Não sou mais um pirralho!



Doumajyd dispensou seus colegas e levou Mary até um campo de baseball, nos arredores da mansão, onde não havia ninguém para lhes interromper. Quando ele parou em baixo da sombra de uma árvore, ela percebeu que seus cinco minutos já haviam começado.
- Eu estava brincando àquela hora. Eu realmente vim aqui para te ver. – ela admitiu, a contra gosto – Não tem nada a dizer sobre isso?
- Eu estou ocupado! – ele reclamou tirando um relógio de bolso do casaco e vendo que horas eram – Fala de uma vez o que você quer!
- Por que você está agindo assim? Por que está tão zangado?!
- Não estou zangado!
- Está sim!
- Não estou! – ele praticamente rosnou, se mostrando totalmente contrário do que afirmava.
Percebendo o que fizera, ele coçou o nariz sem graça e passou a olhar para o chão, tratando de esconder as mãos nos bolsos do casaco. Mary permaneceu um tempo olhando para ele desconfiada, avaliando a situação, e então tentou:
- Se não está zangado, por que mandou a Tarja Vermelha?
Doumajyd voltou a encará-la, sem falar nada. Essa reação a fez se sentir a vontade para falar:
- Eu não achava que você seria capaz de fazer isso de novo! Eu realmente acreditava que você tinha mudado!
- O que está dizendo? – perguntou ele irritado, como se ela estivesse falando coisas sem sentido.
- Não me contata, não manda notícias, me ignora completamente, manda aquela maldita tarja e ainda diz que não está zangado?!
- Espera, eu-
- Se está zangado comigo pode falar aqui na minha frente! Foi para isso que eu vim! Não precisa ficar fugindo! O estourado é você e não eu! Vou ouvir tudo o que tem para me dizer!
- Eu – ele tentou de novo, mas foi novamente impedido de continuar.
- Mas como vou ouvir se você nem fala direito comigo?! O que eu fiz de errado para ganhar a Tarja Vermelha de novo?!
- Que Tarja Vermelha, droga?!
- Não se faça de desentendido, idiota! Que tarja mais seria?! A sua Tarja Vermelha! Se você quer se livrar de mim agora depois de tudo, é só falar! Se você não gosta mais de mim, fale de uma vez por todas! Aliás, você não é mais o mesmo Doumajyd que eu aprendi a gostar! Como que eu ainda posso sentir alguma coisa por você depois disso?! ENTÃO SE NÃO SE IMPORTA MAIS COMIGO, PELO MENOS ME DEIXA EM PAZ EM HOGWARTS!
- ...Você atravessou o oceano somente para me dizer isso? – perguntou ele sem demonstrar nenhuma emoção diante do desabafo dela.
- E se for? – ela perguntou desafiando.
- Você seria uma completa idiota!
Ela lhe lançou um olhar mortal. Conhecia bem todos os tons de ‘idiota’ que ele usava, e esse com certeza era uma ofensa.
- Não estou brincando, Doumajyd! Por que... – ela sibilou, puxando as mangas do casaco, afastando os pés, erguendo os punhos e dando três pulinhos – POR QUE EU DEVO SER FEITA DE IDIOTA POR ALGUÉM DESPREZÍVEL COMO VOCÊ?!
Ela avançou com o um punho certeiro contra o nariz dele, mas ele segurou o braço dela com força, forçando-a a parar.
- Essas brincadeiras que combinam com o seu nível de sangue-ruim já acabaram! – declarou ele friamente, empurrando o braço dela para baixo – Eu não sou mais o pirralho que você socou uma vez!
E sem dizer mais nada, ele deu as costas para ela e aparatou.
Mary ainda permaneceu estática por um tempo, segurando o braço dolorido, tentando processar o que havia acontecido. Então, voltando a si, ela percebeu que havia uma dor nela muito maior do que a dor em seu braço.


***


- Viu como eu estava certo em você desistir dele, Mary. – disse Nissenson assim que ela terminou de relatar o ocorrido.
Os quatro andavam vagarosamente pelas ruas iluminadas da cidade durante a noite, conversando.
- Você estava certo sim, Simon. E por isso eu pude dizer hoje, sem medo de me arrepender, que eu não gosto mais dele... Mas chega disso agora! – declarou ela com um imenso sorriso – É minha última noite aqui na cidade eu quero aproveitar!
- Então, já que você está tão aliviada, o que você quer? – perguntou MacGilleain – Deixe por conta dos três Dragões que continuam os mesmos!
- Não precisa! – Mary apressou-se em dizer – Já incomodei vocês demais.
- Realmente incomodou, Cogumelo. – concordou Nissenson – Mas não vamos reclamar se você incomodar mais um pouco. Pode pedir qualquer coisa e ser mimada sem cerimônias!
- De qualquer forma, você não tem dinheiro para aproveitar sua última noite em Nova York, não? – lembrou-lhe MacGilleain.
- É, não tenho. – ela teve que admitir.
- Quando voltarmos, você retribui de alguma forma, tudo bem? – propôs Hainault.
- Eu sou realmente um mau exemplo de superação dependendo de vocês assim. – ela lamentou-se.
Os três riram dela, o que a fez aceitar de uma vez:
- Ok, então vamos comer um monte de coisas gostosas! – ela correu na frente deles, empolgada com a idéia, olhando para as lojas em volta.
Nissenson não agüentou e riu comentando para os amigos:
- Mas ela ia comer de qualquer forma!
- Ei, vamos logo! – ela os chamou já muito a frente e então acrescentou depois de pensar por um momento – Que tal irmos em um confeitaria?! Não comi doces enquanto estive aqui!


***


- E quanto a Weed, Richardson? – perguntou a senhora Doumajyd ao secretário enquanto os dois inspecionavam pessoalmente a produção das esferas de comunicação.
- Já foi embora, senhora. E parece que o senhor Christopher não a considerou em momento algum. – informou ele.
- Já era hora, – a bruxa sorriu vitoriosa – daquele menino tomar consciência de herdeiro dos Doumajyd... – ela pegou uma esfera recém feita e a analisou minuciosamente – A propósito, Richardson, o aniversário do Christopher não é nesse inicio de mês?
O secretário demorou um pouco para responder, como se pensasse se era certo a mãe pedir a confirmação para a data do aniversário do próprio filho, e então acentiu:
- Sim, senhora.
A bruxa não falou mais nada, mas continuou olhando para a esfera com o pensamento distante.


***


Ele se viu em uma sala de jantar muito simples e pequena, mas acolhedora, onde uma família feliz fazia a refeição. O pai, a mulher, um filho ainda pequeno e uma bebê, todos sorridentes e felizes. Então o pai percebeu a sua presença e o convidou alegremente, sem pronunciar som algum apesar de mexer a boca, para que se juntasse a mesa. No mesmo instante a cena mudou para um lugar aberto onde ventava muito, com o céu carregado no princípio de uma tempestade. Ele estava agora em cima de um prédio alto e familiar, e lá na borda dele, tomando fôlego, como se estivesse decidindo se iria pular ou não, o mesmo pai alegre de antes.
- Ken? – ele sussurrou, mas o homem não o ouviu – KEN!
O homem virou para ele, porém não era mais o mesmo de antes. O rosto alegre e sorridente agora estava desfigurado pela barba crescida, a boca estava retorcida de medo e os olhos arregalados como se ele estivesse tendo alucinações. Então com um sorriso demente, o homem pulou.



- NÃÃÃÃÃOOOO!!! – Doumajyd acordou em um pulo da cama, ofegante.
Olhando para os lados assustados e confirmando que estava em sua cama, em seu quarto e no seu apartamento, o dragão tentou se acalmar. Respirando fundo, ele saltou da cama, pegou um jarro com água e bebeu todo o conteúdo sem nem ao menos lembrar de pegar um dos copos na bandeja.
Então mais calmo, ele recolocou o jarro no lugar e se apoiou na mesa. No mesmo instante ele viu, ao lado da sua mão, uma caixinha de presente aberta e meio amassada. Dentro dela, havia um único biscoito de chocolate em forma de dragão com cabelo bagunçado.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.