Só cinco minutos
Mary foi chamada pelos Dragões, através da esfera, para uma lanchonete perto do hotel onde ela estava. Ao chegar lá, se deparou com os três cabisbaixos, sentados na mesa mais afastada.
- O que aconteceu?! – perguntou ela largando suas sacolas em um lugar vazio da mesa – O que foi esse machucado, Simon?!
Nissenson passou a mão pelo canto da boca, dolorido e inchado, e começou a resmungar mal humorado:
- Aquele idiota nunca vai tomar jeito!
Percebendo imediatamente de quem ele estava falando, Mary se sentou na frente deles, perguntando:
- Você brigou com o Doumajyd?
- Não é só você que ele não está escutando, Mary. – informou MacGilleain, e começou a relatar o que acontecera na visita deles ao líder do D4.
***
- Já disse que não tenho nada para falar com vocês! – rosnou Doumajyd.
Hainault, MacGilleain e Nissenson haviam ido até o apartamento onde o líder do D4 estava morando em Nova York para poderem conversar, mas não receberam as boas vindas que esperavam depois de tanto tempo.
- É assim que você recebe os seus amigos que vieram especialmente para te visitar, Chris?! – perguntou Nissenson surpreso.
- E o Ilustríssimo Eu pediu que viessem?!
MacGilleain agiu rápido e imediatamente segurou Nissenson, que havia dado o primeiro passo para avançar contra Doumajyd em resposta à grosseria.
- Calma! – pediu ele, tanto para um quanto para o outro – Faz tempo que não nós víamos, não comecem a se desentender logo de cara!
- Faz tanto tempo porque vocês não vieram me ver! – acusou Doumajyd se sentando no sofá, o mais afastado possível deles.
Nissenson riu e sentou ao seu lado, colocando a mão no ombro dele e perguntando:
- Então se sentiu sozinho e por isso está assim?
- Não me senti sozinho! – Doumajyd arrancou a mão do seu ombro, como se ela fosse algo repulsivo.
- Então o que foi, droga?! Que orgulho todo é esse?! Por que está agindo assim?!
- Ok, ok, ok! – MacGilleain interferiu antes que fosse tarde e tirou Nissenson de perto de Doumajyd – Vamos parar com isso, não se exaltem!
Mais afastado, sentado em uma poltrona abraçando os joelhos, Hainault apenas observava, sem dizer uma palavra.
- Você ficou arrogante nesse tempo, Simon! – resmungou Doumajyd, como se o tivesse acusando.
- E você foi arrogante desde sempre!
Isso foi demais para Doumajyd, que levantou em um impulso e deu um soco na boca de Nissenson. Este caiu no chão e foi logo socorrido pelos amigos.
- O QUE ESTÁ FAZENDO?! – bufou Nissenson ao passar a mão pela boca e ver que estava sangrando.
- Se vocês vieram aqui somente para acusar e brigar com o Ilustríssimo Eu, VÃO EMBORA! – os vidros espalhados pelo apartamento estouraram com o berro de Doumajyd.
Foi então que os três concluíram que não adiantaria continuar discutindo, ou somente iriam piorar as coisas.
***
- Realmente não sabemos dizer por que ele está tão nervoso, Mary. – disse Nissenson ainda apertando a boca machucada para conseguir falar direito.
- O Chris foi inconseqüente, mas o Simon também tem culpa de ter dado muita bola para o que ele falou. – comentou MacGilleain – Por isso acabou apanhando.
- Mas no começo até que estávamos indo bem! – defendeu-se Nissenson – Foi só ter falado o nome da Mary que ele já ficou de mau humor!
- O quê? – perguntou Mary surpresa.
- Não foi bem assim! – MacGilleain tentou consertar a mancada do amigo.
- Foi assim, sim! – afirmou o dragão – Quer saber, Mary? Você deveria deixar de pensar nesse cara de vez! Ele não merece que pensem tanto nele! Afinal, deixar de entrar em contato por todo esse tempo sem motivo algum não é uma coisa que um homem apaixonado faça!
Ouvindo a discussão, aparentemente alheio ao que estava acontecendo, Hainault apenas assoprava pelo canudo do seu suco, fazendo bolhas no líquido.
- Além disso, você veio especialmente para vê-lo! – continuou Nissenson, em tom de reclamação – Ele deveria ao menos se desculpar ou dar uma justificativa, não acha?
Mary não pôde responder, porque era exatamente tudo o que ela pensava, mas não dizia.
- Não fale assim com ela, Simon! Só está piorando as coisas!– Adam ralhou com o amigo e então acrescentou para Mary – Não se preocupe.
Nissenson desistiu de reclamar em altos brandos e se contendo em resmungar cruzando os braços:
- O que foi aquilo que ele fez por ela?... Para mim não faz sentido...
Mary suspirou e pensou um pouco. Nissenson tinha toda a razão. O que fora aquilo? Porque, depois de toda aquela confusão que ele causou na vida dela para conquistá-la, agora simplesmente a ignorava?
Decidida, Mary bateu as mãos na mesa e disse:
- Não posso ir embora assim! Vou falar com ele!
Os três a encararam surpresos. Hainault esqueceu completamente do seu canudo e das bolhas.
- É sério! Eu também estou com raiva! – ela apressou-se em justificar a sua mudança de atitude – Se ele pensa que eu vou embora de orelhas baixas está muito enganado! Vou falar o que eu quero na cara dele e ele vai ter que me ouvir! E se ele não quiser me ouvir... vou bater nele! – ela se levantou da mesa e disse antes de sair – Cuidem dos meus presentes, por favor?
- Onde você vai?! – perguntou Hainault preocupado.
- Vou ir até onde ele estuda! – ela ainda respondeu antes de sair da lanchonete.
***
Mary parou no meio da rua revirando o mapa nas mãos. Como até a manhã não pensava ver Doumajyd, não tinha feito questão alguma de que Hainault mostrasse a ela onde ficava o lugar onde o dragão estudava. Porém, ela sabia que deveria estar no caminho certo. Era só...
- EU JURO QUE EU NÃO ROUBEI!!!
Mary quase caiu para trás com o susto que levara. A porta de uma loja se escancarou na sua frente e uma moça foi arrastada para fora por dois policiais para fora.
- EU NÃO ROUBEI NADA! SÉRIO! – ela berrava tentando explicar para o dono da loja que saia logo depois com outro policial que registrava a queixa – EU SÓ ESPIRREI E O MEU CABELO MUDOU DE COR! EU SEMPRE FAÇO ISSO! EU NÃO ROUBEI SPRAY COLORIDO NENHUM!!! É VERDADE!!!
Ela foi forçada a entrar na viatura e foi levada, enquanto ainda gritava dentro do carro.
- O senhor tem certeza de que não a viu roubando? – perguntou o policial para o dono da loja.
- Quando ela entrou pela porta o cabelo dela era roxo e quando estava saindo ele estava verde. Eu tenho uma atendente e mais dois clientes que podem confirmar.
- Certo. – o policial terminou suas anotações, guardou a sua caneta e se despediu dizendo – Iremos resolver esse problema, senhor.
Mary assistiu toda a cena, mas não conseguiu dizer ou pensar em nada para ajudar a moça, mesmo porque tudo acontecera muito rápido. Ela com certeza deveria ser uma metamorfomaga gripada, que não conseguia disfarçar essa sua condição entre um espirro e outro.
- Não é hora para isso! – ela balançou a cabeça e sussurrou para si mesma.
Recuperada do susto, ela aproveitou que o dono da loja ainda estava parado ali diante dela e pediu informação. Não podia perder tempo ajudando bruxos com problemas naquela cidade, e a moça deveria pedir ajudar as autoridades mágicas quando chegasse na delegacia. O importante para naquele momento era falar com Doumajyd, antes que o seu tempo em Nova York se esgotasse.
***
- Será que ele não veio?... – Mary murmurava sentada em um muro na entrada do lugar onde Doumajyd estudava – Será que ele está vindo para a aula?...
Ela estava na frente do que era o equivalente á Academia Bruxa de Londres, porém o lugar parecia simplesmente ser uma mansão antiga, de onde às vezes alguns jovens saiam ou entravam.
Mary já estava esperando há quase uma hora, e vários estudantes já tinham ido embora. Mas não havia sinal algum de que Doumajyd estava lá. Ela já pensava em desistir de esperar ali e tentar procurar por onde ele trabalhava com a mãe, quando ouviu um alvoroço de vozes femininas e as portas da mansão foram abertas. De lá saiu um bruxo de cabelos bagunçados, sendo seguido por mais quatro rapazes, provavelmente também estudantes, que agiam como se fossem seguranças.
Sem perder tempo, Mary pulou do muro e marchou ao encontro dele, respirando fundo e pensando em como iria falar, o mais firme possível. Ele a avistou e parou, no mesmo instante os quatro rapazes se colocaram na sua frente.
- O que quer com o Ilustríssimo senhor Doumajyd? – perguntou o mais mal encarado deles, assim que ela pisou na frente deles.
- Meu assunto é com ele, não com vocês! – bufou ela, tentando passar por eles e sendo impedida no mesmo instante – ME LARGUEM SEUS IDIOTAS!
- PAREM! – ordenou Doumajyd.
No mesmo instante os quatro tomaram posição ao lado dele, deixando o caminho livre para Mary. Porém, o dragão limitou-se a olhar para algum ponto além dela e declarar antes de sair:
- Não tenho tempo para conversar!
- Parado aí mesmo, Christopher Doumajyd! – Mary procurou imitar o jeito que sua mãe falava quando brigava com ela e o irmão por terem desobedecido – Eu tenho que falar com você e não vai demorar muito! – ela lançou um olhar furioso para os guarda-costas e acrescentou – Em particular!
Doumajyd a encarou por um tempo, como se dissesse que ela era muito irritante. Mas Mary não se deixou derrotar e se manteve firme, até que ele cedeu:
- Só cinco minutos, nada mais do que isso!
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