O desaparecimento de Vicky



- Com licença. – pediu Mary entrando no quarto de Doumajyd – Vim limpar o seu quarto senhor.
- Oh! – exclamou Doumajyd pulando de uma poltrona onde estivera concentrado até pouco tempo em um dos seus livros de economia bruxa, e não sabendo muito bem o que fazer.
Já fazia uma semana que os dois estavam tentando se adaptar com essa rotina, principalmente Mary. Mas nenhum deles tinha aprendido a como se comportar em momentos como aquele.
Mary começou a recolher a bandeja com o lanche que havia trazido para o dragão naquela tarde, tentando ao máximo agir normalmente.
- Já está mais acostumada? – perguntou Doumajyd.
- Já estou me acostumando, senhor.
- Converse normalmente quando estivermos a sós, Mary! – ele não conseguia esconder o quanto o ‘senhor’ nas frases de Mary o irritava.
- Mas se a Nana-
- É uma ordem do Ilustríssimo Eu, e as minhas ordens estão acima das dela!
- Se quer assim... – ela continuou com o seu serviço.
- Mary?
- O quê? – ela perguntou vagamente, pois estava concentrada em equilibrar a bandeja ao mesmo tempo em que usava a varinha para organizar o quarto, do modo como a elfa lhe ensinara.
- Sobre... sobre o que você disso outro dia... Sobre um motivo para ficar aqui?... Você disse que precisava recomeçar... Você quer recomeçar comigo?
Mary não pôde continuar se concentrando no que fazia. Se ele tivesse feito essa pergunta naquele dia, a resposta provavelmente seria ‘sim’. Mas agora, pronunciar essas três letras e admitir o que queria, parecia muito mais difícil do que trabalhar como se fosse uma elfa-doméstica na mansão.
Porém, antes que ela tivesse tempo de pensar em algo para dizer ao dragão, ele tirou a bandeja das mãos dela e a abraçou, dizendo:
- Se disser que sim, eu coloco tudo em risco por você!
- Ah! – uma voz foi ouvida no corredor e os dois gelaram – Há quanto tempo, Nana!
- Há quanto tempo, senhor MacGilleain! – exclamou a elfa usando o seu tom gentil – Seja bem vindo.
- O Chris está? – perguntou o dragão.
- Sim, senhor. Entre e fique a vontade. – com licença, senhor, vou buscar um chá para vocês.
- Ei, Chris, você – ele entrou sem cerimônias no quarto – O que estão fazendo?
Adam MacGilleain olhou abobado para uma Mary nervosa, que usava um esfregão de chão para limpar os vidros da janela, e para um Doumajyd afobado, que estava sentado em cima da sua escrivaninha lendo um livro de ponta cabeça.
- Oh, Adam! – cumprimentou Doumajyd fingindo total surpresa.
- Então é verdade que você está trabalhando com criada, Mary? – perguntou ele rindo.
Ela parou de esfregar o armário e lançou um olhar mortal para Doumajyd, como se pedisse para quem mais meio mundo ele havia contado a novidade.
- A Nana estava ali na porta e me deixou entrar. – comentou MacGilleain tirando o livro das mãos do amigo e o devolvendo do lado certo.
- O quê?! – perguntaram Mary e Doumajyd e se entreolharam logo em seguida, ambos acrescentando mentalmente a pergunta ‘Desde quando?’.
- Por que se assustaram? – perguntou MacGilleain e depois acrescentou como se tivesse entendido a situação estranha que havia encontrado quando entrou – Por acaso estavam fazendo alguma coisa que não deviam?
- É claro que não! – se apressou em negar o dragão e tentou mudar de assunto – E você, Adam?! O que veio fazer aqui?
- Ah, é que eu não consigo falar com o Simon e ele não tem aparecido na Academia... Pensei que talvez você o tivesse visto.
- Não o vi essa semana. – informou Doumajyd.
- O que será que ele está aprontando?... – suspirou MacGilleain.
- Ah, me desculpe. – pediu Mary retirando a sua esfera do bolso e saindo apressada para o corredor, e depois de um tempo ela voltou correndo e pediu para Doumajyd – Posso ir até Hogwarts?!


***


- Como assim ela sumiu? – Mary perguntou preocupada para a professora Karoline.
- O que será que aconteceu? – perguntou a professora em tom de lamento, colocando de qualquer maneira os potes de doces em uma caixa de encomenda – Já vai fazer uma semana.
- Uma semana?! – Mary se assustou ainda mais.
- Sim, desde o dia do Encanto que não a vejo.
Mary desistiu de apenas olhar a professora colocar os potes de forma errada na caixa, coisa que sempre era feita por Vicky, e começou a ajudá-la.
- Sabe, a Vicky parece ser uma garota forte, mas não está imune a sofrimentos.
- O que quer dizer, professora?
- Ela foi atrás do dragão dela naquele dia. E se ela recebeu um ‘não’ dele e ficou chocada... Lembra como ela ficou naquela vez?
Mary lembrava muito bem de uma Vicky que mais parecia um zumbi andando pela estufa, chorando pelos cantos por Kevin Eckheart. E isso só dobrou a sua preocupação.
Daquela vez, Vicky a tinha por perto para poder chorar. Mas e agora? Se ela havia mesmo levado um fora de Simon e voltara ao seu estado zumbificado, o que ela teria feito sem Mary por perto?


***


Ao tentar servir um prato de sopa para Doumajyd seguindo as instruções recebidas por Nana, Mary acabou se atrapalhando e derrubando todo o conteúdo do prato no dragão. - Aaaah! Quente! – Doumajyd deu um pulo da sua cadeira, derrubando-a no chão.
- O que pensa que está fazendo, sangue-ruim?! – Nana se apressou em salvar o seu mestre, fazendo toda sopa quente sumir em um estalar de dedos – Preste atenção!
- Me desculpa! Me desculpa! – Mary tentava de alguma forma remediar o que tinha feito limpando as vestes de Doumajyd com um guardanapo.
- Perdoe, senhor Christopher. – pediu a elfa com uma reverência – A sangue-ruim está estranha desde que voltou, mas Nana vai castigá-la e-
- O que aconteceu? – perguntou Doumajyd para Mary, ignorando totalmente o que a elfa falava.
- Nã-não é nada. – disse Mary recolhendo o prato vazio, procurando não olhar para o dragão e saiu logo em seguida – Com licença, senhor.
Nana analisou bem o olhar de preocupação do seu mestre que acompanhou a criada até ela sair da sala, e então fez outra reverência, que não foi percebida, e sumiu estalando os dedos.


***


Apesar de já ter tentado várias vezes durante o dia sem sucesso, Mary tentava novamente a noite contatar a esfera de Vicky. Apenas a fumaça rodopiava por detrás do cristal, o que só fazia o seu desespero aumentar.
Os pais da amiga ainda estavam para o exterior e, conforme a professora Karoline, em algum lugar que até mesmos as corujas estavam com dificuldades para chegar, o que significava que talvez eles ainda não soubessem da situação da filha.
Em um pedaço de pergaminho, Mary anotava todos os possíveis lugares onde a ela poderia ter ido, e os conhecidos dela em Hogsmeade. Os lugares onde ela costumava ir com a professora Karoline para fazer as entregas e comprar ingredientes para os doces, as lojas, os locais que elas iam quando saiam juntas, a loja de poções...
Com esse último item, Mary sentiu que um buraco se abria em seu estômago ao lembrar de algo: Nissenson também estava sumido, segundo MacGilleain. Seria possível os dois estarem juntos?
- Mary, estou entrando! – disse Doumajyd abrindo a porta do quarto-depósito.
- EIII! E-ESPERA! – ela pulou da cama, onde estava sentada com a esfera em uma mãe o pergaminho na outra, e tentou correr para a porta para impedi-lo, o que foi tarde demais – Não se entra assim de repente no quarto de uma garota! – rosnou ela – Tudo bem que a casa é sua, mas pode pelo menos bater antes?!
- Isso não importa agora. – ele fez pouco do sermão dela – Vai me dizer o que aconteceu ou não?
- O quê?
- Está na cara que aconteceu algo! – ele a empurrou de volta para trás e a fez sentar na cama e então procurou por um lugar, entre as quinquilharias do quarto, onde ele mesmo pudesse sentar – Se tiver algo que eu possa fazer, eu faço!
Mary o encarou por um momento, vendo uma cópia de Christy na sua frente. Doumajyd oferecendo ajuda de uma forma direta era algo que ela ainda não tinha visto.
- É que... – ela começou pensando bem no que iria falar – A Vicky sumiu e eu estou preocupada que possa ter acontecido alguma coisa. Ela sempre fala comigo sobre as coisas que faz, mas na última semana...
- Então vamos procurá-la!
- ... Agora? – perguntou Mary perplexa.
- Ora, já não faz uma semana? Vai esperar mais uma? – ele a pegou pelo braço a arrastou para fora do quarto – Até lá você já teria quebrado todos os pratos de sopa daqui!
Na pressa de saírem, os dois não notaram a pequena elfa enrugada ao lado da porta do quarto, que ouvia tudo atentamente.

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