Arriscando tudo por amor
Summer folheava uma revista contente enquanto esperava no restaurante do hotel em Hogsmeade, até que finalmente avistou Doumajyd chegando e o chamou acenando para ele se sentar com ela.
- Desculpe por chamá-la tão de repente. – disse Doumajyd se sentando na frente dela.
- O que está dizendo? Fiquei super feliz por ter me chamado!
- Então, eu-
- Quer beber algo? Aqui, o cardápio.
- Ah, obrigado. Eu-
- Ei! Olha só isso aqui! – em um pulo ela saltou para o lado da mesa em que ele estava com a revista – Tcharam!
Doumajyd olhou para o que ela mostrava contente. Era uma publicação especial sobre casamentos da alta sociedade bruxa.
- Já pensou onde poderia ser o nosso casamento? Eu queria que fosse em algum país estrangeiro, só nós dois. Mas nossos pais são muito chatos com isso, não é? Essas cerimônias formais e cheias de rituais são um saco. – ela folhava a revista aleatoriamente até que achou algo que lhe parecia interessante – Olha! – ela apontou para a foto de uma modelo vestindo um vestido de noiva feito por um grande estilista de Paris – Sabe, o meu vestido está sendo feito nessa mesma loja! Você está ferrado! Assim que me ver com ele, tenho certeza de que ira se apaixonar por mim!
- Summer, eu-
- Ah! Você já escolheu o que vai beber? – ela começou a acenar chamando por alguém para atendê-los.
- Não, tudo bem. Qualquer bebida está bom. Eu só-
- Eu não vou terminar com você! – declarou ela, dando um grande sorriso para ele – Se você disser que quer terminar comigo... talvez eu possa morrer.
Doumajyd a encarou chocado. Mesmo a conhecendo há pouco tempo, sabia que a garota seria capaz de fazer isso mesmo. Por isso, ele engoliu tudo o que tinha planejado falar a chamando ali.
***
- Sério?! – perguntou a pequena imagem de Vicky na esfera.
- Sério. – confirmou Mary.
- Incrível!... E o Charles?
- Ele foi junto com o restante da nossa mudança, para o litoral. Ele conversou com a sua antiga escola e, como ele já passou de ano e ganhou a bolsa, eles concordaram em liberá-lo nesse último mês... E ele também falou ’É melhor eu não estar por perto atrapalhando vocês, não é?’...
- E você vai vir para Hogwarts?
- Vou tentar encontrar algum emprego em Hogsmeade. A Christinne me ensinou como sair e entrar dessa mansão sem ser vista e, depois de passar pela ponte que divide o vilarejo aqui perto da propriedade Doumajyd, eu posso aparatar... Sua aula já está para começar, não?
- Na verdade, sim. – disse a garota rindo.
- Vou passar em Hogwarts amanhã ver se o resultado da Academia já saiu e visito vocês na estufa.
- Vamos estar esperando!
- Até amanhã. – Mary se despediu e terminou o contato pela esfera.
Então olhou em volta dando um grande suspirou. Ainda teria muito o que arrumar até poder finalmente dormir naquele lugar.
***
- Vicky? – chamou a professora assim que a garota guardou a sua esfera no bolso – A Mary encontrou outro lugar para morar?
- Encontrou sim! – respondeu a aluna contente.
- Que bom. Ela realmente é uma garota cheia de problemas...
- Agora eu já posso voltar todo o meu pensamento para a minha estratégia para o Dia do Encanto!
- Dia do Encanto?
- Sim! Definitivamente eu vou conseguir!... Sabe fazer chocolate, professora Hannah? Apesar de a professora Karoline ser especialista em doces, ela se empolga muito facilmente com coisas que envolvem romances. Até ela terminar de me ensinar, o Dia do Encanto já teria passado.
- Bom, eu sei fazer chocolates... Apesar de eu não ter boas recordações sobre essa data.
Vicky percebeu o ar triste da professora, mas conseguira a ajuda que queria e isso não a deixava pensar em mais nada no momento.
***
Doumajyd voltou para casa com um ar de derrotado. Não só não conseguira por um fim na sua relação com a metamorfomaga, como também ficara um bom tempo preso em conversas sobre como seria a cerimônia do casamento.
- Bem-vindo!
- Ah, Christy! – ele se assustou vendo a irmã sentada em um sofá, lendo calmamente o Profeta Diário – Pensei que você já teria voltado para a sua casa a essa hora.
- A Mary decidiu morar aqui.
- Ah, é? – ele retirou o seu casaco e o jogou em cima do outro sofá – ... QUÊ?!
- O resto só depende de você, irmãozinho. – ela sorriu como alguém orgulhosa do que tinha feito, deixando o jornal de lado e se levantando com a intenção de ir embora – Se esforce!
- Vai embora? – perguntou Doumajyd, ainda abobado com a notícia – É sério mesmo, Christy? Ela vai morar aqui?
- Não estrague essa oportunidade, Chris! Não pode espiar ela dormindo!
- Eu não vou fazer uma coisa idiota como essa! – disse ele subindo em cima do sofá ao invés de se sentar nele, como se não estivesse muito certo do que fazer, mas visivelmente contentíssimo – Obrigado, Christy! Você é incrível! Só podia ser a Ilustríssima Você!
Ela o puxou pacientemente de cima do sofá, como se lhe mostrasse qual era o lugar correto de se ficar, e disse:
- Antes de ficar todo empolgado, acerte-se direito com a Vanderbilt! – vendo que a alegria do irmão desaparecera instantaneamente com aquele aviso dela, ela acrescentou – Acabar a sua relação com ela e escolher a Mary significa que a família Doumajyd passará por uma grande provação, e você vai estar à frente disso tudo.
- Eu sei. – disse ele sério.
- Lembre-se que você está arriscando tudo por amor, e não se arrependa disso. Continue sendo sincero e, principalmente, prudente... Não apronte nada, hein! Não quero reclamações por parte da Mary sobre você!... Boa noite.
***
Mesmo tendo feito milagres na sua limpeza no antigo apartamento, Mary sentia que nunca acabaria de organizar aquele novo lugar. Por mais que ela arrastasse aquelas quinquilharias de um lado para o outro, outras tantas pareciam brotar das paredes. Por fim, ela decidiu apenas abrir espaço suficiente para que pudesse se movimentar e usar a cama sem ter que a dividir com uma gaiola de ouro para corujas ou com o caldeirão de pedras preciosas de algum parente antigo. E foi quando estava arrastando esse último item que ela viu uma luneta de bronze. Ela era toda trabalhada com inscrições de runas, e parecia ser muito antiga.
Mary a pegou e espiou com ela pela janela o céu estrelado lá fora. Era melhor do qualquer outra luneta que ela já havia usado em suas aulas de astronomia na escola. Podia se identificar facilmente os planetas com ela. Porém, quando encontrou Saturno, sentiu um aperto no coração. Então foi até a sua mala e pegou uma caixinha de veludo roxo que estava cuidadosamente colocada entre as suas roupas, sentou-se na cama, e abriu a caixinha, olhando para o seu conteúdo. O colar com o pingente na forma do planeta continuava tão brilhante como no dia em que ela o ganhara do líder do D4, antes dele partir para Nova York.
Inevitavelmente, ela lembrou sobre o que Christinne havia lhe contado. Assim como a bruxa, Mary não podia evitar pensar nos ‘E se...’...
E se ela simplesmente saísse dali agora e fosse para bem longe de Doumajyd?
E se ela saísse dali agora e fosse até Doumajyd?...
Definitivamente, não havia como as coisas serem resolvidas facilmente.
E ainda, havia um outro problema que ela estava adiando: Ryan Hainault e a sua declaração.
- Por que ele não falou aquilo há um ano atrás, quando ele era o meu Cavalheiro de Olhos Frios?...
Mas, mesmo ‘E se...’ ele tivesse feito a declaração há um ano atrás...
- Eu conseguiria escolher ele ao invés do Doumajyd?...
Mary se deixou cair pesadamente na cama, ainda segurando a caixinha apertada em suas mãos, e deu um grande suspiro.
***
Mary andava desanimada pelas ruas de Hogsmeade. Não conseguira encontrar nenhum emprego, e ela pensava que isso era devido ao seu estado. Não tinha conseguido dormir na noite passada por ter pensado demais, e sentia seus movimentos lentos e totalmente prejudicados pelo sono.
- Cogumelo?
Ela parou no meio da rua encarando Nissenson e MacGilleain, que lhe acenavam alegremente na entrada de um restaurante caro.
- O que está fazendo aqui? – perguntou MacGilleain – O Chris nos contou ontem que o seu prédio foi demolido.
- Quer almoçar conosco? – convidou Nissenson.
Mary olhou para o restaurante e deu um sorriso amarelo.
- Não se preocupe, é por nossa conta. – acrescentou MacGilleain.
***
Há tempos Mary não comia uma refeição tão deliciosa como aquela. Sua dieta de macarrão instantâneo e sanduíches a fazia apreciar como nunca um pedaço de carne.
- Então, onde está morando? – perguntou Nissenson de repente.
Mary quase engasgou com a pergunta. Ainda não tivera tempo de inventar alguma mentira convincente para dizer para as pessoas caso isso fosse perguntado.
- Bo-bom, eu... Estou morando provisoriamente na casa de um conhecido... A-ah, Simon! Você sabia que a Vicky está fazendo um curso sobre poções fora de Hogwarts?
- É mesmo? – ele soou interessado – Onde?
- É em um lugar aqui em Hogsmeade. Não seu direito. Tem muitos lugares assim aqui na cidade. Mas vou perguntar para ela certinho, daí você pode passar lá para ver como ela está indo!
- Tem alunas bonitas lá? – perguntou MacGilleain.
- Tem sim! – Mary achou um gancho, se conseguisse fazer com que MacGilleain se interessasse, ele não iria descansar até arrastar Nissenson até lá – E a professora também é muito bonita!
- Isso! – exclamou o dragão – Vamos lá Simon!
- Se tiver tempo, veremos... Oi, Chris!
Mary quase caiu para trás junto com a sua cadeira com o susto e então olhou para o lado, confirmando com seus próprios olhos a chegada do líder do D4.
- Oh. – cumprimentou ele, mas assim que viu Mary ali junto com eles, sua atitude mudou e ele começou a andar inconscientemente para trás – Oooh, Weed! Há quanto tempo não nos vemos! Como tem passado?! Tudo bem?! – e ele acabou tropeçando em uma cadeira, o que o fez perceber que estava se afastando.
- Ei, ei. – Nissenson se levantou e foi seguido pelo outro dragão, os dois cercando ao amigo – Que atitude suspeita é essa?
- Definitivamente aconteceu alguma coisa. – disse MacGilleain colocando a mão pesadamente no ombro de Doumajyd e o fazendo cair sentado na cadeira em que tropeçara.
- Não aconteceu nada, não é Weed?! – ele perguntou com um sorriso forçado para Mary, que por si só dizia totalmente o contrário do que ele afirmava – Não temos segredo nenhum!
- O quê?! – surpreendera-se os outros dois.
Mary limitou-se a balançar a cabeça negativamente, se criticando por ter sido boba a ponto de imaginar que Doumajyd conseguiria manter em segredo a situação dos dois.
- Então têm um segredo! – MacGilleain parecia estar se divertindo imensamente olhando de Mary para o dragão.
- E que segredo é esse? – perguntou Nissenson, agindo como o amigo.
- Por que vocês dois estão me questionando como se eu fosse um criminoso ou algo assim? Vou chamar meu advogado!
Os dois explodiram em risadas com o nervosismo do amigo em tentar fugir daquela situação, mas o que ele dissera só fez com que Mary lembrasse do que mais teria que fazer naquele dia:
- Ah! Eu tenho que ir para Hogwarts! Obrigada pelo almoço! Tchau!
E sem dizer mais nada ela saiu apressada, e isso fez com que as atenções dos membros do D4 se voltassem inteiramente para o líder.
- Chris, não há necessidade de manter segredo conosco. – disse MacGilleain, fazendo com que o amigo levantasse e sentasse com eles na mesa, no lugar em que Mary ocupara até aquele momento.
- É que, – o dragão olhou furtivamente para os lados e diminuiu o tom de voz para que somente os amigos pudessem ouvir – eu não posso deixar que outras pessoas além de vocês saibam disso, mas... A Weed está morando lá em casa agora.
- Sério? – surpreendeu-se MacGilleain, cuidando para manter o tom de voz baixo e não chamar atenção.
- E a sua mãe sabe disso? – perguntou Nissenson.
- É claro que não! Ninguém mais sabe... Por isso, dessa vez eu irei tomar cuidado. Afinal, estou arriscando tudo por amor.
Os dois se entreolharam enquanto Doumajyd sorria sozinho, com os seus pensamentos. Foi nesse instante que o último dragão chegou, como sempre atrasado.
- Olá. – cumprimentou simplesmente.
Mas fora o suficiente para arrancar Doumajyd dos seus pensamentos felizes.
***
Mary correu por todos os corredores e subiu aos tropeços todos os lances de escadas que encontrava pela sua frente. Não se importava com os alunos com quem esbarrava e com os olhares mortais que recebera das suas colegas da Sonserina ao passar por elas. Tudo o que ela queria era chegar o mais rápido possível na Torre do Desabafo, parar deslizando na grande janela aberta para a imensidão da floresta proibida e gritar:
- PASSEEEEEEEEEIIIIIIII!!!
Vários pássaros voaram assustados das árvores lá embaixo e alguns alunos que aproveitavam o sol do começo de tarde nos jardins de Hogwarts apontaram para ela rindo. Mas Mary não se importava. Tudo que existia para ela no mundo naquele momento, era o pergaminho da Academia Bruxa em suas mãos, com a palavra ‘APROVADA’ escrita em tinta verde.
Comentários (0)
Não há comentários. Seja o primeiro!