A volta da Tarja Vermelha
“Havia mais de um ano que não víamos a sentença de morte do D4, a Tarja Vermelha.
Aquele era o símbolo do poder que os Dragões exerceram por vários anos em Hogwarts. A vida escolar de quem a recebia estava condenada a acabar a partir do momento em que seu nome era anunciado por um dedo-duro.
Sobre o comando de Doumajyd, todos os alunos se empenhavam em tornar a vida de quem recebera a tarja em um verdadeiro inferno. Torturavam tanto física quanto psicologicamente, até que essa pessoa não suportasse e sua única alternativa fosse sair da escola.
Quando a tarja cor de sangue com os dizeres ‘Cortesia do D4’ aparecia na mesa de algum aluno, alguém saia anunciando para a escola inteira que o show iria começar. Rapidamente todos em Hogwarts abandonavam sem receio suas aulas para se reunirem no Salão Principal, e a vítima da vez era arrastada até o meio dele. O D4 sempre aparecia e ocupava seus lugares de honra na frente do salão de onde ficavam assistindo e comandando o ‘espetáculo’... A vítima que resistisse a essa primeira fase, somente iria prolongar seu sofrimento...
Depois de ter passado por isso e ter sido salva por Ryan Hainault, eu enfrentei os piores dias da minha vida como estudante de magia. Mas quando não agüentei mais continuar calada e declarei guerra ao D4, Doumajyd tentou de várias formas negociar uma rendição comigo...
E quando ele ficou doente em Hogsmeade, depois de ter me esperado por quatro horas debaixo da neve, ele prometeu que aboliria as Tarjas Vermelhas para sempre... e Doumajyd sempre cumpriu o que prometeu... Então, com a sua ida para Nova York, essas tarjas haviam se tornado apenas histórias antigas em Hogwarts...
Porém...”
Mary foi arrastada pelas meninas da Sonserina até o Salão Principal, onde os alunos já esperavam com sorrisos sinistros.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO?! – ela berrava tentando procurar por uma explicação – AS TARJAS VERMELHAS NÃO EXISTEM MAIS! ISSO DEVE SER UMA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO!
- Não é brincadeira! – anunciou um aluno da Sonserina, que antigamente costumava ajudar Doumajyd com as torturas, mostrando para todos do Salão um pergaminho – O próprio Doumajyd me enviou a tarja junto com uma carta de Nova York! – e ele começou a ler alto o que estava escrito no pergaminho para que todos pudessem ouvir – Hoje, depois de muito tempo, a Tarja Vermelha vai voltar a ditar as regras em Hogwarts! Deixo o resto com vocês! Christopher Doumajyd, líder do D4!
Uma explosão de palmas e gritos tomou conta de todo o salão.
- É MENTIRA! – Mary quase chorava, verificando que realmente não era uma brincadeira e todos ali estava dispostos a seguir a ordem do líder dos Dragões.
Mas... aquilo não poderia ser verdade.
O mesmo aluno do pergaminho se aproximou e disse baixinho, quebrando um ovo na cabeça dela:
- Não é mentira, sangue-ruim! – e então gritou para o salão – COMEÇEM! – dando início ao bombardeio de ovos vindos de todas as direções, lançados pelos outros alunos.
Depois de ser coberta pela meleca grudenta, Mary começou a ser empurrada e jogada dentro do cerco de alunos. Ela tentava inutilmente fugir, mas era apenas uma contra as centenas de alunos de Hogwarts. Recebendo insultos aos berros, sendo acertada por vários golpes que lhe tiravam o ar e jogada toda hora para que caísse no chão, Mary tentava em vão lutar e se defender, e em sua cabeça ela só conseguia repetir o mesmo pensamento: não podia ser verdade, aquilo não estava acontecendo.
- MARY! – ela ouviu a voz desesperada de Vicky por entre a multidão de alunos.
A garota provavelmente estava sendo impedida de se aproximar para ajudá-la pelos seus colegas.
Por fim, Mary caiu no chão, totalmente desorientada, não tendo mais como se manter de pé em meio a tanta pressão. Ofegante e confusa com tudo o que estava acontecendo, ela apenas desejou que aquilo fosse um pesadelo.
Então, de repente, uma mão estendida surgiu diante de seus olhos, como se lhe estivesse oferecendo ajuda. Rapidamente ela olhou para cima, e mal conseguiu respirar quando se deparou com Jheremy Sawbrook, parado ao seu lado, diante dos olhares curiosos de todos.
Por que aquele aluno que vivia escondido na biblioteca e não falava com ninguém estava tentando ajudá-la?
Os olhos de Mary se encheram de lágrimas. Jheremy estava indo contra todos os seus princípios lhe estendendo a mão daquele jeito. Ele poderia ser espancado também, assim como Sarah havia sido no passado.
- Se levante, Mary. – disse ele simplesmente, mas ela não se moveu.
- Ei, quatro olhos! – rosnou incrédulo o aluno da Sonserina que recebera as ordens de Doumajyd – O que pensa que está fazendo?!
Jheremy lançou um olhar intenso para Mary, como se estivesse tomando coragem. Então foi até o aluno que lhe perguntara e lhe deu um soco no nariz em resposta, gritando:
- EU É QUE PERGUNTO! – ele olhou furioso para todos a sua volta, que o encaravam chocados, enquanto o aluno que recebera o soco ainda estava estirado no chão.
Por estarem surpresos com a reação agressiva dele, outros dois alunos, que também sempre seguiam as ordens do líder do D4 com as Tarjas Vermelhas, não reagiram imediatamente. Mas assim que voltaram a si, pensaram em fazer Jheremy pagar pelo soco dado no colega.
- Quem você acha que é?! – um deles avançou, tentando também lhe dar um soco no rosto, mas Jheremy foi mais rápido e desviou, o acertando no estômago e fazendo com que se dobrasse de dor, e fosse parar no chão também.
Porém, nesse movimento, seus óculos acabaram caindo, e assim que seu rosto ficou bem visível, todas as garotas prenderam a respiração.
- Não pode ser! – começou exclamando uma e logo todas falavam ao mesmo tempo, não acreditando no que viam.
- Por que o Jerry está aqui na escola?! – perguntou chocada a líder das meninas da Sonserina tentando entender.
Como todos ficaram paralisados com a revelação da sua identidade famosa, Jheremy foi até Mary e a ajudou a se levantar. Ele a segurou firmemente para que não caísse, já que ela não demonstrava ter força ou vontade de ficar de pé, e a levou do Salão Principal, dando ordem para que os alunos saíssem da frente, e sendo obedecido.
***
- Tarja Vermelha?! – Hainault se esqueceu totalmente da sua calma diante dessa notícia e quase se engasgou com o seu chá.
Ele e MacGilleain estavam reunidos para o almoço da Academia Bruxa quando Nissenson chegou e lhes falou sobre o que tinha se passado em Hogwarts.
- A Vicky me contou pela esfera agora pouco! – ele continuou – Ela estava furiosa e eu pensei que o cristal iria rachar com os gritos dela... O que acham?
- O Chris pode muito bem ter feito isso. – comentou MacGilleain – Não se esqueçam daquela revista...
- Mas ele não teria nos avisado? – perguntou Nissenson.
- Não seria a primeira vez que ele entrega uma tarja sem nos avisar... – disse Hainault, pensativo e parecendo muito preocupado.
- O que o Chris está pensando? – perguntou Nissenson de mau humor se sentando de qualquer jeito ao lado dos amigos, ao mesmo tempo em que Hainault se levantava – Aonde vai Ryan?
- Preciso falar com a Mary. Ela não deve estar bem...
***
Depois de levar Mary para a enfermaria, Jheremy pediu para que ela ficasse ali até ele poder resolver as coisas e saiu.
Mary não tinha tantos machucados como da última vez em que fora atacada pela fúria dos alunos de Hogwarts, por isso a enfermeira não gastou muito tempo em tratá-la. Porém, a sua ferida era algo muito mais profundo.
Como Doumajyd poderia ter feito aquilo?... Por quê?
Ela pegou sua mochila do lado da cama e retirou de um dos bolsos a sua esfera.
- O que está havendo com ele?... – ela se perguntou em um murmuro, fechando os olhos e segurando a esfera firmemente na mão, desejando que ela funcionasse e entrasse em contato com o Dragão novamente, para que tudo pudesse ser esclarecido.
- Olá.
Mary olhou assustada para porta da enfermaria. Lá estava Hainault, avaliando a sua situação de longe, para concluir se poderia entrar ou não.
- Você está bem?
Mary confirmou com uma aceno fraco de cabeça.
- Mas não parece.
Ela também confirmou do mesmo modo, e então perguntou:
- Vocês sabiam?... sobre a tarja?
- Não. – respondeu o dragão indo até o lado da cama em que ela estava e se sentando em uma cadeira – Foi uma surpresa para nós também.
- Por... por que ele fez isso? – ela tentou perguntar, se segurando para não começar a chorar – Se ele não quer mais falar comigo, tudo bem... Mas precisava ter mandado a tarja?
- Não acha que é uma boa oportunidade?
- Oportunidade? – ela perguntou confusa.
- Você não pode continuar assim, só se perguntando, não?... Vá atrás dele.
- Q-quê?! – ela gaguejou surpresa.
- Vá para Nova York. – disse Hainault, como se fosse algo muito simples – Vá para lá, se encontre com ele e se certifique de tudo. Pergunte o que ele está pensando e não fique aqui se destruindo, tentando achar uma resposta para o que se passa na cabeça do Chris.
- Mas... – Mary tentava raciocinar com essa sugestão – Talvez tenha um motivo para ele não ter deixado notícias. Mesmo se tratando do Doumajyd... deve haver algum motivo. – ela terminou sem muita convicção.
- Você tem medo? – perguntou Hainault.
- Eu...
- Você tem medo que o Chris diga que realmente acabou?
Mary lhe lançou um olhar triste e disse em um murmuro:
- Mas não é como se ele já tivesse dito isso?
- ...Será? Se você continuar fugindo, essa dúvida só irá crescer e as desculpas só irão aumentar... E essa não é uma atitude típica sua, não? A Mary Ann Weed que eu conheço não foge das dificuldades.
Ela não conseguiu dar uma resposta diante daquilo.
- Pense bem nisso, Mary. – pediu o dragão se levantando e saindo, para que ela pudesse ficar sozinha com seus pensamentos.
***
“Depois que o Ryan foi embora, eu passei o resto do dia e da noite pensando no que ele falara.
Me imaginei indo para Nova York, encontrando Doumajyd em uma das suas festas com a cantora loira sem rosto e socando o nariz dele ao mesmo tempo em que berrava: QUEM VOCÊ PENSA QUE É PARA FAZER ISSO COMIGO, IDIOTA?!... Mas essa era só a minha vontade... Não havia como eu ir para lá...
Ryan às vezes esquecia-se do pequeno detalhe de que eu não pertenço ao mesmo mundo de luxo que eles. Viajar não é algo simples e rotineiro. Eu não posso simplesmente viajar, por exemplo, para visitar a minha tia que mora nesse mesmo país. Então como posso atravessar um oceano apenas para perguntar para Doumajyd o que ele tem naquela cabeça de cabelo ruim?...
Mas, se eu soubesse ainda naquele dia que, logo ao amanhecer, Vicky entraria correndo pela enfermaria segurando uma carta do meu irmão nas mãos dizendo que havia uma surpresa para mim...”
- MARY! MARY! MARY! – Vicky praticamente pulou em cima da cama para poder acordar a amiga, esfregando uma carta em seu rosto – VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR!
- O que foi? – Mary resmungou, demonstrando todo o mau humor de alguém que não havia conseguido dormir direito durante toda a noite.
- O CHARLES!
- O que aconteceu com o meu irmão?! – ela se ergueu em um pulo, pensando que algo ruim poderia ter acontecido.
- LEIA!
A garota colocou a carta diante dos olhos dela, mas Mary não conseguia definir nada do que estava escrito por ainda estar coma visão prejudicada pelo sono. Então Vicky tomou a iniciativa:
- Ok, eu leio! – e começou – ‘Mary, você não vai acreditar! Um mês atrás participei de uma promoção em um mercado onde eu trabalhei. Eu preenchi alguns cupons que ganhei do meu chefe com o seu nome... E VOCÊ GANHOU!’
- ... Eu... ganhei? – perguntou Mary babosamente, ainda tentando assimilar tudo o que a amiga lera, e que fora dito de uma forma muito rápida para que sua cabeça, naquele estado, pudesse acompanhar.
- Advinha o que você ganhou! – disse Vicky, dando pulinhos com a carta e quase fazendo a cama da enfermaria desmontar.
- O quê? – perguntou ela, não estando em condições para adivinhar.
- UMA VIAGEM DE TRÊS DIAS PARA O LUGAR QUE VOCÊ ESCOLHER!
O grito de Vicky ainda ecoou por alguns instantes na mente de Mary até ele formar um sentido claro... ela havia ganho uma viagem... para onde ela quisesse ir?... Isso significava que...
- Você vai para Nova York, não vai? – perguntou Vicky, parecendo preocupada com a reação indefinida de Mary.
- ... Nova York? – Mary repetiu, pensando que aquilo era uma ilusão criada pela sua mente confusa com os acontecimentos dos últimos tempos.
- Mary? Deram alguma poção estranha para você tomar?
Mas Mary não ouvia mais nada do que acontecia em sua volta, e se perdia cada vez mais em pensamentos.
“Eu queria tanto encontrar-lo... tanto, tanto, tanto... que eu parti para Nova York naquele final de janeiro, sem me importar com as aulas que eu perderia e tudo mais...
Porém... ao chegar lá, minha sorte imensa com o sorteio foi totalmente esgotada. Acabei me perdendo, fui assaltada e ainda uns caras mal encarados me cercaram... Sem varinha, sem dinheiro, sem passaporte e completamente desesperada sem saber o que fazer, só me restou uma única alternativa. Gritei com toda a minha força por Doumajyd...
Então, mal podendo respirar, eu encarei a pessoa que viera em meu socorro, e tudo que eu consegui dizer ao vê-lo foi:”
- Mentira...
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