos Aurors à frente do caso!
- Inacreditável. – Mary começou a rir da expressão dele e de como o dragão sempre tendia a resolver as coisas começando pelos extremos.
- Ah! – ele apontou para algum lugar atrás dela e saiu correndo.
Sem entender e pensando, por um momento, que ele tinha avistado a sua amiga perdida, Mary se virou rápido, procurando ver para onde ele tinha ido com tanta pressa. Mas tudo que viu foi uma pequena venda de lanches trouxas, algo que havia se popularizado na cidade nos últimos tempos.
Logo ele voltou sorridente segurando dois embrulhos, e ofereceu um deles a Mary com o seu jeito educado de sempre:
- Toma.
Ela o encarou desconfiada.
- É para você comer. – explicou ele, praticamente enfiando o embrulho embaixo do nariz dela.
Ela pegou, mesmo contrariada, e ao abrir viu que era um cachorro-quente, no estilo americano.
- Dizem que se ficar com fome a guerra acaba. – acrescentou ele, imitando a maneira como Nissenson costumava proferir suas frases sábias.
- Se a guerra acabar, não é melhor ficar com fome?
- ... Coma logo! – rosnou ele depois de pensar por um tempo e não encontrar nada que equivalesse a uma resposta para rebater.
Ele recomeçou a andar pela rua e Mary o seguiu, ainda apenas segurando o seu cachorro-quente, pensando que não era hora em se preocupar em ficar com estômago cheio.
- Aquela vez... – começou ele – Em Nova York... nós não podemos comer juntos.
Fora apenas há algum tempo atrás, mas, para Mary, parecia que mais de anos se haviam passado desde a vez em que ela finalmente reencontrara o dragão. Tanta coisa havia acontecido desde então que, Doumajyd ter falado disso justo naquele momento, a surpreendeu.
- Eu estava me esforçando, – ele deu um meio sorriso – achando que agindo daquela maneira seria o melhor... Mas poder estar aqui com você novamente... Me fez entender o que realmente é importante.
Mary o encarou sem conseguir falar alguma coisa e isso pareceu deixar o dragão constrangido. Para disfarçar, ele tentou enfiar metade do cachorro-quente de uma vez na boca. Mas acabou se engasgando e disse tossindo:
- Que coisa ruim!
- Como pode comida ser ruim?! – perguntou Mary tentando parecer irritada, para disfarçar que também tinha ficado sem-graça com o que ele dissera – Você é que é fresco para comer comidas trouxas! – e para confirmar o que dissera ela deu uma mordida com vontade no seu lanche, mas fez uma careta logo em seguida – Credo! Está ruim mesmo!
Doumajyd começou a rir e ela não teve outra opção a não ser acompanhá-lo.


***


- Então os dois estão desaparecidos... – disse MacGilleain, depois de ouvir o relato das buscas fracassadas de Doumajyd e Mary na noite passada – E desde o Dia do Encanto?
Eles haviam se reunido na casa do antigo dragão da Lufa-lufa e, depois de terem que provar os doces feitos pela senhora MacGilleain, conversavam sobre o que poderia ter ocorrido com os dois desaparecidos.
- Tem alguma idéia, Adam? – perguntou Mary – Do que possa ter acontecido nesse dia?
- Bom, não nesse ano, mas no ano passado, aconteceu alguma coisa.
- Alguma coisa? – perguntou Doumajyd curioso, se inclinando na poltrona em que estava para poder ouvir com mais atenção.
- Lembra da amiga de infância do Simon, Chris? – perguntou MacGilleain.
- Ah, o primeiro amor do Simon, não é?
- O primeiro amor dele?! – perguntou Mary pensando que poderia conseguir alguma pista, já que esse era um assunto que esteve incomodando a Vicky nos últimos dias.
- Isso. No ano passado, eles se reencontraram depois de muito tempo, mas ela desapareceu novamente logo em seguida.
- Ele fez alguma coisa para ela? – inquiriu Doumajyd.
- Não que ele tenha contado. – disse MacGilleai, encolhendo os ombros.
- Simon idiota. – suspirou Doumajyd voltando a se largar na poltrona – Levou um fora dela?
- Foi por isso que ele ficou tão agressivo do ano passado para cá? – diante dos olhares confusos dos outros dois, Mary tentou explicar a sua pergunta – Acontece que ele sempre tinha sido o Dragão inteligente. Ele era o aquele que procurava não discutir o que era inútil ser discutido... Mas, antes de se formar e mesmo depois, ele parece perder a calma mais facilmente.
- Verdade. – comentou Nissenson – E pensando nisso, ele começou a ter esse comportamento depois desse dia.
- Mas... – começou Doumajyd como se tivesse lembrado de uma informação importante – Ele já não tinha levado um fora dessa garota quando estávamos no quinto ano?
- Duas vezes? – surpreendeu-se Mary – O Simon? Da mesma garota?
- Isso é um ‘notauque’, não? – comentou Doumajyd rindo, indicando que ele tinha feito uma piada – ... Que foi? Por que me olharam assim?
- Como ela era, Simon? – investigou Mary, tentando fazer a conversa voltar ao rumo da qual Doumajyd quase a tirou.
- Eu não a conhecia muito bem. Parece que a mãe dela era uma especialista em poções perigosas, e ela trabalhava em uma das lojas da família Nissenson há anos. Por isso os dois sempre se viam, mesmo fora de Hogwarts... Sabe alguma coisa, Chris?
- Não lembro direito dela. Era aquela menina chorona, um ano mais velha que nós, não? Ela sempre ficava quieta em Hogwarts... Acho que só o Simon notava ela lá.
- Ela era... filha de alguém que trabalhava na loja da família do Simon? – perguntou Mary, sentindo o seu estômago afundar, e fazendo uma ligação com algo que sabia – Espera aí! Adam!
- O quê? – perguntou ele como se tivesse sido acusado.
- Antes do Dia do Encanto vocês foram visitar a Vicky no lugar onde ela estava tendo aulas de poções, não foram?
- Fomos.
- E vocês viram a professora dela?
- Parece que ela não pôde ir naquele dia.
- Ela foi sim! Ela estava ensinando a Vicky a fazer os chocolates! Ela contou para a professora Karoline que assim que viu vocês entrando saiu correndo e não voltou mais. E parece que o Simon também saiu de repente da aula, não foi?
- Ele foi mesmo. – concordou MacGilleain – Mas não me disse o motivo.
- A professora Karoline contou, no dia que fui para Hogwarts, que a Vicky havia comentado que o Simon foi embora depois de ter vistos os frascos de poções da professora!
- E? – perguntou Doumajyd, não vendo nenhuma lógica no que ela falava.
- O nome dessa amiga de infância do Simon não seria Hannah McPherson?
Os dragões se entreolharam, e Mary não precisou que nenhum deles confirmasse, pois isso já indicava a resposta.

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