And I wanna believe you...
N/a: Situando no tempo: O último capítulo terminou numa quarta feira à noite e esse cap se passa exatamente 15 dias depois. E eu perguntei pra algumas pessoas que já moraram em Londres e me disseram que as férias de Natal lá são como as nossas de julho, então tem a duração de mais ou menos duas semanas.
Depois de se despedir do marido e se certificar de que ele havia lembrado de levar consigo seu celular, a carteira e alguns projetos, Molly voltou à cozinha onde somente Draco e Gina permaneciam comendo calmamente, como se não estivessem pelo menos 20 minutos atrasados para ir ao colégio, já que Ron havia desistido de esperar por eles e pegara carona com os gêmeos meia hora atrás. Surpreendendo-se consigo mesma por ainda não saber como agir diante da guerra fria que havia se estabelecido na sua casa há exatos 15 dias, Molly ficou apenas a olhar indecisa entre o estarrecimento, a confusão e a preocupação, a seguinte cena se desenrolando:
Gina lambia o último donnuts de chocolate, que era o favorito de Draco, de um lado ao outro em uma atitude infinitamente infantil, sem falar nojenta, olhando com triunfo e zombaria pra cara de Draco, que também estava perdido entre a raiva e a frustração. O fato é que ela ainda estava comendo seu sanduíche e havia pegado aquele de propósito no instante em que vira o loiro levantar o braço olhando pra gostosura sendo que, como todos sabiam, o donnuts favorito dela era o de cereja que era dificílimo de achar, e este repousava inocente na cesta ao centro da mesa.
Ela fingiu ter visto que Draco a olhava apenas naquele instante então fez uma cara de inocência falsa. – “Ai, esse era o último de chocolate! Desculpa, Draco...” – olhou novamente pro donnuts e o ofereceu pro loiro. – “Você quer? O meu favorito é o de cereja mesmo...” – falou boazinha, sentindo uma satisfação imensa ao saber que o estava irritando e sabendo que seu donnuts favorito estava a salvo porque Draco não gostava do de cereja.
Forçando seu rosto a se contorcer num sorriso, que ficou meio sinistro, pra não dar a satisfação à ruiva, Draco pegou o donnuts de cereja. – “Não, pode ficar, eu como esse aqui mesmo” – falou dando uma mordida logo em seguida.
Gina mordeu o lado de dentro da boca se forçando a ficar sorrindo então abriu a boca pra responder, mas a empregada apareceu avisando que alguém queria falar com Molly ao telefone e a senhora Weasley saiu do recinto antes de saber onde mais uma dessas brigas ia acabar.
A ruiva pegou o telefone entregue a ela, então, depois de olhar mais uma vez na direção da cozinha com os lábios comprimidos demonstrando sua preocupação, começou a falar. – “Sim? É ela mesma, pode falar”. – disse à pessoa que segundos depois soube ser um interessado em comprar a mansão Malfoy mesmo ela não estando à venda. Após explicar que não tinham interesse em vendê-la, Molly concordou em ao menos anotar seu número para o caso de que mudassem de idéia, então, quando fazia sinal para a empregada lhe trazer papel e caneta, Gina saiu da cozinha e subiu as escadas correndo sendo seguida de perto por Draco. Ambos com as faces vermelhas de raiva.
“Ah, porque só quem pode mudar de idéia sobre o que quer aqui é você, Draco?” – Falou Gina sabendo que ele entenderia as entrelinhas do que ela dizia. – “Até ontem eu queria o de cereja, mas hoje de manhã eu acordei diferente!”.
Respirando cansado por entender exatamente que ela o estava atacando, Draco mais uma vez se perguntou se aquela ditadura do silêncio sobre esse assunto era o certo a se fazer, então, simplesmente olhou para o lado com uma expressão indecifrável, deu as costas à Gina e começou a descer as escadas fazendo-a ver vermelho de raiva. – “Estou te esperando no carro...” – falou displicentemente sem olhar pra trás.
Gina ficou boquiaberta vendo o irmão de criação descer as escadas sem lhe dar atenção então olhou para os lados no que, aos olhos de Molly, parecia uma tentativa de achar algo pra jogar na cabeça dele.
Ouvindo uma voz chamá-la insistentemente, Molly percebeu que ainda estava ao telefone. – “Oh, me perdoe a demora, sim? Pode falar o número...” – anotou o que lhe fora ditado mesmo sabendo que a possibilidade de Draco querer vender sua antiga casa era remota, então sentou no sofá e ali ficou até ver Gina descer as escadas e sair de casa batendo a porta atrás de si.
Algo obviamente havia acontecido, pensou ela. E definitivamente o que quer que fosse havia acontecido mais ou menos na época do acidente de sua caçula, pois havia sentido algo de estranho no ar entre Draco e Gina desde o dia em que ela recebera alta do hospital. Na época não deu muita atenção à sua intuição, pois estava muito preocupada em mimar sua caçula machucada, e, como mais tarde também notou que a filha não estava tão próxima do melhor amigo, Colin, Molly rapidamente dispersou sua preocupação convencendo-se que os dois mais próximos de Gina somente estavam estranhando ter que dividir sua atenção com um certo rapaz francês que passara a visitar sua filha freqüentemente. Sua menina estava virando mocinha, pensou Molly na época, mas agora via que não adiantava mais se enganar, pois estava claro que Gina era apenas amiga de Christoffer e Colin voltara a ser figura freqüente na casa...
Bom...isto e o fato de que há exatos 14 dias uma nova fase de estranhamento se estabelecera em casa: Uma guerra maluca entre Draco e Gina, que passaram a brigar até mesmo sobre o clima que ficara frio mais rápido do que o normal neste ano.
Mas que desastre poderia ter acontecido pra fazer aqueles dois se afastarem desta maneira a ponto de não conseguirem ficar em um mesmo lugar sem brigar?
A situação agora se tornara incompreensível para a mãezona Weasley que lembrava que desde pequenos eram inseparáveis e às vezes somente Draco podia acalmar Gina. Em um segundo voltou ao passado ao lembrar claramente de uma ocasião em que Gina sujara seu vestido rosa com o sorvete que estava comendo. A ruivinha chorava inconsolável por ter sido traída pelo seu próprio sorvete e, tendo o sorvete (que era o único jeito de fazer Gina parar de chorar em algumas situações) sido o culpado pela sujeira do seu vestidinho novo, digamos que nada mais que Molly tentava fazer lhe devolvia o sorriso ao seu rostinho rosado. E emburrada a pequena ficou até que Draco, com apenas seis aninhos, passou a mão no chão, pegando a bola quase derretida de sorvete, e a esparramou na frente da blusa que vestia então começou a rir para Gina. A caçula Weasley voltou instantaneamente a sorrir.
Dando uma pequena risada Molly se forçou a voltar a se concentrar no problema em questão. Tinha certeza que o que havia acontecido ficara em segredo, pois do contrário Ron já teria deixado escapar sem querer ou os gêmeos já teriam dado um jeito louco de contornar a situação. Este era um outro mistério. Pois, tanto Draco como Gina, eram muito próximos dos outros irmãos e, a não ser que houvesse algum motivo em especial, Molly não achava que esconderiam algo de importante dos outros... Mas que motivo alienígena seria este?
Praticamente sentindo que estava próxima da verdade, Molly se levantou do sofá e foi até o jardim depois de pegar suas luvas.
Jardinagem sempre ajudava a clarear as idéias.
Enquanto remexia a terra, misturando-na com alguns nutrientes para prepará-la para receber as mudas que havia comprado no dia anterior, Molly tentava organizar o caos que estava sua cabeça. Várias cenas dos últimos dois meses, que na época lhe pareceram sem importância, agora adquiriam novas dimensões enquanto se mesclavam com seus pensamentos e coisas do passado que a princípio nada tinham a ver com o que estava acontecendo.
Se fosse verdadeira consigo mesma podia lembrar que alguns meses atrás Draco começara a implicar bastante com a irmã por motivos bobos como o tamanho de sua saia ou com quem sairia... Mas agora Gina parecia ser quem instigava as brigas do casal, pensou Molly sentindo algo diferente ao usar a palavra ‘casal’ pra se referir aos dois. Percebera ainda que até uns quatro dias o loiro parecia se forçar a agüentar tudo que Gina falava ou fazia contra ele, mas agora que resolvera revidar demonstrando sentir o mesmo ressentimento de Gina a situação virara caso de calamidade familiar!
Ela pegou a primeira muda e lembrou algo que nada tinha a ver com o que ela pensava: Narcisa fora quem lhe ensinara jardinagem. Sorriu ao lembrar do dia em que a amiga lhe falava como plantar as mais belas rosas negras então pôde praticamente ver o momento que Gina caiu no chão e passou a chorar olhando para o joelho que sangrava um pouco. Draco estava ao seu lado vestindo a expressão mais culpada possível para uma criança de nove anos, quase a ponto de chorar quando Gina não dava ouvidos às suas desculpas.
Nessa ocasião Draco não deixou que nem mesmo Molly fizesse o curativo na perna de Gina. Então, seguindo as instruções da mãe, ele limpou o machucado com água oxigenada, assoprando a todo momento que via os olhos da amiguinha se encherem novamente de lágrimas, passou o mercúrio que não ardia e então colou o band-aid. Gina rapidamente o desculpara e eles voltaram a brincar. E as mães, à jardinagem.
O sorriso de Molly diminuiu um pouco pra dar lugar a uma pequena suspeita: Ela vira a mesma expressão culpada no rosto de Draco a pouco tempo atrás... no dia do acidente de Gina. Estava totalmente transtornado naquele dia e desde então seu sorriso nunca mais fora o mesmo. Ou melhor, nunca mais Molly o vira sorrir...
A ruiva se levantou um pouco sabendo que tinha chegado a um ponto importante: Draco se sentia culpado de algum modo pelo que havia acontecido com a Gina. Ok, isso era um fato... e tão óbvio agora que ela finalmente percebera!! Mas não chegava nem perto de explicar porque Gina estava ressentida, porque era lógico que ele não tinha feito algo pra machucá-la de propósito.
E Molly conhecia demais seu filho loiro pra não perceber que ele sempre se esforçava ao extremo pra dar o melhor de si pela família por se sentir grato por sua acolhida. Assim sendo, se as coisas fossem simples como ele ter causado o acidente sem querer, como Molly achara há pouco, ela tinha certeza que ele já teria esclarecido tudo em uma reunião familiar se oferecendo pra sair de casa ou algo assim.
Ela suspirou resignada ao pensar nisso... Draco era tão dramático. Quisera ela tirar da cabeça dele essa idéia de que ele devia algo à família ou que não era querido como um filho.
Não, não era tão simples. Algo não se encaixava. Por que Gina não o perdoara? Tinha que ser algo muito importante pra fazê-la se afastar de Draco como se doesse ficar perto dele mais ainda do que doeria ficar longe dele. Ela adorava o irmão! Molly lembrava muito bem o quanto ela ficava deprimida, embora tentasse disfarçar, quando Draco começava a sair com alguma garota pois não ficavam tão próximos como sempre foram desde crianças... Então o que diabos poderia fazer sua filha querer ficar longe dele ou brigar com ele quando o tinha por perto?
Molly realmente não sabia... só sabia que tinha que fazer algo pois os dois estavam despedaçados aos olhos de qualquer um que se dispusesse a olhar. Adolescentes.. tsc, tsc... um desentendimento e eles fazem o drama da fome mundial parecer algo banal! Imagine! Se uma briga com o irmão, seja lá o que fosse, a deixava nesse estado, imagine quando tiver uma desilusão amorosa??
Pensou a mãezona, em um tom quase de humor, querendo aliviar seus pensamentos, então arregalou os olhos, boquiaberta, com as mãos estáticas. Várias cenas lhe vieram á cabeça, de olhares cheios de saudades e desejo, sorrisos cheio de amor e cumplicidade, brincadeiras.. ciúmes tão claro que ofuscara sua visão nos momentos em que explodia...
O casal fugindo de mãos dadas do baile...
Tudo se encaixava.. ela não sabia o que tinha acontecido exatamente, mas era claro que ambos tinham tido uma desilusão amorosa... um com o outro. E, pela mágoa que expressavam em cada briga e o estado de tristeza em que estavam longe um do outro, era óbvio que esse sentimento era forte. E o pior: Não se extinguira nem mesmo após o que havia acontecido.
Quase batendo na própria cabeça por não ter percebido a verdade óbvia que Draco e Gina eram loucos um pelo outro e finalmente haviam descoberto que esse sentimento, Molly fez a única coisa que conseguia naquele instante. – “Jesus, Maria e José.” – apelou para os santos.
Depois de alguns minutos ficou olhando pro nada relembrando cenas de um ângulo completamente diferente. O ângulo de quem sabe a verdade, e era tão óbvio. A ruiva se levantou em um impulso esquecendo-se completamente de suas mudas. Precisava de um chá.. aliás... precisava de um uísque
e um calmante... Imediatamente.
Olha só, e ele ainda tem a cara de pau de ficar aí dirigindo como se nada tivesse acontecido! – pensou Gina o olhando discretamente pelo canto do olho, ainda injuriada por ter sido deixada falando sozinha na escada alguns minutos atrás. Não sabia, entretanto, que todas as manhãs Draco se forçava a olhar somente pra estrada pra não deixar que seus olhos escapassem pra saia dela. – Ele devia estar sofrendo e não aí de boa!! Que horror!! Mas é porque é cosmicamente, karmicamente e hollywoodianamente injusto alguém que te faz sofrer ficar de boa na sua cara, não é? Affff... – pensou então ouviu as primeiras notas da música que estava fervendo nas boates nas últimas semanas e percebeu que Draco começou a acompanhar a batida da música com os dedos no volante.
Ela suspirou indignada. - Humpf.. que absurdo! Agora só falta ele dançar no carro! Aloowww, eu comi seu donnuts preferido!! Você devia estar irritado e não eu! Ah, mas ele não vai me ignorar até chegar na escola e ainda ficar se divertindo nem a pau!! – pensou então sorriu de canto de boca sentindo profunda satisfação ao tocar um simples botãozinho do rádio.
Ele abriu a boca como se fosse falar algo então a mordeu se forçando a continuar indiferente, como havia prometido pra si mesmo na noite anterior. Alguns minutos ouvindo Pavarotti se esgoelando na rádio executiva, entretanto, acabaram com a resolução do loiro o fazendo perceber que era inútil tentar ser indiferente a Gina. Porque de um jeito ou de outro, nunca deixaria de pensar nela ou ter reações a tudo que ela fizesse. Até se essa reação fosse ter raiva.
Assim sendo, ele mudou de volta pra rádio anterior que agora tocava apenas a voz irritante e caótica do locutor de rádio, somente pra se irritar ao ver o sorrisinho satisfeito da ruiva por saber que ela sabia que ele detestava locutores de rádio... e se irritando em dobro por saber que ela sabia que ele sabia que ela sabia que ele detestava locutores de rádio e, conseqüentemente, saber que ela estava ainda mais satisfeita por saber que ele sabia que ela estava satisfeita.
Ok.. até ele mesmo se perdeu nesse pensamento... Alas! Esse era o efeito de uma Gina Weasley irritada na sua vida: Te deixar maluco. E teimoso.. por que mesmo sabendo que ela sabia que ele estava sendo torturado pela voz frenética, ele preferia arrancar todos os pêlos do nariz com pinça do que dar a ela o gostinho de ter certeza de que aquilo o estava irritando. Além do mais, o loiro lembrou-se satisfeito, ela também detestava locutores. Vamos ver quem agüenta mais.
Oh meu Deus, por favor faz esse maluco calar a boca!! – pensou Gina quase desesperada ouvindo a alta velocidade em que o locutor falava... os barulhos e risadas idiotas no fundo.. a buzina. – Ai quem deu uma buzina pra esse desgraçado a essa hora da manhã?? Quem em nome de tudo quanto é sagrado acha graça nesses programas de rádio?? Radio é pra tocar música!! MÚSICA!! ONDE ESTÁ A MÚSICAAAA?? – pensou sem paciência se forçando a olhar pela janela com a expressão mais serena pra que Draco não percebesse que ela também estava se irritando com aquilo. - Eu não vou fraquejar. Eu sei o que ele ta fazendo! Ele viu que eu sorri porque sabia que tinha ganhado uma em cima dele então decidiu agüentar sem mudar de rádio só pra não assumir que foi um erro apertar nessa rádio. E agora isso é um desafio! Eu não vou fraquejar! Afinal, depois dessa buzina maldita não pode ficar pior... – pensou se arrependendo no segundo seguinte quando um ouvinte ligou pra rádio pra xingar e ser xingado de zoação por aquele locutor do inferno. – Ah não, puta que deu a luz, como é que tem gente que gosta disso??Débil mental mal amamentado quando era bebê!! Nossa.. a minha mãe tem razão, eu realmente tenho que controlar essa agressividade...
Quando Draco já pensava que talvez nem tirar os pelos do nariz com pinça fosse tão ruim, o infeliz do locutor, em quem Gina já havia rogado sete pragas de impotência precoce, finalmente anunciou a próxima música.
Aleluia!! Foi o pensamento que tiveram em comum, pra logo depois pensarem quase decepcionados que nenhum dos dois havia vencido o desafio e sim sofrido intermináveis cinco minutos à toa.
A nova música da Pink começou a tocar e, sendo ela agradável o suficiente, os dois souberam que ela seria o marco pra um novo round. E assim aconteceu, quando Gina voltou a colocar na rádio executiva. Dessa vez Draco nem ao menos tentou disfarçar indiferença como fizera na vez anterior e simplesmente trocou de rádio novamente e, depois de parar no sinal vermelho, olhou pra irmã de criação como se a desafiasse a mudar de novo. Levantando a sobrancelha, Gina apertou novamente o botão da rádio executiva e sorriu em zombaria.
Ele respirou impaciente mordendo o lado de dentro da boca pra se impedir de falar e dar o gostinho dela saber que o havia irritado então voltou a trocar a radio. E assim aconteceram mais três vezes até que Gina simplesmente tirou a frente do som os obrigando a ir em silêncio até o colégio.
Pelo menos os dois concordavam com uma única coisa: nunca mais esqueceriam de colocar os Cd’s de volta no carro quando este voltasse da revisão...
Ai que idéia péssima de tirar o som... agora eu acho que consigo ouvir até a respiração dele nesse silêncio... ainda bem que a gente já tá chegando – pensou ela se forçando a continuar olhando pela janela, mas num instante de fraqueza se deixou virar a cabeça e olhar pra ele. – Devia ser pecado ser assim... – pensou no exato momento em que teve um flashback de como sentiu ele se encaixar perfeitamente atrás dela, mesmo com aquelas asas de anjo atrapalhando, e apoiar o rosto no seu ombro... beijar a pele sensível da nuca dela. – Oh my God, pára de pensar isso, Gina!! Ai, meu Deus, agora eu to vermelha!! Ai, esse ar quente do carro vai me matar de calor! Droga! – pensou mordendo a boca então baixou seu olhar pra mão dele, que repousava na marcha do carro. – Até a mão dele é perfeita! Olha o pulso... o braço fortinho... ai, ele me coloca no colo com uma facilidade... – continuou seu desvario que, agora que havia se iniciado, estava sem controle. Olhava pra ele passando a marcha lembrando-se claramente de senti-las escorregarem pela sua cintura até sua barriga e estava tão inerte nesses pensamentos que nem percebeu quando ele tirou a mão dali pra fazer a manobra pra estacionar então se arrepiou inteira quando ele puxou o freio de mão com firmeza. – Ui...
“Não vai sair não?” – falou Draco chamando a atenção de Gina que olhava pro freio de mão como fosse algo interessantíssimo.
Ela olhou pra ele ainda meio distraída, vendo que ele já estava fora do carro, inclinado apoiando a cabeça na mão que encostava na parte de cima do carro pra olhar pra ela. Olhando a postura descontraída dele com a mochila pendurada em apenas um dos ombros, Gina percebeu que a boca dele se mexia como se ele falasse com ela então se tocou que ele realmente devia estar tentando iniciar um diálogo ou coisa parecida. – “Hã?”
“Eu falei que se fosse ficar enrolando mais um pouco a gente vai se atrasar até pra segunda aula.” – respondeu ele deixando claro em seu tom que não se importaria muito se isso acontecesse.
Se irritando com a calma do outro que era o contrário do que ela sentia, Gina só olhou pra ele e respirou com uma raiva revigorada então pegou o fichário que estava no seu colo e a mochila no piso do carro e tentou sair dali o mais rápido possível ou acabaria dando um murro no irmão de criação pelo fato dele ser sexy demais pra ser normal. Seus planos foram frustrados pela sua natureza desastrada quando pisou num buraco que não havia visto, caindo de quatro no chão.
“Awwwww, merda!” – falou se virando pra sentar e ver o estrago que havia feito no joelho, sem saber que no segundo que caiu Draco viu a calcinha branca com várias cerejas desenhadas que usava.
Estava olhando pro seus novos machucados como se fossem os culpados da violência mundial, sem impedir que algumas lágrimas chegassem aos seus olhos por causa da ardência, então sentiu Draco tocar no seu braço e tentar levantá-la.
Ai que vergonha... ele já me acha desastrada.. Aiii, como ardeee. - pensou e olhou pra ele com os olhos chorosos esperando ver um brilho risonho ali pra encontrar somente preocupação.
Ainda tentando ajudá-la a levantar apesar da ruivinha parecer querer continuar ali mesmo no chão, Draco perguntou. – “Você tá bem? Quer que eu te leve na enfermaria?”.
Ouvindo a preocupação nas palavras do loiro, Gina se lembrou que ele sempre foi assim quando ela se machucava. – Idiota...Sempre o irmãozõa mais velho.. Eu não quero isso de você!
“Pára, me larga.” – falou tentando se soltar dele esquecendo até mesmo que seus joelhos estavam ardendo.
“Vamos logo, Gina, ninguém mais viu não, não precisa ficar sem graça.”
“Eu não to sem graça, só não preciso da sua ajuda. Me larga!” – respondeu ficando vermelha na medida em que se irritava mais.
“Gina, você ta maluca? Eu só quero ajudar”
“To! To doida, maluca!! E deve ser contagioso então é melhor me largar. Me largaaa! Eu não quero a sua ajuda” – gritou a última frase na cara dele sem se importar com o fato de que estava agindo exageradamente ou com o simples detalhe de que se ele a largasse ela cairia de novo no chão.
E foi isso que aconteceu.
Ela caiu de bunda no chão, mas dessa vez um pouco mais distante do carro, então olhou pra cima encontrando o olhar frio de Draco.
“Então fica no chão sozinha, Cherry (N/a: Tradução: Cherry é cereja em inglês)” – falou fechando a porta do carro com força então ligou o alarme e deu as costas.
Ela ficou no chão olhando o jeito confiante que ele andava então começou a perceber o quanto tinha exagerado quando ele tentava somente ajudar. – Talvez eu esteja mesmo ficando doida... Mas porque ele me chamou de Cherry? – pensou e no mesmo instante fechou os olhos em uma careta sabendo da resposta da própria pergunta. Ela olhou pros lados constatando que não tinha ninguém por perto então levantou a saia rapidamente avistando a calcinha que Colin havia feito ela comprar só de zoação, alegando que, como ela ainda era pura e imaculada, ela precisava ter uma calcinha daquelas. – Puta que pariu...
“Eu vou matar o Colin...” – murmurou pra si mesma antes de se levantar sentindo os joelhos arder.
Molly mastigava sua salada com os olhos estáticos alheia a tudo que Arthur contava entusiasmado. Tentava desesperadamente chegar a uma conclusão sobre a maneira que deveria agir em relação ao que tinha descoberto ao mesmo tempo em que perdia alguns momentos em negação, pensando que, obviamente, isso tudo era uma grande coincidência e ela estava vendo coisa aonde não existia. Sua mente só concordava em uma coisa: Tomar três comprimidos de calmante não tinha sido boa idéia... porque, apesar de a deixar calma mesmo que a casa estivesse pegando fogo, ela também não conseguia pensar direito.
Percebendo o olhar preocupado do marido sobre si, Molly sorriu exageradamente então pediu pra ele continuar contado sobre a reunião. É... realmente fora uma péssima idéia.. pois tinha que decidir o que fazer até a hora que os filhos chegassem em casa.
“Hein, miga, me escuta!”
“Não.. eu ainda estou brava com você por ter me feito comprar essa calcinha...” – respondeu Gina emburrada sentada na mesa com o máximo de cuidado pra não deixar seus machucados baterem em qualquer lugar. – “Humpf.. Cherry.. Ele me chamou de cherry, Colin!! Agora além de desastrada ele deve me achar besta também! Com quase 17 anos usando calcinha com cerejas desenhadas?”. Graças a Deus que eu não aceitei comprar aquela dos ursinhos carinhosos...
“Aooonde, ele deve estar é tendo pensamentos pervas de despejar champanhe na cerejinha e...”.
“COLIN!!” – berrou então se encolheu um pouco e olhou pras lados pra ver se alguém tinha ouvido o que ele havia falado, mas rapidamente todos que a olhavam como se ela fosse uma doida voltaram a comer. – “Não fala essas coisas!! Eu já falei que ele não me vê desse jeito!!” – falou sem dar atenção ao amigo murmurando que ele acha o contrário. – “Além do mais, daqui a pouco quem vai começar a pensar nisso aí sou eu!” – deu um tempo mexendo o garfo no prato então olhou pro amigo que até então a olhava com um sorriso divertido. – “Ops.. agora já era...!” – disse rindo com o rosto vermelho, confirmando as suspeitas de Colin de que ela já estava pensando exatamente isso.
“Sabia!!” – respondeu rindo, então lembrou o que queria contar desde o início do almoço enquanto Gina ainda estava de mal pelo lance da calcinha. – “Posso falar agora?”.
“Pode... mas antes quero deixar registrada a minha indignação por ter pagado esse mico.”
“Indignação registrada. Agora deixa eu dizer...” – parou fazendo uma pose de apresentador de jornal nacional. – “Notícia da última hora. Chegou ao conhecimento desse repórter lindo, loiro natural, cheiroso e com inigualável senso de moda inclusive em lingeries femininas, que a vaca loira responsável pelo abandono da posição de cheerleader pela esplendorosa Virgínia Weasley, torceu o pé no ensaio de ontem. Testemunhas afirmam que o resto de tintura mal feita resmungou como filhote de suíno pra ser carregada pelos jogadores de basquete, mas conseguiu apenas a ajuda do braço forte de capitão do grupo de xadrez Neville Longbottom. Não se sabe ainda quando ela poderá voltar a torcer, mas dizem as más línguas que este é o bom sinal de que Hogwarts será vencedora na final de hoje a noite do campeonato interescolar.”
“Mentira!!”.
“O quê? A parte das más línguas ou que ela recebeu só a ajuda do Neville?”.
“A que ela torceu o pé!”.
“Ahh, é ué! Eu a vi de pé enfaixado quando tava vindo pra cá. O resto eu não sei se é boato, mas o Harry deve saber.” – falou acenando com a cabeça para Harry que ainda estava pegando o almoço então o chamou pra mesa com um gesto quando Harry olhou na direção deles.
Do outro lado da cantina, Draco, perdeu a fome que já nem tinha, ao ver Gina conversar animadamente com Harry. Saber que não existia nada entre os dois não diminuía em nada o ciúmes de Draco, que ficara a manhã inteira pensando na calcinha branca e pequenina.. quase infantil, mas com o toque vermelho do proibido: pequenas cerejas.. bem ali, pra ele ver, tocar... ô meu Deus, ele precisava parar de pensar isso!! E quando conseguia se forçar a pensar em outra coisa, somente pensamentos tristes lhe vinham à mente, fazendo-o se perguntar até quando ele agüentaria essa crise entre ele e Gina, sendo forçado a olhar de longe seus sorrisos agora sempre direcionados pra outras pessoas. Pro Harry...
“... é verdade mesmo, o técnico não deixou ninguém sair do treino pra ajudar e aí o Neville apareceu”. – falou rindo um pouco. – “Acho que se estivesse doendo menos a Pansy preferia sair de lá pulando, mas acabou aceitando a ajuda dele.”
“Ah não.” – Gina falou rindo. – “Essa é impagável! Agora to com raiva dela ter me feito sair do Fawkes! Eu teria visto tudo de camarote!”.
“Visto o quê de camarote?” – falou Blaize chegando com o seu almoço chamando a atenção dos três.
“Eu tava contando do resgate da Pansy pelo capitão de Xadrez” – respondeu Harry enquanto o outro sentava ao lado de Gina e dava um beijo na ruiva pra depois cumprimentar Colin.
Oxe... agora a nossa mesa é uma das mesas dos pops? Eu nem sou mais cheerleader... - pensou Gina ao perceber que há algum tempo, com exceção de Draco, os dois caras mais populares do colégio freqüentemente almoçavam com eles. Um olhar na direção de Colin foi o suficiente pra ruiva saber que o amigo pensava exatamente a mesma coisa. – É.. acho que as coisas mudaram mesmo... – pensou distraidamente, entãoolhou pra Draco, encontrando o olhar acinzentado e sem vida em si. Ela sabia que o motivo desse olhar era o seu afastamento, mas não encontrou nenhuma acusação ali.
Ficaram se olhando alguns instantes, como se inconscientemente procurassem se sentir perto um do outro, quando o barulho familiar de livros na mesa anunciou a chegada de Hermione e interrompeu a piada que Harry estava contando. – “Gina, você não vai acreditar..”.
“Se for a queda da Pansy eu já contei” – disse Colin sorrindo pra amiga.
“Ah, seu chato!!”.
“Chata é você, que nos vê pela primeira vez no dia e nem fala oi!” – respondeu o loiro.
“Aww, vocês sabem que eu amo vocês.” – disse sorrindo então amarrou o cabelo em um rabo de cavalo. – “Cadê o Ron?”.
“Diretoria” – responderam Blaize e Harry em uníssono por saberem que o ruivo estava lá tentando garantir sua participação na final do interescolar apesar de sua média de notas baixa.
“Hummm” – resmungou lembrando que o ruivo tinha falado que iria à diretoria na hora do almoço, então percebeu naquele instante que Blaize estava ali. – “Ué, resolveu abandonar o Draco de novo?”.
“Tenta conversar com ele hoje pra você ver se ele não arranca a sua cabeça fora! Eu ofereci um chiclete pra ele na última aula e ele quase me deu um tiro!”.
“Blaize..” – chamou Colin com um olhar interessado. – “Qual era o sabor do chiclete?”.
“Sei lá... peraí, deixa eu ver" - respondeu enfiando a mão no bolso pra descobrir a resposta então, vendo o desenho na gostosura ele olhou de novo pro amigo. - "Cereja.” – disse sem entender ou esperar a reação de Colin, que foi rir, e a de Gina, que foi tentar bater no Colin, mas antes que pudesse questionar o motivo da pergunta ou oferecer a eles o chiclete, Sabrina entrou na cantina, com o resto da Fawkes e Pansy pulando em uma perna só ridiculamente tentando acompanhar o grupo, e sem ao menos um olhar na direção de Blaize, pegou seu almoço e sentou-se à mesa em que Draco e mais dois jogadores do time de basquete estavam almoçando.
Os olhos de Gina mais uma vez se encontraram com os dele e ela sentiu um aperto ao ver o quanto ele parecia solitário na multidão, mas, antes que sentisse culpa como sempre, ela virou pra Zabine se juntando ao resto do grupo que naquele momento o zoava.
“Não sei de onde que vocês tiraram que eu sou apaixonado por ela, era só atração. E agora que eu já fiquei com ela algumas vezes acabou”- Blaize tentava negar em vão que era louco pela chefe das cheeleaders, agora que eles haviam brigado. – “Eu não me apaixono por ninguém.”
“Humrum, senhorito ‘aquela ingraaata, ick da s-abrina” – falou Gina numa imitação muito boa dele bêbado inconsolável.
“Cala a boca, Gina!” – mandou brincando sem saber que estava sob o olhar atento de Draco.
“Ah, Sab-ick-ina.” – continuou ela, rindo um pouco e virando a cabeça na direção oposta de Blaize, que agora já estava quase em pé e tentava enfiar um bolinho na sua boca pra forçá-la a se calar, inocente do fato de que estava causando ciúmes não só em Draco, como também em Sabrina.
Colin, Harry e Hermione, entretanto, perceberam muito bem que este fora o resultado da brincadeira, ao verem Draco se levantar discretamente e sair da cantina deixando pra trás seu prato quase cheio de comida.
Finalmente saíra de lá, pensou Draco, andando pelo corredor, tendo a impressão que estava vivendo algum tipo de episódio de “Além da imaginação” em que o mundo que ele conhecia estava completamente vazio apesar dele poder ver as pessoas à sua volta. Então olhou o relógio no seu pulso constatando que ainda tinha quase uma hora e meia antes da próxima aula.
Sua expressão deixou claro a todos em volta que o que quer que tenha visto no relógio não lhe fora agradável. O que não sabiam, todavia, é que ele amaldiçoava todo esse tempo livre, pois sabia que cada segundo seria vivido lembrando do que não poderia ter por causa da sua estupidez. Andando até o armário, ignorando a atenção irritante que recebia de algumas garotas do primeiro ano, Draco abriu a porta com movimentos automáticos e em pouco tempo já havia pego tudo que precisava para as próximas aulas de modo que só teria que voltar do estacionamento quando faltasse apenas cinco minutos pro sinal tocar, então começou a andar em direção a saída.
Ah.. quietude.. Era tudo que precisava já que se sentia igualmente vazio quando estava no meio da multidão. Graças a Deus pelo inverno, ele pensou, pois afugentava a maioria dos estudantes pra dentro do colégio onde estaria mais quente.
O loiro andava cabisbaixo e lentamente com a mochila pendurada no ombro direito e as mãos enfiadas no bolso na tentativa de se proteger do frio, lembrando-se de como Gina estava se divertindo longe dele, então deixou um sorriso cheio de amargura chegar à sua boca ao pensar que tudo que Colin, Hermione e Harry haviam lhe falado só podia ser mentira.
Se ela o amasse de verdade não estaria tão feliz longe dele. Uma parte de si começou a lembrá-lo que talvez ela já não o amasse por causa da traição que havia sofrido, mas Draco teve ouvidos surdos pra isso. Há muito a racionalidade o havia abandonado em relação a Gina.
Respirou mais forte ao avistar o carro. – “Nada que um cigarro não melhore...” – murmurou pra si mesmo, mas nem por isso apressou o passo em que andava, formando uma cena estranhamente perfeita, já que o clima e o tom acinzentado de tudo à sua volta pareciam querer fazer companhia pra um dos poucos que queria andar lá fora com um frio daqueles.
Com os mesmos movimentos automáticos com que pegara os livros no armário, Draco entrou no carro, colocando a mochila de lado, ligou o carro e logo depois o acendedor, então se esticou pra procurar a caixa de cigarros que guardava no porta luvas. No momento em que achou o que procurava o botão do acendedor saltou.
Depois de desligar o carro e dar algumas batidas com a caixa na sua mão, ele a abriu, pegando apenas um e o colocando na boca entreaberta, pra depois alcançar o acendedor e finalmente dar a tragada que queria. O alívio que almejava, todavia, nunca chegou.
Sabendo que se ficasse dentro do carro esse seria motivo de outra briga com Gina por causa do cheiro que ficaria, Draco virou a cabeça soltando a fumaça do lado de fora, então saiu e fechou a porta do carro, encostando-se na mesma logo após. Com a mão livre dentro do bolso, Draco virou a cabeça pra que a fumaça não voltasse no seu rosto por causa do vento, então levou seu veneno novamente à boca, mas dessa vez a ilusão de alívio nunca foi lembrada. Inesperadamente, entretanto, ele encontrou alguma companhia na fumaça ao vê-la se dispersar no ar na medida em que abandonava sua boca.
Sua ‘paz’ foi interrompida quando ele sentiu um olhar de reprovação sobre si, então ele olhou na direção do seu incômodo, encontrando uma mulher de seus cinqüenta anos olhando pro cigarro na mão dele como se ele estivesse na verdade segurando uma seringa e se preparando pra injetar algo tóxico na própria veia. Olhando pra ela com desdém que faria seu pai sentir orgulho na cova, Draco simplesmente tragou mais uma vez sem tirar os olhos dela, então soltou a fumaça. – “Perdeu alguma coisa?”.
(n/a: gente... OH MY GOD!!! Quem acha o Draco sexy levanta a mão!! \o/ Cena dedicada à minha betita Kelly que tem um fetiche com cigarro.. Aparentemente eu também, porque eu achei essa cena HOT!!
Com o rosto vermelho de nervosismo e falta de paciência, o técnico de Hogwarts assistiu a seu time levar mais uma cesta do time desafiante, fazendo uma diferença de vinte e sete pontos já no terceiro quarto do jogo. Amaldiçoou sua má sorte mais uma vez vendo o time adversário comemorar como se o jogo estivesse ganho, mas não podia negar que estava assustado, porque no fim do segundo quarto seus meninos pareciam ter esquecido como se jogava basquete.
Vendo a melhor brecha quando o juiz apitou uma falta, Sproud pediu tempo e em poucos segundos estava rodeado por seus pupilos, que pareciam acuados e esbaforidos, já esperando um esporro homérico do técnico.
“Vocês chamam essa merda que estão fazendo de jogo?” – berrou olhando nos olhos de cada jogador. – “Foi pra fazer porra nenhuma que vocês me pediram pra trazer vocês pra final? Foi pra jogar pior que minha vó com reumatismo que treinaram todas as tardes por quase três meses? Ou foi pra me fazer passar vergonha chamando olheiros dos melhores times??” .
Sentado no banco em frente ao técnico, passando uma pequena toalha na nuca pra secar o suor, Draco ficou de cabeça baixa durante esse breve, mais efetivo, puxão de orelha, tanto como maneira de demonstrar respeito e arrependimento, como pra escapar dos respingos de baba que voavam da boca de seu mentor por causa da intensidade com que falava. Seus colegas de time faziam mais ou menos a mesma coisa até que rapidamente Sproud pegou uma pequena lousa com uma miniatura de quadra desenhada nela.
“Vocês vão começar a jogar agora do jeito que eu sei que vocês sabem! Weasley, você vai marcar...” – explicou rapidamente a estratégia então mandou o time voltar. – “Finnigan, você entra no lugar do Malfoy.” – falou quando Draco se levantava pra acompanhar o resto do time ignorando a expressão indignada do loiro, que, respeitando a ordem do técnico, apenas pegou a toalha que usava e a colocou na nuca então voltou a sentar no banco cabisbaixo. – “Potter, se eu ver você respondendo as provocações daquele Krum você vai ficar aqui junto com o Malfoy.”
Apesar de decepcionado consigo mesmo por ter feito o próprio técnico perder a fé nele, Draco sabia que seu professor estava certo em tirá-lo do jogo já que há muito tempo nem mesmo nos treinos ele jogava como sempre jogara até essa confusão com Gina começar. Hoje estava ainda mais distante depois de chegar a conclusão de que Gina já não o amava mais, se é que algum dia o tinha feito.
Draco havia matado as duas últimas aulas daquele dia, por preferir ficar sozinho dentro do carro, e somente tinha comparecido no treino leve de antes do jogo, pois do contrário sabia que estaria fora. Não que ele estivesse lá muito empolgado pro jogo, mas quando vira seus pais chegando pra assistir a partida queria tanto mostrar que era bom pra alguma coisa que acabou se atrapalhando e fazendo tudo errado na quadra.
Não conseguia tirar da cabeça a imagem de Gina se divertindo com qualquer um que não fosse ele e, pra piorar a situação, ele não sabia se estava sendo neurótico, mas sua mãe estava olhando na direção dele e da caçula da família com algo diferente no olhar. Ele olhou pro técnico em pé na borda da quadra dando berros pro time então virou pra arquibancada encontrando facilmente o casal de ruivos ao lado de Gina e Colin. Seus pais olhavam pro jogo torcendo ainda mais animadamente quando Ron roubava a bola pro time ou quando Harry avançava contra o adversário fazendo outra cesta, o que fez Draco baixar a cabeça triste por não conseguir ser o centro da atenção deles junto com o amigo e o irmão.
Por vezes um deles olhava na sua direção e lhe dava um sorriso encorajador, mas Gina, que pela primeira vez no campeonato estava na arquibancada ao invés de estar torcendo com o Fawkes, não olhara pra ele sequer uma vez.
A diferença era agora de dezenove pontos, mas considerando o tempo que levaram pra tirar apenas essa vantagem e o fato de que o outro time continuava fazendo uma média boa de cestas, as perspectivas pra Hogwarts não eram das melhores. Não que Draco estivesse se importando muito com isso ou com qualquer outra coisa ultimamente
Como se percebesse o que se passava na mente de seu pupilo, Sproud desistiu temporariamente de berrar com os jogadores em campo, que já tinham melhorado visivelmente, pra tentar recuperar Draco, pois só com o triângulo Blaize, Harry e Draco no ataque é que a defesa de Ron ajudaria com a diferença de pontos.
Draco sentiu o banco se mexer do seu lado direito então se virou encontrando o perfil de Sproud, já que ele olhava com uma expressão de pesar o jogo se desenrolar. Ele abriu a boca pra pedir desculpas por estar mais uma vez distraído, mas o outro ganhou dele começando a falar antes.
“Escuta, filho...” – começou Sproud com uma voz branda e quase parecia que ele estava falando sozinho. Draco arregalou os olhos ao ouvir um homem que respeitava tanto e que até então só tratava seus jogadores de maneira impessoal chamá-lo de uma maneira carinhosa. – “Eu não sei onde diabos você enfiou o Malfoy que eu treino há três anos, mas é melhor você dar um jeito dele aparecer na quadra no quarto tempo, porque eu quero me aposentar com o pentacampeonato e não vou trabalhar mais três anos pra formar um time tão forte como esse.” – ele respirou fundo, como se preparasse pra abandonar essa atitude mais impessoal que sempre lhe foi característica, então olhou pra Draco, que ainda estava surpreso com a atenção que estava recebendo do técnico. – “A vida não é fácil e vão acontecer muitas coisas que vão te bater na cara quando você menos esperar, mas isso não é motivo pra você se perder desse jeito. Uns treinos tudo bem... matar algumas aulas pode-se relevar, mas desistir da vida como eu vi você fazendo nos últimos dois meses é pra fracos e eu sei que isso você não é. A vida não é das melhores de vez em quando, mas em vez de ficar apático, fique com raiva. E use essa raiva pra se levantar. Na pior das hipóteses o tempo vai passar e a situação vai melhorar.. mas aí ninguém vai pode dizer que você é um fraco, porque na pior parte você seguiu em pé. Seja o homem que eu vi crescer, ou então sai logo dessa quadra porque eu não agüento mais olhar pra sua cara de fracasso.”
Draco ouviu tudo calado, sentindo raiva de si mesmo por não poder falar nada, já que sabia que tudo que o homem falara era verdade. Estava sendo um fraco. Mas se seu técnico via nele um homem, era isso que seria.
O Pentacampeonato seria de Hogwarts.
O técnico pareceu notar exatamente o segundo que seu pupilo estava de volta então, com um sorriso de canto de boca ele pegou a sua lousa companheira. – “É isso que você vai fazer, Malfoy...”
Ao bater de leve nas costas de Finnigan dizendo que fizera um bom jogo, Draco já sentia a adrenalina que sempre sentiu ao entrar na quadra sabendo quem era e a que veio. Sem olhar pra arquibancada pra ver se seus pais ou Gina olhavam pra ele, Draco correu de encontro aos colegas assumindo sua posição no final do terceiro tempo, sabendo que não importava mais se eles estavam olhando, porque naquele momento ele fazia exatamente o que o técnico mandara: Estava usando sua raiva pra se levantar. E usaria essa mesma raiva pra levantar a taça de pentacampeonato com a pessoa que tinha lhe dado a mão quando ele estava por baixo.
Harry pareceu perceber junto com o locutor a mudança de atitude de Draco, então no mesmo instante em que Dino Thomas anunciava a volta do Malfoy que todos queriam, ele olhou pra amigo recebendo um sorriso de canto de boca.
Let the games begin.
UI, essa foi por pouco, quase que ele me pega olhando. – pensou Gina, fingindo estar olhando pro Harry jogando, quando mais uma vez Draco olhou da direção deles, então olhou pra uma cabeça de cabelos loiros, com uma raiz pretíssima aparecendo, que estava virada pro grupo de torcedoras ao invés de olhar o jogo. – Haha, bem feito! Me tirou da Fawkes, mas ela mesmo também não pôde ficar no grupo! E esse é o último ano dela em Hogwarts! A não ser que essa porta repita de ano, mas acho que repetentes não podem ser do grupo de torcedoras. – pensou a ruivinha deixando-se sorrir de maneira vingativa então voltou a olhar pra Draco que agora recebia uma bronca particular do técnico. Seja lá o que o Sproud tivesse dito deveria ter sido algo chocante, porque Draco estava praticamente boquiaberto, então, sem qualquer sinal, a postura do loiro se tornou completamente diferente. Gina quase se deixou convencer de que estava tendo na realidade um flashback quando Draco voltou pra quadra como se o lugar pertencesse a ele, do jeito que sempre fizera antes dessa confusão toda.
Whatever, é bom que eu paro de me sentir culpada por estar afastada – pensou ela tentando se enganar que o pensamento de que ele já estava bem sem ela a machucava tanto quanto saber que ele estava sofrendo porque tinha perdido a amizade dela. – Droga... Ah, pelo menos agora eu posso olhar pra ele à vontade que todos vão achar que eu to só assistindo o jogo. - pensou ela como meio de consolo e foi isso mesmo que fez.
No instante em que pensou isso, Harry saiu da marcação de dois jogadores e passou a bola pra Draco, que vinha correndo do meio do campo. Ele pegou a bola e, sem qualquer hesitação, deu dois passos largos e saltou. Todos pareceram ver a bola ir em câmera lenta até a tabela e cair diretamente na cesta.
Três pontos. O outro cestinha do time estava finalmente de volta. Draco instantaneamente virou com o maior sorriso pra onde Gina estava, então quando Ron, que vinha do outro lado do campo pra fazer a marcação agora que a bola era do time adversário, bateu nas suas costas sorrindo, Draco nem mesmo virou porque só tinha olhos pro sorriso que recebeu de Gina. Ela não sorria pra ele há mais de dois meses.
Sentindo-se eufórico como uma criança que recebera um elogio da professora na primeira série, Draco se forçou a continuar jogando cada vez melhor, nem que fosse só pra ver o sorriso dela de novo... e voltar a ter o respeito do seu técnico.
Com Draco voltando ao normal, o time inteiro pareceu voltar a jogar com garra e Sproud se permitiu um minúsculo sorriso.
Talvez a aposentadoria com o pentacampeonato ainda pudesse acontecer.
O que se iniciou como uma comemoração no vestiário entre os jogadores e seu técnico pelo pentacampeonato, logo se transformou numa pseudo iniciação das férias de natal no meio da quadra, já que o pessoal mais chegado dos jogadores tinha ficado por ali até eles saírem de vestiário, que na mesma velocidade se transformou realmente em uma pequena festa na casa de Blaize Zabine, que planejava ficar seriamente bêbado aproveitando que só teria que viajar ao encontro dos pais dali a dois dias na casa da avó.
A maioria das pessoas já havia ido direto pra casa de Blaize, ou saído pra ir ao supermercado comprar bebida e pegar pizzas ou qualquer coisa comestível, mas quando Draco finalmente saiu do vestiário, seus pais ainda o esperavam do lado de fora juntamente com Gina e Colin.
Feliz porque eles tinham esperado para vê-lo e também apreensivo por não saber como agir perto de Gina depois dela ter sorrido para ele, Draco se aproximou dos quatro com um sorriso tímido no rosto. – “Foi mal pela demora, o Sproud queria falar comigo sozinho” – disse enquanto era envolvido no abraço maternal e apertado de Molly, que falava o quanto estava orgulhosa dele ao mesmo tempo em que Arthur comentava algumas cestas de um jeito empolgado e até pulava. Ele foi abraçado também pelo pai enquanto ainda ria de sua encenação de um passe genial que Draco tinha feito para Harry que, por sua vez, tinha feito cesta.
Também abraçou Colin, recebendo seus parabéns com um sorriso agradecido, então virou pra Gina sem saber muito bem como agir, porque ambos desconfiavam que se não se abraçassem até mesmo o avoado do pai deles desconfiaria que algo estava errado. Triste porque não poderia mais se iludir que estava tudo bem, como fizera desde o momento em que ela tinha sorrido pra ele depois que ele voltou do banco, Draco deu um passo incerto na direção da ruiva, que parecia ter as mesmas dúvidas sobre como agir.
Sendo sempre a mais agoniada dos dois, Gina se aproximou rapidamente dele com todas as intenções de lhe dar apenas um abraço rápido, com dois tapinhas nas costas, mas no momento em que encostou nele soube que não tinha mais controle sobre suas ações.
Ela virou o rosto beijando a mão do outro de maneira lenta e quando voltou a olhar para Draco percebeu que seus rostos se aproximavam inconscientemente.
Poder abraçá-la de novo depois de duas semanas de briga foi quase a perdição de Draco que, sem pensar nas conseqüências ou no fato de que seus pais estavam bem ali, deixou seus braços a abraçarem pela cintura pra logo depois seu braço direito subir lentamente pelas suas costas até encontrarem sua nuca, a sentindo se encaixar perfeitamente contra ele.
Ele então beijou sua pele como em reverência à razão de todo o seu ser, passando a ponta do nariz levemente na pele em que encostava sem deixar de acariciar seus lábios...
Gina sentiu suas pernas amolecerem, então, ela apertou ainda mais seus braços atrás da nuca dele, como se buscasse apoio, e fechou os olhos. – “Parabéns, Draco.” – murmurou com uma voz trêmula.
Ouvir a voz dela tão meiga, tão perto do seu ouvido, acabou ainda mais com seu autocontrole o fazendo apertá-la ainda mais contra si e virar o rosto pra sentir o cheiro do seu cabelo, da sua pele... – “Obrigado...”
Não se conteve somente em passar seus lábios de leve nos de Gina sentindo sua respiração faltar. - “Eu.. posso..?” – murmurou Draco sem saber se sobreviveria àquela noite se Gina respondesse não e a ruiva sem forças pra falar apenas o olhou nos olhos rezando pra que ele entendesse o que ela implorava.
Perdida entre a realidade e as lembranças, Gina já começava a enfiar seus dedos entre os fios molhados do cabelo dele, sentindo o corpo quente dele contra o seu, até que, antes que se perdessem completamente nessa loucura, Colin teve um acesso incontrolável de tosse.
“Er.. Vocês não vão pra casa daquele amiguinho comemorar?” – perguntou Molly sorrindo exageradamente, batendo de leve nas costas de Colin e olhando simultaneamente pra Arthur, pra ver se ele estava desconfiando, e pros filhos se separando com as faces vermelha e expressões confusas, tendo toda a confirmação que precisava pra ter certeza de que suas suspeitas bizarras eram nada a mais, nada a menos, que a verdade.
“Vamos sim, tia! Vamos sim, vai estar todo mundo lá e também, hoje foi o último dia de aula, né? Yupiiii, férias, ai que beleza de férias, eu tava louco por umas féééérias, O senhor vai ter férias também, tio?” – tagarelou Colin, gesticulando muito com os braços, se sentindo tão nervoso que tinha impressão que começaria a rir desesperadamente a qualquer momento se Draco e Gina não falassem nada e continuassem apenas olhando pro chão em silêncio. – “Ai, mas eu queria mesmo era ir pra praia ao invés de ficar nesse frio. Mas é ruim, porque eu não pego bronzeado mesmo, só me queimo.. a senhora tem alguma loção boa pra queimaduras, tia?”.
Se Molly precisasse de mais uma confirmação, o modo louco que Colin estava agindo deixava mais do que claro que o loirinho sabia muito bem tudo que estava acontecendo, então quando a mãezona Weasley já começava a pensar no que fazer pra sair daquela situação antes que Arthur percebesse que algo estava diferente, Draco falou com Colin interrompendo seu monólogo maluco sobre o sol e as férias.
“Vocês querem ir comigo? Eu posso ir até a sua casa deixar seu carro e aí vamos juntos pra casa do Blaize” – ofereceu Draco, sabendo que a casa do amigo era meio difícil de achar se você nunca fora lá antes.
“Não precisa não, Draco, uma amiga da minha mãe é vizinha dos Zabine, então eu sei como chegar lá. Mas brigado, a gente se encontra lá.” – agradeceu Colin parecendo muito sem graça e meio apreensivo, como se estivesse sabendo de algo que Draco não ia gostar nem um pouco, então Gina se afastou um pouco deles pra atender o celular.
“Mas não é trabalho nenhum, e a casa do Blaize é longe.. é chato dirigir sozinho até lá.” – insistiu ele, sentindo que era em vão, mas querendo saber porque eles preferiam ir sozinhos.
Quando Colin abria a boca pra explicar porque não precisava, Gina veio pra perto dele então falou sem graça. – “O Chris já ta lá fora...”.
Draco entendeu tudo... Nem mesmo se surpreendeu, afinal, nada havia mudado. Sua expressão se tornou fria e indiferente.
“Ele vai me seguindo porque não sabe o caminho..” – falou Colin olhando pro amigo como se pedisse desculpas e querendo dizer que não existia nada entre eles dois, mas Draco apenas acenou com a mão que estava tudo bem.
“De boa, eu já to acostumado a ir pra lá sozinho.” – falou o loiro então se virou para os pais, sem olhar pra Gina. – “Eu esqueci meu tênis no vestiário. Vocês podem ir com a Gina e a gente se encontra em casa.” – falou com a voz normal, não tendo a menor vontade de ir lá fora e ainda ter que ser educado com aquele francês.
Percebendo que ele estava se esforçando pra falar como sempre e conhecendo o filho suficientemente pra saber que ele estava mentindo e apenas precisava de um tempo pra se recompor, Molly sorriu compreensiva e virou pro marido. -“Vamos então, querido?”.
Draco se forçou a sorrir pros pais e, se não estivesse tão concentrado em se mostrar forte, perceberia que o sorriso da mãe tinha algo como uma aceitação melancólica de mãe, que queria colocá-lo no colo como faria se ele tivesse caído e se machucado quando era pequeno.
Sorriu mais uma vez pro pai ao ouvi-lo falar ‘Se diverte na festa, filhão’ então virou na direção do vestiário, sem olhar pra Gina uma vez sequer.
“Gina, eu já menti pra você alguma vez?” – perguntou Colin, sentado no braço do sofá, exasperado por não receber a atenção da amiga, que fingia olhar as pessoas dançando e conversando à sua volta. – “Eu vi a cara de decepção que ele fez! Se ele não sentisse nada por você porque teria ciúmes do Chris? Né, Chris, fala pra ela!” – virou pro francês que entendia perfeitamente o inglês, mas sabia falar pouco.
“Eu já falou pra ela, mas Gina teimosa” – respondeu Chris com o sotaque carregadíssimo para os ouvidos surdos de Gina que ainda fingia não escutar o que eles diziam, segundos antes do Harry chegar sentando ao lado dela no outro braço do sofá.
“Quem viu os sorrisos que esta ruiva trocou com um certo loiro atacante levanta a mão!” – brincou antes mesmo de falar oi pro Chris, então virou pro francês lhe oferecendo a mão. – “E aí, cara?”.
“Ah, se você vai começar também eu vou sair.” – disse Gina virando pro amigo com uma expressão irritada, não dando atenção a Colin que falava que sabia que ela estava se fazendo de doida mais uma vez.
“Começar o quê? A apontar o fato óbvio de que o Draco arrasta o mundo inteiro por você?” – respondeu o jogador que há mais ou menos uma semana havia resolvido falar claramente que Draco gostava dela todas as vezes que a encontrava na esperança de Gina deixar de ser teimosa e ver a verdade que era óbvia pra todos.
“Ai.. quando que a Paty volta, hein? Acho que você ficou mais doido que o normal desde que ela foi fazer esse curso.” – disse Gina, percebendo que o amigo pareceu estar ainda mais teimoso em relação à sua situação com Draco desde que Paty tinha ido pra Alemanha fazer um curso de alemão por três meses.
“Eu não estou doido, eu estou sábio. E como sábio estou dizendo que você precisa ir ali do outro lado e ficar com o Draco.” – respondeu ele, achando engraçado irritar a amiga, que já estava ficando vermelha e, aparentemente, seu divertimento era dividido com os outros dois amigos dela, que somente concordavam com Harry.
“Já que vocês resolveram me atormentar ao mesmo tempo eu vou sair daqui.” – disse Gina se levantando do sofá, mas antes que desse o primeiro passo foi impedida pelas mãos de Harry que a puxavam pela cintura. – “Me larga, Harry!”.
Ainda rindo, Harry enfiou o dedo naquela tira de pano por onde o cinto da ruiva passava e a puxou mais um pouco pra trás quase a sentando no espaço do braço do sofá entre suas pernas. – “Só se você for falar com o Draco.”
“Ma largaa, Harry!Você vai rasgar minha calçaaa” – resmungou Gina, mas sinais de um sorriso já começavam a aparecer no seu rosto já que a ruiva estava acostumada a ser a bonequinha entre os irmãos mais velhos e era assim que Harry sempre a considerou, já que não tinha uma irmãzinha só dele. – “Harrrrryy, deixa de ser chato, me larga!”.
“Tá, mas agora o preço aumentou, você tem que ir e dar um beijo no Draco.” – respondeu ele começando a lhe fazer cócegas com a mão que estava livre, enquanto Gina se contorcia já rindo abertamente até que finalmente conseguiu escapar.
“Ahá!” – brincou Gina, então deu a língua pros três amigos e começou a andar entre as pessoas com o intuito de pegar algo pra beber na cozinha, sem saber que Draco assistira a cena inteira se corroendo de ciúmes e dando vários goles na sua cerveja.
Sabendo que não tinha o direito de ter raiva, já que Gina era livre pra fazer o que quisesse e com quem quisesse, Draco se forçou a continuar em pé no mesmo lugar, ignorando os olhares interessados que várias meninas lhe davam quando passavam, ao invés de seguir Gina como tinha vontade ou sair pra fumar um cigarro. Ah, se o técnico desconfiasse que ele estava fumando...
Logo se arrependeu de sua escolha ao avistar sua tentação voltar da cozinha com uma coca-cola na mão, somente pra ser abraçada fortemente pelo anfitrião bêbado da festa que, se fizesse alguma coisa, deixaria de ser um de seus melhores amigos.
Já com sua latinha de coca-cola na mão, Gina andava pela festa desviando de algumas pessoas que dançavam e outras que estavam simplesmente em rodas conversando então teve que fechar os olhos ao testemunhar uma pizza de calabresa ser espatifada no sofá branquinho da senhora Zabine, por uma garota risonha e ,obviamente, ébria. Uma voz exageradamente eufórica vinda do lado esquerdo da sala, entretanto, a convenceu a abrir os olhos novamente.
Ao ver um garoto que vira perto dos gêmeos na festa que haviam dado, usando um chapéu de cowboy e tentando convencer duas garotas a tomar uma dose de tequila, Gina balançou a cabeça em negativo ao reconhecer a tentativa frustrada de imitar seus irmãos. - Tem gente que não reconheceria a originalidade nem se fosse atropelado por ela usando rosa choque. Pffff... E aparentemente ele não sacou que os gêmeos só estavam usando sombreiros pra dar shots de tequila... aiaiaia... - pensava olhando a cena até que as duas garotas pareceram ter percebido o mesmo que ela e, conseqüentemente, desistido de ficar por ali.
Virando-se com toda a intenção de voltar pra onde Colin, Chris e Harry estavam, Gina quase derramou coca-cola nela e no autor do súbito abraço apertado que recebia.
“Eh, Zina, Zina, Zininha, Zinaaaa! Ick!” – falou Zabine, demonstrando que tinha cumprido muito bem seus planos de encher a cara, então praticamente aterrissou nela lhe dando um abraço carinhoso e bêbado. – “Que bom que vozê, ick, veioo! Vozê viu que a zente ganhô?”.
Ela riu um pouco tentando se equilibrar pra que ele dois não acabassem caindo no chão – “Vi sim, Blaize, parabéns!”.
“Zina.. vozê é zão linda! Vozê e meu amigo, ick, Draco, deviam namorá! Igual eu e a bela Zabrina!”.
Aff, até o Blaize tá ficando maluco. Tá tão bêbado que esqueceu da realidade. – “Blaize, eu e o Draco somos.. somos irmãos, lembra?”.
“Oxe.. mazz como? Vozê é cabelo verme-ick-lho e ele amareeelo!” – disse, então começou a rir pateticamente.
“É, estranho, né?” – respondeu ela sem graça e sem saber o que fazer.
“Humrum. Humpf, vozê tá é querendo me enganar! ick! Eu sei que vozês não são irmãos!! Mas bora danzar!! Porguê a Zabrina me deixou de novo! Ingra-ick-ta” – exclamou ele, fazendo Gina rir ao lembrar que hoje mesmo ele estava negando que gostasse da chefe de torcida, que nem mesmo tinha ido à festa porque viajaria de férias na manhã seguinte.
Eles então começaram a dançar desengonçadamente rindo um da cara do outro, então Gina avistou, com certa satisfação, um grupo de meninas, que sempre esnobavam ela e Colin, encolhidas em um canto da casa já que não eram amigas de ninguém que estava ali, pois Zabine tinha chamado apenas o pessoal que andava mais com ele.
Sem conseguir ver que não tinha nada demais no que tava acontecendo, além de dois amigos brincando um com o outro, Draco olhou a cena inteira com malícia lembrando deles juntos no almoço e, quem tivesse conhecido seu pai, diria de cara que aquele era seu filho, pois com seu maxilar tenso, a postura reta e impassível, e seus olhos que pareciam ter se virado em gotas de chumbo de tão escuros de raiva, Draco era a figura exata de Lúcius Malfoy quando este era afrontado.
Sentado numa das cadeiras de sol em frente a piscina, que num frio daqueles era contraditória a ponto de ser surreal, Draco tinha os cotovelos apoiados nas próprias pernas, já que estava inclinado pra frente olhando pro chão, enquanto tentava se livrar de imagens de Gina nos braços de qualquer homem que não fosse ele.
Agora ele era tão vil aos olhos da ruiva que ela aceitava os abraços de todos, mas os dele pareciam causar nojo? Até sua ajuda era negada... seu toque seria considerado obsceno, baixo.. sujo? Deus, não era possível que um erro tão idiota o transformasse instantaneamente em um monstro...
“Erm... Draco?” – uma voz meiga e insegura chamou sua atenção.
Ele olhou pra cima encontrando uma jovem, que tinha decididamente exagerado na maquiagem, mas nem por isso deixava de ser bonita. Draco a olhou de cima a baixo, se perguntando porque algumas mulheres simplesmente parecem não ter frio, então passou a língua no lábio inferior parecendo ligeiramente intrigado. – “Eu deveria saber quem é você?” – perguntou depois de decidir que nunca tinha visto aquela garota.
“Não... er.. minha prima estuda em Hogwarts High, eu sempre vou aos jogos de basquete, aí é por isso que eu sei quem é você...”.
“Hum” – resmungou, sem se interessar no que ela falava, enquanto procurava o maço de cigarros no bolso do seu casaco. Quando o achou, pareceu lembrar que havia uma figura plantada à sua frente, provavelmente morrendo de frio, então voltou a olhar pra ela, julgando que ela devia ter no máximo 15 anos querendo se passar por 17.
Ela sorriu pra ele parecendo extremamente nervosa, então ofereceu a ele a outra lata de cerveja que ela trazia na mão.
Com a cabeça ligeiramente inclinada, Draco ficou olhando intensamente pra ela, querendo ver até aonde ela agüentava, então aceitou a cerveja ainda sem desviar seu olhar. – “Obrigado” – falou ao mesmo tempo em que a abria pra depois tomar o primeiro gole então sorriu sadicamente quando ela desviou o olhar com a face vermelha. Por quê as pessoas se obrigam a fazer coisas que claramente elas preferiam não fazer? Ele se perguntou, avistando uma pessoa atrás de uma árvore perto deles, entendendo rapidamente o que é que estava acontecendo ali.
“Ahn. Eu posso sentar com você?”.
Ele baixou a latinha e olhou pra ela num sorriso quase divertido na boca, recebendo um sorriso pseudo sedutor que quase o fez rir. Ele levantou as sobrancelhas então começou a mexer a cabeça em negativo, pegando o esquecido maço de cigarro. – “Antes de você sentar eu posso te fazer uma pergunta?” – falou enquanto pescava o isqueiro dentro do bolso.
“Tá” – ela respondeu, bem mais empolgada do que deveria e Draco chegou a pensar que ela devia estar usando drogas pra ter tamanha coragem de ir falar com ele assim.
Draco meio que soltou o ar em um quase riso ao ouvir o tom da resposta, porque era quase fofo ver uma maluquinha dessas tentando dar em cima dele, então acendeu o cigarro protegendo a chama do isqueiro com a mão.
Ele tragou olhando pra ela, então sorriu de canto de boca pensando em como as pessoas se colocam em situações em que os outros podem tirar vantagem. – “Aquela ali escondida atrás da árvore é a sua prima?” – perguntou, depois de ter soltado a fumaça, então sorriu ao perceber que o rosto da menina ficou muito, mas muito mais vermelho.
Sem palavras pra falar o óbvio, a menina apenas acenou que sim com a cabeça baixa.
“Então se salva dessa situação vexatória e vai lá chamá-la pra ir pra dentro. Vocês vão morrer de frio se ficarem aqui fora.” – falou ele tragando outra vez.
Quando ela se movimentou rapidamente, no que parecia uma tentativa de sair correndo dali pra se suicidar, Draco impediu a fuga a segurando pelo braço. – “Fala pra ela que eu gosto de uma pessoa que está na festa.” – falou sem tirar o cigarro da boca, desamarrando o casaco da cintura dela e se levantando pra colocar em volta dela. – “E nunca mais se deixa obrigar a fazer algo que obviamente não faz seu estilo” - continuou, sabendo que seus atos fariam com que a tal prima acreditasse no que ela dissesse.
A menina olhou pra ele de um jeito que ele não sabia se ela queria sorrir ou chorar de vergonha, então murmurou. – “Obrigada”.
Ele tirou as mãos dele dos ombros dela, então pegou o cigarro da boca. – “Eu não falo e você não fala.” – piscou pra ela, assegurando que esse mico astrológico seria um segredo deles dois.
Depois de dar um sorriso tímido ela virou e saiu correndo ao encontro da prima e, assim que a encontrou, esquecendo que Draco poderia ainda estar olhando, ela falou algo e as duas começaram a pular atrás da árvore, dando gritinhos uma na frente da outra.
O jogador observou a cena com uma expressão confusa. O que diabos a menina poderia ter falado pra causar aquela reação? Levando o cigarro mais uma vez à boca, Draco sentiu a fumaça encher seus pulmões então olhou pra cerveja que a doidinha havia lhe dado.
Deu com os ombros, pois não tinha o menor interesse em descobrir a resposta desse mistério, então soltou a fumaça no ar e depois tomou alguns goles da cerveja.
Alas...Pelo menos ela tinha trazido álcool...
Uma hora de lembranças, incertezas e amargura, embaladas de cerveja e uma pequena garrafa de uísque que havia trazido consigo, foi o suficiente pra deixar Draco completamente ébrio e, deitado numa das cadeiras de tomar sol em frente à piscina, olhando pro nada, foi como Gina o encontrou.
Arregalando os olhos e entrando automaticamente no seu módulo drama queen, Gina correu pra onde ele estava já praticamente pensando que ele estava dormindo e morrendo de frio, mas, ao tocar nele querendo acordá-lo e não ter nenhuma reação, a ruiva passou diretamente pro módulo de pânico. – Ai meu Deus! Ele está em coma alcoólico! Draco!! – pensava freneticamente ao mesmo tempo em que o chamava e batia de leve no seu rosto, até que ele se mexeu dando um gemido de indignação por estar sendo praticamente boxeado por alguém.
“Draco! Acorda, Draco!!” – falou Gina, ainda chacoalhando o irmão de criação, querendo ter certeza absoluta de que ele estava bem. Então uma mão agarrou seu pulso a impedindo que continuasse a bater nele, mas só conseguiu piorar a situação, já que quando a ruiva percebeu que ele estava acordado ela deu praticamente um soco no peito dele. – “Seu idiota!! Eu pensei que você tava morto!! Tá maluco!? Porque você tá aqui fora nesse frio sozinho?? Eu vou falar tudo pra mamãe!” – começou a tagarelar e, por um segundo, parecia que voltara a usar óculos e roupas largas, como se nada de diferente tivesse acontecido entre eles.
“Ei, ei” - resmungou ele em um tom sonolento/bêbado, com a expressão aborrecida, tentando desviar dos tapas de Gina ao mesmo tempo em que se sentava, até que conseguiu segurar a mão dela e falar seriamente. - “Pára”.
Ai que sexy... - pensou ela, fazendo exatamente o que ele tinha mandado, então se levantou do chão aonde tinha se ajoelhado. “Tá, seu grosso, vê se eu tento te salvar de novo!”.
Ele olhou pra ela com a rapidez que sua bebedeira lhe permitiu então sua cabeça caiu pra trás e ele deixou o ar sair em uma risada que, se não fosse pateticamente melancólica, seria sarcástica. - “Me salvar? De que? A culpa disso tudo é sua.”.
Ahn?? - “Culpa de quê? Tá maluco?” - perguntou a ruiva indignada de estar sendo acusada, ainda mais por alguém que tinha lhe causado tanta dor, observando que ele estava procurando algo no chão com um olhar perdido.
“Cadê minha garrafa?” - resmungou pra si mesmo ignorando a pergunta de Gina, achando, ao invés da garrafa, seu maço de cigarros.
“Hein, responde! Culpa de quê?”.
Olhando a caixa vazia de cigarro, Draco piscou lentamente algumas vezes até que foi capaz de decidir jogar fora aquele lixo e, após meros segundos, foi isso que fez, jogando-o de volta no chão com uma expressão aborrecida, então olhou pra cima fazendo seu olhar focalizar em Gina. - “‘Culpa de quê?’, ela pergunta. Culpa por ter ido embora, Wendy!” - responde ele como se o que tivesse falado tivesse muita lógica pra qualquer um, então continuou parecendo falar mais consigo mesmo. - “Agora eu fico sozinho e a Wendy brinca com todos os garotos perdidos” – murmurou, e olhou pra ela indignado. - “Era pra brincar só com o Peter! Eu que sou o Peter, Gina...”.
“Você não tá falando nada com nada, Draco.” - respondeu ela já o pegando pelos braços tentando fazê-lo se levantar. - “Vamos lá pra dentro. Você tá muito bêbado pra ficar aqui sozinho e eu to com frio.” - disse colocando um dos braços dele em volta de si e o puxando pra andar, estranhando levemente o fato de que ele estava se deixando levar tão facilmente, sem saber que ele faria qualquer coisa que ela pedisse se isto significasse que ela ficaria abraçada a ele.
Após alguns passos meio desastrados de uma pessoa sóbria em cima de um salto alto equilibrando um jogador de basquete bêbado, Draco parou de súbito recebendo o olhar confuso de Gina.
“Que foi, Draco? Continua andando, vamos.” - falou ela tentando dar um outro passo inutilmente, já que Draco se negava a acompanhá-la.
“Por quê, Gina?” - perguntou olhando pra ela como se suplicasse que ela entendesse o que ele estava perguntando, então levou a mão pro rosto dela. - “Por quê você mudou tudo? Mudou tudo, Wendy”.
Tirando a mão dele de seu rosto com toda a dificuldade do mundo, Gina olhou pra carinha bêbada e confusa dele. Nunca havia visto Draco tão vulnerável. Então fechou os olhos com o intuito de se convencer de sair logo de perto dele, porque sabia que ele estava demonstrando o quanto sentia falta dela como irmã.
Estando de olhos fechados, ela não viu os olhos dele viajarem dos seus olhos pra sua boca, tampouco o momento em que ele aproximou seu rosto com toda a intenção de beijá-la. - “Ui!” - gritou se assustando quando Draco puxou seu ombro sem querer quando começou a cair, quase levando os dois pro chão. Lutando pra se equilibrar de novo, Gina brigou consigo mesma por ter se distraído, então voltou a puxá-lo e, desta vez, não encontrou resistência. - “Vamos Draco...”.
“Humm” - resmungou Draco, piscando lentamente, sem entender porque diabos estava aquela barulheira no quarto dele, até que avistou várias pessoas à sua frente e se tocou de que ainda estava na festa. Tinha uma noção tênue de que tinha saído de lá pra fumar, mas alguém o havia trazido de volta. - “Gina...” – murmurou, se lembrando exatamente de quem o havia resgatado do frio que estava lá fora, então uma lembrança vaga de conversa que tinham tido o fez levar a mão à cabeça. Precisou beber mais alguma coisa ou ficaria inconvenientemente sóbrio a qualquer instante.
No momento em que esse pensamento visitou seu cérebro, Draco observou uma outra verdade: Um casal com um cheiro nauseante de calabresa estava praticamente o incluindo em seja lá o que estavam fazendo naquele sofá. Ele olhou pra garota que estava com metade do corpo em cima de suas pernas, notando que seu ‘parceiro’ estava em cima dela e, conseqüentemente, parcialmente em cima dele por tabela.
Com o raciocínio ainda lento e meio chocado com o que via, Draco ficou olhando por quase um minuto aquela zona em cima do seu colo, até que sentiu algo quente e molhado envolver seu dedo indicador. Isso definitivamente o fez sair de seu estado de imbecilidade. Como diabos o dedo dele foi parar na boca daquela maluca??
Sem se preocupar em ser sutil, Draco se levantou do sofá, derrubando o casal exibicionista no chão, então se dirigiu até a cozinha sem olhar pra trás e ver suas reações.
Realmente precisava de alguma coisa pra beber... O que viu no momento em que entrou no recinto, todavia, lhe rendeu alguns segundos de sobriedade pra logo depois lhe fazer perder um pouco de sua sanidade.
“Chris, olha pra mim.” - falou Gina, segurando o rosto do amigo de modo que ele fosse obrigado a olhar nos olhos dela, então encostou a testa na dele. - “Eu sei que dói ouvir o que eu vou dizer, mas...” ¬- começou a falar então hesitou por saber que às vezes a verdade magoa mais do que a pior das mentiras poderia sonhar em machucar. - “Se ela deixou de te amar em pouco mais de dois meses a ponto de estar namorando com outro, eu to achando ótimo que seus pais tenham causado essa separação, porque ela não te amava de verdade. Você merece mais que isso, Chris... ” - murmurou ela, não deixando que o amigo desviasse o olhar, como se quisesse ter certeza de que ele estava entendendo o que ela queria dizer. Tinha toda a pretensão de falar pra eles irem pra casa e conversarem durante a madrugada inteira se ele quisesse, mas uma voz sarcástica se arrastando um pouco demais a interrompeu.
“To atrapalhando alguma coisa?” - perguntou Draco deixando toda mágoa, confusão e raiva transparecerem na sua voz, bêbado o suficiente pra não se importar em disfarçar o que sentia, então sentiu alguma satisfação ao observar o ‘casal’ se separando rapidamente e o francês ficar de costas pra ele.
Envergonhado por estar a ponto de chorar e sabendo muito bem o que aquela cena devia estar parecendo pra Draco, Chris murmurou que precisava ficar sozinho um pouco e que, se ela precisasse, ele estaria lá fora.
Depois de ver o amigo saindo, Gina virou pro irmão de criação sem entender o porquê do tom amargo com que fizera a pergunta. Será que ele ficou bravo porque eu o deixei ali no sofá só esses minutinhos? Humpf... ninguém mandou ele beber! - “E aí, você tá melhor? Não tava falando nada com nada meia hora atrás.”
“Ah, já tem meia hora que você me largou naquele sofá pra vir se agarrar escondido na cozinha?” - perguntou com um tom malicioso ao falar a palavra ‘agarrar’.
O quê?? “Em primeiro lugar, eu não tenho obrigação nenhuma de cuidar de você bêbado. Eu só fiz o favor de te tirar do relento, porque por algum motivo alien à minha compreensão eu não quero que você morra de pneumonia.” - falou já ficando irritada e se obrigando a não dar atenção à expressão pretensiosa que Draco ostentava no rosto. - “E em segundo lugar, se eu quisesse me agarrar com alguém eu não tenho por que ter que fazer isso escondido, então pára de falar desse jeito superior ou então cala a boca, porque esse tom me irrita.”
“A sua voz sozinha já tá me irritando, e você não me vê te mandando calar a boca” - respondeu ele querendo machucá-la pela traição que ele sentia.
Sentindo o corpo ficar gelado de mágoa e engolindo o choro, Gina baixou o olhar incapaz de responder ao que ele havia dito.
Percebendo isto, Draco deu um passo na direção da ruiva querendo pedir desculpas e dizer que havia mentido porque queria que ela sofresse como ele estava sofrendo por não tê-la por perto, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa ela voltou a olhá-lo nos olhos.
“Você tá bêbado e obviamente aconteceu alguma coisa e você tá descontando em mim.” - falou ela, com uma voz controlada, sabendo que não conseguiria nem mesmo brigar com ele, pois tinha sido pega de surpresa pela amargura das palavras dele. Era como se ele a odiasse agora. - “Eu não vou mais ficar aqui escutando essas coisas. Boa noite.” - falou se virando pra sair pela mesma porta que Chris havia saído.
Vê-la dispensando sua companhia tão displicentemente, ainda mais pra seguir o mesmo caminho que o francês que ele detestava havia feito, foi o pouco necessário pra Draco esquecer que segundos atrás queria pedir desculpas por tê-la magoado mais uma vez. Toda sua raiva e mágoa voltaram juntamente com imagens dela rindo, dançando, brincando e até quase beijando outros caras que simplesmente não eram ele. - “Já vai correndo atrás do Chrris? ” - perguntou fazendo deboche do sotaque do outro ao falar seu nome. - “Você tá tão desesperada assim que não consegue esperar nem alguns minutos? Eu tenho certeza de que o Zabine quebraria seu galho se o francês te deixasse pra trás. Talvez até o Potter...”.
Boquiaberta, Gina ouviu tudo aquilo calada, sem acreditar que aquilo estava realmente acontecendo. Nem mesmo seus pensamentos se ordenavam e Gina se viu completamente inábil a se mexer, falar ou até mesmo chorar. - “O quê..? Por- por quê..?” - balbuciou ela, sem conseguir terminar suas próprias perguntas, com a impressão de que aquele à sua frente não era o Draco que conhecia a vida inteira.
Sem saber mais nada além do fato de que ela não queria ficar nem mais um segundo perto dele, Gina simplesmente desistiu de falar e virou pra porta sentindo as próprias lágrimas queimando nos seus olhos, sem imaginar que isso aumentaria os ciúmes e a raiva de Draco.
Antes que ela pudesse encostar na maçaneta, entretanto, Draco a pegou pelo braço. - “Eu não vou deixar você ir com ele.” - falou ele em um tom baixo, mas decidido.
Gina tirou a mão dele de seu braço não querendo o toque daquela pessoa à sua frente, tão diferente do homem que amava. - “Eu faço o que eu quiser.” - falou finalmente sentindo o choque diminuir pra dar lugar à raiva, então virou a maçaneta e abriu a porta, mas Draco a empurrou, fechando-a novamente.
“Me diz que você não vai atrás dele e eu te deixo ir.” - barganhou, pois sabia que não podia obrigá-la a ficar ali.
“Eu vou atrás de quem eu quiser. Você não tem nada a ver com a minha vida”.
“Eu tenho muito a ver se você está agindo como uma puta.” - falou expressando toda raiva que sentia em uma palavra que ele sabia que não era a verdade, mas no segundo em que ela deixou a sua boca ele já havia se arrependido.
Gina pareceu estática por um instante e sua respiração, tanto quanto a de Draco, parecia haver parado para dar espaço à náusea.
Boquiaberto, sem acreditar no que havia dito, Draco tentou tocá-la, mas se impediu por saber que era indigno, então somente murmurou em tom de súplica, como se pedisse, não perdão, mas sim pra que ele nem mesmo tivesse falado. - “Gina...”.
Ela finalmente olhou pra ele com uma lágrima escorrendo pelo seu rosto, mas era óbvio que milhões delas lutavam pra se libertar. Seus lábios tremiam e sua face estava pálida. - “Eu não acredito que você falou isso.” - murmurou demonstrando que ela ainda queria acreditar que ele não falaria algo assim.
“Gina, eu não quis...” - começou ele depois que passaram alguns segundos se olhando e entendendo o quanto estavam afastados.
“Não...” - murmurou ela já abrindo a porta, demonstrando que não queria mais ouvir a voz dele ou ficar perto dele, então saiu dali o deixando sozinho pra perceber a idiotice que tinha feito.
Ao ouvir o barulho da porta se fechando, Draco ficou olhando pro nada repassando o que tinha acabado de acontecer, sem acreditar que tinha falado aquilo. Levou as mãos à cabeça então a encostou na porta sentindo seus olhos se encherem de lágrimas. Ele só fazia merda.
Um barulho de garrafas batendo uma na outra indicou que uma pessoa havia aberto a geladeira e a presença de alguém ali só fez aumentar a raiva que Draco sentia de si mesmo. Sem virar pra ver quem era, Draco somente murmurou ao mesmo tempo em que começava a chorar. - “Sai daqui.”.
“Ô, cara, tá maluco? Só to pegando uma brêja” - respondeu o desconhecido com a voz abafada, o que indicou que ele estava praticamente enfiado dentro da geladeira, então foi puxado pela blusa e, antes que pudesse fazer qualquer coisa, foi empurrado pra fora da cozinha vendo apenas a porta praticamente bater na sua cara.
Ele virou pra frente, onde todos o olhavam sem entender o que tinha acontecido, então deu com os ombros e falou com aquele tom de uma pessoa que estava ligeiramente bêbada e alegre. - “Adivinha!? A cozinha tá interditada!”.
Gina chorou e soluçou como criança no colo do amigo que deveria estar consolando, incapaz de dizer o que tinha acontecido ou de falar qualquer coisa, então foi embora pra lamber as próprias feridas bem longe daquela festa, sem saber que olhos acinzentados e contorcidos em dor e arrependimento assistiram ela caminhar abraçada ao Chris até o carro e depois o carro em que estavam se afastar até o perder de vista quando fez a curva pra passar pelo portão.
“Brigada Chris, amanhã a gente se fala, tá? E desculpa por não ter te ajudado agora... eu... eu não esperava que fosse despencar chorando em cima de você quando fosse a sua vez de despencar chorando em cima de mim...” - falou pro amigo com algum tom de humor enquanto o abraçava se despedindo.
“Quê isso, Gina, se você não percebeu eu também utilizei a minha vez.” - brincou usando o mesmo tom da amiga então eles se separaram e ela percebeu que os olhos dele estavam vermelhos indicando que ele também teve sua parte de lágrimas derramadas. - Além do mais, você mesma já falou: ‘tristeza ama companhia’” .
Ela riu um pouco, parecendo soluçar ao mesmo tempo, então saiu do carro e entrou em casa.
Ao chegar no quarto ela despencou na cama com roupa e tudo, se arrependendo de não ter bebido na festa porque, se tivesse feito isso, com certeza ia deitar na cama e despencar no sono, mas agora as palavras de Draco atormentavam sua memória enquanto ela tentava sufocar seu choro no travesseiro.
Quando um sono intranqüilo começou a querer fechar seus olhos, entretanto, Gina viu uma fresta de luz se esticar pra dentro do quarto, mostrando que alguém havia aberto a porta do quarto. Pensando que fosse a mãe, Gina prontamente fechou os olhos e fingiu estar dormindo ao mesmo tempo em que rezava pra Molly não querer acordá-la pra ela trocar de roupa.
A pessoa ficou parada na porta alguns instantes, como se pensasse se entraria no quarto ou não e Gina já começava a cogitar a possibilidade de parar de fingir que estava dormindo pra ver quem era que estava ali mas, ao sentir o cheiro que seu corpo conhecia tão bem, todas suas intenções de entregar que estava na verdade acordada se findaram.
A última coisa que eu quero agora é falar com ele. - pensou, se obrigando a ficar imóvel e tentando respirar de modo sereno ao perceber que ele se aproximava.
Ela sentiu a respiração dele perto de si, o que lhe deu duas certezas: 1) Ele tinha continuado bebendo, e 2) Ele estava somente parado olhando pra ela. Quando Gina, sem entender o que estava acontecendo, já estava quase abrindo a boca pra perguntar o que ele fazia ali, ouviu sua voz rouca murmurar ‘Desculpa’, então sentiu ele se aproximar como se fosse beijá-la, mas ele pareceu desistir no último instante e resolver apenas pegar sua mão.
Sabendo que seria flagrada no seu fingimento se não deixasse que ele segurasse sua mão, Gina deixou que ele a puxasse pra fora da cama então meia hora depois, quando supôs que Draco deveria ter pegado no sono de tão bêbado, Gina olhou pra onde estava sua mão e viu que Draco tinha deitado no chão, como se tivesse realmente a intenção de dormir ali, e segurava sua mão um pouco perto do rosto.
Com um sorriso confuso e triste no rosto, Gina puxou sua mão, então tirou o cabelo dele do rosto em um carinho inesperado até mesmo pra ela depois de tudo que ele havia feito mais cedo.
Sabendo que não poderia deixá-lo dormir ali, Gina se levantou e mexeu um pouco nele. - “Draco... Draco, acorda.. vem, vamos pro seu quarto.” - murmurou enquanto, mais uma vez naquele dia, o ajudava a se levantar e se equilibrar.
“Humm” - remungou se deixando levantar. - “Eu quero ficar aqui com a Gina, mãe”.
Nussa, ele está bêbado mesmo pra me confundir com a mamãe - “Vamos pro seu quarto, depois eu levo a Gina lá pra ficar com você. Pode ser assim?” - perguntou ela tentando imitar o tom de voz usado pela mãe e quase se divertindo por estar enrolando Draco, estando ele embriagado demais pra discernir que aquela que o levava no escuro não era Molly.
“Ela não vai querer ir, mãe. Ela tá com raiva por causa do que eu falei."
“Ela sabe que você não falou sério.” - falou ela e, vendo que ele tentava olhar pra cama onde achava que ela estava, parecendo duvidar do que a ‘mãe’ dizia, Gina continuou. - “Ela não está mais com raiva não.”
“Promete?” - perguntou ele com uma expressão que chegava a ser fofa por ser tão bebadamente desconfiada.
“Prometo” - respondeu sabendo que estava falando a verdade. - “Agora vamos...”.
Molly não sabia se estava imaginando aquilo, mas na sua opinião a tensão de Draco era praticamente palpável. Olhando desconfiada para o filho, enquanto ele comia sozinho na mesa, às quatro horas da tarde, pois não conseguira acordar mais cedo que isso, Molly lhe dava um sermão sobre dirigir bêbado e ao mesmo tempo se perguntava o que poderia ter acontecido nessa festa pra deixá-lo assim. Ele não parecia estar de mau humor por causa da ressaca, mas sim numa ladeira de depressão. Aquilo ali era fumaça saindo da cabeça dele??
No instante em que Molly percebeu isto, Gina entrou na cozinha, chamando a atenção de Draco no mesmo instante.
A ruivinha sorriu pra mãe então virou pra Draco. - “Oi.” - falou em um tom leve como fazia já há algum tempo e Molly teve que se congratular pela criação que deu aos filhos, porque mesmo com todos os problemas os dois nunca deixaram de ser ao menos minimamente cordiais.
Draco, entretanto, pareceu realmente surpreso ao ver Gina se dirigindo a ele e Molly se perguntou mais uma vez o que de tão drástico poderia ter acontecido na noite anterior.
Antes de ouvir o ‘Oi’ que Draco murmurou de volta, sem ter coragem de olhar direito pra ela, Gina já estava abaixada quase se enfiando dentro de um dos armários. - “Manhê, cadê o sucrilhos?”.
“Er...” - Molly balbuciou, observando os olhares preocupados e arrependidos de Draco em sua direção de Gina que, por sua vez, nem notava pois estava muito ocupada procurando os cereais. - “Eu acho que esqueci de comprar, filha...”.
“Mentira, mamys! Seus netos vão nascer com cara de sorvete de chocolate com sucrilhos se eu não comer exatamente isso nos próximos trinta minutos, é sério.” - falou Gina parecendo realmente penalizada ao descobrir que o objeto de sua gula não tinha sido comprado.
“Se quiser eu vou comprar pra você...” - ofereceu Draco, com uma voz incerta.
“Não precisa não... é melhor que eu não engordo.” - respondeu ela sem querer aceitar o favor, como fazia desde seu acidente, mas falou no mesmo tom brando, parecendo querer demonstrar que não estava desdenhando.
“Tudo bem então...” - Draco respondeu com um tom derrotado.
É, Molly percebeu, parece que Draco não havia notado o tom que a irmã de criação tinha utilizado.
Aiaiaia, o que ela deveria fazer? Pensava a ruiva mais velha sentindo-se genuinamente perdida sobre como agir, enquanto olhava Draco olhando pra Gina que, por sua vez, olhava dentro da geladeira. Só tinha certeza de uma coisa: não ficaria contra o casal se eles realmente se amassem, pois a felicidade de seus filhotes vinha antes mesmo que sua própria saúde e Molly preferia ter um troço a aceitar assistir seus filhos se acabando aos poucos na sua frente.
Ao perceber este fato, a mãezona suspirou, então, sem pensar em como o marido ficaria se soubesse de seus planos, tomou sua decisão. Pra eles descobrirem se isso era amor de verdade teriam que primeiro se entender. E pra se entender precisavam voltar a se falar por mais de cinco minutos, nem que fosse somente pra brigar... E era isso que Molly os obrigaria a fazer, nem que isso significasse prendê-los juntos durante as férias inteiras!!
Sorrindo por finalmente saber o que faria, Molly colocou sua melhor cara de quem não estava vendo nada de errado entre os filhos e então falou - “Na verdade, Gina, eu tinha planejado ir com a Josita ao supermercado agora à tarde, mas eu to com uma dor nas costas.. e seu pai comentou que queria jogar uma partidinha de baralho...” - deu uma pausa pra que a filha fechasse a geladeira e lhe desse atenção então continuou. - “Por que você e o Draco não vão ao supermercado pra mim?”.
Draco engoliu o que tinha acabado de colocar na boca, esquecendo-se de mastigar, então bebeu vários goles de coca-cola pra ajudar a comida a descer, olhando pra mãe com um jeito confuso.
“Por que você não manda a Josita sozinha então, mãe? Eu não sei escolher verduras nem nada...” - respondeu Gina parecendo estar tão perdida quanto Draco sobre as intenções da mãe.
“Ora, Gina, vocês precisam aprender a fazer essas coisas sozinhos. Onde já se viu uma mocinha da sua idade que não sabe fazer compras? E o Draco vai morar sozinho quando for pra faculdade então vai acabar tendo que fazer as compras dele algum dia. Erm..Melhor aprender logo! E.. e além do mais, eu estava pensando em mandar a Josita pra casa mais cedo hoje. Ela comentou que era o aniversário da irmã dela.” - respondeu sorrindo um pouco demais, mas nenhum dos dois pareceu notar, muito preocupados pensando em como seria ter que fazer algo juntos, até que Draco olhou pra mãe com uma expressão de dúvida.
“A Josita não é filha única?”.
“Ah, é sim, é sim, mas...erm...” - balbuciou lembrando porque tinha ensinado aos filhos que não se deve mentir. - “Essa é a vizinha dela de anos, e a Josita me disse que a vê praticamente como irmã.”
“Ah... tudo bem mãe.” - respondeu o loiro logo olhando para Gina, que estava estranhamente quieta. - “Se você quiser eu posso ir sozinho...”.
“Não! Vocês dois têm que ir.” - falou Molly antes que Gina pudesse responder, chamando o olhar dos dois pra si novamente. - “Porque...erm.. porque eu to pedindo, porque tem coisas na lista que eu queria o mais rápido possível, e com dois fazendo as compras tudo fica mais rápido. É isso.”.
“Tudo bem, mãe...” - respondeu Gina olhando a mãe como se pensasse que ela talvez estivesse passando mal, então olhou pra Draco que fitava a mãe com a mesma expressão. - “Eu vou só lá em cima colocar uma calça.”.
“E eu vou falar com a Josita.” - falou Molly já saindo da cozinha antes que Draco pudesse perguntar qualquer coisa, então falou mais alto. - “A lista tá na gaveta de bagunça.”.
Mordendo a boca e olhando pra irmã de criação de canto de olho, Draco dirigia sem prestar atenção na pista, pensando em mil formas de pedir desculpas. Suas lembranças estavam confusas em um blur de barulhos e sentimentos, mas o loiro tinha quase certeza que tinha falado que Gina estava agindo como uma puta. E depois ainda tinha ido bêbado olhar par ela dormindo. Como tinha chegado ao seu quarto mesmo? Talvez nem tivesse chegado a ir ao quarto de Gina afinal de contas.
Pensando isto, Draco respirou resignado, com vergonha de si mesmo por ter se deixado levar pelos ciúmes, então olhou pra Gina pela vigésima vez nos últimos dez minutos, decidido a pedir desculpas. Abriu a boca com todas as intenções de falar, mas as palavras pareciam ser barradas pela vergonha que ele sentia.
A fechou novamente, se odiando pela própria covardia então respirou fundo novamente decidindo simplesmente falar ‘desculpa’, mas então teve medo dela perguntar por quê... Ele responderia o que? ‘Desculpas por te chamar de puta?’ Caramba.. ele tinha mesmo feito isso?
“Draco você passou o sinal vermelho.” - falou Gina entediada porque naquele horário de sábado aquela pista era vazia e ela tinha visto que nenhum outro carro vinha perto do cruzamento.
“Ahn?” - resmungou ainda perdido nos próprios pensamentos e levemente surpreso por ela estar falando com ele depois do que ele havia feito. Talvez ele nem tivesse falado aquelas coisas, não é?
“O sinal vermelho” - respondeu ela com um tom condescendente. - “Você atravessou o sinal vermelho... E pelo visto tá viajando.. Só avisei porque a idéia de morrer no caminho do supermercado não me é muito agradável. Sem o glamour necessário pra minha morte, sabe?”.
Ele olhou pra ela como se ela estivesse ficado realmente doida. Ela estava brincando com ele? Não como fazia antes dessa confusão toda, mas ele definitivamente ouvira um tom de humor ali.
“Ai, o quê que foi, hein?” - perguntou sem paciência quando ele ficou em silêncio com aquela expressão surpresa. - “Você tá estranho hoje.”.
“Nada... é que.. ontem eu falei..” - começou ele sem saber como continuar então decidiu falar diretamente de uma vez. - “Eu não sabia como pedir desculpas por ontem... Pelo que eu disse, sabe?”.
“Humpf.. Sei...” - respondeu ela, então olhou pela janela.
“Eu não queria dizer aquilo... quer dizer... não é o que eu acho” - falou ele em tom baixo ainda titubeando entre uma palavra e outra.
“Esquece isso” - falou ela lembrando dele deitado no chão perto de sua cama, o que demonstrou o quanto ele estava arrependido. - “Eu nem lembro mais”.
“Mas eu não queria dizer aquilo, você tem que acreditar em mim”.
“Eu acredito, ué, e já disse que esqueci.” - respondeu ela sinceramente, por saber que ele só estava tentando protegê-la e tinha escolhido as palavras pessimamente. Não entendia o porquê das atitudes dele, mas saber que ele não tinha falado sério e estava arrependido foi o suficiente pra perdoá-lo sobre isso. Já tinha mágoas demais em relação a ele. Mais uma só faria mais mal pra ela mesma.
“Tudo bem então... brigado.” – falou, aliviado por ter seu perdão, mas ao mesmo tempo ressentido por achar que sua opinião valia tão pouco pra Gina, que ela nem tinha se magoado com o que ele falara.
“De nada”.
“Eu vi a mamãe abrindo o pacote dessa marca” - disse Gina impaciente com um pacote de café na mão olhando pra Draco segurando um pacote do mesmo tamanho, mas de uma marca diferente.
“Não, essa aqui é melhor.” - respondeu ele como se soubesse de tudo.
“Como você sabe? Você nem gosta de café!” - respondeu a ruiva impaciente se irritando na altura do primeiro item da lista. Essas compras iam ser uma beleza...
“Mas eu já vi na casa do Harry essa embalagem e a Kelly tava tomando café e pela cara dela tava achando bom.”
“Aww, que fofo que você está tentando escolher a marca baseado em experiência de vida” - implicou ela vendo com satisfação as bochechas dele ficarem vermelhas de raiva. - “Vamos levar essa então pra mamãe provar... Porque a marca que ela sempre compra é essa aqui.” - concedeu a ruiva pois, apesar de ter zoado com a cara de Draco, ela realmente achou o cúmulo da fofureza o fato dele estar se esforçando pra fazer as compras. Ô, mas eu sou fraca demais... putz... é só olhar pra ele que me derreto toda... - pensou, enquanto procurava a lista que tinha enfiado no bolso então olhou pra cara dele vendo seu triunfo por levar a marca que ele tinha escolhido. Olha a audácia! - pensou ela decidida a escolher a próxima marca, sem se flagrar no fato de que estava tornando as compras uma competição besta entre eles.
Depois de brigarem sobre a marca do açúcar, do sal, do feijão e até do arroz, que por um acaso nem mesmo estavam na lista, Draco e Gina já estavam se acostumando com os olhares curiosos na sua direção até que chegaram a um dos itens mais importantes da lista: o papel higiênico.
Olharam pra prateleira com uma infinidade de tipos de papel higiênico como se ela fosse feita de brilhantes de tão iluminada. Olharam um pro outro em tom de desafio, pois sabiam que aquela sim era uma discussão importante, porque com papel higiênico simplesmente não se brinca.
Ambos andaram lentamente, agindo como se não soubessem a importância daquela batalha, sem se dar conta que estavam agindo como malucos e se irritando (ou seria se divertindo?) com as coisas mais sem sentido.
Pegaram o tipo que julgavam melhor então viraram pra colocar no carrinho, mas antes que o pacote de Gina alcançasse o fundo daquele, Draco já o tinha agarrado. - “Pra peles sensíveis, seus pequenos desenhos confirmam o cheiro do papel lhe conferindo o toque especial de suavidade.” - Draco leu o pacote com um tom zombeteiro e já começando a rir. - “Pelo amor de Deus, Gina! Papel higiênico rosa com o toque macio com cheiro de cereja!? Caraca, isso existe mesmo?”.
“Se você quiser se lixar quando for usar o papel higiênico o problema é seu.” - respondeu Gina arrancando o pacote da mão dele e recolocando no carrinho com um beicinho emburrado. - “Eu vou levar esse aqui”.
Olhando praquele biquinho de Gina e vendo que ela tinha ficado sem graça, Draco não conseguiu se segurar. - “O que você tem com cerejas, hein? Papel higiênico de cereja, donnuts de cereja, calcinha de cereja...” - falou com um sorriso de divertimento, lembrando do episódio que o deixou praticamente obcecado com coisas com sabor de cereja, quando foi acertado na testa em cheio por um pacote de papel higiênico verde.
Olhando com os olhos arregalados de surpresa e incapaz de pensar em alguma coisa pra falar, Draco percebeu que naquele instante ele e sua companheira insana de compras eram o centro das atenções de todos que estavam no supermercado.
“Se você quiser a gente leva o de limão pra você, seu azedo, por que se duvidar seu azedume se estende até lá!” - falou ela o deixando no mesmo estado de vergonha que ela estava ao ser lembrada do incidente da calcinha, então pegou a lista e a rasgou no meio. - “Eu vou pegar essa metade aqui e te encontro lá fora.” - falou, jogando a outra metade da lista dentro do carrinho, então deu meia volta e deixou Draco ali... parado... e chocado...
Encarando todos à sua volta, de modo que logo a multidão se dispersou, Draco devolveu o pacote de cereja pra prateleira e pegou quatro de limão, decidido a deixar todos em casa igualmente azedos, inclusive aquela ruivinha briguenta, então empurrou o carrinho olhando pro pedaço rasgado de papel. “Sucrilhos...” - murmurou pra si mesmo com um meio sorriso de vingança no rosto. - “Vou pegar o sem açúcar...”.
Ao chegar no corredor de cereais, entretanto, logo avistou no seu extremo oposto a atiradora de papéis higiênicos de limão, que pareceu notar sua presença no mesmo instante. Se encarando como touro e toureiro, ou dois atiradores em um duelo de faroeste, seus olhos se apertaram em desafio e, sem perguntarem pra si mesmos o motivo de estarem agindo como dois malucos ou porque o vencedor seria o que colocasse mais coisas no carrinho, tanto Draco como Gina começaram a pegar tudo que viam pela frente e derramar dentro de seu carrinho e passar pra próxima prateleira e depois pro corredor seguinte.
Molly fechou os olhos ao ver os filhos bateram a porta do carro ao saírem de lá, dando graças a Deus que eles haviam chegado, pois já começava a se preocupar que tivessem se matado no meio das compras. Gina passou por ela com um simples ‘Oi’ e Draco parou pra dar um beijo na sua cabeça.
“Eu acho que você não vai ter que ir ao supermercado até o mês que vem...” – disse, parecendo aborrecido então entrou em casa sem dar tempo da mãe perguntar onde estavam as compras.
Entretanto, no instante em que Molly abria a boca pra fazer exatamente esta pergunta, uma vã com o logotipo do supermercado entrou na propriedade, e em poucos segundos, dois carregadores perguntavam onde poderiam colocar todos aqueles pacotes.
Assustada com a compra gigantesca, Molly se perguntou mais uma vez se obrigá-los a trabalhar juntos era mesmo a melhor solução, mas, não tendo pensado em nenhum outro jeito, a ruiva resolveu continuar com o plano.
Percebendo que os dois trabalhadores ainda esperavam sua resposta, Molly suspirou então sorriu com seu jeito caloroso característico. - “Por aqui, por favor...” – falou, fazendo sinal pra que eles a seguissem e, antes que chegassem à cozinha, ela murmurou pra si mesma algo que ela tinha certeza que era verdade. - “Ai... esses dois ainda vão me enlouquecer até o natal.”
E foi isso que fizeram. Com brigas sem sentido durante as horas dos trabalhos inventados por Molly e nos momentos de folga que, estranhamente, eles também sempre passavam juntos, Draco e Gina não só conseguiram deixar a mãe quase doida, mas também a família inteira, que só conseguiu sobreviver sem mandá-los pro Alasca por que suas brigas freqüentemente tinham o efeito de fazer rir qualquer um que as assistisse.
Round I:
Molly ria livremente das trapalhadas que Bill contava que fizera como futuro papai, quando Gina, descabelada, com os olhos semi abertos e muito bem vestida em um pijama de flanela branco e pantufas em formato de coelhos que diziam shut up (cala a boca), passou pela família, que estava reunida na sala mais perto da cozinha, sem perceber a presença de ninguém, inclusive de seu irmão mais velho, em quem estava pendurada na noite anterior quando ele havia acabado de chegar de viagem.
"O mau humor de domingo de manhã ainda continua intacto, né?" - uma voz cheia de humor, extremamente parecida com a de Charlie, entrou na mente sonolenta de Gina, mas a ruiva apenas dignou-se a responder com um resmungo parecidíssimo com os dizeres de suas pantufas e entrou na cozinha.
Todos riram um pouco parecendo lembrar de momentos engraçados desse mau humor então Fleur sentiu um pequeno chute chamando a atenção de Bill e do resto da família, que ali se divertiram por dois minutos até que a voz da, até então, caçula da família chamou a atenção de todos.
"Sucrilhos sem açúcar? SUCRILHOS SEM AÇUCAR, DRACO!? Eu não acredito que você fez isso! Você me paga!".
"Eu só estou me preocupando com a sua saúde do mesmo jeito que você se preocupa com o papel higiênico que eu devo usar! Você sempre reclama que come doce demais, agora você pode comer sucrilhos sem se preocupar." - ouviram Draco responder com a voz inocente demais pra não ser suspeita.
"E pra quê diabos eu vou comer sucrilhos que não é doce?” - se indignou Gina. Tsc, tsc... Todos sabiam que não se devia brincar com a comida da ruiva!
"Coloca açúcar então." - disse irritantemente calmo, demonstrando pra quem quisesse ver que ele estava adorando saber que havia irritado a irmã de criação.
"Você tem razão, maninho. Vou despejar açúcar sim..." - respondeu Gina com uma voz extremamente doce que fez toda a família se levantar e ir pra cozinha e, ao chegar lá, ver a ruiva jogando açúcar em cima da cabeça do comprador de sucrilhos sem açúcar.
"VIRGÍNIA WEASLEY!!" - gritou Molly, olhando a filha com as mãos na cintura.
Round IV:
"Se você obrigar o povo a ver romance mais uma vez todo mundo vai dormir e a Fleur vai começar a vomitar." - falou Draco tirando o DVD de Diário De Uma Paixão da mão de Gina antes mesmo de ver o título, mostrando o quanto a conhecia e sabia que tipo de filme ela colocaria pra família assistir depois do almoço.
"E você indica o que, oh epítome da originalidade? Ah, deixa eu adivinhar, comédia de novo? Se eu for obrigada a ver a imbecilidade de Ace Ventura mais uma vez quem vai vomitar sou eu!" - respondeu Gina, tentando inutilmente reaver seu DVD que, naquele instante, Draco estava levantando fora do seu alcance. - "Me dá meu DVD!" - resmungou a ruiva, completamente vermelha de raiva, e surda ao que ele lhe respondia ao mesmo tempo.
"Hum, diz isso a epítome da cultura e sabedoria que se engasga de rir vendo Procurando Nemo quand..." - falava o loiro quando foi interrompido pelo pulo que Gina deu em cima dele pra pegar o DVD, mas ele se recuperou rápido abaixando o objeto de modo que ela não conseguisse alcançá-lo, ao mesmo tempo em que se equilibrou e a segurou firmemente no colo para que não caíssem.
"Me dá essa merda de DVD, Draco!!!" - gritou Gina ainda tentando pegar o DVD sem, entretanto, lembrar-se de tentar sair do colo de Draco, agora que ele não segurava mais o DVD no alto.
E esta foi a cena que Fleur, Molly, Bill e Arthur presenciaram ao entrar na sala do Home Theater.
Round VII
O som da bola quicando sob seu controle rapidamente levou Gina ao passado não distante em que jogava com Draco brincando em entrelinhas sobre o que sentiam um pelo outro.
Hum, alguém tem que aprender a perder.” – murmurou brincalhona encostando a testa na dele também sem sentir a menor vontade de sair dali.
Ele a abraçou mais apertado. – “E alguém tem que aprender a seguir regras.”
“Nah... regras foram feitas pra serem quebradas..”
Quase sorrindo ao recordar que tinha trapaceado pra fazer a cesta que ele duvidara que faria, Gina estava absorta demais pra ouvir os berros de torcida dos irmãos ou perceber a expressão confusa de Bill ou o fato de que ninguém além de Draco estava tentando impedir que ela avançasse no campo. Traidor... - com esse pensamento a ruiva se encheu de amargura e arremessou a bola, errando de longe a cesta.
Seus olhos cheios de acusação se encontraram mais uma vez com os de Draco, que a fitava com o rosto contorcido em culpa, como se soubesse o que ela tinha lembrado, mas esse confronto durou apenas alguns segundos até que a voz do Ron os chamou de volta à realidade.
"Gina... você lembra que é do time do Draco, né?" - falou o ruivo com a voz brincalhona, pelo fato de que Gina tinha tentado fazer uma cesta contra seu próprio time, fazendo Bill e Charlie rirem um pouco.
Ao ouvirem o comentário, tanto Draco quanto Gina baixaram a cabeça sob o olhar suspeito de dois ruivos idênticos, então Gina murmurou. - "Eu vou lá ficar um pouco com a Fleur." - e saiu correndo, deixando todos sem entender o que havia acontecido, com exceção de Draco que a olhou entrar na casa então voltou a baixar a cabeça, sem perceber que durante esse tempo todo estava sendo observado por Fred e George.
Round X
Sentada com as pernas cruzadas no chão semi empoeirado do sotão, Gina lutava contra a vontade de espirrar pela qüinquagésima vez. Ai, meu Deus, daqui a pouco eu vou ficar fanha de novo por causa dessa alergia... Não sei por que a mamãe inventou de querer arrumar essas fotos. E o bom é que ela que inventa as coisas e quem se ferra sou eu e o Draco! Se eu soubesse que ficar de recuperação como o Ron me livraria desse trabalho eu podia ter matado algumas provas... Humpf... Ai, aonde foi que eu coloquei a caixa de fotos engraçadas mesmo? - pensou a ruiva olhando ao seu redor sem sucesso, quando certo barulho chamou sua atenção de novo. O barulho de caneta sendo batida no chão, de repente, se tornou o único e perverso culpado pela sua confusão, então a ruiva olhou pro loiro à sua frente, que batia a caneta no chão distraidamente enquanto revia a ordem das fotos que já havia scaneado no laptop.
"Você precisa fazer esse barulho?" – ela perguntou, demonstrando sua irritação pelo tom de sua voz.
Sabendo que a ruiva mais uma vez começara a implicar até com o fato de que o coração dele tem que bater, Draco respirou fundo sem tirar o olhar da tela e tampouco parar de bater a caneta, então falou em um tom displicente. - "Se você parar de espirrar eu paro."
"Mas eu não tenho controle sobre isso!" - respondeu ela indignada batendo a mão no chão como uma criança birrenta.
Draco olhou pro lugar onde ela tinha batido então olhou pra ela, levantando a sobrancelha direita em questionamento sobre aquela atitude bizarra, então pareceu perder o interesse de saber escolhendo apenas murmurar. - "Se vira" - e continuar seu trabalho no laptop.. e bater a caneta no chão.
tap tap tap tap tap tap tap tap tap...
Round XIV
"Draco, abre essa coca-cola pra mim? Nem eu nem o Colin conseguimos".
"Por que você não pede pro Chris?" - perguntou o loiro com deboche. - "Ele não é Deus na terra pra você e pra todo mundo?" – disse, relembrando dos elogios que a mãe havia feito ao francês quando ele visitara Gina pela primeira vez.
"É, boa idéia... Ele já deve estar chegando mesmo, brigada mesmo assim, maninho." - respondeu Gina disfarçando sua irritação com um tom indiferente na voz.
Ao ouvir que o francês, assistente do diabo na terra na opinião do loiro, estava chegando, Draco prontamente voltou a olhar pro vestido branco que Gina usava, como estava fazendo antes dela chamar sua atenção. Olhou a cintura levemente marcada... o jeito como a parte que deveria esconder seu busto mostrava discretamente a curva que apenas o sutiã dela protegia de olhos intrusos enquanto sua dona fazia sanduíches em cima do balcão... a bainha da saia feita com um material leve que sempre deixava quem olhava com impressão de que algo mais apareceria... E como ele queria que algo mais daquela lolita aparecesse...
A voz de Colin avisando que Chris havia ligado e chegaria dali a cinco minutos, foi o que alertou Draco de que estava praticamente babando na sua irmã de criação em um lugar onde qualquer um da família poderia ver, então, sem pensar nas conseqüências do que faria, Draco pegou a garrafa de coca-cola com um só pensamento passando pela sua cabeça: Aquele francês desgraçado não a veria naquele vestido de jeito nenhum.
Ele sacudiu a garrafa discretamente então chegou perto de Gina. - "Eu tava só brincando, é lógico que posso abrir a coca pra você." – disse, tentando parecer o mais prestativo possível, então virou a tampinha da garrafa mirando na direção de Gina, que foi imediatamente ensopada por uma chuva de coca-cola e espuma.
"DRACO!!" - berrou a ruiva, olhando com uma expressão de horror pra baixo entre seu vestido manchado e seus sanduíches arruinados. - "Eu não acredito! Você fez de propósito!!".
Sabendo que era inútil negar, ele virou e foi até a pia pra lavar a mão, que havia sido a única parte de si vítima da coca-cola, então falou em tom de deboche, com um sorriso satisfeito nos lábios, lembrando do café da manhã do dia anterior em que ela havia lhe jogado açúcar. - "Agora você também está bem docinha."
A luz amarelada do fogo da lareira iluminava o cômodo amplo de maneira aconchegante e íntima, desenhando sua perdição de maneira tentadora ao deixar as sombras delinearem suas curvas femininas e sensuais. Ele a observava passar o pirulito vermelho nos lábios indecentemente rubros em um maneirismo infantil de contraste absoluto com a figura que ela fazia naquele vestido branco que exalava inocência mas apenas instigava pensamentos proibidos.
Deitada com a barriga no chão e balançando os pés no ar, a única mulher que ele nunca deveria tocar olhava as páginas de um álbum de fotos desgastado, quando o barulho da madeira no chão finalmente acusou a presença do intruso esperado. A menina dos cabelos vermelhos levantou o olhar na direção do barulho, então sua expressão se quebrou em um sorriso e seu observador imaginou que pôde ouvir o estalo causado quando ela tirou o doce de sua boca.
Ela se levantou, ficando ajoelhada com seu rosto ligeiramente escondido pela penumbra que a luz do fogo não conseguia alcançar, então mordeu a boca de uma maneira danada e ao mesmo tempo angelical. - "Você demorou".
"Eu quis ficar te olhando..." - respondeu o intruso finalmente sendo iluminado pela luz.
"Mas eu tô com frio.. e eu tava com med.." - falou olhando pro próprio colo, mas antes que terminasse ele levantou seu rosto e já lhe roubara a doçura que o pirulito trouxera aos seus lábios. Suas mãos firmes rapidamente enlaçaram sua cintura fina apenas pra trazê-la de encontro a si e depois subir até sua nuca enquanto sua boca pela primeira vez abandonava a da ruiva pra encontrar com a pele suave do seu pescoço.
A alça do vestido branco que o levara à loucura caíra pelo ombro delicado no momento em que ele mordeu seu pescoço de leve, a fazendo se pressionar contra ele e respirar sofregamente em um gemido de prazer. - "Draco...".
Draco acordou de súbito sentindo o próprio corpo extremamente quente, então levou a mão ao rosto, esfregando os olhos e depois passou a mão pelo cabelo, tirando-o do rosto. - "Essa mulher ainda vai me deixar doido se eu continuar morando aqui." - murmurou pra si mesmo tendo certeza de que não conseguiria dormir com o problema que aquele tipo de sonho lhe arranjava entre as pernas.
Respirando resignado, Draco se levantou da cama e quando deu o primeiro passo se deu conta da tenda ridícula que estava na calça do seu pijama. Que situação confortável seria encontrar a Fleur na escada com aquele aparato de equilíbrio só faltando ter uma buzina pra alardear sua presença... Pensar em todas as cenas idiotas que aquela situação lhe levaria, entretanto, não fez o problema ir embora então Draco olhou pra baixo, muito cansado pra ficar frustrado. - "Pode abaixar sua bola, garoto, que seu caso tá perdido... Do jeito que eu só faço merda você tem mais motivos pra ficar deprimido do que eu." - Como se seu 'amigo e companheiro' entendesse o que o loiro falava, ele pareceu se desanimar um pouco e, ao constatar esse fato, Draco caiu na risada em prol do ridículo da situação e isto definitivamente acabou com o problema, deixando-o livre pra beber água como planejara ao levantar.
Descendo as escadas se perguntando por que nunca tinha pensando em comprar um frigobar pro seu quarto, Draco chegou à cozinha semi-acordado quando, ao avistar Gina enrolada numa coberta com os ombros expostos, parecendo não vestir nada além daquilo e colocando uma cereja na boca com um pote cheio da pequena fruta à sua frente, teve certeza que caíra no sono no meio do caminho e estava sonhando. - "Ah, por favor Deus, se isso for sonho deixa ele ir até o fim dessa vez..." - murmurou ele ainda incapaz de decidir se mexer.
"Você vai ficar aí parado na porta mesmo??" - falou Gina comendo a última cereja e tampando o vidro, mau humorada por ter sido interrompida no seu momento com uma de suas frutas preferidas e também por ainda estar com raiva do banho de coca-cola.
Mais do que depressa Draco entrou na cozinha e parou atrás do balcão que mais cedo naquela noite havia batizado de refrigerante. Quem diria que agora seria seu refúgio para Gina não perceber o predicado que havia lhe deixado simplesmente por comer pequenas frutas vermelhas.
Ela o olhou como se achasse seu comportamento estranho então foi até a geladeira guardar o vidro de cerejas, deixando Draco perceber que estava já em estado delirante após aquele sonho, pois a ruiva estava muito bem vestida em uma camisola embaixo da coberta que a esquentava.
Lembrando que em hipótese nenhuma poderia sair dali, Draco pensou rápido. - "Você pode pegar um copo d'água pra mim?".
"Por que você mesmo não pega?".
"Por que você tá mais perto" - respondeu, recebendo apenas um levantar de sobrancelhas como resposta da ruiva. - "Tá, eu tô com frio e não quero ficar na frente da geladeira." - falou pensando que talvez fosse uma ótima idéia passar frio agora.
"Também, você vem sem blusa na cozinha no início do inverno... até o aquecimento do inferno não ia te deixar quente."
"Você que pensa..." - murmurou o loiro vendo nitidamente aquela coberta cair a qualquer instante.
Inocente dos pensamentos de seu irmão de criação, Gina lhe entregou a água então, sabendo que teria que esperar a água do seu chá ferver e não querendo esperar em um silêncio incômodo, começou a falar sobre um assunto que considerou neutro. - "Você devia ter assistido o filme com a gente. Era um romance, mas não daqueles hollywoodianos que te irritam. Era um filme francês e era narrativo...".
"Deixa eu adivinhar, o Chris escolheu."
"Não, Draco, eu escolhi." - falou sem paciência, então respirou olhando pro lado, como se decidisse que não valia a pena discutir com ele, sem saber que ele queimava de ciúmes todas as vezes que pensava no outro perto dela. - "Você tá insuportável ultimamente."
"Hum, só eu?" - respondeu com sarcasmo, se referindo claramente à ela, sem deixar transparecer sua mágoa com o que ela acabara de falar.
Ela olhou pra ele mais alguns instantes parecendo subitamente muito cansada, então simplesmente começou a andar pra porta, mas, antes que pudesse chegar lá, Draco se colocou na sua frente esquecendo-se do problema que estava escondendo atrás do balcão, tendo a sorte de ser camuflado pelas cobertas de Gina que a impediam de ver tão embaixo.
"Por que você simplesmente desiste?" – perguntou, se referindo ao fato de que parecia agora que nem mais brigar ela queria. Nem pra isso ele valia...
"Desisto de quê, Draco?" - perguntou olhando pra ele com a mesma expressão sem vida, mas, ao encontrar seu olhar acinzentado, viu algo que pareceu lhe dar essa vida de volta.
Percebendo a mudança na ruiva, Draco se aproximou lentamente, como se tivesse medo de assustá-la, até o ponto em que a coberta em volta de Gina se tornou um empecilho pra que pudessem se tocar como ambos desejavam, e simplesmente a olhou... Rezando pra que ela entendesse tudo que ele sentia e o quanto a amava e estava arrependido pela própria burrice. Precisando trazê-la para si, o loiro tocou nos seus braços cobertos e apenas um de seus dedos encostou na pele quente do ombro dela. - "De mim...".
Os olhos de Gina já começavam a se fechar, diante da intensidade do olhar de Draco, ao mesmo tempo em que ele aproximava seu rosto, quando o barulho estridente da chaleira anunciou que a água do chá estava finalmente fervendo.
Um flashback do olhar culpado de Draco, ao perceber que ela o havia visto beijando outra, se confundiu com os olhos que Gina via à sua frente naquele instante, então ela se afastou ficando pálida, sem acreditar que quase havia se deixado enganar de novo. - "Eu não desisti de você, Draco... você desistiu de mim primeiro..." - murmurou a ruiva antes de sair praticamente correndo dali, deixando a verdade de suas palavras corroerem Draco de dentro pra fora mais uma vez.
24 de dezembro, Véspera de Natal - Mansão Weasley
Sem perceber que estava sob os olhos observadores da mãe, Gina assistia com um sorriso melancólico, e ao mesmo tempo feliz, seu irmão Bill ajudar Fleur a se levantar do sofá com o barrigão que ostentava. Molly podia ver nitidamente a confusão nos olhos de sua caçula e, ao passo em que todos assumiram que a paz entre Draco e Gina se dera por causa do clima do dia de natal, a mãezona tinha certeza que algo importante acontecera na noite anterior.
Molly, ao contrário do resto da família, passara a manhã inteira e aquele início de tarde vendo os filhos se olharem com cautela e tentarem ficar em recintos distintos, ao invés de ficarem sempre juntos e brigando como haviam feito desde que o recesso se iniciara e, vendo o olhar de Gina naquele instante, ela pôde ter certeza de que a filha finalmente estava quebrando algumas das barreiras que colocara ao redor de si e começando a se deixar querer aquele tipo de amor. Infelizmente o medo da ruivinha também era óbvio para Molly, então ela soube que não tinha tempo a perder.
"Gina, você e o Draco já conseguiram arrumar as fotos como eu pedi?”.
"Ah... erm... não, só falta um pouquinho, por que, mãe?" - respondeu a ruiva ainda num tom meio distraído, lembrando do olhar de Draco. Será que o que eu vi era verdade? Mas e se eu tiver vendo só o que eu quero de novo? Me iludindo? Não, eu não posso...
"Eu queria fazer uma sessão de fotos antes da ceia, agora que a família inteira está aqui... o Percy deve estar chegando daqui a algumas horas..." - continuou explicando, mas Gina já havia se levantado acenando em afirmativo para a mãe.
"Tá, eu vou chamar o Draco. Acho que dá pra terminar hoje sim. Pelo menos as fotos de natal dá pra terminar hoje..." - falou antes de sair dali pra procurar o irmão de criação.
Molly olhou a filha saindo lentamente então suspirou. - "Tomara que esses dois se entendam logo...".
Depois de procurar Draco em todos os lugares, Gina desistiu de chamá-lo e resolveu continuar com o trabalho sem ele. Melhor terminar logo com isso antes que eu fique doida. – pensou, subindo a escada que saía do teto de um dos corredores do andar superior, então, ao passar pelo buraco no teto que era a entrada do sótão, foi surpreendida ao achar justamente quem procurava separando mais um bolo de fotos para serem scaneadas.
"Oi... porque você não me chamou? Eu podia ter vindo mais cedo, não tava fazendo nada." - falou ela, andando pelo lugar para depois sentar onde estava trabalhando no dia anterior.
Draco apenas deu com os ombros como resposta. - "Eu não tinha mais nada pra fazer... achei que você tava ajudando a mamãe na cozinha agora que ela mandou todos os empregados passarem o natal com a família..".
"Hum..." – murmurou, olhando tentativamente pra onde ele estava sentado, sem saber como agir perto dele agora que não estavam nem mais implicando um com o outro. - "A mamãe perguntou se dava pra mostrar as fotos no hometheater pra família hoje... Porque vai estar todo mundo aqui e tudo mais...".
Ele olhou pra ela rapidamente então, parecendo lembrar das palavras dela na noite anterior e se envergonhar mais uma vez, voltou a olhar pro scaner e colocou uma foto lá. - "Dá pra acabar com todas as de natal...".
"É, foi isso que eu falei..." – falou, olhando pra ele no momento em que ele levantou o olhar mais uma vez se encontrando com o dela. Assim eles ficaram por um tempo que nenhum dos dois saberia determinar, até que a própria ruiva se forçou a voltar a olhar pras fotos, sentindo medo da intensidade dos seus sentimentos por Draco. Sentimentos que ela havia passado esse tempo todo tentando esquecer. - "E ia ficar chato olhar todas as fotos da família de uma só vez...".
"É..." - respondeu ele e essa foi a última palavra trocada pelos dois nos próximos quarenta minutos.
Ao ver uma caixa com a palavra 'natal' na tampa, Draco ficou até animado por não ter que passar pelo trabalho de separar somente as fotos natalinas pra scanear naquele momento, mas, ao abrir a caixa e ver a primeira foto, o loiro ficou completamente pálido. Tristeza, solidão, vergonha, amargura, arrependimento, desamparo.. confusão... toda a avalanche de sentimentos que ele tentava há dois meses suportar sozinho vieram à tona. Sem falar uma palavra sequer, Draco apenas se levantou e saiu pela janela do sótão segurando apenas uma foto na mão.
Surpresa e um pouco preocupada com as atitudes do outro, Gina foi onde ele estava antes e pegou a caixa que havia causado aquela reação. Ao ver várias fotos da família Malfoy, a ruiva entendeu instantaneamente o que causara aquele impacto em Draco, então começou a passar por algumas fotos, vendo uma em que o mini herdeiro estava com um chapéu de natal na cabeça, outra em que estava sendo abraçado pelos pais, sorrindo ao ver seu presente, outra sendo segurado no alto por Lúcius Malfoy sorrindo bobamente ao ver sua miniatura colocando a estrela no topo da árvore de natal. Ao ver uma foto em que Draco estava todo lambuzado segurando uma perna do peru pra Narcisa comer, Gina percebeu que já via tudo embaçado por lágrimas, até que soluçou em um choro cheio de carinho pelo outro.
Não pensando duas vezes sobre o que fazer, Gina se levantou e, depois de pegar um cobertor que estava lá em cima há séculos e provavelmente a mataria de alergia, saiu pela mesma janela que Draco havia usado então subiu até o telhado por uma escadinha pregada à parede.
A primeira coisa que viu foi Draco sentado no telhado, aonde eles gostavam de ficar olhando as estrelas de vez em quando, com os braços apoiados nos joelhos e com o olhar perdido na foto que segurava nas mãos. Ao chegar mais perto e enrolar o cobertor em volta do loiro, que parecia nem perceber o quanto estava frio, Gina pôde ver a foto que ele quase amassava entre os dedos de tão forte que a segurava: Um Draquinho de seus seis anos sorria pra câmera usando um chapéu de papai noel, enquanto seus pais o beijavam na bochecha, um de cada lado.
"Draco..." - murmurou sem saber o que poderia falar, mas Draco a salvou ao começar a falar mais pra si mesmo do que pra ela.
"Sozinho... sempre na multidão e sozinho...".
"Draco, de que você tá falando...?".
"Você não entende? Foi por medo... eu tinha medo de ficar sozinho... sem você... tinha medo de mudar e é por isso que eu tô sozinho agora. Eu não quero perder outra família... eu quero a minha mãe.. eu sei que eu tenho uma, mas ela é sua, e eu quero a minha... quero o meu pai, a minha casa...".
Sabendo que não havia nada que ela pudesse falar, pois ela nunca entenderia essa solidão que ele sentia, Gina apenas o abraçou, esquecendo de tudo que tinha acontecido nesses últimos meses.
"Eu sinto tanto a falta deles... eu sinto tanto a sua falta... se eu pudesse eu apagaria tudo e começaria de novo. Eu juro, Gina, que eu nunca mais faria algo errado... Nunca te magoaria." – falou, virando pra ela pedindo com os olhos pra que ela o perdoasse por ter sido idiota de tentar negar o que sentia e ter beijado outra garota, sem imaginar que Gina entendera que ele se referia a tudo que tinham vivido e que ele estava pedindo desesperadamente pra que ela voltasse a ser somente a sua irmã.
Mordendo os lábios a ponto de quase sentir o próprio sangue, Gina se forçou a não chorar e a não ter raiva ou ressentimento em relação a Draco, então o abraçou, decidindo que se era de uma irmã que ele precisava agora, era isso que ela seria, nem que isso a matasse aos poucos. - "Esquece, Draco... não importa, nada importa... Eu tô aqui com você" - murmurou com a voz ligeiramente trêmula.
Percebendo a voz embargada de lágrimas de Gina e suas mãos tremendo, Draco soube o quanto aquilo estava sendo difícil para ela e viu que estava sendo egoísta em pedir perdão naquele momento. Como ele poderia pensar que ela sentia algo além de pena em relação a ele quando na noite anterior já falara que tinha desistido dele?. - "Não... esquece o que eu falei... vai pra dentro, você deve estar com frio."
Mesmo tendo se decidido que seria o que ele precisava, ao ouvir o tom protetor dele não querendo que ela ficasse no frio, Gina mais uma vez se encheu de ressentimento em relação a ele. Por que ele não a amava do jeito que ela queria? Sentir raiva, entretanto, não mudaria o fato de que o amava e não queria deixá-lo sozinho sofrendo. - "Não, eu fico aqui com você."
"Eu não preciso da sua pena." - respondeu ele, sendo orgulhoso demais pra aceitar pena quando queria outra coisa.
Ao ouvir isso a ruiva ultrapassou todos os seus limites de equilíbrio, então, tomada por uma vontade de machucá-lo com sua fraqueza do mesmo jeito que ele a magoava falando aquilo, a ruiva se levantou decidida e falou, ácida - "Então fica aí... sozinho."
Sentada nas escadas da entrada principal, Gina olhava pro chão com lágrimas nos olhos completamente alheia ao seu redor enquanto esperava Chris chegar como haviam combinado dez minutos atrás. Eu não devia ter falado aquilo... ele tinha acabado de falar que tinha medo de ficar sozinho. Eu sou um monstro... Como que eu posso ter falado aquilo? - pensava a ruiva ainda confusa com a avalanche de sentimentos contraditórios que a simples menção ao nome Draco podia trazer à tona. Como podia sentir tanto carinho e ressentimento por alguém? Tanta raiva e amor... Tudo que ela queria era fazê-lo sofrer como ela sofria por ele não amá-la e ao mesmo tempo rezava para que pudesse consolá-lo e protegê-lo de toda tristeza do mundo. Eu não sou irmã dele!! Por que ele me quer como irmã? Ele prometeu nunca me machucar... - pensou em um momento infantil, sentindo-se traída por algo que ela sabia que o irmão de criação não tinha controle.
Quando a lágrima que teimava em não cair finalmente desistiu, deslizando pelo seu rosto, um barulho de carro chamou sua atenção, então ela se levantou limpando o rosto e tentando rapidamente obrigar sua boca a mostrar um sorriso.
Em poucos segundos o carro foi estacionado e Chris saiu dali ostentando um pacote nas mãos e um sorriso no rosto. Ao reconhecer o sorriso não verdadeiro da amiga, entretanto, sua expressão rapidamente se tornou preocupada, e ele andou mais rápido ao encontro da amiga. - "Deixa eu adivinhar... Outra briga?".
Sem falar nada, Gina desistiu de tentar parecer alegre então abraçou o amigo escondendo o rosto. - "Eu sou um monstro, Chris."
"Eu tenho certeza que você está exagerando." - respondeu o francês, sem ter tanta certeza assim, já que o tom em que ela falara fazia realmente parecer que havia feito algo horrível. - "O que aconteceu?".
"Não... não, deixa pra lá, você já disse que só estava passando por aqui rapidinho." - murmurou a ruiva limpando novamente o rosto, então deu um sorriso desengonçado. - "Vai ficar com os seus pais, depois a gente vai ter quase uma semana pra se lamuriar no ano novo." - brincou se referindo à viagem que fariam pra um hotel fazenda perto da cidade junto com os amigos.
"Tem certeza?".
"Humrum..." - respondeu ela com um sorriso sincero ao lembrar mais uma vez que nessa confusão havia arranjado um ótimo amigo, então viu o presente que ele ainda segurava e arregalou os olhos. - "Ai, Chris, esqueci seu presente lá em cima! Entra aqui rapidinho que eu vou pegar." - falou já arrastando o amigo casa à dentro e, depois de tirar seu casaco mais grosso e pendurá-lo no closet, o deixou conversando com Molly na ante sala antes de sair correndo pela escadas.
Voltando em um segundo pra não deixar o amigo se torturando pra tentar falar com sua mãe, Gina pulou o último degrau então segurou seu presente a um centímetro do rosto de Chris. - "E você vai ter que usar!".
Rindo um pouco, satisfeita com o presente que havia mandado bordar pro francês, Gina aceitou seu presente, dando um gritinho de felicidade ao ver o All Star rosa liiindo que havia ganho, pra depois cair na risada ao ver a cara de Chris ao ler o que estava escrito no suéter quentinho que Gina havia lhe dado.
"Se você me acha legal é porrquê non viu minha amiga Weasley?" - leu ele mostrando que havia entendido o que estava escrito.
"Ei, não era pra você entender!! E é pra usar!!".
"Vou usar agora pra minha mãe ver as conseqüências de me deixar aqui tanto tempo."
"Que horror!" - respondeu Gina fingindo indignação e assim ficaram os dois brincando com palavras por alguns minutos até que Chris lembrou que havia deixado seus pais esperando e anunciou que precisava ir embora.
Deitado no telhado, ainda segurando sua foto com os pais, Draco suspirou resignado ao lembrar das palavras de Gina enquanto fitava, sem muito interesse, uma nuvem acinzentada manchando o azul escuro que tingia o céu. Ela estava ali com ele, tentando confortá-lo mesmo depois de tudo que havia acontecido, e o que ele fez? A escorraçou por orgulho idiota... E somente quando o vento gélido conseguiu finalmente adormecer a pele do seu rosto é que Draco percebeu o conforto morno do cobertor que Gina havia trazido pra ele.
Porque ele agia como um idiota sempre que estava perto dela? Por que tanto tempo havia se passado sem ele ter coragem de falar com ela como Colin pedia todos os dias? Como ele conseguia amá-la tanto e brigar com ela o dia inteiro, todos os dias?
Sorriu levemente ao perceber que mesmo brigando como gato e rato eles não passavam um dia sequer separados... Ao pensar isso, Draco se deixou lembrar de cenas que não se permitia desde que, consumido por ciúmes, falara pra Gina que ela estava agindo como puta. Como se arrependia de suas palavras.. se arrependia de tantas coisas...
“Assim dos meus lábios, através dos seus, o pecado é afastado.”
“O pecado então passou para os meus?”
“O pecado dos meus lábios? Ah troca docemente desejada. Devolve então meus pecados.”
Lembrando-se do primeiro beijo deles no baile, Draco se levantou deixando-se pela primeira vez ter esperanças de que Gina o perdoaria, então entrou pela janela e desceu as escadas à procura dela, decidido a acabar com toda a confusão que sua covardia havia causado. Não esperava, no entanto, encontrá-la mais uma vez abraçada ao assistente do diabo parisiense.
Revirando os olhos ao ouvir o casalzinho vinte murmurando palavras carinhosas em francês, Draco desceu as últimas escadas dividido entre fazer muito barulho pra atrapalhar o momento ou ser o mais silencioso possível e ver se eles fariam algo além do gesto até então amigável. Sua parte masoquista escolheu a segunda opção antes mesmo que o loiro pensasse racionalmente então ele ficou ali assistindo a cena se controlando pra não ir até lá e separá-los de uma vez.
Seu 'eu' confiante onde estava?? Sabe-se lá... ele, que a segundos atrás sentia-se certo de que tudo ficaria bem, agora só queria berrar pra que parassem com aquela sem-vergonhice na sala da casa dele.
"Correndo o risco de ficar repetitivo.." - começou o loiro sabendo que repetiria o que falara da última vez que os vira nesses gestos excessivamente carinhosos. - "Eu tô atrapalhando alguma coisa?".
Separando-se no momento em que ouviram a primeira palavra, Chris e Gina apenas se olharam e, assim que Chris percebeu que a amiga abrira a boca pra pedir desculpas pela atitude do outro, falou que já tinha demorado mais do que podia e que precisava ir embora. Assim sendo, depois de se desculpar profusamente pelo comportamento tosco do irmão de criação e de acenar pro amigo de longe ao vê-lo entrar no carro, Gina fechou a porta e virou na direção de Draco fumegando de raiva pelo modo como ele havia sido grosso com um convidado seu.
"Você tá maluco?? Eu fui educada até com a Pansy quando ela veio aqui em casa e você é grosso desse jeito com um amigo meu??".
Não menos irritado com ela pelo fato de ter sido ignorado enquanto o outro estava ali, Draco fingiu que não ouvira o que ela havia dito. - "Eu preciso falar com você."
"E eu preciso quebrar a sua cara, mas você não me vê fazendo isso, não é?".
"Então quebra. Não vai mudar o fato de que você vai ter que me ouvir".
Suspirando resignada e olhando pro lado, Gina sentiu-se mais uma vez cansada de tudo. - "Olha, eu não tô com paciência pra isso, tá? Desculpa pelo que eu falei, pelo que eu pensei, fiz e até respirei, mas eu não quero brigar na véspera de natal."
"Eu não perguntei o que você quer."
“Então vá a merda!”– respondeu irritada, ao mesmo tempo em que quase ria da coisa absurda que acabara de ouvir, então virou com toda a intenção de sair pela porta esquecendo que morreria de frio sem seu casaco. Antes que pudesse fazê-lo, entretanto, Draco a havia agarrado pelo braço.
"Que foi? Agora vai me bater? Tô mesmo precisando aprender a me comportar como uma menina direita, não acha, maninho?" – perguntou, ácida, esperando ver a expressão decidida do outro cair um pouco pra dar espaço à culpa pelo que havia dito. Não esperava, todavia, que ele ignorasse a insinuação com tanta facilidade.
“Humrum, tá bom, Gina, se você quiser mesmo depois eu te ensino. Agora vem.” – falou em um tom condescendente que sabia que irritaria a ruiva ainda mais e, sem esperar sua resposta, começou a puxá-la na direção das escadas.
Querendo dificultar as coisas, Gina ainda tentou não sair do lugar e arrancar a mão dele do seu braço, mas seus esforços foram, obviamente, em vão. - "Me larga! Pra onde você tá me levando?".
Escolhendo ignorá-la, Draco apenas continuou a puxá-la pelas escadas, dando graças a Deus pelo fato da família já ter se acostumado com suas brigas a ponto de não vir mais ver o que estava acontecendo todas as vezes que eles começavam a gritar um com o outro.
"Se você não me largar agora eu vou chamar a mamãe."
"E se você chamar a mamãe eu vou falar na frente dela tudo que eu quero e acabar com essa merda toda." - falou respirando aceleradamente a olhando diretamente nos olhos como se quisesse mostrar que estava falando sério.
Surpresa, não só com a atitude de Draco, mas também com o fato de que ele havia mencionado implicitamente o assunto que eles pareciam ter um acordo tácito de não falar sobre, ela puxou o braço da mão dele então murmurou. - "Deixa que eu vou sozinha."
Ambos subiram as escadas do primeiro e do segundo andar e, quando deram por si, já estavam acobertados pela privacidade do sótão, perto da janela que haviam usado mais cedo pra ir ao telhado.
Poucos minutos se passaram em um silêncio incômodo antes que Draco perguntasse hesitantemente. -"Verdadeiro ou falso?".
"Pfff." - resmungou Gina com desdém, sem ver a expressão dele, que dizia claramente que ele também achava a pergunta idiota naquele momento. - "Que lindo, você me trouxe aqui pra um jogo idiota.” – falou com a voz falsamente doce mostrando o quanto ela estava ressentida de toda a cumplicidade que eles tinham por serem irmãos. – “O que vai ser depois?? Brincar de Peter Pan?" – falou em um entusiasmo falso e debochado, e então ficou séria novamente e simplesmente começou a andar pra ir embora.
"Dá pra responder a porcaria da pergunta?!" – perguntou mais alto do que o normal, irritado com a própria estupidez e frustrado por não saber como falar o que queria.
"Não. Eu não quero saber desses jogos idiotas. Eu já falei que não to com paciência pra isso, mas parece que tá difícil de entender! Se quer dizer alguma coisa, fala logo!" – respondeu grossa, pensando que esta era uma nova tentativa de reaproximá-los como irmãos.
"Por que você parece querer dificultar as coisas?" – perguntou, cansado de tentar alcançar alguém que parecia estar tão distante.
"Ué, maninho, porque eu posso.” - Respondeu com o mesmo cinismo calmo, como se fosse algo óbvio, conseguindo voltar a irritá-lo. – “Agora você vai começar a falar ou eu já posso descer pra ficar na companhia de quem eu de fato escolher?".
“Não, Gina, você vai ficar aí e conversar exatamente do jeito que eu sei que você quer, então pára com essa merda de ficar me chamando de maninho e falando que vai sair porque não me convence.”
"Ah, você acha ruim? O que você prefere então?" - perguntou em um tom sarcástico, ignorando o resto do que ele tinha dito por saber que era verdade, então deu uma sugestão no mesmo tom. - "Irmãozão?".
"Pára com isso, Gina! Nós dois sabemos que você não sente carinho de irmã por mim."
"Hum, e desde quando o que eu sinto tem alguma importância?".
"Eu sempre me importei com o que você sente."
Revirando os olhos ao ouvir aquilo, a ruiva murmurou com uma expressão amarga. - "Você tem um jeito bem peculiar de demonstrar então."
"Dá pra calar a boca e me ouvir?" – falou mais alto, cansado de ouvir comentários ácidos pra tudo que falava então, quando recebeu apenas um levantar de sobrancelhas de Gina como resposta, se forçou a se acalmar. – “Olha... Desculpa, eu não queria gritar, mas se você vier com comentários sarcásticos pra tudo que eu falar a gente não vai chegar a lugar nenhum e...”.
"Fala logo então!!” – o interrompeu, jogando as mãos pra cima numa demonstração de que sua paciência já estava realmente no fim. - "E sem esses jogos idiotas de verdadeiro ou falso que não levam a lugar nenhum."
"Me perdoa..." - foi a única resposta que Draco conseguiu dar diante da raiva que via á sua frente.
"Hã?" - exclamou sem conseguir formular uma resposta pra pergunta.
"Me perdoa...".
"Você vai ter que ser um pouco mais específico que isso." - respondeu, cega pelo ressentimento.
“Eu... me perdoa por...” – tentou falar, mas então parou angustiado, lembrando que havia feito um mundo de besteiras e não tinha idéia de como começar a falar. – “Merda... eu sou tão idiota que nem sei por onde começar.”
“Julgando pelo fato de que você admitiu que é idiota, digamos que você começou bem. Pena que eu não me importo mais com o que você fala, né, maninho?”.
"Pára com esse teatrinho besta, Gina!” – exclamou perdendo mais uma vez a paciência com a atitude dela. – “Eu te conheço muito bem pra cair nessa. E pára de me chamar de maninho, irmãozão ou qualquer coisa desse tipo, porque nós dois sabemos que irmãos não tomam banho juntos ou se beijam... ou dormem juntos.. não como a gente fez. E já que você quer que eu vá direto ao assunto, é exatamente disso que eu quero falar."
Sentindo um frio no estômago ao ouvi-lo falar desses momentos, Gina sentiu ainda mais raiva ao perceber que seu rosto ficara quente em rubor, então, amaldiçoando a própria fraqueza, a ruiva ficou com a expressão completamente fria. - “Eu acho que deixei bastante claro que não queria conversar sobre isso dois meses atrás. Não importa depois do que você fez.”
“Se não importasse não ficaria perto de mim o dia inteiro mesmo que seja pra brigar.”
“Ô, mas tem alguém aqui que se acha, hein? É isso mesmo, Draco o meu mundo gira em torno do seu umbigo aristocrático. Absolutamente tudo que eu faço é pra ficar perto de você.”
“Não foi isso que eu quis dizer e você sabe! Mas se quiser ficar enrolando aqui até amanhã dificultando a conversa, tudo bem! Eu não tenho nada pra fazer e só vou te deixar sair quando a gente resolver o nosso problema.”
“E qual é esse problema tão grande que você tem, hein, Draco? Me diz! O que é de tão trágico que está te incomodando e te obrigou a vir me encher o saco?” – exclamou esperando ouvir alguma resposta e quando encontrou somente o silêncio do outro ela continuou. – “Ah, é, esqueci que você é idiota demais pra saber o que falar.”
Julgando que em algum momento Gina falaria o que estava realmente sentindo se ele a deixasse falar tudo que queria, Draco ficou simplesmente calado, começando a ter dúvidas se ela realmente poderia perdoá-lo depois de tanto tempo.
“...eu vou tentar adivinhar então. Você ta com má sorte agora que não tem mais uma besta pra ficar olhando você se agarrando com alguém? Ah não!! Já sei! Você conheceu alguém linda e especial e quer contar pra maninha quatro olhos? É isso, não é? Hein?? Responde!!”.
Não pouco confuso com o que a irmã de criação estava dizendo, Draco mudou de idéia sobre seu plano inicial, resolvendo interrompê-la. – “De que você tá falando, Gina? O que isso tem a ver com o que aconteceu entre a gente?”
“Ah, lógico, a gente ta aqui pra resolver só o problema do Draquinho, né? Porque obviamente ele não tem nem idéia do que as ações dele podem causar nas pessoas em volta.”
“Ouve o que você tá falando, Gina! Eu sei que eu fiz muita merda, mas você me conhece muito bem pra saber que eu me importo muito com as conseqüências dos meus atos.” – falou a fitando com um olhar incrédulo, sabendo que não tinha pedido desculpas por tudo que tinha feito por estar convencido de que não merecia ser perdoado. Talvez se se importasse menos com essas conseqüências ele não estivesse nessa situação
“As pessoas que a gente pensa que conhece são as que mais nos surpreendem. Acredite...” – começou em um tom amargo que se expressou claramente na sua face. – “...eu sei.”
Recebendo a indireta como um tapa na cara que ele sabia que merecia, Draco respondeu. – “Eu sei que eu mereço toda essa raiva, mas...”.
“Mas o que, Draco? Desistiu de me ouvir?”.
“Não, Gina...” – começou a responder, respirando fundo, sem saber quanto mais agüentaria sem perder a calma e começar a briga que ela parecia querer tanto provocar. – “Eu quero ouvir tudo o que você tem pra falar, mas eu acho que a gente devia discutir primeiro sobre o dia do acidente.”
“Sabendo tudo que você sabe hoje você quer me convencer de que não entende porque eu tava falando aquelas coisas primeiro?”.
“...”
“Não importa, só me responde.” – falou antes que ele pudesse responder. – “Foi bom me fazer de besta?”.
“Gina...”.
“Hein, me diz, eu quero saber. Foi bom me fazer de idiota? Me fazer sentir especial pra você e depois me chamar de maninha? Ah não, deixa eu adivinhar, bom mesmo era vir me contar que estava apaixonado por alguém, não é?” – falou, sem perceber que seus olhos haviam se enchido de lágrimas. – “Se você encostar em mim eu juro que saio daqui e nunca mais olho pra sua cara” – murmurou com ódio, olhando pra mão de Draco, quando percebeu que ele quase havia tocado seu braço no que parecia uma tentativa de consolo. Lembrando das mãos dele na cintura daquela desconhecida, a ruiva limpou agressivamente a lágrima que escorreu dos seus olhos, então continuou sorrindo amargamente. - “Responde, Draco, você gostava de me contar o quanto ela é inteligente e especial. O quanto ela é linda... Você ia me contar sobre a menina do shopping naquele dia?”.
“Gina, aquilo foi um erro, eu...” – começou angustiado, percebendo quanta dor havia feito Gina passar.
“Cala a boca!” – gritou ela, virando para o lado, não querendo que ele notasse mais lágrimas deslizando pelo seu rosto. Respirou algumas vezes se acalmando então murmurou. – “Sempre as coisas foram pra você... sempre você falava, você saía, você tinha vida e eu ficava pra trás. Agora você vai ficar calado e ouvir tudo que eu tenho pra dizer.” – disse, sem saber que o impedindo de falar ela apenas estava prolongando seu sofrimento, pois não lhe dava a oportunidade de faze-la entender seus motivos e o quanto a amava.
“Eu juro que vou ouvir tudo, mas, por favor, me dá a chance de explicar.”
“Isso não vai mudar nada. Nada pode apagar o que você fez...” – murmurou ela. – “Eu só estou aqui porque quero que você saiba exatamente o que perdeu.”
Ao ouvir isso, Draco sentiu seu estômago ficar gelado, aterrorizado pela possibilidade de realmente tê-la perdido então, agindo como nada menos que um Malfoy, sua expressão tornou-se fria e toda sua raiva transformou seu tom de voz em algo desdenhoso. – “Se você deixou de gostar de mim em tão pouco tempo pra ficar com aquele francês então talvez eu não tenha perdido tanto.”
“Eu já falei que ele é meu amigo.”
“Ahã, eu não fico me agarrando toda hora com as minhas amigas.”
“Não, você faz isso com qualquer uma no shopping. Ou na quadra de basquete, ou em casa... mas eu acho que você gosta mesmo é de fazer isso na minha frente.” – respondeu com uma voz cínica de contentamento.
“Eu sei que eu errei naquele dia, mas não tem nada a ver você vir agora me acusar de outras coisas. Como eu ia imaginar que estava te magoando se eu nem sabia que você gostava de mim esse tempo todo?” – perguntou suplicando pra que ela entendesse. – “Eu te via como a minha irmã e pensava que o sentimento era recíproco! Nunca passou pela minha cabeça que me ver com outra garota fosse te machucar, Gina, tenta se colocar no meu lugar! Como eu ia saber??”
“Errou aquele dia?” – repetiu com ar de deboche sem dar ouvidos ao resto do que ele falava. – “Esse é um jeito agradável de colocar a situação.. Olha, quer saber de uma coisa? Eu nem quero mais falar nada. Ficar olhando pra essa sua cara de culpa já ta me deixando puta”. – falou sentindo ainda mais raiva por ele chamar a traição dele de um simples erro, então sorriu pela sua escolha de palavras ao ver a expressão do loiro cair ainda mais. – “Acho que você tinha razão afinal em me chamar de puta, não é?”.
“Você sabe que eu nunca falei isso!”.
“Ah é! Lógico.. você falou que eu estava agindo como uma puta e não que eu era uma. A diferença realmente é enorme.”
“Você tava se agarrando com aquele idiota de novo! Você sempre ta se agarrando com ele!”.
“EU JÁ DISSE PRA DEIXAR O CHRIS FORA DISSO!!”.
“Ah, eu não posso nem falar no SANTO CHRIS que você já vem com quatro pedras na mão! É ASSIM QUE VOCÊ QUER QUE EU ACREDITE QUE VOCÊ NÃO TEM NADA COM ELE?”.
“Eu to POUCO ME LIXANDO pro que você acredita ou não!”.
“Então o que você ta fazendo aqui?” – perguntou ainda com o tom de voz alto, mas se obrigando a não gritar novamente, mesmo sabendo que ninguém na casa poderia ouvir a conversa uma vez que o sótão fora revestido de material anti-som quando Ron inventara de aprender a tocar bateria.
“Se você não lembra, você me obrigou a vir.”
“Pode ir então, não tem porque a gente falar sobre o que aconteceu se você já não se importa.” – falou com amargura, xingando a si mesmo por ter deixado tanto tempo passar. Havia perdido a mulher que amava por covardia. – “Desculpa por tudo, eu prometo não te incomodar mais com isso.” – murmurou então virou, querendo sair dali antes que pudesse fazer algo ridículo como chorar na frente dela, quando a risada dela chamou sua atenção.
“Inacreditável.” – falou ela, rindo de maneira cruel. – “Eu to pasma! Só você mesmo pra acabar essa discussão como se estivesse fazendo um sacrifício por mim.”
“Não é o que eu to fazendo, eu só quero deixar você em paz depois de tudo que eu fiz.”
“Ai, ai, perfeito Draco ataca novamente.”
“Eu não te entendo. Realmente não te entendo. Você está o tempo todo dificultando a conversa e se recusando a me ouvir, mas quando eu tento te deixar em paz você acha outra coisa pra me acusar?”.
“È, Draco, tudo gira em razão do seu ser. É claro que a Gina má fica inventando coisas pra te acusar, porque você é incapaz de fazer algo errado, não é? E se faz, é porque não sabia que aquilo estava magoando alguém.” – falou em deboche parafraseando o que ele dissera sobre as coisas que fez antes de saber que ela gostava dele, sem dar ouvidos ao seu lado racional que, em parte, concordava com os argumentos dele.
“Se você tivesse sido mais sincera comigo e dissesse o que sentia desde o início talvez nada disso tivesse acontecido.”
“Ah, a culpa agora é minha? Você quer me convencer de que o grande Draco Malfoy não iria rir na minha cara se eu dissesse que estava apaixonada por ele com meus olhinhos brilhando do fundo das minhas lentes fundo de garrafa?”.
“Não é possível que você me acha tão superficial!”.
“Lógico que não! Eu sei que você se interessou foi pelo senso de solidariedade da Pansy e a beleza interior da Mandy. E o que diabo é isso, hein? Você tinha que namorar só garotas com o nome idiota? Mandy, Pansy, Sandy...”.
“Ah, você pode muito falar de mim se gostava do Harry!” .
“Ah, pelo amor de Deus! Eu tinha ONZE ANOS quando mandei aquele bilhete idiota! Você quer mesmo falar nisso? Porque se quiser eu também posso enumerar todas as barangas especias que você conheceu!”.
“Foi VOCÊ que começou com esse assunto! E quem é você pra falar do meu gosto quando está saindo com o Christopheeeur?” – falou imitando um sotaque francês ridículo.
“Pelo menos ele tem um cérebro!”.
“AHÁ!! Então você confessa que ta saindo com ele!!”.
“A sua capacidade de chegar a conclusões idiotas me surpreende. Olha, você vai falar pra quê me trouxe aqui ou a gente vai ficar falando besteira até o natal?”.
“Eu já falei”. – respondeu com cara de tédio, mal humorado pela confissão de Gina. – “Queria que você me perdoasse pra gente poder voltar a se falar sem você tentar arrancar a minha cabeça fora.”
“Eu tenho cara de padre por um acaso?”.
“Se fosse o Chris, aposto que você perdoaria.”
“Olha, deixa eu ser bem clara pra ver se você entende. Eu e o Chris somos AMIGOS. A possibilidade de acontecer algo entre a gente é tão grande quanto a chance de você querer agarrar o seu técnico, entendeu agora?”.
“Agora só o que me faltava era você me acusar de ser gay!!”.
“De você eu não duvido mais nada! Quem fica jogando água no corpo em público só pra chamar atenção quando só tem homem jogando!?”. – respondeu, tendo uma noção remota de que mais uma vez uma discussão deles estava se tornando maluca e sem sentido.
“Eu sinto calor! E você sempre está lá!” – falou deixando a entender, sem perceber, que sempre tentava chamar a sua atenção mesmo antes de tudo entre eles acontecer. – “O que é estranho mesmo é uma pessoa ficar brincando de kama sutra com cerejas!”.
“Você tá é doido! Eu nem sei de quê você ta falando!”.
“Ah, não? Não lembra não, como você come cerejas?? Você faz de propósito pra me deixar doido!”.
“O QUE TEM A VER O JEITO QUE EU COMO COM A NOSSA CONVERSA??”.
“SEI LÁ!” – gritou, respirando aceleradamente percebendo o rumo ridículo que aquela conversa havia tomado. - “Olha... eu entendo se você não puder me perdoar. Mas dá pra pelo menos me explicar por que?” – pediu, não esperando que ela de fato tentasse explicar, mas foi surpreendido.
“Porque você brincou comigo. Antes doía menos porque eu sabia que você não tinha idéia do que eu sentia... mas agora eu simplesmente não vou voltar a viver aquilo.”
“Mas Gina, eu não sabia.”
“É, mas agora você sabe e mesmo assim só pensa em ter seu mascote de volta!”
“Meu mascote? Porque você tem sempre que falar as coisas em código!? Eu nunca entendo de quê você tá falando!”.
“Eu to falando de mim, seu idiota! Da sua maninha quatro olhos que ficava ansiosamente te esperando em casa todos os dias. Da besta que te ouvia falar das meninas que você estava saindo pra depois passar a noite inteira chorando depois que você saía de casa”.
“Você me dizia que estava com alergia...” – respondeu ele lentamente ao mesmo tempo em que se lembrava de várias ocasiões em que perguntara por que ela estava de olhos inchados de manhã.
“Humpf... alergia o ano inteiro? Se você quisesse mesmo saber a resposta saberia que eu estava mentindo. Mas você estava ocupado demais se agarrando com uma delas em público pra se preocupar com seu bichinho de estimação em casa, não é?”.
“Como você pode dizer isso? Eu sempre te amei!”.
“POIS VOCÊ PODE ESQUECER ESSE AMOR PORQUE EU TE ODEIO!”. – gritou, sabendo que ele sempre a amara como irmã e sinceramente querendo que ele enfiasse esse amor de irmão no..
“Você não ta falando sério.”
“Eu nunca falei tão sério na minha vida.”
“Você não pode ter esquecido de tudo por causa de um erro idiota, Gina! Você teve anos pra se acostumar com a idéia de que gostava de alguém que todos consideravam seu irmão, como você acha que eu me senti quando percebi o que estava sentindo por você?” – disse desesperado, na esperança de fazê-la entender porque ele havia tentado fugir.
“Eu não vou ficar aqui ouvindo essas coisas...” – falou, levando as mãos ao rosto querendo esconder as lágrimas e também seu sofrimento.
“Não, Gina, agora você vai me escutar! O que você acha que eu senti quando percebi que queria bater num dos meus melhores amigos quando ele simplesmente olhava pra minha irmã? Eu não tinha NINGUÉM PRA CONVERSAR TODAS AS VEZES QUE EU ACORDAVA DE UM SONHO COM A MINHA IRMÃ!” – gritou, olhando pra Gina com o rosto escondido entre as mãos, então se acalmou ao ouvir seu choro. – “Tudo que eu tinha era vontade de ter você pra mim, mas o máximo que eu podia fazer era me obrigar a parar de olhar pra você e te ver com outros caras. O que você acha que eu sentia quando o papai sorria pra mim me chamando de filhão quando eu tinha que me concentrar pra não olhar pra saia da minha suposta irmã?
“...”
“Aquela semana em que os nossos pais viajaram foi a melhor e a pior semana da minha vida. Eu tinha você de um jeito tão proibido e me iludia de que eu poderia viver naquele limite. Cada dia que passava eu tinha mais certeza de que eu amava a única mulher que era proibida pra mim, mas nem a certeza de que eu perderia a minha família mais uma vez conseguiu me fazer me afastar.”
Ouvindo a última parte e sabendo que era mentira, porque ele tinha feito exatamente o oposto, todas as barreiras que Draco havia conseguido ultrapassar foram repostas, e Gina mais uma vez não se permitiu acreditar que ele poderia gostar dela. – “Cala a boca! Cala a boca agora, eu não vou mais deixar você me manipular!” – falou se virando pra sair, mas ele a pegou pelo braço mais uma vez.
“Eu não vou deixar você ir embora sem me escutar! Eu AMO você, ta me escutando!? EU AMO VOCÊ COMO MULHER E EU SEI QUE VOCÊ ME AMA TAMBÉM! E não vou deixar você estragar tudo por um erro idiota feito em um momento de desespero. Por favor, Gina.”
“VOCÊ JÁ ESTRAGOU TUDO!! Eu to tão machucada que agora só sei te odiar. Tá entendendo?? EU TE O-DE-IO!” – berrou, olhando nos olhos dele sentindo quase contentamento ao ver o sofrimento dele com suas palavras, enquanto tentava mais uma vez se afastar dele.
Quase desesperado pelo pensamento de que talvez fosse tarde demais, Draco não a largou precisando ter pelo menos esse contato com ela enquanto perdia as esperanças. – “Pára com isso, Gina, por favor, me deixa explicar, você vai entender que eu tava confuso.. eu tava tentando te proteger pra você poder ter uma vida normal...”.
“Não, ME LARGA!! Eu não acredito que você tem coragem de falar que queria me proteger!! COMO VOCÊ ACHA QUE EU ME SENTI QUANDO VOCÊ ME TRANCOU DO LADO DE FORA DO QUARTO DEPOIS DE TER ME BEIJADO?? COMO VOCÊ QUER QUE EU TE PERDOE DEPOIS DE TE VER BEIJANDO OUTRA UM DIA DEPOIS DE TUDO QUE A GENTE VIVEU? VOCÊ É FALSO!! Eu não acredito mais em nada! ME LARGA!!”.
“FOI UM ERRO! PELO AMOR DE DEUS, EU NÃO SOU PERFEITO!!!”.
“PÁRA DE FALAR QUE FOI UM ERRO, FOI MUITO MAIS DO QUE ISSO, VOCÊ QUASE ME MATOU NAQUELE DIA!”.
“E não tem um segundo que se passe sem que eu me arrependa. Por favor, me dá mais uma chance. Eu sei que posso te fazer feliz.” – pediu procurando os olhos dela na esperança de que ela entendesse.
“Não, pára! Pára, Draco, por que você ta fazendo isso comigo? Eu juro que volto a ser como era antes se você me deixar ir embora, por favor, me solta.” – ela pediu em vão, chorando compulsivamente já quase sem forçar pra gritar. – Me soltaaa, ME SOLTA!! ME LARGA EU NÃO QUERO MAIS FICAR AQUI!!”. – gritou na cara dele e, ao ver que ele não iria deixá-la ir, ela fez o que sentia vontade desde o momento em que seus olhos se encontraram naquele dia no shopping.
O som do tapa ecoou pelo sótão e o fato dele aceitar quieto, como se soubesse que merecia aquilo, fez com que o último fio de auto controle de Gina se perdesse. “Por que você fez isso comigo, Draco?? POR QUÊ??” – gritava, chorando e batendo no peito dele enquanto ele aceitava o abuso e tentava abraçá-la.
Draco murmurava sem parar pedidos de desculpas enquanto a embalava em um abraço tão apertado quanto os tapas de Gina permitiam.
“ME DEIXA EM PAZ!! EU NÃO AGUENTO MAIS, DRACO, POR QUE VOCÊ TÁ FAZENDO ISSO COMIGO?”.
Sabendo que não conseguiria mais fazê-la sofrer assim, Draco fechou os olhos sentindo lágrimas escorrerem dos seus olhos pela primeira vez naquela conversa ao pensar no que iria fazer. Então, segurando seus braços a impedindo de continuar batendo nele, o loiro a obrigou a olhar pra ele mais uma vez e, vendo os olhos vermelhos dela ele falou. – “Diz pra mim que me odeia. Diz agora que me odeia e que nunca vai me perdoar olhando nos meus olhos e eu juro que saio de casa depois do natal e paro de te fazer sofrer.”
Ela começou a se mexer, tentando se livrar dele, mas mais uma vez seus esforços foram em vão. – “Como você pode me pedir isso?”.
“Você já falou antes, Gina, eu só preciso ouvir de novo porque senão nunca vou ter coragem de te soltar. Eu não agüento mais ver você sofrer por minha culpa. Fala.. ‘Draco, eu te odeio’, olhando nos meus olhos e eu prometo de deixar em paz.”
“Draco.. eu te od..” – falou olhando pra ele. – “Pára.. eu não quero.”
“Não quer o que?”.
“Falar isso.” – respondeu em um tom quase inaudível.
“Por quê?” – perguntou com ansiedade se deixando ter esperanças novamente. – “Me fala, Gina, por quê?”.
“É mentira...” – disse chorando ainda mais, sem conseguir sair de perto dele.
“O que é mentira? Por favor, me fala!” – suplicou com os olhos, largando em um ato inconsciente, um dos braços que o atacava há poucos segundos, para trazê-lo ao rosto de sua irmã de criação.
Vendo a esperança nos olhos dele, Gina desistiu de tentar negar o que sentia. - “É mentira... Eu te am...”.
Sem conseguir esperar nem mesmo pra ouvir a confissão que tanto precisava escutar, Draco a beijou intensamente, mas, ao contrário do que esperava, não foi correspondido. Com os olhos fechados com força, sentindo o corpo dela contra o seu, no abraço até então indesejado, ele a obrigou a aceitá-lo enquanto ela ainda chorava sem saber muito bem o que pensar. Dando-lhe pequenos beijos que às vezes se estendiam em apenas um deslizar de lábios, ao mesmo tempo em que tocava sua boca com o dedo, Draco a apertou mais contra si, abrindo os olhos pra que ela pudesse ver que tudo que ele estava sentindo e fazendo era sincero. – “Eu amo você, por favor, acredita em mim.” – murmurou bem baixinho então voltou a beijá-la.
Deixando-se finalmente acreditar que isto estava realmente acontecendo, Gina sentiu suas pernas enfraquecerem no exato momento em que começou a corresponder o beijo, mas nunca chegou a cair, já que Draco a segurava fortemente pela cintura, sentindo medo de que se não o fizesse ela poderia fugir.
Rapidamente, o beijo esperado por ambos se tornou desesperado, quase violento pra quem visse de fora, e a atração entre eles que desafiava o desejo se tornou quase incontrolável no momento em que Draco pôde sentir o gosto amargo de suas lágrimas nos lábios de sua irmã de criação, mostrando mais uma vez o quão contraditoriamente doce o proibido poderia ser.
Gina choramingou no beijo, tremendo pela intensidade com que Draco a beijava, então apertou entre os dedos a frente da blusa dele a ponto de sentir dor, mas precisava sentir que ele estava o mais perto possível. Sua mágoa e ressentimento então nunca pareceram tão reais como nesse instante e, querendo machucá-lo como ele havia feito com ela todos esses anos, Gina começou a beijá-lo com agressividade real, ao mesmo tempo em que voltou a bater nele como se pudesse puni-lo por ser tão cego em relação a ela.
Imaginando o que poderia estar passando na cabeça dela, Draco sabia que merecia ser rejeitado e que deveria se afastar, mas agora que finalmente a tinha nos braços, não a deixaria ir embora novamente. Com esse único pensamento, ele em nenhum momento parou de beijá-la, mas apenas começou a andar pra frente, levando-a consigo, até encostá-la contra a parede e, sabendo que ela não poderia mais fugir, soltou sua cintura e sua face para segurar seus braços a impedindo de continuar batendo nele. – “Shhh, eu já sei de tudo agora...” – murmurou contra sua boca. – “Nós estamos juntos agora.” – murmurou novamente a beijando em seguida, segurando seus braços contra a parede mesmo percebendo que ela não voltaria a tentar bater nele.
Respirando ainda mais aceleradamente, Gina respondeu o beijo com fervor sentindo o corpo dele pressioná-la contra a parede, mas uma pequena voz na sua cabeça a lembrava que ele já havia a beijado antes e a magoado depois tentando negar tudo. Sabendo que não sobreviveria se ele fizesse isso de novo ela virou a cabeça um pouco, interrompendo o beijo - “Você... você não é meu irmão.." - disse com a voz baixinha e incerta, como se implorasse pra não ser magoada de novo, sem conseguir voltar a olhar pra ele ou explicar o que realmente precisava saber.
Adivinhando seus medos, ele deslizou a mão pelo pulso dela, deixando suas mãos se entrelaçarem então encostou o rosto no dela com os olhos fechados e resumiu tudo que ela precisava escutar. – “Eu sei”.
Continua??
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