Na tesouros
Em um alto edifício de Nova York, diante de uma grande janela em um quarto mal iluminado, uma figura de cabelos bagunçados observava atentamente as luzes da cidade abaixo dele. Ao seu lado, jogada de qualquer maneira no chão, estava um exemplar da revista Tesouros.
***
Três dias depois, quando Mary entrou na sala de aula, percebeu uma atmosfera diferente a sua volta. Todos lhe lançavam olhares intensos, e ela ficou um tempo parada na porta, tentando decidir o que faria: entrava de uma vez ou voltava e se trancava no seu dormitório pelo resto do dia.
Mas antes de poder escolher, sentiu uma sensação estranha que há muito tempo não sentia. Então rapidamente procurou por algo na mochila, enquanto saia correndo com o coração acelerado. A esfera de cristal estava tentando chamar a sua atenção, e praticamente pulava entre as outras coisas dentro da mochila.
Mary a tirou rapidamente, vendo a fumaça azulada tomar forma, enquanto seguia para a sua torre, não muito longe dali.
‘Será que finalmente depois de tanto tempo...’, ela se perguntava prendendo a respiração.
- E aí, Cogumelo?! – cumprimentou a pequena figura de Simon Nissenson acenando de uma maneira muito alegre na esfera – Quanto tempo!
- Simon?! – perguntou Mary surpresa, mas ao mesmo tempo se repreendendo mentalmente por ter imaginado que poderia ser outra pessoa.
- Eu vi a Tesouros desse mês! – disse ele – Incrível, hein?!
- Viu o quê? – perguntou ela confusa, chegando à torre.
- Bem seu estilo ficar fingindo que não sabe de nada! – ele riu.
De repente a figura de Nissenson desapareceu e foi substituída pela de MacGilleain, que informou com a mesma empolgação do amigo:
- Como essa revista é vendida internacionalmente, é bem provável que o Chris a veja!
- Eu realmente não sei do que vocês estão falando, Adam. – disse ela, mesmo assim rindo.
- Ah, entendi, esse era o seu plano, não é? – MacGilleain perguntou desconfiado – Fazer com que ele fique com ciúmes e volte correndo?
- Vocês não mudaram nenhum um pouco depois da formatura, não? Pensei que iriam se tornar adultos, mas ficam aí rindo como dois garotos bobos! Eu já disse que não sei do que estão falando!
Dessa vez a figura de MacGilleain foi trocada pela de Nissenson. Mary supôs que os dois ficavam tomando a esfera um do outro.
- De qualquer forma nos vemos no almoço! – disse o dragão.
- Vamos aproveitar e comemorar a sua estréia! – a cabeça de MacGilleain apareceu momentaneamente.
- Até depois, Cogumelo! – se despediu Nissenson, e a sua imagem voltou a ser um redemoinho de fumaça azulada.
- Que estréia?! – Mary perguntou irritada para a esfera, mas ninguém a responderia mais – Inacreditável!
- Ah! Aí está você!
Mary se virou para ver quem acabara de entrar correndo na torre e se deparou com um Jheremy ofegante, parecendo extremamente feliz.
- Eu estava a procurando pela escola inteira! – disse ele sorrindo, lhe estendendo uma revista – Já viu isso?
Os olhos de Mary se arregalaram diante daquilo.
- QUÊ?! – ela arrancou a revista das mãos dele para poder ver melhor.
Era um dos números da Tesouros, uma das revistas bruxas sobre moda mais famosa da sociedade bruxa, que era lançada também internacionalmente. Na capa, estava uma das fotos que ela havia tirado junto com Jheremy naquele dia me Hogsmeade. A que ele a abraçava e a erguia para que ela ficasse uma cabeça maior que ele, já que a realidade era bem ao contrário.
- Você disse que não seriam publicadas! – ela praticamente rosnou para ele.
- Eu disse para eles que essas fotos seriam para você! – ele se defendeu – Mas o editor gostou delas e eu não posso contrariar o meu chefe!... Mas essa foto ficou muito boa, não? Você até parece uma profissional! Se começar a trabalhar nesse ramo, com certeza-
- Não dá. – Mary suspirou, como um tom de ponto final – Realmente é impossível.
- Claro que é possível! Eu tenho certeza de que você poderia ser uma modelo, apesar da altura!
- Não estou falando disso, Jheremy!
- ...Não? – perguntou ele confuso.
- Eu não posso ser sua amiga assim. Você se esconde, ninguém sabe da sua fama. Mas eu não tenho como me esconder disso. Agora eu entendi os olhares mortais que recebi antes na sala! Não posso... O que foi? Por que está chorando?! – Mary o encarou chocada.
- É que... – ele fungou, tentando secar os olhos por debaixo dos óculos de falsas lentes grossas – É que você disse que não pode ser minha amiga...
E então ele soluçou ainda mais, escondendo o rosto nas mãos, e deixou Mary completamente sem saber o que fazer.
- Não chore! – ela tentou buscar, desesperada, alguma maneira de fazê-lo parar – Você é um homem, não é?! Não pode chorar assim!
- Me desculpe! – pediu ele fungando – Foi minha culpa! Não diga que não será mais minha amiga por causa disso!
- Não era isso que eu queria dizer! Eu só... Ok, eu retiro o que eu disse, portanto pare de chorar! Eu sou sua amiga!
- Sério? – ele perguntou se acalmando, tirando os óculos e enxugando os olhos – Sério mesmo?
- É sério. – ela respondeu.
- Que bom! – ele a abraçou, a tirando do chão, e começou a rodar com ela pela torre – Eu prometo que não vou deixar que algo assim aconteça de novo! Por isso continue sendo minha amiga!
- Ok, ok, entendi! – disse ela rindo – Agora me solta! Eu estou ficando ton-
- Olá!
O coração de Mary quase parou ao ouvir aquela voz vinda da entrada da torre. Lá estava Ryan Hainault, observando calmamente a cena. Ao perceber que havia mais alguém ali, Jheremy imediatamente a recolocou no chão sem graça.
- Desculpe. Interrompi? – perguntou Hainault olhando de um para o outro.
- Não, não interrompeu! – Mary apressou-se em dizer, indo até ele – O que está fazendo aqui na escola? Algum problema?
- Hoje vai ser a festa de inauguração da Ala dos Dragões, não lembra? Pelo que eu fiquei sabendo havia até um marcador com a contagem regressiva na frente dos panos que escondiam a reforma no Salão Principal.
- Ah, então foi por isso que o Simon e o Adam falaram aquilo antes... – ela conseguiu achar um sentido parcial na conversa estranha que tivera com os outros Dragões momentos atrás.
- Ele está bem? – perguntou Hainault.
- Ele? – Mary olhou em volta procurando por Jheremy, momentaneamente esquecido por ela – Onde ele está?!
- Acabou de sair sem dizer nada. – informou o dragão – Fiz algo errado? Parece que ele não gostou nada de eu ter aparecido.
- Não entenda mal, Ryan. Ele é um amigo meu aqui em Hogwarts. Mas ele não é muito fã do D4, por isso deve ter fugido.
- Ele deixou algo ali. – Hainault apontou para a janela, onde Jheremy havia esquecido a revista.
- Ah, isso é... Ah, meu Merlin! – Mary se lembrou de algo de repente – A aula! Tô ferrada! Vou ganhar outra detenção! Preciso ir, Ryan! A gente se vê depois! Até! – e ela saiu apressada.
Hainault riu dela e foi até a janela pegar a revista, que ela também acabara esquecendo na pressa. Porém, ao ver a capa, sua expressão divertimento foi imediatamente substituída por uma de preocupação.
***
- Uaaauuu... – foi tudo o que Mary conseguiu pronunciar ao subir as escadas da Ala Especial, agora oficialmente renomeada como Ala dos Dragões, e se deparar com o novo visual.
Ela tinha se acostumado a ver aquele espaço como o lugar dos Dragões, onde havia uma mesa para as refeições dos quatro, poltronas confortáveis, uma lareira grande, cortinas volumosas nas grandes janelas, um espaço razoável repleto de passa-tempos legais para eles matarem aulas... Tanto, que a mudança estava muito além do que ela poderia ter imaginado encontrar.
Além de ter sido ampliada, para que um número maior de mesas e poltronas coubessem ali, havia sido acrescentado também, no meio do espaço, uma estátua de quatros dragões juntos, cada um levando no peito o símbolo de uma das casas. Em cima da lareira, havia sido colocado um quadro enorme, com a pintura em tamanho real do D4 com suas vestes de Hogwarts. Mary se aproximou e ficou diante da obra, para poder vê-la melhor. Lá estava MacGilleain e Nissenson, o primeiro com seu jeito natural de ser encantador e o segundo com o seu ar inteligente. Logo depois estava Hainault, com a sua imagem sempre tranqüila e serena, apenas levemente sorrindo. Mas, na parte da pintura da qual Mary não conseguia tirar os olhos, estava um bruxo de cabelos bagunçados, que a encarava com um ar de total desprezo e arrogância. O Doumajyd ali parecia mais real do que a imagem do dragão que ela guardava em seus pensamentos. Parada diante do quadro, Mary teve que admitir para si mesma que desejava como nunca poder ter o verdadeiro Doumajyd diante dela.
- Se você continuar olhando desse jeito, o quadro vai cair. – comentou Hainault bem perto a orelha dela, quase a fazendo desmaiar com o susto.
Ao mesmo tempo, os outros Dragões explodiram e risadas atrás dela:
- Ela estava mesmo hipnotizada! – disse MacGilleain.
- Geralmente a composição química da tinta mágica ainda fresca causa isso nas pessoas! – informou Nissenson rindo mais ainda – Garanto que ela nem percebeu que tínhamos chegado, mesmo com a nossa legião de fãs em Hogwarts gastando todo o ar de seus pulmões!
- É bom ver vocês também. – cumprimentou Mary ironicamente, percebendo que, realmente, todas as alunas de Hogwarts estavam ali fazendo alvoroço por eles.
- Licença! Licença! Estou passando! – Vicky veio tentando abrir caminho por entre as alunas que se acotovelavam umas nas outras – DÁ PRA SAIR DA FRENTE! – Com o grito ela conseguiu chegar até onde estavam Mary e os Dragões e foi direto acusando Nissenson – Você me deixou para trás!
- Eu... anhm... Vamos para a nossa mesa! – disse ele mudando de assunto e saindo para um dos lados mais bem decorados da nova Ala junto com MacGilleain.
- Ei! Não terminei ainda! – Vicky foi atrás dele decidida.
- Mesa? – Mary perguntou para Hainault.
- Um espaço que foi feito exclusivamente para nós, os Dragões, para quando viermos aqui em Hogwarts. – ele informou como se fosse algo qualquer, seguindo os amigos também.
- Inacreditável... – ela murmurou indo atrás dele, finalmente entendendo o que havia a mais naquela reforma patrocinada por eles.
Com um espaço somente deles na nova Ala, eles poderiam aparecer na escola quando bem entendessem, sem precisar de um motivo.
E esse espaço era totalmente diferenciado do restante. Ele ficava bem em frente a uma grande janela com uma sacada, decorada com cortinas negras de estrelas douradas. Tudo ali refletia o D4, tendo inclusive pequenas molduras na parede, com fotos deles dos anos em que haviam estudado em Hogwarts.
- Completamente inacreditável... – disse Mary mais uma vez diante daquilo, deixando-se cair sentada em um sofá de veludo da mesma cor que a cortina, enquanto admirava em volta.
- Vai dizer que não ficará feliz com visitas nossas aqui, Mary? – perguntou MacGilleain diante do comentário dela, ao mesmo tempo em que bandejas repletas de doces finos e chás surgiram na mesa.
- Posso viver muito bem sem vocês! – ela informou com um tom arrogante, imitando o modo deles de agir.
- Se é o que vocês diz... – falou Nissenson encolhendo os ombros, tentando se afastar educadamente de uma Vicky que insistia em ficar do seu lado – Não vamos mais vir salvá-la quando estiver em problemas.
- Parece até que você está feliz nesse último ano. – riu MacGilleain.
- Feliz, nada! – defendeu-se Mary – O pessoal daqui continua sendo insuportável!
- Garanto que se o Chris estivesse aqui você não admitiria isso.
- E por que não? – ela perguntou, procurando fazer uma expressão de indignação – Não tenho nada mais a ver com aquele idiota para ficar escondendo algo dele!
- Ela só está se fazendo de forte. – informou Vicky, se servindo dos doces.
Mary lançou um olhar mortal para a amiga, mas eles riram.
- Não estou não! – ela se defendeu.
- Tudo bem, Mary. – disse MacGilleain – Nunca podemos prever o que o Chris fará. Se você acha que não vai conseguir agüentá-lo, não somos nós que iremos tentar a convencer do contrário.
- Um dia você achará alguém para você, seja dragão ou não. – complementou Nissenson – Mas eu passo!
- Eu também! – MacGilleain levantou a mão.
- E quem disse que eu quero algum de vocês?! – perguntou Mary rindo – Eu passo também!
“Naquele dia, eu percebi como sentia falta de passar um tempo rindo com eles, e como seria divertido se pudéssemos ter vidas normais de estudantes naquela escola e sermos amigos...
Porém, aquele momento alegre estava apenas anunciando a tempestade que viria depois, e acabaria por ruir toda a minha já fraca estabilidade em Hogwarts...
Foi quando, no outro dia, eu cheguei ao meu lugar na sala de transfiguração e me deparei com algo que eu nunca mais esperava ver na minha vida.
Enquanto eu ainda estava chocada diante daquilo, alguém saiu correndo da sala, anunciando para a escola inteira”:
- A TARJA VERMELHA!!! MARY ANN WEED RECEBEU A TARJA VERMELHA!!!
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