Impossível para mim



- Bem vindas!
Mary e Vicky ficaram paralisadas por um tempo, sem conseguirem dizer uma palavra que fosse diante do que viam. A moça que viera recepcioná-las na entrada da casa dos MacGilleain não era bem o que elas esperavam para a famosa família de tradição nas artes das trevas.
Ela usava um vestido branco rodado e repleto de ficas e laços rosados. Tinha volumosos cabelos cacheados que estavam presos com uma fita, também rosa, nos dois lados da cabeça. Nos braços ela agarrava um gato de pelúcia branco e felpudo. E ela dera as boas vindas com tanto entusiasmo que Mary teve quase certeza que o próximo passo dela seria pular nos pescoços das duas para um grande abraço. Mas, para seu alívio, ela apenas indicou o caminho para que elas entrassem.
- Com licença. – disse Mary com um sorriso amarelo, entrando e sendo seguida por Vicky.
Então, seus queixos caíram e a surpresa que tiveram com a visão da moça foi completamente abafada pela surpresa com a decoração da casa. Para onde elas olhassem, haviam balões, flores e bichinhos de pelúcia, todos eles brancos ou com vários tons de rosa. Todo o resto, desde o teto até o chão, era branco. Os móveis, da mesma cor, eram finos e delicados, e haviam várias peças de porcelana espalhadas pelo hall de entrada e por todo o grande salão por onde passaram.
Diante de tudo isso, Mary teve a estranha sensação de ter encolhido e entrado em de uma finíssima casinha de bonecas.
- Viemos ao lugar certo? – perguntou baixinho uma Vicky tão perdida quanto ela.
- É a primeira vez que o Adam convida amigas para vir aqui! – disse a moça sorridente lhes indicando o caminho pela casa.
- Que moça, bonita, não? – comentou Vicky mais uma vez baixinho.
- E que casa incrível, não? – adicionou Mary.
- Suas amigas chegaram, Adam! – anunciou a moça parando diante de uma grade porta de madeira branca.
A sala que ela indicava era no mesmo estilo que o resto da casa, com a diferença de ter grandes janelas que davam uma visão privilegiada para um imenso jardim de rosas bem cuidadas e um gramado vistoso.
- Olá! – Adam pulou do sofá em que estava estirado, parecendo que estivera extremamente aborrecido até elas chegarem, as cumprimentando e indicando o outro sofá na frente do seu – Podem ficar a vontade, o Simon já deve estar chegando.
- Querem um chá? – perguntou a moça assim que as duas se sentaram – Eu assei biscoitos! Querem experimentar?
- Tudo bem, não precisa. – disse MacGilleain voltando ao seu estado aborrecido – Elas ficarão felizes se as deixarem em paz.
- Não fale assim, Adam! – quase chorou a moça, se agarrando mais ainda ao seu gato de pelúcia – Eu me esforcei para alegar os seus amigos! Fiz biscoitos com tanto carinho! – seus olhos começaram a brilhar com lágrimas e o seu sorriso foi trocado por um beicinho.
- Ok, ok, já entendi. – MacGilleain revirou os olhos, fazendo pouco caso do que ela dissera.
- Eu quero biscoitos! – se apressou em dizer Mary ao ver que ela começaria a soluçar.
- Eu também adoro biscoitos! – ajudou Vicky.
- Verdade?! – o rosto da moça voltou a se iluminar e as lágrimas sumiram instantaneamente – Então esperem um minuto que eu já trarei! – e saiu feliz, quase dando pulinhos pelo caminho.
- Ah, droga... – lamentou –se MacGilleain – Ela vive fazendo isso... Desculpe se ela assustou vocês com esse jeito estranho. Infelizmente ela é sempre assim.
- Não precisa se desculpar por isso. – disse Vicky.
- Ela é muito bonita. – comentou Mary – É sua irmã?
- Não, é minha mãe.
As duas o encararam como se não tivessem compreendido o que ele falara.
- É brincadeira, não é? – perguntou Mary rindo.
- É por isso que eu quase não venho para casa e prefiro não chamar meus amigos para vir aqui. – comentou ele.
- ADAAAAAAAM!!!
Duas figuras pularam de trás do sofá em que o dragão estava e se agarraram ao pescoço dele, quase o fazendo tombar para frente. Quando ele conseguiu recuperar o equilíbrio foi que Mary e Vicky puderam ver que aquele ataque repentino viera de duas menininhas. Elas eram idênticas, e pareciam duas miniaturas da mãe de MacGilleain, inclusive nas roupas.
- Você irá ficar com a gente hoje, não vai Adam? – perguntou uma delas.
- Quem são essas estranhas? – perguntou a outra lançando um olhar mortal para as visitas.
- São minhas amigas. – ele explicou.
- São realmente suas amigas? – perguntaram as duas, apertando ainda mais o abraço no pescoço dele.
- São sim. De Hogwarts... – ele tentou se soltar das garras das meninas e então disse para as outras duas, que se limitavam a assistir a cena – Desculpem, são minhas irmãs. Gêmeas.
- Que gracinhas! – exclamou Vicky – Qual o nome de vocês?
- Ammy MacGilleain. – disse a que estava do lado direito.
- Anny MacGilleian. – disse a do lado esquerdo.
- Prazer em conhecê-las. – cumprimentou Mary.
- Vocês não podem! – advertiu Anny em resposta.
- Não podem ficar com o Adam! – acrescentou Ammy – Ele vai se casar comigo!
- Não! Ele vai se casar comigo! – falou Anny.
- Não comecem! – Adam interviu, como alguém que tinha muita prática em lidar com a situação – Vão ajudar a mamãe a trazer os biscoitos.
- NÃO QUERO! – as duas gritaram, voltando a sufocá-lo com abraços mais apertados.
- Ei, as duas! – chamou a mãe de MacGilleain voltando para a sala sendo seguida por uma mesa com rodinhas, repleta com pratos de biscoitos coloridos, pedaços de bolo e com xícaras de chá – Não terminaram de comer seus pedaços de bolo! Voltem e terminem!
- Queríamos ver quem era... – choramingou Anny, soltando o irmão e indo para onde a mãe indicava.
- Não podemos deixar qualquer uma ficar com ele. – justificou-se Ammy, fazendo o mesmo.
- Fiquem a vontade. – disse a bruxa com um imenso sorriso, indo atrás das filhas logo em seguida.
- Inacreditável... – murmurou Mary, vendo as três saírem.
- Agora vocês entendem porque eu prefiro mulheres mais velhas? – perguntou MacGilleain rindo pela surpresa delas.
As duas concordaram, se servindo dos biscoitos.
- Oi, Adam! – cumprimentou Nissenson entrando sem cerimônias, como alguém que já fosse de casa.
- Oi! – MacGilleain levantou em outro pulo e foi receber o amigo.
- Oi, Simon! – Vicky quase pulou também para receber o dragão, mas foi segurada por Mary.
Nissenson, vendo Vicky lhe acenando alegremente do sofá, deu um sorriso amarelo e perguntou entre os dentes para o amigo ao seu lado:
- Por que ela está aqui?
- Ela queria vir aqui em casa também, então eu concordei... não podia?
- Deveria ter me avisado antes! – reclamou ele baixinho – Se eu soubesse não teria vindo! – e deu mais um sorriso amarelo para as duas, depois deu meia volta e saiu sem dar explicação.
- Ei, Simon! – MacGilleain ainda tentou chamar, ao mesmo tempo em que Vicky passava correndo por ele com Mary logo atrás pedindo para ela não ir.


***


Doumajyd entrou sem bater na casa dos MacGilleain, como era costume dele e dos outros dragões, pois sempre eram bem recebidos pela senhora MacGilleain a qualquer hora. Mas dessa vez, assim que entrou, um Nissenson apressado passou por ele.
- Está indo embora? – perguntou o líder do D4 confuso.
- Tenho uma coisa importante para fazer na loja. – explicou ele rapidamente e saiu – Até mais!
- Espera, Simon!
Doumajyd teve que se espremer contra a parede para não ser atropelado pela amiga estranha de Mary, quando ela passou desembalada chamando pelo dragão.
- O que está acontecendo aqui hoje? – resmungou ele quando a porta se fechou com um estrondo.
Mas mal ele voltou para o seu caminho quando alguém bateu nele e os dois caíram no chão.
- NÃO OLHA POR ON... Weed?
Mary o encarou, tão surpresa quanto ele por se encontrarem ali.
- Ah, você chegou, Chris! – exclamou MacGilleain aparecendo no hall e se deparando com os dois no chão.


***


MacGilleain estava jogado no sofá branco da sala comendo pacientemente os biscoitos da sua mãe quando o último convidado apareceu.
- Olá! – cumprimentou Hainault – Desculpe por estar atrasado.
- Oi. – o anfitrião apenas ergueu a mão, demonstrando já ter desistido de fazer a recepção.
- Onde está todo mundo? – perguntou Hainault pegando um biscoito na mesa com rodinhas e olhando em volta a procura dos outros.
- Acho que todos têm muita coisa para resolver... – comentou MacGilleain indicando a grande janela de vidro, que dava visão para o jardim.
Lá, sentados em uma mesa de chá em baixo de uma grande árvore, estavam Mary e Doumajyd, tentando ter uma conversa ao mesmo tempo em que mantinham a maior distância possível um do outro.


***


- Sobre o outro dia... – começou Doumajyd, mas não terminou.
- Eu vi você e a Vanderbilt juntos. – disse Mary, se surpreendendo com o tom calmo e indiferente que usou para falar.
- Na verdade, aquilo foi-
- Ela é uma boa pessoa. – Mary o cortou – Apesar de ser uma bruxinha rica, ela não é como as alunas esnobes de Hogwarts. Ela é realmente perfeita para ser a sua noiva, não? A altura para substituir Karina Crowley. Sua mãe deve estar feliz.
- Não, – ele tentou continuar o que estava dizendo – eu chamei a Vanderbilt naquele dia porque-
- Já chega. – pediu Mary respirando fundo para dizer isso – Não quero ouvir. Não há mais nada para se falar.
Doumajyd não insistiu, permaneceu olhando para ela, como alguém que não concordava com o pedido, mas cedia.
Não havia melhor momento do que aquele para resolver de vez aquela situação entre eles. Seus exames seriam no próximo final de semana, e Mary queria mais do que nunca dar um ponto final para essa história e poder tirar um peso da sua vida. Então, se concentrou em um ponto qualquer da grama aos seus pés e tomou coragem para falar:
- Mesmo quando estávamos separados, eu acreditei na sua promessa, achei que você voltaria. Eu pensava que apesar da distância e da falta de comunicação, nós ainda tínhamos uma relação... Mas me enganei, não?... Sabe, há pessoas que terminam, mas continuam com a amizade para sempre, e eu pensei nisso... Posso ser amiga do resto do D4, mas... realmente é difícil estar com você, Doumajyd, é impossível para mim... Então, eu quero terminar de uma vez. Quero passar um risco nessa parte da minha vida e começar de novo. Se eu não fizer isso... vai ser complicado seguir em frente.
- Mary, eu... – foi a vez de ele respirar fundo, e se levantou para continuar – Eu preciso falar direito com você!
- Me desculpe por te o chamado de repente naquele dia! – ela também se levantou, novamente não dando chance para que ele falasse – Prometo que não vou mais fazer isso! Se quiser... – ela o encarou novamente e tentou dar um sorriso alegre – eu devolvo a esfera.
O dragão manteve a expressão séria. A mesma que ela tinha visto aquela vez em Nova York, quando ele lhe disse para ir embora com cuidado, e isso foi demais para Mary. Apesar de todo o seu esforço, manter o sorriso diante dele foi impossível, então só havia uma saída:
- Preciso voltar para a escola. NIEMs, sabe?... Adeus. – e ela saiu, sem mais uma palavra, e também não ousando olhar para trás para ver qual havia sido a reação do dele.


***


Da janela da sala, Hainault observou todo o desenrolar da conversa entre Mary e Doumajyd. Apesar de não ouvir nenhuma das palavras que foram ditas, ele podia deduzir perfeitamente o que estava ocorrendo.
Quando Mary saiu do jardim com a intenção de ir embora, ele pôde ver que ela chorava, mesmo mantendo sua expressão de teimosamente decidida. Então sem pensar duas vezes ele a seguiu. Porém, parou quando estava quase para alcançá-la já no lado de fora da casa. Pensou que, talvez naquele momento, seria melhor deixá-la sozinha.
Se a conversa que aqueles dois tiveram no jardim fosse a mesma que ele imaginou, ela tinha se livrado de uma pedra no seu caminho, e finalmente poderia se esforçar com seus estudos. Definitivamente, aquele não seria o momento ideal para ele se colocar no caminho dela.

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