Somente para você, a verdade
- Está realmente tudo bem? – perguntou Christinne preocupada, observando enquanto uma elfa fazia um curativo no braço de Mary, único lugar que não pôde ser curado totalmente com magia – Como eles a machucaram?
- Está tudo bem, Christy. Esses machucados são do pessoal de Hogwarts... desculpe por isso. – pediu ela sem graça.
Depois de tê-la resgatado com a ajuda de aurors do Ministério, Christinne a levara para a sua casa em Londres, onde estavam agora. Além de curar seus machucados, Christinne também cortara o seu cabelo, para poder reparar de alguma maneira o estrago que os seqüestradores haviam feito. Agora Mary teria que voltar a se acostumar com o mesmo corte que usava quando tinha seis anos de idade: acima dos ombros e com franja.
A bruxa contara para Mary que havia recebido uma coruja em sua casa com a carta e o seu cabelo, e que nela Jheremy pedia para que ela avisasse seu irmão sobre o seqüestro. Porém, como Doumajyd estava incomunicável por algum motivo, ela decidira proceder por conta própria.
- Ainda está doendo?
- Um pouco... – confessou Mary segurando o braço.
Seus ferimentos podiam estar curados, mas algo doía muito mais. Jheremy lhe enganara. Era mais uma pessoa que ela considerava seu amigo que a havia enganado. Mary se sentia miserável e começava a pensar seriamente que fosse algum tipo de maldição que alguém havia lhe jogado.
Percebendo o semblante triste da garota, Christinne anunciou para tentar reverter a situação:
- Muito bem! Vamos comer alguma coisa gostosa antes de você voltar para o castelo!
Mary a encarou surpresa e a bruxa apenas sorriu:
- Está com fome, não está?
***
- Essa casa é enorme! – comentou Mary depois de ter seguido Christinne até a sala de jantar – E muito bonita!
- Gostou mesmo? – perguntou a bruxa se mostrando empolgada com o comentário – Na verdade foi meu marido que escolheu! Como fica perto do Ministério, nós podemos nos ver mais freqüentemente, apesar de nossos horários. No momento ele está viajando a trabalho e só deve voltar no final de semana.
Assim que se sentaram à mesa, imediatamente um elfo aparatou e fez toda a comida que havia preparado surgir com um estralar de dedos, sumindo logo em seguida com uma reverência.
- Uau... – foi tudo o que Mary conseguiu dizer diante de tanta fartura preparada apenas para as duas.
- Fique a vontade! – com um gesto Christinne indicou toda a mesa.
- Mas isso é muito, eu-
- Quando eu tinha a sua idade comia isso tudo facilmente! – declarou a bruxa orgulhosa, cortando o que ela diria.
- E ainda tem essa forma? – perguntou Mary se servindo e as duas riram – Huuummm, que gostoso!... Eu realmente não sei o que fazer, Christy. Além de me salvar e curar meus machucados, você ainda me oferece esse banquete!
- Eu já não falei que você é como a minha irmãzinha?... E isso também é uma maneira de me desculpar.
Mary a encarou sem entender.
- Pelo Chris. – explicou a bruxa – Sei que ele está sendo ruim para você. Não sei o que ele disse em Nova York, mas... Deve ser mais um dos caprichos dele! – concluiu ela como se realmente estivesse buscando uma desculpa pelos atos do irmão – Ele deve estar confuso longe de você e com a influência da minha mãe. Mas espere só! Daqui alguns dias ele volta voando de lá pedindo perdão! Você vai ver! – ele finalizou em um tom de absoluta certeza, com um imenso sorriso.
- Sabe... – Mary começou sem jeito – Eu vou tentar esquecer.
Foi a vez de Christinne a encarar sem entender, parando a meio caminho de levar a comida a boca.
- Ele me negligenciou durante todo esse tempo. Não sei o motivo, mas... cansei de esperar. Eu não sou do tipo capaz de esperar eternamente, entende? Por isso decidi ir para Nova York... Mas quando finalmente o encontrei e nós conversamos foi... desanimador. – ela percebeu a própria tristeza em falar e rapidamente tentou se mostrar indiferente – Mas agora, quando penso que não vou mais ser mandada por ninguém e posso fazer o que bem entender, fico aliviada!... Doumajyd tem a vida dele e eu a minha. Cada um em seu mundo. Eu me enganei por um tempo, mas novamente vejo que nunca daríamos certo. A importância que damos as coisas são totalmente diferentes!... Eu demorei muito tempo para perceber como não daria certo...
As duas ficaram em silêncio, pensativas, mas Christinne estava visivelmente com um ar de desapontada.
- ...Me desculpe, Christy. – murmurou Mary ao perceber isso, se sentindo culpada.
- Por que está pedindo desculpas?
- Depois de tudo o que você fez por mim, eu estou desistindo... De verdade, me desculpe.
- Você não precisa se desculpar, Mary. Não importa se você esteja com o meu irmão ou não, eu sempre vou te considerar, por tudo o que fez. Se você estiver feliz, está bom para mim.
Mary apertou os talheres com força nas mãos, se segurando para não chorar. Realmente, não era nada fácil estar falando aquilo, e a situação não era aliviante como ela tentava afirmar.
***
Christinne havia informado Hogwarts da situação de Mary e de que a levaria de volta para a escola naquela noite. Então, antes do horário estabelecido para os alunos estarem em seus quartos, ela aparatou com Mary na frente dos grandes portões.
- Obrigada por tudo, Christy. – ela agradeceu mais uma vez.
- Boa sorte com suas provas de admissão na Academia, Mary. Eu tenho confiança em você e nos seus esforços!
- Boa noite. – ela despediu-se.
A bruxa observou a garota caminhar em direção aos portões, mantendo uma idéia fixa na cabeça: iria voltar para Nova York e iria tirar a limpo aquela história de seu irmão ignorando Mary. O conhecia muito bem e ele nunca fora tão sério antes em relação a alguma coisa como quando decidira naquele relacionamento, e deveria haver algo muito errado por trás disso.
Organizando mentalmente o que faria no dia seguinte para poder providenciar sua viagem, ela deu as costas para o castelo e tomava distância para poder desaparatar, quando:
- CHRISTY!
Ela ouviu a voz de Mary em um grito desesperado e os passos da garota soaram vindos correndo na sua direção. Assustada, a bruxa se virou e se deparou com uma Mary em lágrimas, que se atirou nos seus braços soluçando.
- O que foi?! – perguntou ela a abraçando e olhando em volta, verificando se havia algum perigo.
- Eu... – começou Mary, entre um soluço e outro, se afundando nas vestes da bruxa, ficando uma cabeça mais baixa que ela – eu... só para você... só para você eu vou contar a verdade, Christy!.. Eu sempre, sempre... sempre pensei nele! A todo o momento!... Por mais que eu tente me concentrar em outra coisa, Doumajyd sempre está nos meus pensamentos!... Eu penso tanto e não vejo mais como poderia ser minha vida sem ele!... Ainda agora, depois de tudo o que aconteceu, eu ainda quero ficar com ele e não sei o que fazer!... Mesmo pensando em desistir eu não consigo, e me sinto patética por isso! Eu chego a me odiar por estar sendo assim!... Mas, mesmo gostando tanto dele, não posso continuar dessa maneira!... Por isso me desculpa! – e ela não conseguiu falar mais nada depois disso.
Christinne a abraçou mais forte ainda, não podendo fazer nada para consolá-la.
***
Doumajyd entrou bruscamente no escritório da mãe, em Nova York, e perguntou de uma forma que mostrava toda a sua impaciência por estar ali:
- O que quer?
- Vamos voltar para a Inglaterra. – anunciou a senhora Doumajyd.
- Por quê?! – perguntou ele surpreso – O que está planejando?
- É uma ordem! – sibilou ela com um olhar ameaçador por cima dos óculos usando um tom que cancelava qualquer inicio de discussão.
***
Finalmente janeiro chegava ao fim, e com isso a paisagem em volta do castelo ia começando a mudar.
Depois do incidente com Jheremy, que ficou conhecido por toda a escola, as agressões contra Mary pararam totalmente. Porém, a atmosfera entre ela e os outros alunos ainda estava bastante pesada, já que eles se sentiam ofendidos por terem sido enganados e a culpavam por isso, mesmo ela não tendo culpa alguma. Porém, ela já podia viver normalmente em Hogwarts, sem ser atormentada.
Mary voltara à sua rotina de estudos e tentava pensar somente nisso. Fora dessa meta, ela continuava ajudando nas estufas, onde aproveitava para poder ficar um tempo com Vicky e a professora Karoline, e onde sempre podia se distrair e encontrar um motivo para sorrir.
Isso era exatamente o que ela estava tentando fazer ao perguntar depois de um tempo de silêncio em que cada uma se concentrava em seus afazeres na finalização dos doces:
- Professora, depois que a senhora voltou daquela viagem, não tem mais falado do seu passado. Aconteceu alguma coisa?
- Alguma coisa? – a professora parou de rotular os seus doces e olhou de uma ajudante para a outra – Vocês querem dizer o homem que eu amava?
- É mesmo, professora. – ajudou Vicky, em tom de protesto – Nós ficamos sabendo de repente que a senhora era casada e mais de repente ainda viaja atrás do seu marido! Depois volta como se nada tivesse acontecido e não fala sobre isso!
- Ah, não tem jeito... – murmurou a professora continuando distraidamente o seu trabalho – Essas meninas ficam me fazendo perguntas constrangedoras...
- E então? – Vicky parou de fazer os laços para os potes e cruzou os braços, esperando.
- Aquele bobo... – começou a professora em um tom amargurado – Parece que ele cansou de esperar por mim.
- Cansou? – perguntaram Mary e Vicky juntas.
- Sim, cansou. Nós nos divorciamos de vez e ele até já está planejando casar com uma outra... – então ela olhou firmemente para as ajudantes, como se estivesse decretando uma lei que as duas deveriam seguir fielmente – Vocês têm que ficar perto de quem amam! Se vocês se distanciarem, o coração também se distancia, entenderam?!
As duas balançaram as cabeças afirmativamente, nem pensando em discordar dela.
- Agora continuem com o trabalho! Sem perder mais tempo com histórias do passado!
Mary e Vicky se entreolharam, cada uma com a sua própria idéia a respeito do assunto. A primeira pensando em sua própria situação de corações que mudam por causa da distância, e a segunda sobre como acabar de vez com a sua distância.
***
- Oláááá!
Nissenson quase caiu por detrás do balcão da loja de seu pai com o susto que levou ao ouvir a voz de Vicky surgindo de repente pela porta.
- O que está fazendo aqui?! – perguntou ele irritado, fechando com força o livro antigo de poções que estava estudando.
- Vim te visitar! – defendeu-se ela – Vem, Mary, pode entrar, ele está aqui.
- Ah, a Mary está com você. – ele suspirou aliviado.
- Por que mudou de atitude? – perguntou Vicky em tom de protesto.
- Desculpe por vir assim sem avisar. – disse Mary entrando logo atrás da amiga – Mas a Vicky insistiu muito nisso.
- Por quê? Aconteceu alguma coisa?
- É que eu decidi que devo ser mais honesta com os meus sentimentos. – ela declarou com um imenso sorriso.
- Mais? – Nissenson deu um sorriso amarelo e tentou desviar totalmente o assunto – Mary, nós já demos um jeito naquele tal de Sawbrook, não se preocupe quanto a isso.
- Acertaram? – perguntou Mary surpresa, pois já conhecia bem os Dragões para imaginar o tipo de ‘acerto de contas’ que eles poderiam ter feito.
- Realmente é raro ver um Hainault esquentado. – comentou ele se levantando com o livro para guardá-lo em uma estante repleta de outros livros sobre poções – O pessoal de Hogwarts retirou a Tarja Vermelha, não?
- Sim... de certa forma. Isso só quer dizer que eles não têm mais licença para me maltratar livremente. Mas as coisas voltaram a ser suportáveis e eu posso agüentar mais esses últimos meses.
- Qualquer problema pode nos avisar pela esfera, ok?
- Ei, Simon! Não quer ir passear em Hogsmeade também? – convidou uma Vicky esperançosa.
***
- Como ele está ocupado em pleno domingo?! – reclamava uma Vicky furiosa enquanto as duas atravessavam as ruas de Hogsmeade para voltarem ao castelo.
- Ele realmente deve estar ocupado. Não se esqueça que o Simon é o único dos Dragões que realmente estuda.
- Mesmo assim! Nós fomos lá especialmente para visitá-lo!... E ele me trata tão friamente... Aaaah, Dragões são muito complicados...
Mas Mary não ouvia os suspiros da amiga. Alguém lhes fechara o caminho e quando Vicky percebeu, viu também de quem se tratava.
- Eu perdi. – anunciou Jheremy, que estava sem o seu uniforme da escola e com vários curativos nos braços e no rosto – Sai de Hogwarts.
- Ah, é? – perguntou Mary, se mostrando totalmente indiferente com aquilo e tratando de dar a volta por ele para continuar o seu caminho, puxando Vicky pelo braço.
- Me desculpe por ter feito aquilo! – ele disse para as costas dela.
Mary parou, mas limitou-se a apenas ouvir o que ele falava.
- Foi um erro estúpido da minha parte tentar me vingar dele indiretamente, por isso me desculpe. Um dia eu enfrentarei o Doumajyd de igual para igual.
- Boa sorte. – resmungou Mary e voltou ao seu caminho.
- Mais uma coisa, Mary!
Novamente ela parou impacientemente e não se virou para ele.
- Nesse tempo em que fui seu amigo, eu comprovei como você é uma boa pessoa e que não merece sofrer por alguém como o Doumajyd.... Por isso, eu acho que você deveria ficar com o Hainault.
Mary virou o encarando de uma maneira incrédula e ao mesmo tempo furiosa.
- Ele me disse, – justificou-se ele diante do olhar dela – entre um soco e outro, que não perdoaria ninguém que tentasse machucá-la.
- Não se incomode em pensar em mim ou na minha felicidade, Jheremy! – respondeu Mary de uma forma seca – Não quero ouvir justo você me dando conselhos!
E sem dizer mais nada, ou dar chances do garoto falar, Mary saiu com passos decididos a voltarem diretamente ao castelo, e só isso.
***
Depois do seu encontro com Jheremy naquela tarde, Mary decidiu passar o resto do seu domingo trancada no seu quarto, estudando. Porém, não conseguia se concentrar, não quando a todo o momento a voz de Jheremy ressoava em sua cabeça.
Definitivamente não precisava ter o encontrado em Hogsmeade, poderia ter vivido uma vida inteira sem aquilo. Sentia por ele ter abandonado a escola, mas sabia que ele já poderia ter feito isso antes e seguido sem problemas com a sua carreira de modelo se não fosse a sua vingança contra Doumajyd.
Seu fio de pensamento foi cortado pelo som de batidas na porta.
Lembrando da última vez em que alguém pretendera bater na porta onde havia ‘sangue-ruim’ rabiscado em baixo do seu nome, Mary correu para atender prendendo a respiração.
- Weed, tem alguém querendo falar você na lareira da sala comunal. – informou a sua monitora de casa, sem nem ao menos olhar para ela, e então saiu, sem dizer mais nada.
Não conseguindo imaginar quem poderia ser, Mary desceu até a parte da torre onde ficava a sala e demorou um pouco até reconhecer a pessoa de preto que a aguardava na lareira.
- O senhor... é o secretário da senhora Doumajyd! – exclamou ela lembrando do rosto familiar por entre as chamas, e então acrescentou desconfiada – O que quer?
- Há quanto tempo, senhorita Weed. – cumprimentou ele educadamente com um gesto de cabeça.
- Anhm... há quanto tempo. – ela tentou responder no mesmo nível de educação, mesmo ainda esperando uma resposta dele.
- Estou aqui especialmente para lhe fazer um convite.
- ...Convite? – Mary murmurou para si mesma, como se estivesse perguntando se havia ouvido direito o que ele dissera.
No mesmo instante, um envelope dourado saiu de dentro das chamas e flutuou levemente até cair aos seus pés.
- Este é o convite para a festa de aniversário do senhor Christopher Doumajyd. Ela será realizada em Hogsmeade, portanto a senhorita não terá problemas em comparecer.
Mary pegou o envelope no chão e viu que ele estava selado com o brasão da família Doumajyd e o seu nome estava gravado nele com tinta preta.
- Mas eu-
- A senhora Doumajyd me pediu para lhe entregar pessoalmente esse convite. Por favor, aceite.
- A senhora Doumajyd?! – ela não conseguiu esconder a surpresa.
- Contamos com a sua presença, senhorita Weed. – ainda disse o secretário antes de sumir das chamas.
Mary precisou de alguns instantes para ter certeza de que o que havia acontecido era mesmo real e não um sonho sem lógica causado pela sua exaustão em estudar.
- ...O que significa isso? – ela perguntou para ninguém enquanto abria o envelope dourado.
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