Alguém igual a mim



Começo de janeiro, em Hogwarts.


Mary não perdeu tempo ao voltar para a escola. Depois de anunciar a sua decisão oficialmente para Vicky, ela começou organizando seus horários, para que pudesse aproveitar o tempo em que geralmente ficava sem fazer nada na estufa para estudar. Começou a prestar uma atenção redobrada nas aulas, e procurava não perder tempo se enfurecendo com as brincadeiras de mau gosto dos colegas. Passou a utilizar seus intervalos entre aulas para idas freqüentes a biblioteca, onde ficava um bom tempo decorando feitiços.
E era isso que ela estava fazendo naquele momento, andando devagar entre as estantes, recitando baixinho as palavras de um livro.
- Abaffiato... Accio... Aguamenti... Alorromora... Anapneo... Aparecium... Aresto Momentum... AvisAAAHHH! – ela caiu de cara no chão.
Então levantou depressa, ainda tonta pelo tombo, e se deparou com as três alunas implicantes da Sonserina, rindo entre as estantes que ela acabara de passar.
Uma delas havia colocado o pé na frente de Mary para derrubá-la, e ela não percebera por estar concentra demais no livro.
- Será que vocês não dão um tempo?! – perguntou Mary irritada, tentando se controlar para não agarrar o cabelo de cada uma delas e as jogar pela janela da biblioteca.
- Não temos culpa se você cai por andar distraída. – se defendeu a ruiva.
- Foi estúpido da sua parte. – informou a de cabelos encaracolados.
- Não falem assim, meninas. – defendeu a líder loira – Ela não tem culpa se precisa se esforçar tanto em aprender feitiços para tentar esconder que é uma sangue-ruim!
As três gargalharam mais ainda e começaram a dizer mais insultos quando, de repente, foram cobertas por uma chuva de livros. Mary deu um pulo para trás para não ser atingida também, já as outras não tiveram alternativa a não ser se protegerem com os braços.
- Ah, desculpa! Desculpa!
Um aluno de óculos de lentes grosas, praticamente escondidos de baixo de uma juba de cabelos loiros escorridos pela testa, apareceu da estante atrás delas. Mary deduziu que ele havia tropeçado por não enxergar direito e, ao tentar segurar na estante para não cair, acabara derrubando todo o conteúdo desta em cima das garotas.
- Você derrubou livros pesados em cima de nós! – acusou a de cabelos encaracolados com uma voz esganiçada pela raiva.
- Eu me machuquei! – quase chorou a ruiva, procurando por hematomas nos braços – Preciso ir para a enfermaria!
- Quem é você?! – exigiu saber a líder furiosa – Me diga seu nome e ano! O diretor irá tomar providências sobre isso!
- Jhe-Jheremy Sawbrook, sexto ano. – informou ele se encolhendo, tremendo de medo da garota.
Mary o encarou chocada.
- Espere por no mínimo uma detenção, Sawbrook! – informou a líder pegando a amiga ruiva pelos ombros e saindo com ela e a outra para irem para a enfermaria.
- Chega a ser engraçado, não? – o garoto perguntou rindo para Mary, mudando instantaneamente seu modo de agir quando as garotas desapareceram pela porta da biblioteca – Acham que o mundo gira em torno delas!
- Você... – Mary tentou encontrar palavras que não saíssem embaralhadas pela sua surpresa – Você é mesmo o Jheremy Sawbrook?
Ainda rindo, ele ergueu a franja que lhe cobria o rosto e tirou os óculos, revelando seus olhos verdes.
- Mentira... – foi a única coisa que Mary conseguiu murmurar, pensando que isso explicava muita coisa.


***


- O pessoal de Hogwarts realmente não vale a pena, não é mesmo? – perguntou Jheremy distraído dobrando um pedaço de papel de avisos da biblioteca – Eu não quero me envolver muito e chamar a atenção...
Mary permaneceu calada, apenas observando a concentração dele em dobrar o papel e ao mesmo tempo contar o motivo pelo qual agia daquela maneira na escola. Ela o havia levado até a Torre do Desabafo, onde poderiam fugir por um tempo até que as garotas da Sonserina se acalmassem.
- Sabe, eu também sou um meio-sangue e minha família não é muito rica. – continuou ele – Só falta um pouco mais de um ano para eu me formar. Tudo o que eu quero é concluir meus estudos aqui de uma forma pacífica, sem me envolver com essas pessoas arrogantes que fazem coisas cruéis.
Mary ouviu essa confissão como se fosse um eco de seus próprios pensamentos. Antes de ter recebido a Tarja Vermelha. Sua intenção também era a de se formar sem se envolver. Então, havia alguém que pensava como ela em Hogwarts.
Jheremy finalizou a sua dobradura no papel e mostrou para ela um pequeno avião, dizendo orgulhosamente:
- Pronto!
- ...O quê? – Mary não entendeu o que ele pretendia.
O garoto procurou em volta e então pegou algo no chão.
- Aqui. Essa formiga é você, e esse avião sou eu. – ele colocou a formiga no papel e foi até a grande janela.
Mary o seguiu, curiosa em saber o que ele faria com aquilo. Então ele jogou o aviãozinho com a formiga pela janela em direção à Floresta Proibida.
- Às vezes você não pensa que seria bom poder fazer isso? Simplesmente sair voando e ir para bem longe dessa escola?
A aviãzinho deslizou suavemente, cruzando o ar dos terrenos de Hogwarts, e continuou o seu caminho até cair em um ponto distante entre as árvores da floresta. Mary observou todo aquele movimento pensando que realmente seria bom, poder voar e fugir de tudo.
- Mary, você poderia ser minha amiga? – Jheremy perguntou de repente, como se por todo aquele tempo, estivesse reunindo coragem para dizer aquilo.
- Amiga? – Mary se espantou com a pergunta repentina e o encarou surpresa.
Nunca alguém havia lhe pedido para que ela fosse sua amiga. Geralmente, as pessoas não perguntavam isso diretamente e daquela forma.
- Na verdade, – ele continuou arrumando os óculos desajeitadamente – seria bom se você fosse a minha namorada!
- Que?! – Mary se surpreendeu ainda mais.
- Você não tem mais nada a ver com o Doumajyd, não?
Mary abriu a boca para dizer algo, mas nada saiu. Simplesmente porque ela não tinha uma resposta para aquela pergunta.
- Eu sei que sou mais novo que você, mas não precisa responder agora! – ele apressou-se em acrescentar, empolgado em continuar pela reação dela – Sabe, primeiramente podemos ser amigos, o que acha?
- Jheremy, eu...
Ela não pôde responder, pois ele inclinara a cabeça para ficar na altura dos olhos dela, muito próximo ao seu rosto, e então perguntou:
- Pode vir comigo agora?
Mary pestanejou, tentando se afastar, e perguntou nervosa:
- Pa-para onde?


***


Mary não conseguia nem respirar diante do que via. Os flashes de câmeras, as luzes ofuscantes, o prateado dos cenários montados, os cabides com roupas deslumbrantes espalhados por todo o local, o corre-corre da produção...
- Mentira... – fui tudo o que ela murmurou enquanto observava, de um canto da sala, Jheremy ser fotografado – Ele é... um modelo?...
Ele insistira em levá-la para Hogsmeade, onde prometera lhe mostrar o lugar em que trabalhava as vezes. Durante todo o caminho ele ficou falando como ela iria gostar de conhecer os bastidores da produção de uma revista de moda famosa entre os jovens, mas ele não havia mencionado, em momento algum, que ele seria a estrela principal. Agora lá estava ele, agindo como um profissional, nem um pouco parecido com o aluno desajeitado de óculos grossos que passava despercebido em Hogwarts.
Mary pensou que agora poderia falar para Vicky o porquê da sensação de ela já o ter visto, mas não em Hogwarts. A garota tinha várias coleções de revistas bruxas, e ele provavelmente estaria em algumas delas.
- Bom Trabalho, Jerry! – disse o fotografo, anunciando que havia finalizado.
- Será que poderia tirar algumas fotos minhas com ela? – Jheremy pediu, apontando para Mary.
Ela estava tão perdida em pensamentos, fazendo ligações, que se assustou quando percebeu que falavam dela:
- O quê?!
- Tudo bem, Mary! – ele foi até ela e a puxou pela mão – Só algumas fotos! Aproveita que é uma oportunidade rara!
- Ma-mas eu não quero fotos minhas em revistas! – ela tentou fugir.
- Não se preocupe, elas não irão aparecer em revistas... Amy! – ele chamou uma moça do outro lado da sala estralando os dedos – Faz a maquiagem dela aqui, por favor? E arranja algo legal para ela vestir também!
Sem ter como dizer não diante de toda a boa vontade do pessoal da produção em atender o capricho do modelo, Mary acabou aceitando.

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