Posso acreditar?



- Passei! Passei! Passei! – exclamou aos pulos a miniatura de Mary na esfera de Hainault – Eu entrei para a Academia! Acredita?!
Hainault sorriu para a esfera na palma da sua mão e disse para ela:
- Claro que acredito. Vamos poder comemorar de verdade agora, não?
Com essa pergunta, Mary ficou séria. Por um momento, ela tinha esquecido da confissão de Ryan Hainault, e também que ainda devia uma resposta para ele. Chamá-lo pela esfera tinha sido por puro impulso para contar a vitória. Então, procurando as palavras e tentando não parecer estranha, ela disse:
- Bem... Eu sempre dou trabalho para você, então não pre-
- Com quem está falando, Ryan? – inquiriu o líder do D4, tentando ver que atrapalhara a sua conversa séria que pretendia ter com o amigo.
- Com a Mary, ela entrou para a-
- O Doumajyd está aí?! – perguntou Mary o interrompendo, e parecendo ter ficado um tanto branca ao ouvir a voz do dragão.
- Está sim. Quer falar com ele?
- Não, não precisa! – disse ela depressa e no mesmo instante a sua imagem voltou a ser um redemoinho de fumaça.
- Ela desapareceu. – informou Hainault calmamente, diante da visível fúria de Doumajyd.


***


- Burra! Burra! Burra! – Mary chutava a parede de pedra da torre – Por que você teve que falar com ele justamente quando ele estava com o Doumajyd?!... Aaaahaaa... – ela escorregou no chão, finalmente sentindo o cansaço por ter corrido até ali – Por que ele teve que ser a primeira pessoa que eu pensei em contar?...
Então ela tomou um susto. A esfera em seu bolso estava esquentando novamente. Imaginando que seria o Doumajyd, furioso pelo que ela tinha acabado de fazer, ela pegou o objeto com cuidado, como se tivesse receio que ele fosse explodir. Mas a imagem que se formou na fumaça foi a de uma garota com cabelos roxos.


***


- A Weed está morando comigo desde ontem. – informou Doumajyd muito sério para Hainault.
O líder do D4 conseguiu conter toda a sua vontade de socar o amigo, repetindo para si mesmo que deveria resolver aquela situação apenas com palavras. Por isso conseguiu fazer com Hainault ficasse no restaurante para eles conversarem, mesmo depois de os outros dragões terem saído. Mas a atmosfera não estava nada boa depois do contato de Mary, e um procurara sentar o mais longe possível do outro na mesa.
Porém, Hainault não pareceu nem um pouco abalado com a novidade:
- É mesmo? – falou ele simplesmente.
- Você não está surpreso? – perguntou Doumajyd, não esperando aquela reação, mesmo do calmo Ryan Hainault.
- Eu estou surpreso.
- Não está morrendo de ciúmes?
- Estou sim.
Doumajyd o encarou, tentando entender por que as respostas dele não batiam com a sua reação.
- ...O que foi? – indagou Hainault.
- Você... Com o que me disse naquele dia, conseguiu abrir meus olhos, Ryan. Aconteceram muitas coisas em Nova York. Por causa delas, eu tentei esquecer a Weed, mas foi impossível. – ele se levantou inquieto do seu lugar na mesa – Eu quero estar com ela mais do que tudo e por isso vou encontrar uma maneira de ficarmos juntos sem causar problemas para ninguém! Mesmo se a história com a Vanderbilt não dê certo, ainda há outras maneiras de salvar o nome da minha família. – sem perceber, concentrado em seus pensamentos e no que falava, ele se sentou na cadeira mais próxima de Hainault – Se a Weed e eu continuarmos com o mesmo sentimento de quando nos separarmos, ninguém poderá nos impedir.
- Você... – começou Hainault, olhando para algum ponto indefinível pela janela do restaurante, parecendo totalmente desatento ao que o amigo dizia – Está querendo dizer que quer que eu desista da Mary?
- Simplificando, é isso sim. – respondeu Doumajyd.
- Dia do encanto.
- ...O quê? – perguntou o líder confuso.
- Amanhã é o dia do Encanto. – Hainault o encarou sorrindo e perguntou, com um leve tom de desafio – Para quem será que a Mary dará chocolates?
Doumajyd manteve o olhar firme, dizendo claramente que havia entendido a mensagem e que aceitava o desafio.


***


Depois de ter sido convocada por Summer Vanderbilt a encontrá-la em uma praça perto do hotel em que ela estava em Hogsmeade, Mary demorou um tempo em se decidir se iria ou não. Afinal, ela estava morando com o noivo dela, e sabia que um ‘culpada’ escrito em neon iria surgir na sua testa se falasse com a metamorfomaga. Mas, conhecendo a personalidade impulsiva da americana, que seria capaz de aparecer onde quer que ela se escondesse, Mary decidiu que seria melhor ir.
Por isso, lá estava ela, parada na frente da Summer Vanderbilt mais séria e triste que ela já vira. Mesmo o seu cabelo estando roxo como normalmente era nela, se podia perceber que era uma cor forçada, pois não tinha brilho algum nele.
- Eu soube do que aconteceu. – começou a metamorfomaga – Onde você está morando agora?
Ela, novamente, perguntara a que Mary menos queria que ela perguntasse.
- N-na ca-casa... d-do Ryan! – gaguejou ela falando o primeiro nome que lhe viesse à cabeça e que não fosse Vicky e que soasse como verdadeiro.
- ...Realmente você está na casa dele? – perguntou Summer, ainda com o seu tom triste – Mary... você, por acaso... não está com o Chris?
Como ela poderia saber se não havia como ela saber? Mary pensou seriamente em verificar se havia algo escrito em neon na sua testa.
- Então é isso... – concluiu ela diante do silêncio de Mary.
- Summer, eu-
- Lembra quando eu contei que o Chris havia aceitado o noivado? Você disse ‘que bom’, não é? Você disse isso porque não tinha mais nada com o Chris... Eu posso... eu posso continuar confiando em você?... Posso continuar acreditando na Mary Ann Weed?
Mary a encarou sem saber o que responder. Mas, ter apenas falado aquilo, pareceu suficiente para Summer, que saiu sem se despedir.


***


- Me desculpe por não ter encontrado com vocês para contar. – pediu Mary depois de ter contado para Vicky pela esfera sobre ter sido aprovada na academia.
- Não tem problema.
Depois de ter se encontrado com Summer Vanderbilt, Mary andou por um tempo pelas ruas, sem destino certo, apenas pensando no que deveria fazer. Toda aquela situação estava mais do que complicada e cada vez parecia piorar. Como se fosse um nó que, a cada tentativa de desfazê-lo, ficava mais complicado e impossível. Então, quando começou a escurecer, ela resolveu voltar e se abrigar no quarto-depósito.
- Aconteceu algo? – perguntou Vicky, vendo que Mary não estava radiante como ela pensava que a amiga estaria depois de ter alcançado o seu objetivo.
- Bom... aconteceu. Mas...
- Ainda muito complicado para você conseguir explicar?
Mary confirmou com um aceno de cabeça.
- Ok, eu espero até amanhã. – Vicky sorriu – Uma boa noite de sono pode ajudar a resolver.
Mary lembrou de como ficara por não ter dormido a noite anterior pensando no que faria.
- Eu estou em Hogsmeade agora. – informou Vicky – A professora Hannah está me ensinando a fazer os chocolates para amanhã!... Você vai dar chocolates amanhã, Mary?
Ela não respondeu.
- Mary... Eu já falei que talvez seja o melhor dia para você resolver uma parte dos seus problemas. Você já agüentou muito até agora e, sem a pressão da Academia, não pode mais ficar adiando.
- Eu sei, Vicky... obrigada por se preocupar.
- Então, boa noite. – ela se despediu com um sorriso de encorajamento.
Depois de guardar a sua esfera, Mary se encolheu em um canto da sua cama no quarto-depósito, olhava para o seu colar de saturno no escuro.
Vicky estava certa. Ela não poderia arrastar e acumular os seus problemas. Deveria dar uma resposta para Hainault e deveria dar uma resposta para Doumajyd, só assim poderia voltar a ser sincera com Summer Vanderbilt e com ela mesma.


***


- Então a Mary está muito confusa... – comentou a professora Hannah assim que Vicky terminou de falar com a amiga pela esfera, enquanto derretia chocolate em um caldeirão de bronze.
- É... – confirmou Vicky com um grande suspiro.
No mesmo instante, a sineta da porta de entrada tocou e vozes foram ouvidas no hall:
- É aqui mesmo?
- Não parece ser um lugar apropriado para um curso de poções...
- Vicky, continue mexendo aqui. – pediu a professora – Vou ver quem-
Mas ela não terminou o que ia dizer. Assim que saiu apressada da sala que estavam usando e viu quem estava lá, a professora desapareceu correndo para o lado oposto.
- Professora! – Vicky deixou o chocolate e correu até a porta.
- Olá! – cumprimentaram Nissenson e MacGilleain em coro.
- Ah! – Vicky se apressou em fechar a porta da sala para esconder o chocolate e perguntou espantada – O que estão fazendo aqui?!
- A Mary não tinha falado que ela iria gostar de uma visita nossa? – perguntou MacGilleain rindo.

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