O defeito do último vira-tempo
Harry puxou Gina, ainda inconsciente, para um canto da casa, parcialmente destruída por um dragão, que agora era Dumbledore. Como aquilo era possível?
-Tudo vai ficar bem meu amor – sussurrou ele nos ouvidos da amada, enquanto a colocava em um lugar seguro. Em seguida, olhou para Rony, que permanecia com a varinha em posição de ataque a Voldemort. Caminhou até o amigo lentamente para que os dois oponentes, que se encaravam, não notassem seus movimentos bruscos.
-O que você acha que está acontecendo aqui? – perguntou ele ao amigo.
-Eu não sei bem, mas agora entendo algumas coisas... – respondeu Rony, evasivo.
-Coisas? Que coisas?
-Saki falou comigo algumas vezes, e sempre me dizia coisas complexas, e ai está. O tempo todo era ele, Dumbledore. Será que Snape fingiu que matou ele?
Harry não tinha cogitado aquela possibilidade em nenhum momento.
-Mas eu vi na penseira... Eu pensei que...
Na verdade Harry não tinha certeza de mais nada.
-Talvez os pensamentos de Snape na penseira vocês verdadeiros. Talvez Dumbledore tenha enganado a todos – disse Rony, inflexível com a mão que segurava a varinha, porém olhando para Harry agora.
-Será mesmo? Mas por que ele não confiaria em ninguém?
-De algum modo, ele confiou em mim. Ele falava comigo, era como se quisesse me manter ao lado de vocês...
-Vocês quem?
-De ti e da Hermione... Mas claro! Carlinhos me disse que achou ele numa briga com outros dragões.
-E o que tem isso?
-Dragões não brigam um com o outro. Nunca ouviu falar disso?
-Por que não brigam?
-Porque é obvio que os dois vão morrer. Não há vencedores numa briga de dragão. Eles têm uma energia especial demais, que não permite fazer isso. Agora tudo faz sentido... Carlinhos sabia que ele era Dumbledore. Por isso se aproximou de Mione, por isso me deu o Saki.
Harry tentou acompanhar o raciocínio do amigo, enquanto visualizava Dumbledore e Voldemort começarem a andar em círculos, prontos a pegarem suas varinhas a qualquer momento.
-Então Dumbledore confiou apenas no seu irmão?
-É. E só ele pode nos dizer o motivo. Ah... Se ele pensa que vai matar Voldemort, e não me deixar me vingar... Ele está muito enganado.
Rony saiu em direção aos dois, caminhando a passos largos, Harry correu atrás, agarrando sua varinha também.
-Voldemort... – disse Dumbledore com sua voz suave e despreocupada, quase cômica para aquela situação.
-Snape matou você...
-Hum... Eu estou aqui, não estou?
-Desde quando você é um animago Dumbledore? – perguntou Voldemort com raiva.
-Voldemort... Eu sinto te informar, mas essa não é minha forma animago. Infelizmente é um probleminha na hora de digamos... “Mudar de lugar”. Só isso.
-Do que você está falando?
-Deixemos isso para lá. Quero falar de Potter agora. O que te faz pensar que Três Faces fez o que você disse que ele fez?
-Ora... Não me venha com perguntas tolas!
-Foi o que eu pensei...
-Então Harry não é uma horcrux, Dumbledore? – quis saber Rony.
-Não Rony. Voldemort sempre teve o dom de mentir para se safar da morte.
-Então posso matá-lo, me vingar pela morte de Hermione?
Dumbledore olhou penalizado para Rony, e depois se dirigiu a Voldemort.
-Você foi tolo Voldemort. Matou uma menina que Harry estimava muito, achando que seu coração ficaria pesado, a menina Cho Chang, e depois achou que a senhorita Granger fosse sua namorada, porque acreditou nas mentiras tolas dos jornais sobre o desaparecimento de Harry. Mas quem amava muito Hermione Granger era um Weasley, e você deve saber a força que essa família tem. Harry ficou sim abalado, mas abalado com o medo de perder seu verdadeiro amor, que estava sobre proteção, a menina Gina Weasley. Se Ronald Weasley não te caçasse e matasse, Harry o faria em nome da dor de Rony, e em nome da melhor amiga que morreu, e também, claro, da menina Chang.
Voldemort apenas escutava o que Dumbledore falava, absorto em pensamentos de fuga. Mas estava encurralado. Todas as saídas estavam bloqueadas pelos três. Em uma última tentativa, de desespero, ela ainda tentou agarra Gina desacordada, mas Harry e Rony, com as suas varinhas apontadas para ele, ao mesmo tempo gritaram:
-Avada Kedrava!
Um baque quase surdo se fez, quando o corpo imóvel, e pesado, de Voldemort, caiu no chão. Harry correu até Gina.
-Acorda por favor! Meu amor...
-O que vamos fazer com o corpo dele agora? – perguntou Rony a Dumbledore.
-Veja... O corpo é apenas seu último fragmento de alma. Não é bem um corpo físico. Está sumindo.
Harry e Rony olharam para farelos, que em segundos se tornaram partículas mínimas, e em seguida, nada mais do que o nada.
-Temos que levar Gina ao hospital – alegou Harry para Rony.
-Vá você Harry... Eu vou ficar.
-Como?
-Quero ficar.
-Mas os comensais podem vir atrás de você e te matar.
-É isso que quero... Morrer...
Rony então se jogou de joelhos no chão e começou a chorar. Harry estava pegando Gina no colo e não sabia o que fazer. Então uma coisa lhe veio à cabeça.
-Dumbledore...
-Sim?
-O que o senhor estava querendo dizer com “Mudar de lugar”?
-Você é tão esperto quanto a menina Granger.
-Então quer dizer, que ainda resta um vira tempo?
-Sim Harry, mas como eu disse, há alguns probleminhas nele. Um deles é que você pode se transformar num dragão.
Harry e Dumbledore riram.
-E quais são os outros? – perguntou Harry, olhando para o amigo que continuava ajoelhado, com a cara enterrada nas mãos e olhando para Gina, desacordada, em seu colo.
-Apenas uma pessoa pode voltar.
Harry olhou bem para Rony naquele momento. Apenas uma?
-Como o senhor voltou? Aonde achou esse vira tempo?
-Eu tinha acabado de pedir para Snape me matar no lugar de Draco. Estava na minha sala, lembrando que se os vira tempo ainda existissem, talvez alguma coisa pudesse ser feita. Mas todos tinham sido quebrados no seu quinto ano, lembra?
-Sim. Lá no Ministério da Magia.
-Mas daí eu lembrei que quando eu era aluno em Hogwarts, eu era tão inteligente quanto a senhorita Granger, e tive uma idéia semelhante à dela para poder estudar mais. Mas só que eu fui até o ministério e investiguei como era feito o objeto. E então eu fiz o meu próprio Vira Tempo. O melhor de tudo era que ele também ia para o futuro.
Dumbledore sorriu.
-Não que eu fosse sempre para o futuro. Ele só avançava no máximo dois anos.
-O senhor que fez? – perguntou Harry, incrédulo.
-Sim. Mas confesso que não fui feliz em alguns resultados. Mas quando eu tinha dado a ordem a Snape, me veio à cabeça além dos Vira Tempo, a Sala Precisa. Um dia eu tinha fugido de um zelador de Hogwarts porque estava na parte proibida da biblioteca e me escondi na sala. Acabei que eu dormi ali mesmo, e meu vira tempo caiu do bolso. Nunca mais o achei. Felizmente depois de todos esses anos me lembrei dele e o busquei. Sabia que quando chegasse aqui já estaria morto, por isso acrescentei um feitiço de invisibilidade para não assustar ninguém, mas acabei que vim parar como um dragão aqui no futuro. Enquanto hibernava como dragão, tive algumas idéias durante meu sono, então descobri que podia me transformar na forma humana de novo.
-Como?
-Bastava usar um feitiço antiinvisibilidade. Tolice, eu sei, mas tem horas que não pensamos tão bem.
Os dois ficaram em silêncio por alguns minutos. Rony se levantou e se escorou em uma parede, longe deles.
-Ele não vai ficar bem sem a Mione – afirmou Harry.
-Se ele quiser, poderá ir no meu lugar.
-Mas se o senhor não voltar, tudo vai mudar, não vai? – perguntou Harry assustado.
-Não se preocupe. Snape te contará sobre as horcruxes, deixei uma carta exatamente para o caso de não voltar, e como não vai ser ele que me matou, você não vai ter raiva dele. Mas Rony terá que voltar apenas depois que seu outro eu já tiver sumido.
-Como assim?
-Sem minha ajuda, Rony abandona você e Hermione por ciúmes. Mas vocês dois ajudam um ao outro e destroem as horcruxes. Então você mata Voldemort. Rony fica sumido pra sempre, porque acaba caindo num precipício.
-Como você sabe disso?
-Essa não é a primeira vez que viajo no tempo. Fiz experiências. Uma delas foi não falar com Rony, e é isso que acaba acontecendo com ele. Cai num abismo. Eu não pude fazer nada, quando vi ele já tinha caído.
Harry ficou tão chocado, que resolveu largar Gina um pouco no chão, e se sentar ao lado dela. Dumbledore fez o mesmo: sentou-se no chão.
-Sabe Harry, às vezes, nós não entendemos sentimentos humanos, por mais que nós próprios vivenciemos esses mesmos sentimentos.
-Mas ciúmes logo de mim e da Hermione?
-Ele sempre te achou o melhor na hora de enfrentar seus medos, de se aventurar, e Hermione era a mais inteligente. Para ele nunca restava nada. Nada, Harry.
Harry engoliu um seco, e olhou para o amigo que estava desolado.
-Mas Hermione vai estar viva se ele voltar?
-Sim vai. Como eu disse, ele caiu no precipício. E se Rony voltar, será mandado para esse espaço, esse tempo, no exato momento que o outro dele cai, ele volta. Ficará perdido por alguns dias, mas vai acabar achando você e Hermione, os ajudando na batalha final, sendo ate mesmo glorificado por matar alguns bruxos terríveis, como Belatrix.
-O que acontece conosco se ele voltar?
Dumbledore olhou para baixo, e depois voltou a encarar Harry.
-Segundo Firenze, o nosso centauro querido, o Universo entenderá que aquele tempo e aquele espaço são os melhores. Então, nós deixaremos de existir nesse espaço e tempo aqui.
-E eu ainda existirei no outro mundo?
-Antes de morrer, você é atacado por Voldemort, seriamente. Alguns dias depois você acaba morrendo.
Aquilo fez o estômago de Harry afundar.
-E Gina?
-Gina não existe no outro mundo.
-O QUE?
-A missão dela sempre foi ser um refúgio para você, Harry. O que, por causa da volta de Rony, ou mesmo, de Hermione não ter morrido, você não precisou.
-Mas e nos momentos de Hogwarts? E no ministério da magia? Ela nos ajudou muito.
-Cho Chang assume seu lugar, ela acaba querendo se vingar por Cedrico.
-Por que tudo mudou assim?
-O destino nos dá escolhas Harry, e nós escolhemos. Eu posso voltar agora, no lugar de Rony, e então ele vai se matar, e você e Gina viverão felizes, mas com a dor da morte dos seus melhores amigos. Ou Rony pode ir no meu lugar e viver feliz com Hermione, sendo perdoado pelo melhor amigo em seu leito de morte, quando você estiver morrendo. Você será um herói lá. E Gina não terá existido.
-E quanto a Cho chang?
-Um comensal a mata na ultima batalha, antes da morte de Voldemort.
-Eu não posso deixar o Rony se matar! – Rony socou o chão.
-Você não poderá impedi-lo de fazer isso a qualquer momento, enquanto todos estiverem dormindo na Toca, por exemplo.
Harry pegou Gina, inconsciente, e a abraçou muito forte. Ele a amava, e não queria se desfazer dela. Mas era a vida de Rony e até mesmo da amiga Hermione, de quem ele sentia muita falta. Ele tinha dito em seu velório, que se pudesse morria para trazê-la de volta. E era isso que ia fazer.
-Estou pronto.
-Para?
-Para deixar de existir nesse mundo, e para morrer no outro.
-Eu serei dado como morto por uma invasão de comensais ao castelo. Rony não se lembrará de nada disso que viveu aqui, porque assumirá o lugar do Rony que ia cair no precipício, mas conseguiu escapar. E você será o herói de quem todos irão lembrar.
Harry deixou algumas lágrimas caírem, beijou a face de Gina, e ficou a segurando no colo, enquanto ouvia Dumbledore pedir para Rony colocar a corrente com o vira tempo. Rony colocava sem entender, ainda com os olhos muito inchados de chorar. Dumbledore deu algumas voltas no vira tempo, e em instantes Rony desaparecia como a luz do sol quando noite vira dia.
Sua cabeça latejava muito. Onde ele tinha se metido? Procurou se levantar, foi então que levou um susto. Saiu correndo em direção oposta.
-Uauuuuu! Isso é um abismo!?! Eu quase morri. Ia cair lá embaixo e me estatelar. Que sorte!
Olhou em volta.
-Mas onde eu estou? Só me lembro de ter ficado com raiva daquele abraço apertado de Hermione em Harry. – Começou a andar, mas ainda falando sozinho. – O que os dois devem estar fazendo agora? Aposto que se beijando. Mas isso não vai ficar barato. Eu vou beijá-la na frente do Harry. Quero ver ele dizer que prefere a Hermione a Cho Chang.
Rony continuou caminhando por dias. Alimentava-se do que achava nas florestas e campos. Sua varinha ajudava um pouco. O chato era não poder aparatar por causa do Localizador. Bem que Fred e Jorge podiam roubá-lo do ministério, pensou ele numa noite fria. O Natal devia estar cada vez mais próximo. Ah... se ele pudesse ir para casa. Mamãe ia adorar se ele levasse Hermione, ela sempre quisera ter uma filha mulher, mas só tivera os seis filhos homens, e Fleur ela achava metida demais para considerar como uma filha. Era isso que ele ia fazer. Levar Hermione para passar o Natal lá em sua casa.
-Rony! Rony!
Ele reconheceu aquela voz. Era Hermione, que vinha ao longe, com os cabelos voando, seu coração palpitou muito mais que o normal.
-Onde você esteve? Fiquei preocupada. Você não deve mais fazer isso! Nunca mais faça!
-Por que eu não devo fazer? – quis saber ele, enquanto ela lhe dava um de seus abraços mais apertados, de algum modo, ele sentiu que não a via e nem a abraçava há quase um mês, parecia até que ela estava mais viva que o normal. Que pensamentos eram aqueles na sua cabeça? Afinal de contas, eles tinham se abraçado há alguns dias atrás.
-Porque eu te amo, e não quero nunca mais ficar longe de você.
-O que?
-Isso que você ouviu. O Harry é como um irmão pra mim, e o Vítor é passado, só porque a gente esbarrou nele naquela viagem atrás daquela horcrux, e ele me tratou cordialmente, isso não quer dizer nada.
Ele então a encarou, e observou cada detalhe dos olhos lindos que ela tinha, aproveitou que ela ainda estava abraçada nele, e a beijou, sem pensar em mais nada.
Os dois estavam sentados na grama, embaixo de sua árvore preferida no pátio da Toca. Rony achou que aquele era o período mais feliz da sua vida e de sua esposa Hermione também. As lembranças de uma guerra adormecida jamais voltariam a perturbá-los, agora que eles tinham dois lindos filhos. Um casal de gêmeos. Uma linda menina, ruivinha, que com dois anos de idade já corria com os tios Fred e Jorge, e com a vovó Molly pelo pátio da casa. E um lindo menino, de cabelos castanhos, como os de Hermione, e também muito sapeca, dando honra ao nome Harry, que Rony e Mione haviam colocado em homenagem ao amigo que morrera alguns dias depois da batalha final. Realmente aquilo tudo marcara a vida deles. Rony se sentia grato por ter sido perdoado pelo melhor amigo devido a sua falsa visão sobre o relacionamento, que na verdade era de irmão e irmã, de Hermione e Harry.
Agora ele segurava na mão de Hermione, que o olhava fixamente com aqueles olhos lindos que ele tanto adorava. Ela então lhe tocou no rosto, como sempre fazia.
-O que houve meu amor?
-Eu estava pensando aqui, por que mesmo que nós colocamos o nome de Gina na nossa filha? É que eu não consigo lembrar.
-Eu também não me lembro bem o motivo querido. Só sei que me sinto bem, sempre que a chamo de Gina.
-Deve ser porque o nome tem algum significado para nossas almas, assim como nosso filho Harry.
-Harry e Gina: combinação perfeita de nomes. Não é meu amor?
-É sim Mione.
Os dois então se beijaram, e ficaram a contemplar seus filhos, Harry e Gina, a brincar.
FIM
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