Dois rostos



No dia seguinte Rony, Hermione e Harry foram até Saki, que impressionantemente continuava dormindo.
-Acho que se levarmos ele conosco de novo, só traremos peso. É difícil esconder um dragão – comentou Rony.
Hermione assentiu.
-Temos que decidir isso até o final do dia, quando partiremos na calada da noite para Hogwarts – começou Harry. – Apesar de Draco, estando na forma de Krum, ter dito que a horcrux está sendo carregada por Voldemort, eu acho que há algo no castelo, assim como Hermione também acha. Por que, então, ele estaria atacando o castelo? E além do mais, ele não ficaria carregando sua própria horcrux, não acham?
-Nisso você tem razão Harry, mas quanto a Voldemort estar atacando o castelo, eu acho que estava errada no motivo. Se fizermos as contas... O anel: Dumbledore destruiu; o diário: você destruiu na câmara; Também destruímos o espelho; E o medalhão. Temos uma pista sobre a tal moeda de três faces. Até agora cinco. Se forem seis, e você acha que nangini é uma...
-Dumbledore achava... – corrigiu Harry.
-Então... Com Nangini são seis. E talvez fossem sete, estou certa?
-Sim. Por isso eu acho que há uma no castelo.
-Mas o mais provável é que sejam apenas seis, que Nangini seja a sexta, já que é mais certo que Voldemort esteja carregando a quinta, que é a moeda de três faces. O que nos leva a crer que ele só quer uma coisa em Hogwarts: a melhor amiga de Harry Potter, eu. Minha mãe está lá Harry. Você não acha que quando ele atacou a primeira vez, por sorte minha mãe poderia estar no banheiro em sua forma normal?
Harry pareceu concordar.
-E agora ele vai atacar de novo, em busca dela. Por que você acha que ele não atacou mais ninguém, apenas Cho Chang? Ela era nossa amiga, devia saber alguma coisa?
-Você pode ter razão. Só sei que temos que tirar sua mãe de lá.
-Eu acho que ela está em casa. Mas eu não tenho como saber.
-Não se preocupa Mionizinha...
Hermione riu. E Harry arregalou os olhos.
-Mionizinha? O que houve com você Rony? – perguntou ele.
Rony saiu do sofá em que estava, e se sentou no outro sofá da sala da Toca, ao lado de Hermione, a abraçando pela cintura, enquanto Harry, sentado na mesinha do centro, olhou boquiaberto.
-Não me diga que vocês...
Hermione sorriu, com as maças do rosto rosadas.
-É sim cara, estamos juntos agora. Graças ao idiota do Draco.
-O quê?
Então Rony e Hermione contaram tudo que aconteceu na noite anterior e Harry se divertiu bastante com a história.
-Então Draco está apaixonado por você Mione? Quem diria.
-É Harry. Mas eu não quero nada com ele.
-E quem ia querer? Aquele preconceituoso de uma figa! Até a alguns anos atrás estava te chamando de sangue ruim... – comentou Rony com raiva e divertimento ao mesmo tempo.
O trio então saiu em direção ao jardim, e Rony e Harry foram jogar uma partida de quadribol, onde Gina, Fred, Jorge, Gui, Carlinhos, Arthur, Lupin, Tonks, já se preparavam pra jogar.


Já era noite. Harry estava se despedindo de Gina com um beijo um tanto caloroso na opinião de Rony, que depois, no pátio da Toca, ficou o olhando com um olhar questionador. Será que Harry ia querer casar com Gina em breve? Ele esperava que não. Mas ao pegar na mão de Hermione, pareceu entender seu melhor amigo. Queria logo um casamento com tudo que tivesse direito, com Mione vestida de noiva, com um sorriso na face, e quem sabe até uma lágrima, ao ir a seu encontro.
-No que está pensando Rony? – quis saber ela.
-Em você, em nosso futuro.
Mas pareceu que ele falou alguma coisa muito errada, pois ela tremeu a mão que ele segurava dela, virou-se para o outro lado, e começou a ficar pensativa.
-O que houve Mionizinha?
Ela riu. Sempre ria quando ele falava daquele jeito.
-A probabilidade de dar tudo certo é pequena Rony. Eu só estou com você porque gosto muito de você, mas não podemos prever o que irá acontecer.
Rony resolveu ficar sério e não tocar mais no assunto. Não era comum uma garota pensar daquele jeito. Mas não era qualquer garota, era Hermione Granger. Ele devia assentir, mas se sentia muito resignado para fazer isso ou qualquer outro movimento brusco.
Não demorou mais do que alguns segundos, e os três aparataram. Hermione tinha conseguido pegar o Localizador, enquanto todos jogavam quadribol. Ela realmente era inteligente demais, e Rony sentia-se um bobo perto dela.
Chegaram ao portão de Hogwarts, com a esperança da mãe de Hermione estar dentro do castelo. Caso não tivesse, isso tornaria as coisas um pouco difíceis. Hermione achava que não deviam de jeito nenhum aparatar perto de sua casa. Isso seria perigoso para sua mãe. O jeito era ficar em Hogwarts até o dia seguinte quando ela chegasse, e então mandá-la voltar para casa.
Pensaram em pedir ajuda ao Neville, já que Gina lhes contara que ele prometera ficar lá, caso houvesse um novo ataque. A Armada de Dumbledore parecia estar na ativa novamente, com a liderança de Gina, já que ela era a melhor nas azarações, mas depois do ataque, Molly a buscou, e Neville assumiu seu lugar seguido por Luna, Dino, Colin, entre outros vários, de todas as casas, que acreditavam em Harry.
O portão estava fechado.
-Alohomorra!
Continuou fechado.
-O que você esperava Harry? Aqui é Hogwarts. Francamente, vocês nunca leram “Hogwarts: uma história”?
Rony e Harry se aborreceram pela milésima vez com aquela pergunta.
-Desculpa Mione, se eu sempre me esqueço de ler essa coisa – disse Harry, em tom de zombaria.
Rony riu, e em conseqüência disso, levou um tapa no braço de Hermione.
-Bem feito – disse Harry rindo. – Agora ela tem liberdade pra fazer isso.
-Vai, vai rindo... – disse Rony massageando o braço. – Quero ver quando minha irmã se invocar com você, a azaração que ela vai te dar.
Enquanto isso Hermione usava accio para convocar a chave do portão, na casa de Hagrid, mas sem sucesso.
-Acho que vamos ter que acordar Hagrid. Eu já estou congelando de frio.
-Deixa que eu te abrace.
Rony abraçou Hermione.
-É você leva tapa, mas pelo menos tem quem abraçar – comentou Harry, fazendo Rony e Hermione rir.
Depois de dez minutos, já tinham conseguido acordar Hagrid com o feitiço Lumus em direção a sua casa.
-Olá queridas crianças! Mas o que vieram fazer aqui? Como vai a missão? Que bom que estão todos bem! Grope está com saudades!
Hagrid falou tanto, que o trio até achou que seria melhor ter esperado amanhecer ali fora mesmo.
-Eu sempre achei a Hermione e o Rony feitos um para o outro. Que bom que estão juntos!
-Obrigado Hagrid, mas pode nos deixar entrar no castelo agora?
-Claro Mione!
-Nós só vamos dar uma palavrinha com Neville, quando precisarmos, nós o chamamos de novo, Hagrid.
-Está bem Harry. Como senti falta de vocês. O castelo não é o mesmo. Não mesmo.
Enquanto Hagrid se afastava, e o trio seguia aliviado até o hall de entrada, o céu brilhava cheio de estrelas, e a neve permanecia fria e fofa embaixo dos pés.
Entraram no castelo, o maior silêncio se seguia. Os poucos professores e alunos que decidiram permanecer no Natal, deviam estar dormindo. Mas algo estranho se sucedeu. Um barulho de vidros quebrados. E, em seguida, uma luz muito forte de cegar a visão, fez os três fecharem seus olhos. Rony ainda pode sentir a mão de Hermione apertando muito forte a sua, antes de desmaiar e cair no chão gélido do castelo.


Rony acordou com a cabeça latejando. Harry estava uivando de dor ao seu lado, com a mão na cicatriz, o que deixou Rony alarmado. Ao abrir melhor os olhos, ele sentiu como se o mundo fosse desabar, pois tanto o coração se recusou a bater, como o estômago se contraiu, a pele enrijeceu, e lágrimas instantâneas vieram aos olhos. Onde estava ela? Que diabos havia acontecido? Por que o castelo estava no total breu. Onde ela estava? Não, aquilo não podia ser verdade... Harry estava com a mão na cicatriz, aquilo só significava uma coisa...
-NÃOOOOOOOOO!
Rony gritou, e saiu correndo, desesperado por todo o castelo. Subiu e desceu escada, entrou em diversas portas, até que ficou convencido do que já estava desconfiado, do que seu coração apertado dizia. Desceu novamente até onde Harry ainda estava deitado se contorcendo, com a mão na testa, e se ajoelhou ao lado dele.
-Harry! Harry! Ela não tá aqui! HARRY! Reage cara! Ela não tá aqui!
Aos poucos, depois de muito Rony sacudi-lo, Harry começou a reagir.
-Ele, e-ele, l-levou e-ela...
-Não, isso não é verdade! Ele quem? – Rony já falava com a garganta queimando, falava com dor no peito, com a pele parecendo estar a ponto de rasgar.
Harry, que ainda estava caído no chão o agarrou pelo moletom, e disse numa voz quase inaudível:
-Voldemort...
A vida toda de Rony ao lado de Hermione passou numa fração de segundos na sua mente, só o que ele conseguiu fazer foi arregalar os olhos e colocar as mãos na testa e depois começar a chorar, e só quando seus joelhos começaram a doer, que ele resolveu se sentar, e então começou a tremer, e seu moletom já estava encharcado quando finalmente Harry voltou a si.
-Rony? Temos que ir! Eu sei onde ela está... Precisamos ir, antes que ele a mate...
A última palavra de Harry fez Rony levantar-se de choque.
-Harry! Ele vai matá-la cara, eu sei que vai...
-Vamos depressa – Harry já chorava também.
Os dois então aparataram juntos.


Harry sabia para onde estavam indo. Era uma casa no fim de uma rua em Hogsmeade. Voldemort estava fixo em sua mente, e mostrava-lhe o caminho. Pelo menos, era isso que Rony ouvia Harry repetir muitas vezes ao longo do percurso. A neve congelava seus ossos, e uma nevasca já se formava, ficando cada vez mais forte. Quando finalmente chegaram a casa, nem esperaram, apenas entraram, decididos a matar quem quer que fosse, apenas para ter Hermione de volta.
Só não esperavam a cena que se sucedeu.
Harry entrou correndo, e tentou pular em cima de Voldemort, que brandia sua varinha em direção a Hermione, aparentemente desmaiada no chão. Enquanto Rony gritava e tentava se livrar de Nangini que o cercava. Alguns comensais apenas olhavam a cena, uns rindo, outros apavorados. Era difícil dizer.
Mas foi a luz forte, saída da varinha de Voldemort que fez a cena parar para Rony.
Lá estava Hermione, bem a sua frente. Ele tinha que tirá-la de lá, antes que a maldita luz chegasse... Antes que, tudo terminasse. Conseguiu driblar Nangini, pulando por cima do rabo, que em vão a cobra tentou utilizar para atacá-lo. Mas foi inevitável. O que aconteceu depois, ninguém mais podia impedir. A luz verde tocou Hermione, como um raio de luz solar toca um espelho. O movimento ondulatório, da respiração dela, em seu peito, cessou. Estava tudo terminado. Voldemort a matara.
Fosse por algum alto controle que Rony não sabia que tinha, ou pelo choque da imagem, ou até mesmo por não conseguir acreditar, ele não gritou. Lágrimas caíram de seus olhos, muito lentamente, mas ele não movia um músculo se quer, nem da boca, e nem do corpo. Ele não estava pensando em Harry, nem conseguia ouvir os gritos agudos de seu melhor amigo, que naquele instante mordia a mão, direita, nojenta de Voldemort, fazendo ele gritar de dor e largar a varinha, que imediatamente Harry espatifou ao pisar.
Os comensais ainda tentaram agarrar Harry, que se desvencilhou de todos, e agarrou o corpo de Hermione. Puxando Rony pela manga do moletom, conseguiu tirá-lo dali com muito esforço, aparatando quase que no mesmo instante que saiu da casa.


A nevasca cobria quase todo o corpo de Hermione. Eles tinham aparatado para as montanhas perto de Hogwarts, era perigoso ficar lá, mas nada mais fazia sentido, nem para Rony e nem para Harry. Rony tentava em vão reanimar a amiga, o que fez Harry se sentir dez vezes pior do que já estava se sentindo.
-Para com isso Rony! – ele disse com a voz embargada ao amigo. – Não está vendo que ela morreu!
-Não, isso é um pesadelo, e eu vou acordar.
-Rony, para com isso! Precisamos contar a alguém, temos que tirar o corpo dela da neve.
-Eu vou acordar, eu vou acordar, é só mais um pesadelo, como os pesadelos de aranha... Só um pesadelo...
-NÃO É NÃO RONY!
Ao ouvir o grito de Harry, Rony começou a chorar alto, esfregando o polegar na mão gélida de Hermione.
-Eu a amava cara, eu ia casar com ela...
Harry abraçou o amigo e deixou ele chorar em seu ombro, sentindo sua própria garganta queimar, e o gosto de sal nos lábios, eram suas próprias lágrimas.
-Eu a amava...
A nevasca parecia não querer cessar, era quase como se ela chorasse junto com os dois amigos e molhasse os dois rostos deles.
Depois do que pareceu uma década, ambos estavam secos de chorar. E resolveram então aparatar com o corpo da amiga para A Toca. Deveriam achar a mãe dela, e o pai. O enterro era preciso ser feito.
Rony, momentos antes, ainda olhou para o horizonte.
-No que você está pensando? – perguntou Harry abatido.
-Eu matarei Voldemort, nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida – dizendo isso, ele virou as costas para as montanhas cobertas de neve, e com seu coração sangrando de dor, pegou o corpo de Hermione no colo, não deixando Harry ajudá-lo. Harry colocou a mão no ombro do amigo, e pediu, na hora de aparatar, para voltarem para a Toca, o lugar de qual nunca deviam ter saído, os três amigos.

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