Outro lugar para morar



- Chris. – chamou Summer durante o jantar, no hotel em que estava hospedada.
- Hum. – disse ele em resposta, visivelmente não dando muita atenção para o que ela falava.
- Sabe, eu estava pensando... Nosso casamento é algo certo, não?
- Hum.
- Está me ouvindo?
- Hum-hum.
- Então não tem problema se você dormir aqui comigo hoje.
- Hum... Como?!
- Não tem problema algum, não é mesmo?
Doumajyd permaneceu a encarando, tentando adivinhar se ela estava brincando ou falando sério.


***


Durante todo o tempo em que Hainault ficou com Mary, nada mais fora dito sobre o beijo daquela manhã. Ela ficou muito mais aliviada em poder conversar normalmente com ele, como sempre conversavam. Mas não podia deixar de se sentir apreensiva, já que parecia que ele apenas decidira que não tomaria outra atitude extrema, como fizera antes.
Hainault ficou lhe fazendo companhia até que um curandeiro viesse lhe examinar pela última vez e ela foi liberada. Assim, no final da tarde, Mary pôde finalmente voltar para casa.
Ela esperou por um bom tempo por seus pais, mas como nenhum deles aparecera naquele dia, ela deduziu que eles estariam trabalhando e não poderiam sair. Então arrumou suas coisas para voltar sozinha, mas Hainault insistiu em acompanhá-la. Sem conseguir uma boa desculpa para recusar o acompanhamento, ela aceitou.
Eles aparataram em um lugar pouco movimentado perto da casa de Mary e ele a levou até a entrada e se despediu com recomendações para que ela não voltasse a passar dos seus limites.
Podendo voltar a respirar calmamente depois que o dragão fora embora, ela subiu rapidamente os lances de escadas e nem deu atenção ao fato de encontrar a porta destrancada em sua casa. O susto veio quando ela acendeu a luz da sala e a encontrou vazia.
- ...O que aconteceu?! – perguntou ela espantada andando pelo cômodo deserto sem entender.
Desesperada, olhou para a porta e confirmou o número que estava nele, então largou as suas coisas no chão e foi para a cozinha, a encontrando vazia também. Quando se virou para verificar o restante da casa, quase caiu no chão ao se deparar com seu irmão logo atrás dela.
- Que bom que voltou! – exclamou ele – Está melhor?
- Charles?! O que aconteceu?! Onde estão as nossas coisas?! Cadê o papai e a mamãe?!
- Eles não contaram para você? – pediu ele confuso.
- Contaram o quê?! O que houve?!


***


- É uma vista bonita, não? – comentou Summer Vanderbilt mostrando para Doumajyd as luzes mágicas de Hogsmeade vistas do ângulo do último andar do hotel – Em Nova York existem prédios muito maiores que esse, mas de nenhum deles pode ser ver luzes assim!
Assim como no jantar, ele não parecia estar interessado em nada do que ela dizia, e parecia estar totalmente perdido em pensamentos.
- Eu vou tomar um banho, ok? – informou ela com um sorriso, finalmente soltando o braço dele e indo contente para o banheiro – Fique a vontade!
Mas o seu sorriso desapareceu assim que ela fechou a porta. Esperou um tempo e então abriu as torneiras da banheira, deixando que ela se enchesse de água e espuma perfumada, e então voltou para a porta e ficou escutando atentamente. Não demorou muito para que ouvisse passos ligeiros e a porta do quarto abrindo e se fechando logo em seguida.
- Eu sabia... – resmungou ela se escorando na porta e se deixando escorregar por ela, até cair sentada no chão, se sentindo completamente derrotada.


***


- Desculpa por estar chamando você logo agora na sua aula, Vicky, – disse a pequena imagem de Mary na esfera de Vicky depois de lhe contar o que havia acontecido.
- Como as pessoas podem ser cruéis quando o assunto é dinheiro. – lamentou-se Vicky – Como a empresa pôde vender o condomínio tão de repente?!
- Não podemos culpá-los assim, Vicky. Eles também estão com problemas, e assim como nós, estão fazendo o possível para resolver-los.
- Para onde seus pais foram?
- Para uma vila de pescadores que eu nunca ouvi falar, para trabalharem com uns amigos.
- E você tem que arranjar outro lugar para morar até amanhã?
- Bom, pelo menos eles ainda nos deixaram esse prazo para arranjarmos um outro lugar e não nós jogaram na rua... O Charles não pode abandonar a escola dessa maneira repentina, e os exames para ele ser admitido como bolsista são nessa sexta-feira. Não podemos simplesmente tirar essa oportunidade dele. Vou tentar arranjar algum lugar para vivermos aqui, até as férias. Depois nós vemos o que podemos fazer.
- E justo agora meus pais estão fora do país... – lamentou-se Vicky.
- Não, Vicky. Vocês já nos ajudaram muito e você sabe disso. Nossa divida com vocês é gigante e não queremos dar mais trabalho.
- Sei, sei. Então vou falar com a professora Karoline! Talvez a irmã dela aí de Londres possa ajudar!
- Não se preocupe, Vicky. Nós dois vamos dar um jeito... Eu só precisa avisar de que talvez eu fique um tempo sem poder me comunicar com você, até resolver essa situação.
- Mas eu vou tentar ajudar mesmo assim, Mary! Se você for teimosa de novo, vão acabar tendo que morar embaixo de alguma ponte!
- Tudo bem, Vicky. Eu só preciso arranjar temporariamente algum lugar barato aqui em Londres.
- Com licença.
Vicky tomou um susto quando ouviu a voz da sua professora das aulas extras de poções atrás dela.
- Desculpe, professora, eu já estava voltando para a sala.
- Não é isso. – disse ela rindo com o atrapalhamento da aluna em ser pega de surpresa – É que eu acabei ouvindo um pouco da conversa e... vocês falaram de estarem procurando um lugar barato para morar em Londres?


***


Apesar de já ser madrugada, Doumajyd aparatou em Londres e seguiu pelas ruas até parar em frente ao lugar onde Mary morava. Assim como não havia movimento na rua naquele momento, também não havia nenhuma luz acesa que indicasse que alguém ainda estaria acordado na casa.
Ele ficara sabendo por Nissenson, um pouco antes de aparatar, que Mary já havia recebido alta do hospital e que estava em casa. Então, em um impulso, ele decidiu que iria vê-la. Mas, só naquele momento parara para pensar que não saberia o que dizer se ela chegasse a abrir a porta para ele.
Da última vez em que a vira, na casa de MacGilleain, ela deixara bem claro que não queria mais vê-lo. As palavras que ela dissera ainda martelavam constantemente em sua cabeça: ‘é difícil estar com você, Doumajyd, é impossível para mim... Então, eu quero terminar de uma vez. Quero passar um risco nessa parte da minha vida e começar de novo. Se eu não fizer isso... vai ser complicado seguir em frente. Mesmo ele as tendo ouvido, elas só fizeram sentido naquele dia no hospital, quando ele vira com os próprios olhos que ela realmente não precisava da sua ajuda. Que quem sempre esteve ao lado dela era Hainault. E se as coisas haviam chegado nesse ponto, só havia um culpado de tudo isso: ele próprio.
Ter que se afastar de Mary fora somente uma das conseqüências de uma palavra desnecessária sua. Só agora, ele percebia a dimensão do que um ato inconseqüente seu poderia tomar. Como podia afetar não somente a sua vida, mas a de todos a sua volta e mesmo a vida de quem ele nem conhecia.
- Ken... – murmurou ele com o olhar fixo para a janela do quarto de Mary.
Não poderia voltar atrás agora.


***


Em uma pequena mesa de centro de sala, um dos únicos móveis que haviam ficado na casa além dos do quarto de cada um, Mary e Charles dividiam o que seria o último almoço deles naquela que por tanto tempo fora a sua casa.
- Inacreditável... – murmurou ela soprando o seu pote de noodles.
Ela havia procurado durante toda a manhã por algum lugar para o qual pudessem ir, com o pouco de dinheiro que tinham, mas não conseguira encontrar nenhum.
- Mon te eocube, Ary. – disse Charles já com a boca cheia – ...As coisas vão se resolver.
- Tudo bem para o seu teste? – perguntou ela preocupada – Está preparado?
- Estou me preparando para isso há muito tempo, não se preocupe.
- Se concentre nos seus estudos. Pode deixar que eu resolvo esse nosso problema, ok?
- ...Que cheiro de queimado é esse?
- Ah, a esfera! – Mary correu para o quarto e pegou o objeto na sua mochila.
Imediatamente a imagem de uma Vicky sorridente surgiu lhe dizendo:
- Mary! Não vai acreditar no que eu consegui!


***


Naquela mesma tarde, Mary esperou ansiosamente por Vicky no lugar onde haviam combinado de se encontrarem. Um pouco atrasada, a amiga chegou acompanhada pela sua professora.
- Desculpe pelo atraso. – disse Vicky – Demorei para chegar em Hogsmeade. Mary, essa é a minha professora do curso de poções, Hannah McPherson.
- Muito prazer. – ela cumprimentou.
- Prazer. – respondeu Mary, um pouco surpresa.
Vicky havia falado que a sua professora era nova, mas agora a conhecendo, a bruxa parecia ser apenas um pouco mais velha do que elas. Além disso, ela era muito bonita e tinha um ar de realeza, muito semelhante ao que Mary percebera uma vez em Karina Crowley, no Totalmente Bruxa. Porém, ela se vestia habilmente como uma trouxa, o que a tirava do patamar de garotas ricas e esnobes, como as que freqüentavam Hogwarts.
- É aqui perto. – a professora indicou o caminho e começou a explicar enquanto guiava as duas pelas ruas estreitas – Meu pai tem uma imobiliária de residências mágicas em toda a Inglaterra. Eu trabalho lá durante a semana e, quando ouvi a Vicky falando que precisa de um lugar barato e urgente, pensei que poderia ajudar.
- Mas... realmente é de graça? – perguntou Mary.
- Sim. É um prédio muito antigo e os encantamentos anti-trouxas já não estão mais fazendo efeito. Por isso logo ele será demolido para a construção de um novo. Enquanto isso, vocês podem viver lá... O lugar está meio sujo e é apertado. Mas como é provisório...
- Mesmo que seja sujo e apertado, tudo bem! – apressou-se em dizer Mary – Na situação em que estamos vai ser perfeito!
- Ainda há outros moradores nos andares mais baixos. Vocês podem ficar em um dos dois apartamentos do último andar, que estão vazio... – então ela parou de repente – É aqui.
Mary teve que obrigar o seu rosto a não se deformar em uma careta de espanto ao ver onde a professora indicava. Ela nunca tinha visto um prédio mais acabado do que aquele. Caindo aos pedaços e precisando de uma pintura era o mínimo que ela poderia dizer com o seu choque da primeira visão.
- Incrível como ele ainda está de pé, não? – comentou a professora – Só mesmo com magia... Não se preocupe que ele não vai ruir de repente, tomamos providências quanto a isso.
- É perfeito. – disse Mary, disfarçando o susto que levara com essa última afirmação da bruxa – Muito, obrigada, senhorita McPherson.

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