Preocupado?
- Os pais da Mary o quê?! – perguntou Doumajyd quase derrubando as amostras de ingredientes de poções que estavam no balcão que separava ele e MacGilleain de Nissenson.
- Foi o que a Vicky me contou agora a pouco. E ela também disse que uma conhecida sua aqui de Hogsmeade conseguiu um lugar para eles ficarem temporariamente e que ela está se mudando hoje.
- ...Sério?! – perguntou Doumajyd, fracassando em tentar soar indiferente e apenas com um leve interesse no assunto.
Os outros dois o encararam, como se perguntassem com todas as palavras ‘Por que está preocupado? Não é mais da sua conta, não?’. Percebendo isso, Doumajyd desistiu de tentar não parecer preocupado e praticamente agarrou Nissenson por cima do balcão, desesperado para saber os detalhes:
- Mas como?! Os pais dela fugiram?! Abandonaram a Mary?! Não a querem mais como filha por ela ser uma sangue-ruim?!
- Como podem não querê-la por isso? – perguntou MacGilleain descrente.
- Não é isso! – respondeu Nissenson se livrando das garras afobadas do amigo – A empresa em que o pai da Mary trabalhava faliu e você já conhece o problema de dívidas da família dela, não? Foi por isso que ela foi internada, por trabalhar demais tentando ajudar a resolver a situação. Como a empresa decidiu vender o condomínio, eles resolveram ir trabalhar em uma vila de pescadores para tentar ganhar algum dinheiro. Assim que eles conseguirem quitar as dívidas eles voltam.
- A Mary e o irmão não puderam ir junto por causa dos exames. – ajudou a explicar MacGilleain.
- Ah... é? – novamente o líder do D4 tentou voltar a sua pose de indiferente.
- Sabe, Chris. – continuou MacGilleain – Será que a sua mãe não está por trás disso novamente?
Pela expressão de Doumajyd, e pelo fato de ele ter saído correndo no mesmo instante, os outros dois podiam deduzir que ele pensava que ela mais uma vez a mãe estava mesmo destruindo a vida dos Weeds.
***
Depois de ter trazido a pouca mudança que tinham para o novo apartamento com a ajuda solidária de antigos vizinhos, Mary começou a parte mais difícil: limpar o apartamento. Ele estava tão sujo e empoeirado quanto sem tinta e reboco por fora.
Ela abriu todas as janelas, tirou todo o entulho e o levou para fora, varreu, tirou o pó, limpou as paredes, esfregou cada canto do banheiro e da cozinha, mas mesmo assim estava muito longe de terminar. Quando começara a limpar os vidros das janelas, ela ouviu uma corrida desembalada pelas escadas e logo alguém surgiu na porta gritando:
- Oláááá! Noooosa, que sujo!
- Summer Vanderbilt? – Mary se espantou, ao mesmo tempo em que se segurou para não acabar caindo pela janela com o susto.
- Já te disse para me chamar só de Summer! – reclamou ela tentando passar pelas caixas da mudança que bloqueavam o caminho para poder chegar até ela – Que tal algo mais fácil, então? Pode ser Summy! Meu pai me chama assim em casa e eu gosto!
- Como ficou sabendo que eu estava aqui? – perguntou Mary já deduzindo uma resposta.
- Eu perguntei para a Vicky! A principio, ela não queria me contar, mas quando eu falei que poderia ajudar com a limpeza, ela aceitou... Nooosa, é mesmo verdade que você está fazendo tudo sem a varinha!... Olha o que eu trouxe! Eu passei em um mercado trouxa aqui perto e achei que isso poderia facilitar! – ela largou diante de Mary várias sacolas repletas com material de limpeza e outra com comida.
- Ah... obrigada, Summer.
A metamorfomaga deu um grande sorriso como resposta e começou a olhar todos os cantos do apartamento, comentando como ele estava realmente sujo e perguntando o que ela poderia fazer.
***
Na saída da Academia Bruxa, Hainault estava seguindo calmamente a pé para a sua casa, já que ela era perto, quando uma voz conhecida o chamou:
- Ryan!
- Sharon? – ele se virou rapidamente procurando pela bruxa entre as outras pessoas na rua, e logo a avistou abrindo caminho.
- Voltei! – exclamou ela ao alcançá-lo e lhe dando um abraço apertado – Como está?
- Há quanto tempo! Por que não me avisou que já estava aqui?
- Queria lhe fazer uma surpresa!... – ela o soltou e procurou em volta – E onde estão os outros? O D4 não andam mais juntos na Academia?
- Adam e Simon voltam pela rede de Pó de Flu para Hogsmeade – ele explicou – e o Chris estuda em Nova York, apesar de ele estar aqui agora... Dessa vez vai ficar bastante tempo?
- Na verdade, não. Tenho alguns assuntos para resolver no Ministério, e a Christinne está me ajudando. Estou hospedada na casa dela. Mas logo tenho que voltar para a França... E a Mary? Como ela está?
- Com problemas, como sempre. – ele riu, dando a resposta – Que tal irmos para algum lugar para podermos conversar melhor?
- Ótima idéia!
***
O bolo de chocolate com morango que Summer havia trazido para elas comerem depois da faxina estava, com a ajuda da fome e do cansaço de Mary, especialmente delicioso. Porém, era difícil para ela comer enquanto ouvia o desabafo da metamorfomaga:
- Então eu deixei o barulho de água jorrando na banheira e fiquei esperando. Eu suspeitava desde o começo que ele iria embora... E advinha?! Ele foi mesmo!
Summer havia lhe dado uma deixa, esperando que ela se surpreendesse e dissesse alguma coisa contra Doumajyd, mas tudo o que Mary conseguiu dizer foi:
- ...É mesmo?
- Mary, antigamente, o Chris gostava de você, não?
Eis uma pergunta que ela não queria ouvir naquele momento.
- Bem... – procurou por uma resposta que fosse conveniente.
- Aconteceram muitas coisas entre vocês, não?
Realmente haviam acontecido muitas, muitas coisas entre eles, e isso ela não podia negar.
- Sim, mas...
- Então me diz como você fez para seduzir o Chris.
Mary quase se engasgou com o pedaço de morango que estava mastigando.
- Ah! – exclamou a outra – Ficou nervosa! Então aconteceram muuuitas coisas mesmo, não?!
- Não nesse sentido que você está pensando! – Mary apressou-se em explicar, mas não conseguiu ir além disso.
- Sabe... Esse apartamento me traz lembranças antigas. – começou Summer olhando em volta e mudando repentinamente de assunto.
- Lembranças antigas? – Mary deu corda para que ela falasse e desistisse de lhe perguntar coisas sobre o seu relacionamento com Doumajyd.
- Estranho... nunca estive nesse lugar... Ah! Agora lembrei! Na nossa casa de praia nos Estados Unidos temos um corujal que era assim! Tinha o mesmo tamanho e era tão sujo quanto esse apartamento!
- Corujal? – Mary não sabia se dava razão a ela ou começava a chorar com aquilo.
- É... Viu, me conta como eu faço para aquele idiota do Chris se apaixonar por mim. – pediu ela fazendo um beiçinho de choro.
Mary deu um grande suspiro enquanto mordia o seu garfo, pensando no que falar.
***
Diante da invasão do seu escritório pelo filho, a senhora Doumajyd limitou-se a virar a página do Profeta Diário e perguntar:
- O que foi agora?
- O que você fez com o pai da Weed?! – exigiu ele batendo as mãos na mesa da mãe e fazendo vários objetos caírem no chão.
- O pai da sangue-ruim?
- Não se faça de desentendida! Você tem alguma coisa a ver com a falência da empresa em que ele trabalhava?
Compreendendo o que o filho falava, a bruxa riu e perguntou:
- Fazer algo com aquela família agora me traria algum mérito? Não tenho culpa da falta de sorte dos trouxas!
- Realmente não fez nada? – perguntou ainda ele, desconfiado.
- Não tenho tempo para ficar discutindo coisas sem importâncias com você, Christopher!
Com a negação e o pouco causo da mãe, Doumajyd lançou um olhar inquisidor para o secretário, que apenas balançou a cabeça negativamente.
- Entendi. – disse ele se resignando e saindo do escritório.
- Espere. – ordenou sua mãe.
- O que foi? – perguntou ele grossamente, já que agora não tinha nenhum suspeito e isso lhe incomodava.
- Está correndo atrás dela de novo, Christopher?
- É claro que não! – ele se apressou em negar e saiu batendo a porta.
- ... Richardson. – chamou a senhora Doumajyd – Fique de olho nele.
- Como quiser, senhora.
***
- OIÊÊÊÊ!!! – Summer entrou correndo no quarto de Christopher, segurando um espanador e um balde repleto com material de limpeza – Vim fazer uma limpe...za...
Vendo que o quarto estava vazio, e sabendo que o dragão não estava no restante da casa, ela largou tudo o que trouxera no chão e se sentou na cama desanimada.
Tendo passado aquela tarde com Mary, ela achava que tinha descoberto o que tinha nela que encantara Doumajyd. Mesmo sendo uma bruxa, ela não usava a magia para resolver seus problemas, e isso a tornava forte. Então pensou que talvez, se mostrasse ao seu noivo como ela também poderia fazer as coisas sem uma varinha, ele passasse a notar mais nela.
Mas do que adiantava agora se ele não estava ali?
Então, arregaçando as mangas, ela começou a limpeza mesmo assim, esperando que ele notasse a diferença quando chegasse.
***
Com a ajuda de Summer Vanderbilt, Mary conseguira terminar a faxina e ainda teve tempo de preparar a carne que a amiga tinha trazido para ela. Assim, quando Charles voltou, um cheiro bom preenchia todo o apartamento.
Ela arrumou a pequena mesinha de sala e serviu o jantar para os dois.
- Pronto! Para que você esteja forte amanhã e dê o seu melhor nas provas!... Não garanto que esteja gostoso, mas...
- Pelo cheiro está ótimo, Mary! – agradeceu ele admirando o que a irmã fizera – Com certeza vai me ajudar nas provas!
- Então... atacar!
Com o tamanho da fome dos dois, nenhum deles reparou em uma sombra que tentava espiar lá dentro pelo vidro esfumaçado da porta do apartamento.
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