A moeda de três faces
Já era metade do mês de janeiro. Mas Rony ainda tinha as imagens tão nítidas na cabeça, como se elas estivessem acontecendo na sua frente naquele exato momento. Logo ia fazer um mês da morte de Hermione e ele ainda não entendia como estava vivo. Talvez fosse a sede de vingança. Talvez no momento em que ele matasse o responsável, sua vida novamente perderia toda a razão, e então ele se mataria. Ou deixaria que algum capanga de Voldemort o matasse.
Era tudo muito incerto em sua mente. As vagas lembranças do momento do velório, até a cremação de Hermione eram fracas. Mas ele podia lembrar alguns elfos domésticos choramingando pela criadora do F.A.L.E, liderados por Dobby que só sabia assoar o nariz. Também viu o desgraçado do Malfoy, que pela primeira vez na vida, demonstrava uma tristeza desmedida, ele só não sabia se aquelas lágrimas eram de crocodilo, ou não, mas Draco chorara no velório, e também no enterro. Não foi diferente para os pais dela, que além de não se verem a um tempo, agora, tinham, sua única filha morta. Harry ficara muito violento, e foi necessário até o preparo de uma poção especial para acalmar seus nervos, e fazer com que ele dormisse um pouco. Foi só quando os pais de Hermione diziam não culpá-lo, que Harry pareceu se tranqüilizar.
Gina, Fred e Jorge, Carlinhos, Lupin, e Molly tentaram reanimar Rony de tudo que era jeito. Mas este se desvencilhava e se refugiava embaixo de uma árvore qualquer do pátio da Toca, onde a cerimônia fúnebre acontecia. Fleur chorava tão alto que aquilo parecia entrar pelos ouvidos dele, e como um disco arranhado, se reproduzir em sua cabeça, até mesmo durante seus sonhos, onde Hermione ainda estava viva, mas do nada aquele choro vinha, e Mione sumia na escuridão, o deixando sozinho.
Foi acordado de seus pensamentos, com Gina e Harry, que agora pareciam unha e carne, a lhe cutucar no ombro. Rony não os culpava mais por estarem juntos. A morte de Hermione fez com que eles ficassem com medo do futuro, e Harry precisava de Gina. Apesar de Rony, ter receio da segurança de sua irmã, eles ainda estavam na Toca. Bastava Gina ter bom senso de não querer fugir com eles. Até porque, nem mesmo Snape estava disposto a acompanhá-los em nenhuma missão. Os dois tinham sido proibidos de se meter em qualquer assunto, mesmo que Harry continuasse sendo o pivô das histórias que envolviam o temido Você-Sabe-Quem.
-Rony, sua mãe está preocupada que você não se alimenta direito.
-Sim Harry... Estou indo.
-Vamos logo, maninho. Tonks está aqui junto com Lupin. Ela trás noticias. Pode ser útil pra partida de vocês hoje à noite.
-Se pelo menos Saki ainda estivesse aqui...
-Saki? Quem é saki?
-É o dragão que Carlinhos levou embora, para que Rony não inventasse de sair com ele na calada da noite – explicou Harry a Gina, enquanto arrumava o cabelo dela, que insistia em voar por causa do vento. Talvez fosse a última coisa que fizesse, antes de morrer, para salvar o futuro digno que ela e todos os bruxos bons mereciam. Não queria que Rony se metesse, mas era uma questão pessoal do amigo, em relação a Voldemort e a morte de Mione.
-É. Com Saki aqui, eu poderia saber de tanta coisa...
-Do que você está falando Rony?
-De nada não Harry, só estou dizendo que nós poderíamos ir com Saki, já que confiscaram nossas vassouras. Não é verdade?
-Nisso você tem razão.
-Não se preocupem garotos. Eu sei onde Fred e Jorge colocaram as vassouras. Posso pegá-las para vocês.
-Mas não é perigoso Gina?
-Não Harry, basta driblar os feitiços bobos que eles costumam colocar. Eu aproveito e pego o mapa do maroto que eles também esconderam de você, não foi meu amor?
-É por isso que te amo. Você tem tudo que eu preciso...
Rony teve que ver o beijo apaixonado dos dois. Mas se levantou antes que acabasse, e saiu debaixo daquela árvore onde havia dado seu primeiro beijo em Hermione. Ia partir para a vingança naquela noite.
Já estavam, Harry e ele, a caminho de Godric’s Hollow. Rony tinha decidido com o amigo procurar a horcrux final naquela cidade, pois havia uma possibilidade que Voldemort tivesse perdido seu colar precioso lá durante o ataque a Harry, já que isso o tinha feito perder todos seus poderes, e até mesmo seu corpo físico. A moeda de três faces tinha que estar em algum canto daquela cidade.
Rony tinha deixado a família e os amigos, e não pretendia voltar. Ia acabar com Voldemort, e em seguida com ele mesmo, se assim pudesse. Caminhou mais rápido, de um modo que deixou Harry para trás.
-Espera Rony!
-Vamos depressa, o vilarejo é por aqui, de acordo com o mapa que Gina conseguiu.
-Eu detestava aparatar, mas agora que só temos as vassouras, gostaria de poder estar lá num segundo. Quero muito ver o túmulo de meus pais.
-Isso me lembra que Hermione foi enterrada naquela cidade trouxa, o que me dá mais raiva.
-Por quê?
-Ora por quê? Porque eu a amo, e queria ser enterrado ao lado dela. Mas meus pais vão me enterrar no cemitério onde toda nossa família é enterrada.
-Para de falar bobagem! Você não vai precisar ser enterrado, porque não vai morrer!
Rony achou melhor concordar com Harry, apenas para ele não desconfiar de seus planos.
-Um dia todos morrem Harry, foi isso que eu quis dizer.
-Hum... Olha!
Harry apontou para um aglomerado de casas, todas iguais, ao longe.
-Deve ser Godric’s Hollow! – exclamou Harry, ansioso, descendo a colina aos pulos, para chegar até a cidade. Rony sentiu o vento frio bater em seu rosto. Alguma coisa lhe dizia que a moeda de três faces jazia naquele vilarejo. Seguiu adiante atrás do melhor amigo.
Enquanto Harry, olhava o túmulo de seus pais, Rony, friamente, foi até o túmulo, de mármore branco, de Dumbledore.
-Se você estivesse vivo, a Hermione talvez não tivesse morrido. Você poderia ter nos protegido – disse com raiva.
Depois deu meia volta, e viu Harry secando as lagrimas na manga do moletom na frente dos túmulos dos pais. Mas ele não se importava com o amigo. A vingança estava dominando sua mente, e qualquer desejo seu. Tocou em seu próprio rosto, como se o vento gelado fosse a mão de Hermione ali.
-Vamos Harry – disse para se livrar da sensação.
Os dois saíram do pequeno cemitério, e logo estavam na casa onde Harry Potter marcara sua vida para se tornar o menino que sobreviveu. Mas nada disso importava a Rony. A vingança era seu único apresso agora.
Entrou com tudo, quase derrubando o portão enferrujado, nem reparando na raiva e angústia de Harry em ter que voltar para o lugar onde seus pais tinham sido mortos. Mas ambos entraram na casa, semi destruída. Era lá que a moeda estava. Rony achava até que sentia o cheiro dela. E não estava errado.
Ao entrar no quarto, agora, totalmente destruído, onde o bebê Potter, fora atacado, ele se agachou e começou a tirar toda a poeira do chão. Foi quando jogou um pedaço de parede pro alto, que uma alegria perturbada o preencheu.
-Achei Harry. Está aqui.
Ele soprou no objeto, e assim que a poeira saiu, a moeda de prata, que magicamente voava dentro de um circulo de ouro, agora começava a brilhar intensamente. Harry tentou jogar a moeda longe, mas ao tocar nela, Rony o jogou no chão. Parecia ter ganhado uma força incrível.
-Não toque em mim, pois eu sou Três Faces, e em Três Vidas te matarei, e em Três Dias te cortarei em Três pedaços.
Harry pegou sua varinha a tempo de tentar fugir de um Rony possuído.
-Accio Firebolt!
Sua vassoura chegou no mesmo instante que ele chamou, não sabendo o que fazer, ele tirou a moeda de três faces da mão de Rony, dando um soco na mão do amigo, que uivou de dor.
-Foi preciso, desculpa, mas agora chama sua varinha e deixa a moeda ai...
-Não, eu vou destruí-la!
-Como? Ficou maluco? Tem um espírito maligno na moeda, você quase me mata.
Rony mal deu ouvido a Harry, e quando ia pegar a moeda, gritou:
-Vamos aparatar até aquela casa, onde sabemos que Voldemort se esconde! Lá em Hogsmeade, temos que destruir isso aqui, no pescoço dele, pois o espírito deve ser neutralizado quando está sob seu domínio.
Rony pegou a moeda, e junto com Harry, aparatou para a casa em Hogsmeade onde Voldemort estava morando, segundo os sonhos de Harry.
Nangini estava ali, enroscada em seu pescoço. De fato, a cobra era a sua horcrux mais preciosa. Dos demais objetos, o de maior importância era a moeda de três faces, que era a única horcrux da qual ele não fazia idéia do paradeiro. Snape estava prometendo lhe ajudar, era por isso que levava Draco, para que os dois, procurassem em todos os cantos o paradeiro da moeda.
Levantou-se e colocou Nangini perto de sua comensal mais sedutora, Bellatrix Lenstrange. Mais tarde ele poderia lhe oferecer algumas jóias em troca de alguns serviços extras. Foi até o balcão e se serviu de uma bebida queimante. Estava sentindo a energia do garoto Harry Potter. Ele devia estar se aproximando. Era chegada à hora de matá-lo.
-Matei duas paixões suas, garoto Potter, a tal menina Chang, e a sangue ruim Granger. Você deve estar tão vulnerável.
Sorriu maliciosamente, pois dessa vez, com os pontos fracos de Harry destruídos, estava fácil matar Harry.
O que Voldemort não sabia, pois nenhum comensal sequer era informado, ou lembrava, do assunto, nem Snape nunca comentara, porque nunca fora questionado, é que a mesma menina da câmera secreta, era a atual namorada de Potter. E isso faria toda diferença na batalha que estava preste a acontecer.
Rony bufava, gritando de dor ao lutar mentalmente com o espírito da moeda para não ser dominado novamente. Mas precisava entrar na casa, onde Voldemort estava, pelos fundos, e pediu que Harry abafasse sua voz. Harry apontou a varinha para sua boca.
-Silencio! – exclamou ele, e no mesmo instante a voz de Rony sumiu. Os dois então adentraram a casa.
-Eu esperava por vocês... Senti seu cheiro Potter – disse a voz arrastada de Voldemort naquela semi-escuridão, apenas uma vela ao longe iluminava o ambiente, como nos sonhos de Harry.
Rony agarrou a moeda bem forte, e a colocou no pescoço de Voldemort, pulando em cima dele. Vários comensais agarraram a perna de Harry nesse mesmo instante.
-Estupefaça! Estupefaça! Anda logo Rony! Estupefaça!
Harry atirou longe três comensais. Um quarto conseguiu lhe atingir com o feitiço Levicorpus. Mas logo Harry voltou à posição normal, e o atingiu com Sectusempra.
Rony ainda lutava no pescoço de Voldemort.
-Você a matou, desgraçado! Você vai me pagar!
Quando a moeda foi cravada no pescoço de Voldemort, Rony pegou sua varinha e gritou:
-Diffindo!
Na mesma hora o objeto ficou em cacos na pele de Voldemort, que começou a uivar de raiva. O fragmento da alma dele desapareceu como poeira na chuva, quando a moeda caiu em pedaços no chão.
-Agora basta matar você! – exclamou Rony. Mas Voldemort então o pegou pelos pulsos.
-Do que você está falando?
-Eu sei sobre as horcruxes!
-Como? Ninguém sabe!
-Dumbledore sabia, e nos contou, contou a Harry. Eu sei. E agora só falta você morrer.
-Muito enganado. Nangini vai esmagar Harry, veja com seus olhos, ela é minha horcrux também.
Rony então se deu conta do que estava fazendo. Harry estava agora sendo esmagado por Nangini, e ele sendo segurado por Voldemort, não podia fazer nada, era o fim dos dois. Como ele fora tolo!
-Quem salvará vocês desse destino trágico? – perguntou Voldemort com desdém. – Vão morrer, uma morte pior que a amiga Granger de vocês.
Rony amargou com a falta de saída. E agora? Como Harry, e ele, sairiam dessa?
Uma luz muito forte apareceu do nada. Ela era tão ofuscante, que fez todos os comensais correrem de medo para o lado oposto do qual ela vinha.
-Mas... Mas... O que é isso? – quis saber Voldemort, que teve que largar um dos pulsos de Rony para tapar seus olhos. – Acabem com essa luz! – ordenou a seus capangas, mas nenhum deles ousou levantar uma varinha sequer.
Rony sentiu novamente a esperança ser preenchida em seu peito. Mas notou que Harry já ficava roxo, porque Nangini nem fizera caso com a luz, e continuava a esmagá-lo.
-Harry! HARRY! – gritou Rony para um amigo já fraco de tanto lutar com uma cobra.
Foi quando a luz se desfez. Ela estava vindo da porta dos fundos da casa, mas o que era uma porta, agora estava sendo destruída, porque um enorme dragão, branco azulado, adentrava a pequena casa de Hogsmeade. Detonava o telhado e quase tudo a sua volta, apenas com os movimentos da cabeça e da cauda.
-É o Saki! – esbravejou Rony de alegria.
-Quem? – perguntou um Voldemort totalmente aturdido.
Saki soltou fogo muito forte em cima dos comensais, tão forte, que todos correram para fora da casa. E novamente a luz voltou. Ela saia da nuca do dragão, como Rony pode observar. Por causa disso, ele então se deu conta, que havia alguém no dorso do animal. Parecia uma mulher.
-Hermione! HERMIONEEE! É VOCÊ???
Mas quando a luz refletiu na pessoa que estava lá, Rony sentiu seus músculos afrouxarem. Era Gina que montava o animal.
-Mas o que ela faz aq...
Rony não terminou a pergunta, porque Saki, naquele instante, atacou Nangini, tão ferozmente que a cobra caiu de um baque só no chão. Gina então pulou do animal, e ajudou Harry a sair de perto, enquanto o dragão continuava a atacar a cobra com sua cauda.
-Você está bem Harry? Hein meu amor? – perguntou Gina desesperada.
Rony ainda estava sendo segurado por Voldemort, que parecia arquitetar um plano. Rony percebeu que, ao ouvir de Gina as palavras ‘meu amor’, as pupilas dele haviam se fixado em sua irmã. Antes que Rony pudesse impedir, Voldemort o jogou no chão com muita força, e atacou sua irmã.
-Estupefaça!
Gina caiu, bateu a cabeça e pareceu perder a consciência. Voldemort então avançou em Harry, sem o mínimo espaço de tempo e o agarrou pelo moletom.
Felizmente o dragão já havia matado Nangini. Então Rony foi com tudo para cima de Voldemort...
-Avada...
-SE EU FOSSE VOCÊ, NÃO FAZIA ISSO!
O grito de Voldemort foi tão forte que fez Rony parar onde estava, mas ainda com a varinha erguida.
-Se você fizer isso, matará a mim e a seu amiguinho Potter.
-Do que você está falando?
-Ele é uma horcrux...
-Você só pode estar blefando! – gritou Rony.
Harry tentava sair das mãos nojentas de Voldemort, incrédulo no que ouvia.
-A moeda que você destruiu estava possuída por um espírito, e esse espírito é o Três Faces. Pois bem... Para minha sorte, quando você achou que matou o fragmento de minha alma, Três Faces a colocou em Harry.
Rony achou tudo um absurdo.
-Como pode isso? É impossível!
-Não é não. Está vendo essa cicatriz, que eu causei no menino? – Voldemort então apontou para testa de Harry. – Tem parte de mim nela, então funciona como um canalizador de energias minhas misturadas com as de potter, por isso perdi meus poderes naquela noite.
Voldemort olhou fixamente para o dragão, que o observava com aqueles olhos claros, muito seriamente. Mas resolveu continuar a conversa com o imbecil do Weasley.
-Três faces viu que a cicatriz era um canalizador de minhas energias, e colocou meu fragmento de alma ali.
-Como? Eu vi o fragmento sumir! – indignou-se Rony.
-Ele sumiu, mas adentrou na cicatriz de Harry em seguida.
-Não escuta ele Rony! Mate-o! – pediu Harry.
-Mas Harry... se for verdade você morre!
Rony olhava de Voldemort para Harry, e de Harry para Voldemort. Até que se lembrou que podia falar com o dragão.
-Saki! O que você acha?
-Ora seu tolo! – exclamou Voldemort. – Falando com um dragão? Polpe-me...
-Saki, por favor, fala comigo...
Voldemort começou a rir, enquanto Harry olhava para a cena, onde Rony apontava a varinha para o cara que o segurava, e ao mesmo tempo tentava conversar com o dragão do irmão, que Gina, agora desmaiada, trouxera, nem ele sabia porquê.
-Saki...
-Até parece que um dragão vai falar com você...
Então Saki se aproximou de Voldemort como se estivesse ofendido, e Harry sentiu a mão dele tremer, aproveitou para escapar.
O dragão encarou Voldemort, e vice e versa. Até que a luz que saia da nuca de Saki ficou tão forte, mas tão forte que cegou todos por alguns instantes. Harry tateava, de olhos vendados, o local onde Gina tinha caído, a achou e tentou reanimá-la, mas não obteve sucesso. Quando a luz parou, o dragão havia sumido, e em seu lugar, por mais que Rony, e Harry, se recusassem a acreditar, Dumbledore ali estava, em carne e osso, ainda encarando Voldemort.
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