Uma pessoa horrível
Mary abriu os olhos devagar, se sentindo imensamente dolorida, e olhou em volta. Estava no que parecia um depósito abandonado, velho e sujo, sem abertura alguma para que ela pudesse descobrir a sua localização.
Confusa, ela tentou se levantar, mas no mesmo instante caiu no chão: seus pés, pernas e mãos estavam firmemente amarrados com uma corda mágica que não lhe permitia se mover. Sem saber o que fazer, ela se concentrou em permanecer calma e não se desesperar, não até... sentiu que havia algo diferente nela mesma no lado esquerdo da cabeça. Então começou balançá-la para ter certeza se era mesmo o que ela pensava e foi assim que viu que uma grande parte do seu cabelo havia sido cortada.
- O quê?!... – ela ofegou, no mesmo instante em que ouviu um barulho de porta sendo aberto e passos se aproximando.
Três rapazes entraram sem cerimônias no lugar onde ela estava e se largaram de qualquer jeito sobre caixotes de madeira.
- Quem são vocês? – ela perguntou cautelosamente, vendo que não conhecia nenhum deles – Por que eu estou aqui?
- Finalmente ela acordou. – disse um.
- E já está começando a falar, que saco! – reclamou outro – Fechem a boca dela!
O terceiro pegou a varinha dentro do casaco e executou rapidamente um feitiço nela, do qual ela não teve como se defender.
Mary abriu a boca, mas não conseguiu emitir som algum. Agora, sem se movimentar e também sem poder falar, a única alternativa que tinha era ouvir, e tentar entender o que havia acontecido.
***
Ela esperou pelo que lhe pareceram dias, mas que suspeitava que havia sido apenas horas.
Enquanto os três bruxos se distraíam com um jogo de cartas, Mary conseguira se arrastar disfarçadamente até um canto, onde havia um espelho antigo quebrado. Lá, ela conseguiu encaixar o nó da corda e tentava o cortar sem que eles percebessem, na esperança de conseguir rompê-lo e assim quebrar o encanto. Para sua sorte, estava tendo sucesso e só faltava mais um pedaço para ficar livre. Se conseguisse desfazer completamente aquele nó, poderia...
A porta foi novamente aberta e logo fechada com um estrondo. Em seguida passos pesados ecoaram pelo caminho até lá. Mary quase não conseguiu respirar quando viu quem era e tentou gritar, mas nada saiu. Lá estava Jheremy Sawbrook, olhando para ela e para os três bruxos, que o encaravam de uma maneira nada amigável.
Agora ela estava salva. Jheremy iria...
- Por que estão jogando?! – perguntou ele parecendo irritado – Não falei para ficarem de olho nela?!
Mary sentiu como se o chão sumisse embaixo dela ao compreender a situação.
- Ela está completamente imobilizada, Jerry. – respondeu um, largando as cartas – Não tem como escapar.
- Conseguiu enviar o cabelo dela? – perguntou outro.
- Sim. Agora só temos que esperar.
Não querendo acreditar no que ouvia, Mary balançava a cabeça, tentando buscar uma lógica para aquilo.
- O que foi? – perguntou um deles rindo para ela – Achou que ele ira te salvar?
- Não diga coisas desnecessárias. – ordenou Jheremy, demonstrando não ter gostado do comentário.
- Você podia ser ator ao invés de modelo, Jerry! – sugeriu outro.
- Cala a boca! – brigou ele novamente, indo até Mary e tirando o encantamento sobre a voz dela – Não precisavam ter a encantado! O nosso objetivo não é ela!
- O que está acontecendo, Jheremy?! – perguntou a garota desesperada assim que pôde falar novamente.
- Me desculpe, Mary, mas preciso da sua ajuda. Pode ficar aqui quietinha e esperar?
- Eu não acredito que está fazendo algo assim! O que pretende?!
- Você é um pouco lerda. Pensei que iria perceber antes... Afinal, já aconteceu uma vez, não? Com a Swan.
- Como sabe... – Mary iria perguntar como ele ficara sabendo do que acontecera com a Sarah, se isso havia ficado em segredo entre os Dragões e ela, mas lembrar disso a fez perceber o objetivo do seu seqüestro – Doumajyd! Vocês querem ele!
Jheremy riu, sentando ao lado dela, e começou a explicar, como se eles estivessem em uma conversa casual depois do término das aulas do dia:
- Acha que ele simplesmente viria dos Estados Unidos se eu pedisse? Precisei usar alguns truques para trazê-lo de volta.
- Então... a Tarja...
- Aqueles imbecis acreditaram que aqueles garranchos eram do Doumajyd. – disse ele rindo – Mas aquele era apenas um plano secundário, eu não acreditava que ele daria muito certo...Porém, ele até que veio a calhar. Como eu a salvei, o pessoal de Hogwarts acha que há algo entre nós... Assim que Doumajyd ligar as coisas, ele não virá correndo para cá?
- Você é horrível, Jheremy! Como pôde-
- Horrível?! Eu?! Doumajyd é uma pessoa horrível!
Ele dissera isso com tanta convicção e com um tom de ódio que Mary não conseguiu responder. Uma vez ela também pensara assim, e não podia dizer nada em defesa do dragão.
- Sabe por que ele é uma pessoa horrível, Mary? Você não lembra... – ele respirou fundo, como se estivesse se acalmando para continuar – Lembra da primeira Tarja Vermelha?
Mary lembrava muito bem. Foi no seu segundo ano, quando os Dragões estavam no terceiro, e já tinham total controle sob Hogwarts. Um monitor da Grifinória tentara parar com as maldades do D4 e foi brutalmente repreendido. Doumajyd arrancara uma faixa vermelha do time de quadribol de um aluno e amarrara na cabeça do monitor, anunciando para todos no Salão Principal que deveriam maltratá-lo até ele pedir para ser expulso da escola. Foi assim nascera a cruel tradição das Tarjas Vermelhas.
Por ser a primeira vítima, o monitor agüentou por muito tempo, mas por fim saiu da escola... diretamente para o Saint Mungus.
- Você lembra, não? – continuou Jheremy – Ele está no hospital até hoje, enlouquecido. E lembra do nome dele?
Ela balançou a cabeça negativamente. Naquela época estava tão preocupada em acalmar uma Vicky chocada com o que vira que não se lembrava de muitos detalhes.
- Jonathan Sawbrook, meu irmão!
Mary arregalou os olhos em visível surpresa, e não pôde dizer nada.
- Meus pais tentaram recorrer ao Ministério, mas nem mesmo o ministro tem poder para ir contra a família Doumajyd. Porém, eu não posso permitir que tudo termine assim, que aquele que fez meu irmão virar a sombra de gente que ele é hoje permaneça impune! E eu não sou o único, Mary! – ele apontou para os companheiros – Todos eles têm ressentimentos contra o Doumajyd e estão dispostos a me ajudar!
Mary se encostou contra o espelho, não sabendo o que fazer. Não era a mesma coisa que havia acontecido com a Sarah. A garota tinha um sério problema de personalidade e uma idéia fixa, que a fazia agir como uma louca desesperada. Mas Jheremy era diferente, ele queria vingança e calculara cada um dos seus passos. Ele não se contentaria até que Doumajyd sofresse o mesmo e mais do que o seu irmão sofrera.
- Desde que você declarou guerra contra o D4, Doumajyd parece ter virado um bom garoto. E ele realmente parou com as tarjas e não maltratou mais ninguém... Mas isso não significa que as coisas que ele fez foram apagadas!
Mary podia ver pela expressão dele que não adiantaria tentar convencê-lo do contrário. Ela também sabia que o plano de seqüestrar-la não funcionaria, já que Doumajyd não viria para salvá-la. Então, sua única alternativa era agir por sua conta, e para isso precisava de mais um pouco de tempo.
- Mas... – ela pensava rapidamente no que poderia falar para distraí-lo enquanto terminava de romper a corda – Se você se vingar dele, vai estar sendo tão horrível quanto ele foi!
- NÃO QUERO ESCUTAR SERMÃO DE VOCÊ! – ele se levantou do chão, mas permaneceu da mesma altura que ela, para poder lhe falar olhando diretamente nos olhos – Você era alguém que odiava o D4, Mary! Como pôde ter se juntado a eles mesmo tendo visto de perto tudo o que eles fizeram?! – ele a segurou pelo queixo, para que não desviasse o olhar.
- Eu entendo a sua situação, mas mesmo assim não concordo. Portanto... – ela bufou, tirando o rosto das mãos dele com um gesto brusco – NÃO TOQUE EM MIM!
Jheremy se afastou, rindo da reação, e comentou fazendo pouco dela:
- Que assustadora! Era o que eu esperava da mulher por quem Doumajyd se apaixonou!
- Você não percebeu que eu voltei sozinha! – ela sibilou, continuando com o seu plano de ganhar tempo – Se você acredita que Doumajyd virá para me resgatar... – a corda se rompeu e desapareceu, a deixando livre.
No mesmo instante, Mary se levantou em um pulo, empurrou Jheremy para um monte de caixotes, deu uma cabeçada no estômago de um dos bruxos que tentou agarrá-la, desviou dos outros dois e berrou, fugindo:
- ESPERE SENTADO, IDIOTA!
- Desgraçada! – rosnou Jheremy levantando aos tropeços e correndo atrás dela, sendo seguido pelos companheiros.
Mary correu como se sua vida dependesse disso. Ela precisa sair daquele lugar o mais rápido possível e tentar despistá-los. Era a única coisa que pensava em fazer. Ela derrubou uma pilha de madeira empilhada perto da porta para atrasá-los e saiu sem olhar para trás.
Ao conseguir sair, se deparou com o vento gelado da noite e uma total escuridão. Não conseguia distinguir nada a sua frente e não estava com a sua varinha para tentar obter alguma luz. Sem outra alternativa, ela correu pelo escuro, forçando seus olhos a se acostumarem para que ela pudesse ao menos ver onde pisava.
Porém, quando ouviu os gritos de Jheremy ordenado que todos acendessem as suas varinhas para persegui-la, uma luz intensa acendeu na frente dela, a deixando cega e a fazendo tropeçar e cair no chão.
- PEGUEM ELES!
Ela ouviu alguém gritar e vários pés passaram correndo ao seu lado. Lá atrás, ela ouviu Jheremy e os bruxos fugirem.
Então, ofegante e tomando consciência da dor de todos os ferimentos dos maus tratos dos alunos de Hogwarts que ainda tinha pelo corpo, Mary tentou ver quem estava a sua frente.
- Tudo bem? – perguntou uma silhueta escura na frente da luz.
Reconhecendo a voz, Mary respirou aliviada.
- Christy! – ela sussurrou, se deixando ser ajudada pela bruxa.
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