I have fallen



Cap 10 – I have fallen




Vinte oito mil e oitocentos segundos...
São esses os segundos contidos nas 24 horas que completam um dia e, durante os trinta dias que haviam se passado desde que vira a decepção nos olhos de Gina, Draco se deixava entorpecer pela depressão a cada um dos vinte... oito.. mil... e oitocentos segundos...
... de cada dia.
Surpreendentemente apenas um mês de distância foi o suficiente para deprimir Draco Malfoy e convencê-lo de que talvez a morte por tristeza alardeada pelo Romantistas não fosse tão utópica e impossível como ele sempre considerou.
Não dormia, não comia, não pensava, não estudava, se recusava a jogar...
Apenas sentia. O amor que havia escondido em negação tanto tempo parecia machucá-lo como vingança a todo o momento em que era obrigado a olhar Gina de longe sem nem mesmo ter o direito de falar com ela, e a dor no seu peito era tão insuportável que precisava lembrar de voltar a respirar. Sofria quieto, se apoiando na verdade de que merecia tudo o que estava passando e qualquer migalha de atenção que a ruiva lhe dava era acolhida com uma empolgação patética, sem qualquer pedido de algo em troca.
Mal sabia que seu algoz vivia em uma rotina semelhante de contagem de segundos, rezando pra quem quer que tenha dito que o tempo cura tudo estivesse certo.
Ao contrário do loiro, todavia, Gina se negava a pensar sobre o que havia acontecido ou lembrar de tudo que haviam vivido e forçava um sorriso no rosto diariamente chegando a merecer o Oscar de melhor atriz todas as vezes em que Colin tentava convencê-la de admitir que estava magoada.
Ela sabia que no momento era o máximo que era capaz de fazer e esperava que sua negação em relação a tudo que havia acontecido a ajudasse a algum dia poder voltar a deixar o irmão de criação se reaproximar como parecia tanto precisar.
Suas intenções foram as melhores, mas as lembranças a perseguiam e atormentavam todas as noites como em vingança por terem sido ignoradas durante o dia e nem mesmo a melhor das pessoas resistiria a sucumbir à amargura.
Aos poucos se deixou perceber os olhares sofridos de Draco na sua direção e até mesmo que ele havia perdido peso, mas o que ela sabia que ele queria, ela não podia dar ainda. Convencera-se, cega pelo medo de sofrer novamente, de que o loiro somente havia feito tudo aquilo se forçando a aceitar os sentimentos dela por ele, para não perdê-la.
E isso era pouco... pouco demais pra ela aceitar. A ligação que um dia tiveram, antes dela se deixar enganar que o amor que sentia era correspondido, havia se rompido e ela não podia deixar que se restabelecesse porque doeria demais.
Não podia deixá-lo se aproximar sabendo que ele apenas o amava como irmão e assim o tempo se passava.. tic... tac.. tic.. tac.. Oito mil e oitocentos segundos se passavam todos os dias, sem conversas... sem sorrisos.. sem alegria...
... sem vida.
E Draco e Gina se forçavam a levantar todas as manhãs com a certeza de que o dia seria igual ao anterior, colocando uma parede emocional ao redor de si, intransponível até mesmo para Colin que, assim como os outros amigos do casal, era obrigado a assistir os dois definhando sozinhos enquanto atuavam a “comédia” da vida privada, sem conseguir convencer Draco de que ainda podia se aproximar de Gina ou obrigar Gina a falar porque diabos ela estava fingindo viver no mundo cor de rosa da Barbie quando ele sabia que ela estava sofrendo.
Sem o amigo saber, todavia, Gina seguia o seu conselho.
A única diferença é que escolhera conversar com alguém que entendia o que ela sentia, porque também estava vivendo um amor proibido, e via toda a confusão de fora. Não sabia também, que sua escolha de confidente apenas piorava o inferno particular do homem que amava por coincidir com a pessoa que Draco mais odiava desde a primeira vez que a visitara enquanto estava se recuperando do acidente: Christoffer.
Mais algumas semanas se passaram com mudanças mínimas no comportamento dos dois, mas, como dizem os mais velhos, cada gota no mar ajuda a formá-lo. Cada olhar em um pedido mudo de desculpas... cada sombra de sorriso.. cada toque sem uma intenção consciente por trás.. cada decepção empurrando Draco para os abismos do ciúmes... cada minuto em silêncio forçado de Gina... toda essa infinidade de atos quase insignificantes espalhados em cada dia foram suficientes pra tornar impossível que aquela situação se estendesse e empurrasse o casal ao seu limite.
Infelizmente o limite dos dois se igualava à miséria. Estavam perdidos e sozinhos tendo apenas a própria tristeza pra acompanhá-los mesmo quando rodeados por uma multidão, odiando a si mesmos por terem infligido sobre si a dor que sentiam.
Fefysssssssssssssssssssss

Molly colocou os ovos mexidos em um prato grande no centro da mesa para que George, Fred e Ron pudessem se servir, então, antes de se virar pra pegar o bacon, seus olhos passaram rapidamente na direção de Draco com uma expressão preocupada ao ver que nem mesmo o sanduíche natural que ele havia feito ele estava comendo.
Seguindo o olhar da mãe, Gina deixou seu olhar recair sobre Draco, que a muito não sentava mais do seu lado. Ele tá tão abatido – pensou, então, quando seus sentimentos de culpa já começavam a se mostrar ela voltou a comer o próprio sanduíche. Eu não posso voltar a me aproximar dele, só vai me machucar... Já, já ele vai parar de sentir tanto a falta da irmãzinha dele... Logo ele vai se apaixonar por alguém e aí eu vou ficar sozinha como estou agora... pra quê ficar tentando adiar o que com certeza vai acontecer?Além do mais ele provavelmente nem está triste por causa de mim.. deve ser outra coisa.. é isso.Ou então é só culpa... ¬Ouvir o tapa que Molly deu na mão do Arthur ao vê-lo tentar pegar um pedaço de bacon a tirou de seus pensamentos.
“É só um pedaço, Molly, não faz a menor diferença” – resmungou o patriarca da família ganhando um riso dos filhos ao ver a rotina dos pais.
“Você quer um pedaço todos os dias Arthur! E o Dr. Paul já disse que o seu colesterol está alto” – falou no mesmo tom que usava pra chamar a atenção dos filhos.
Será que chamar a atenção do marido sobre colesterol é romântico ou eu já estou muito pior do que eu achava? Será que algum dia eu vou poder brigar com o meu marido sobre colesterol? Meus pais são tão fofos... – pensava olhando pro casal “discutindo”, então sorriu ao ver Molly deixar ele comer só um pedacinho, só naquele dia, pra dar um gostinho melhor pra segunda-feira. Ainda sorrindo grata por alguns segundos de contento, Gina olhou pra frente encontrando o olhar melancólico de Draco sobre si.
O sorriso dela direcionado exatamente nele pareceu praticamente assustar o loiro que, de repente, pareceu perdido sobre o que fazer como se tivesse medo de que sua própria respiração fizesse Gina parar de sorrir. Infelizmente foi exatamente essa reação meio desastrada completamente alien à personalidade dele que fez o sorriso da ruiva se extinguir, pois a fez pensar que o estava destruindo.
Quase desesperado pra não perder a atenção de Gina sobre si agora que já havia perdido o sorriso, Draco pegou a jarra de suco com uma expressão quase esperançosa. “Quer suco, Gina?”.
Ela sorriu meio sem graça olhando pro próprio copo ainda cheio. - “Ermm.. agora não, Draco... brigada...” – falou e continuou olhando-o sem saber o que fazer e ambos, muito preocupados somente um com o outro, não perceberam o olhar intrigado dos gêmeos durante essa cena.
Ele baixou o olhar parecendo ter se flagrado no quão patético estava sendo então se forçou a começar a comer o sanduíche, até então intocado, pra disfarçar a vergonha que sentia.
A culpa começou a consumir os pensamentos de Gina. Eu preciso aprender a me amar mais! Eu não vou ficar perto dele só pra fazê-lo feliz depois de tudo que ele fez... era tudo mentira... tudo mentira.. ele só me quer como irmã... – pensava, ainda olhando pra ele comendo e olhando pra tudo, menos pra ela. Em um segundo a imagem dele beijando aquela outra garota passou pelos olhos de Gina e, então ela se forçou a voltar a não pensar. – “Mãe, hoje eu vou voltar mais tarde, tá?” – falou chamando a atenção da mãe e de Draco para si.
“Claro, querida, você vai encontrar com aquele rapaz educado de novo?” – falou com aquele tom de quem achava que havia algo mais por trás desses encontros e Draco pareceu ficar petrificado olhando pra Gina.
“O nome do rapaz educado é Christoffer, mãe...” – falou então ouviu uma buzina. – “Ih, é o Colin...” – bebeu o resto do suco de uma vez então saiu da mesa. – “Tchau povo” – falou pegando a mochila e, não antes de dar um beijo nos pais, saiu pela porta de trás.
Draco ficou quieto olhando pro próprio prato enquanto todos continuavam a comer normalmente. Se alguém pudesse ver através da mesa, esse alguém saberia que seus punhos estavam fechados e suas unham quase conseguiam lhe cortar a pele. Uma tentativa vã de diminuir a dor emocional, trocando-a pela dor física.
Fefysssssssssssssssssssssss

Sentado no banco de reservas, que era onde estava já há algum tempo como punição pela sua falta de atenção nos treinos, Draco sorriu ao ver de longe Gina com uma expressão concentrada pegando a nova coreografia da Fawkes, se forçando a não notar que a ruiva parecia sempre tentar ficar de costas pro banco onde ele estava e nunca olhava na sua direção como fazia durante todos os ensaios antes do acidente. A olhava concentrado, alheio a qualquer coisa ao seu redor e, em virtude disso, nem ao menos percebeu o olhar de reprovação do técnico, mas se o tivesse visto, veria também que por trás da reprovação existia uma aceitação estranha e então se perguntaria se estava sendo tão óbvio assim.
Sentiu mais uma vez seu rosto arder e seu corpo ficar rígido de ciúmes ao ver uma figura conhecida entrar na quadra e sentar na arquibancada a olhando com liberdade, então ignorou a dor de cabeça que já dava sinais de vida como conseqüência da força com que fechava a boca forçando sua mandíbula.
Harry, que havia acabado de ir pro banco por ter sofrido uma falta mais grave, viu a veia do pescoço de Draco meio saltada e sua expressão fria então seguiu o seu olhar, vendo Gina sorrir e então correr na direção de um jovem que ele sabia ser o Christoffer.
Olhou de novo para Draco percebendo que esta era uma chance de tentar novamente falar com o loiro sobre tudo que estava acontecendo então começou em um tom cauteloso. – “Tá tudo bem aí, cara?” – Fez uma careta assim que as palavras saíram de sua boca. Era óbvio que não estava tudo bem... Quando já abria a boca novamente pra tentar consertar o erro, Draco se levantou.
“Tá tudo ótimo” – falou friamente então começou a caminhar pra sair da quadra e de fato o fez, não dando importância ao técnico que o chamava de volta pro banco quando ele já entrava no vestiário.
Trocou de roupa deixando o que sentia transparecer no modo sem paciência como se despiu e colocou o uniforme formal do colégio sem precisar tomar uma ducha já que desde o início do treino havia sido colocado no banco.
Fechou a porta do armário com força, então encostou a cabeça nela com os olhos fechados se deixando apoiar. Forçou os olhos já fechados se perguntando o que ele estava fazendo consigo mesmo, então lembrou do sorriso de pena que Gina havia lhe dado no café da manhã em comparação ao sorriso de alegria ao ver que aquele idiota francês havia chegado.
Tomado pelo ciúme e pela raiva por si mesmo o loiro deu um murro do armário vizinho deixando o ferro frágil um pouco deformado e então, olhando com satisfação um pouco de sangue sair de onde o impacto havia sido maior, ele pegou a mochila a jogando em um lado das costas.
Ainda cego de raiva por aquele sorriso ser pra outra pessoa, Draco andava pelos corredores impassível com um olhar frio e uma postura rígida. Alguns dos alunos mais novos, que ainda estavam no colégio estudando por ser semana de provas, o olhavam com um quê de admiração e medo, então saiam do seu caminho e todas as meninas, sem exceção, suspiravam.
Chegando finalmente ao armário, Draco deixou a mochila cair no chão e abriu o armário em busca do livro de biologia que precisava, procurando o mesmo sem paciência entre os livros e cadernos que ali estavam.
Passou a mão nos cabelos e fechou os olhos na esperança de se acalmar. – “Puta que pariu...” – murmurou pra si mesmo então voltou a procurar o livro.
“Draco, você tá bem?” - ouviu a voz de Colin perguntar.
“Eu tô ótimo, o que te faz pensar o contrário?” – respondeu em um tom amargo ainda olhando dentro do armário fazendo mais barulho do que necessário ao jogar tudo que tinha ali dentro de um lado pro outro. – “Merda...” – murmurou, então se virou pro amigo. – “O que você quer, Colin? A Gina ainda tá no treino, se é isso que você quer saber”.
“Não... eu vi que você tá irritado e como eu encontrei o Chris agora há pouco...” – respondeu e soube que tinha feito algo errado as ver a expressão de Draco quando ouviu o apelido do outro.
“Eu estou me consumindo de gratidão pela sua preocupação, Colin” – falou sarcasticamente e virando de novo pro armário quando finalmente achou o que procurava.
“Você sabe que não tem nada entre eles... se você ao menos tentasse falar com ela de novo..”.
“Pra ela me ignorar totalmente uma semana? Não, obrigado” – falou, organizando mais ou menos as coisas pra conseguir fechar a porta do armário.
“Eu tenho certeza de que se você...”.
Draco só olhou pra ele como se o mandasse calar a boca e depois fechou a porta com força chamando a atenção de todos que estavam no corredor. Ele então pegou a mochila no chão e saiu andando, deixando um Colin boquiaberto pra trás.
Quando o loirinho saiu do choque ele passou a mão no cabelo sem nem chegar a ficar indignado por mais essa patada. Ele sabia que pro Draco tê-lo tratado assim algo de bem grave estava acontecendo: Ele chegara ao seu limite. E Colin não conseguia decidir se isto era bom ou ruim.
Já ia se virar pra ir na quadra e ver o que tinha acontecido quando ouviu uma voz debochada atrás de si.
“Saiu do lado bom do Malfoy, foi?” – deu uma risadinha, então continuou se aproximando de Colin quase invadindo seu espaço pessoal. – “Eu sabia que alguém como você...” - enfatizou a palavra deixando claro que estava se referindo à sexualidade dele – “...não ia durar muito tempo às boas com pessoas do meu ciclo de amizades”.
Colin revirou os olhos ao ver que era só o... qual era o nome dele mesmo? Enfim... era só um dos invejosos que tinham como objetivo de vida ficar amigo das pessoas que eles consideravam populares. Quando abriu a boca pra responder foi impedido por outra voz.
“Ser o caso de caridade do Zabine só porque você é filho de uma amiga da mãe dele agora significa ser do ‘ciclo de amizades’, como você mesmo se referiu?” – falou Draco em um tom sarcástico e uma pose debochada que em nada escondia o olhar frio que tinha desde que saíra da quadra de basquete mais cedo.
“Malfoy...” – começou o garoto tentando se explicar.
“Hummm...” – olhou a proximidade que ele estava do Colin então falou ainda no mesmo tom. – “Vendo o quanto você está confortável perto do Colin, me parece que você é que tem bastante vontade de participar do ciclo de amizades dele, talvez? Parece que o boato sobre você é verdade então...” – insinuou sabendo que pra um homofóbico patético como aquele garoto esse era o pior xingamento.
“Não existe boato nenhum com o meu nome envolvido” – falou com a voz um pouco trêmula, mas ainda com um tom petulante e então saiu rapidamente de perto do Colin demonstrando que Draco estava certo.
Draco o olhou de um jeito calculista então respondeu com um sorriso meio sádico. – “Ainda não... e só vai continuar assim se você se desculpar” – falou deixando claro que o boato não existia, mas poderia se iniciar e se espalhar rapidamente se assim ele quisesse, então ficou olhando-o, esperando pra que ele se desculpasse. Alguns segundos se passaram e Draco apenas levantou a sobrancelha.
“Desculpa, Colin” – murmurou assim que viu aquilo e depois saiu andando com toda a dignidade que ainda lhe restava.
“Caramba, Draco, valeu, aquele cara é um saco” – falou Colin, demonstrando que não havia ficado chateado com o modo que Draco o tratara.
“Ermm... foi mal... por agora a pouco” – falou meio sem graça depois de acenar com a mão que não precisava agradecer. – “Eu não tenho o direito de ficar te tirando toda hora...e.. não liga pra pessoas assim não. Aquele garoto é um imbecil e não sabe do que está falando” – falou parecendo sem graça e sem muita certeza de que estava falando a coisa certa, como se fosse uma criança. Nesse momento Colin pôde ver algo que julgava que somente a Gina tinha visto: um Draco vulnerável.
“Esquece isso...” – respondeu sorrindo demonstrando que estava bem mesmo depois das insinuações daquele garoto então continuou. – “Se precisar de alguém pra conversar...” – deixou o convite em aberto.
Draco apenas acenou com a cabeça demonstrando que havia ouvido então virou pra ir embora. – “Até”
Fefysssssssssssssssssssssss

Perdendo a raiva na medida em que os quarteirões se passavam, Draco dirigia praticamente cego à rua, deixando-se vagar mais uma vez pelas lembranças que agora eram sua única companhia, sem se perguntar quando pararia com essa auto tortura.
< i>“CESTAAAAA!” – gritou Gina no colo dele.
“Ei! Assim não vale!” – falou rindo sem a menor vontade de colocá-la de volta no chão percebendo neste instante o quanto seu rosto estava perto da face afogueada de Gina.
“Hum, alguém tem que aprender a perder.” – murmurou brincalhona encostando a testa na dele também sem sentir a menor vontade de sair dali.
Ele a abraçou mais apertado. – “E alguém tem que aprender a seguir regras.”
“Nah... regras foram feitas pra serem quebradas..”

Ele passou a marcha sentindo-se, pela milésima vez, resignado. Como pudera ser tão burro de achar que estava fazendo o que era melhor pra ela? Ela já tinha demonstrado que não estava disposta a seguir regras! E achar que ela agiria daquele modo enquanto gostava de outro... Balançou a cabeça de modo depreciativo. Como era um idiota... E agora ela realmente estava com outro...
Surpreendeu-se por perceber como a miséria lhe dava sono durante os dias, apesar de roubá-lo durante as madrugadas, ao se flagrar bocejando, o que irremediavelmente o levou a lembrar da maneira carinhosa que Gina o acordou durante a semana que dormiram juntos.
Ele sorriu tristemente quase se iludindo de que ainda poderia sentir as cócegas na sua barriga ou o nariz de Gina passando contra o seu se conseguisse se concentrar, quando viu de súbito que estava à ponto de avançar uma faixa de pedestre por onde uma velhinha com vestido amarelo passava.
Freou bruscamente, assustando até mesmo a velhinha que combinava com o sol, então se deixou voltar a respirar, dando graças a Deus por nada de mal ter acontecido, quando ganhou apenas um olhar de reprovação daquela que poderia ter sido sua vítima.
Ficou parado ainda sem coragem de dar partida no carro, visualizando mentalmente tudo que poderia ter acontecido, então, quando as imagens de Gina caída e ensangüentada no chão se confundiam com a da velhinha que ainda podia ser vista caminhando ao longe, uma buzinada do carro de trás o chamou de volta do seu estado de choque o fazendo voltar a andar.
Forçando-se a olhar mais do que atentamente pra rodovia, tomado pela culpa sobre o acidente com a velhinha que nem mesmo havia acontecido, Draco não se deixou consolar novamente pelas lembranças até que chegasse em casa, com medo de que isso pudesse provocar ainda mais uma desgraça.
“Deus... o que eu tô fazendo com a minha vida?” – murmurou realmente em um pedido de ajuda não se permitindo chorar.
Fefyssssssssssssssssssssssss

Depois de um banho e de colocar uma bermuda, se beneficiando imensamente do aquecimento da casa que a fazia ficar como se ainda estivessem na primavera ao invés do início do inverno, Draco se acalmou o suficiente pra tentar estudar pra prova do dia seguinte. Tentar é realmente a palavra correta pra se empregar, já que o loiro parava de prestar atenção praticamente de cinco em cinco minutos.
Depois de conseguir se forçar a ler os quatro capítulos que seriam cobrados na prova, mesmo sem poder dizer que havia assimilado alguma coisa, Draco julgou que já tinha direito a um intervalo. Afinal a matéria era fácil na sua opinião e a média era seis. Se não conseguisse a média, paciência...
Pegou um cigarro, que há algum tempo deixara de fumar apenas quando bebia por precisar da companhia distante que a fumaça parecia lhe fazer, e levantou-se da mesa indo pra sacada ao mesmo tempo em que enfiava a mão nos dois bolsos por não lembrar em qual deles havia deixado o isqueiro da última vez que o havia usado naquela noite.
Não achou o objeto que tinha certeza ter colocado no bolso, chegando à conclusão amarga que até mesmo sua memória o estava abandonando, pegando apenas um pequeno pedaço de papel que ali estava. Ao ler a única palavra ali escrita, o loiro foi transportado instantaneamente a um certo dia em que nenhuma barreira havia sido ultrapassada, mas o relacionamento ambíguo com sua irmã de criação já se intensificava a cada instante.
Banheiros...
“Não Draco.. por favor não encosta isso em mim..” – choramingou.
Rindo um pouco do fato de Gina realmente pensar que ele passaria as luvas nela agora que ela havia tirado todas suas proteções de saco de lixo, ele as jogou no balde então entrou no box junto com ela, sem qualquer resistência da ruiva, e ligou o chuveiro molhando os dois com roupa e tudo.
Se olhando e sabendo que não estavam preparados ainda pra enfrentar tudo que sentiam um pelo outro eles apenas deixaram a água cair entre seus corpos. Sorrindo sem dar atenção ao cabelo molhado caindo no seu rosto, Draco se aproximou ainda mais de Gina pra alcançar o xampu que estava atrás da ruiva.
Ele colocou o xampu na mão sem afastar seu olhar por um segundo sequer então trouxe a mão pra perto do próprio rosto fingindo cheirar a substância profundamente em apreciação fazendo Gina rir. Ela deixou ele lavar seus cabelos lentamente fechando os olhos para que a espuma não caísse nos seus olhos podendo sentir a proximidade de Draco apenas pela sua respiração quente.
Sentia seus dedos numa carícia delicada massagearem sua cabeça...
Quando ela sentiu a água levar todo o xampu dos seus cabelos ela fez o mesmo em Draco, passando depois a ensaboá-lo devagar com as mãos, sentindo seu peito subir e descer em uma respiração acelerada e sua barriga se contrair de leve ao sentir o toque macio das mãos de Gina. Com a boca entreaberta sentindo a água cair abundantemente sobre si e escorrer pelo seu rosto Draco alcançou o final da blusa de Gina que estava pregada ao corpo dela revelando suas formas e o piercing que ela havia colocado apenas no dia anterior.

Lembrava-se de tudo esquecendo-se do frio que sentia por estar na varanda apenas de bermuda e blusa naquela época do ano e continuaria ali perdido naquele momento se o barulho de um carro desconhecido chegando não tivesse chamado sua atenção.
Draco teve que se debruçar um pouco na varanda pra ter uma visão melhor, então seu rosto se contorceu em uma careta inconsciente ao notar a placa do corpo diplomático. ‘Será que esse cara não dá um tempo?’, se perguntava, desejando como nunca que aqueles aparelhos mirabolantes pra ouvir à distância que apareciam na televisão realmente funcionassem.
Fefysssssssssssssssssssss

“... e você vai ver que isso é temporário, Chris. A Cecille já demonstrou mais do que o suficiente que te ama. A situação é muito difícil pra ela com você estando aqui tão longe” – falava Gina procurando consolar o amigo pela última vez naquela noite, como havia feito desde o momento em que se encontraram aquela tarde e ele havia dito que sua namorada havia finalmente cedido às pressões e terminado o namoro deles com apenas um telefonema.
“Eu sei... mas eu não agüento mais essa situação! Meus pais não me deixam voltar e a cidade parece ter feito um boicote contra mim. Com um currículo bom como o meu não conseguir emprego nem de caixa de supermercado é ridículo! Eu só quero voltar pra casa, Gina...Aposto que a minha tia interferiu de algum modo quando percebeu que eu tava procurando emprego”.
Gina o olhava com pena sem saber o que falar. – “Eu já me ofereci pra te emprestar o dinheiro da passagem, mas você não aceita...”.
“Não, não posso aceitar isso! Vai mostrar pros meus pais que eu não tenho a maturidade que eles dizem que eu não tenho. Eu vou morrer antes de dar esse gostinho pra eles”.
“Ai, Chris, você ta andando demais comigo! Até dramático já está ficando. A gente vai pensar em alguma coisa...”.
Ele sorriu com a milésima tentativa de Gina de melhorar seu humor então respirou resignado. – “Você tem razão... Desculpa por ter te enchido o saco a tarde inteira, tá? Eu sei que a sua situação não melhorou desde ontem quando a gente se falou, mas esse telefonema da Cecille me deixou transtornado”.
Ela sorriu se aproximando pra abraçá-lo e teve o carinho correspondido instantaneamente pelo amigo que parecia mesmo precisar do gesto naquela hora. Após alguns poucos segundos abraçados em silêncio, ela começou. – “Quê isso, Chris... você estava lá quando eu precisei de apoio. Nada mais justo eu fazer o mesmo quando você precisar. Foi até bom fugir um pouco do meu drama particular e saber que outras pessoas estão vivendo um inferno astral como eu...” – falou então parou no meio da frase e se separou do abraço com um sorriso confuso encontrando um idêntico no rosto do Chris. – “Péra.. essa frase saiu totalmente errada! Você sabe que eu não estou achando bom o fato de que você está depressivo, né?” – perguntou rindo um pouco.
“Sei...” – respondeu sorrindo um pouco então olhou pro relógio vendo que já passava das nove. – “Mas é melhor você entrar logo. Eu particularmente não quero ouvir uma mãe brava depois”.
“Ela não ia brigar... ia só te obrigar a comer alguma coisa...” – brincou a ruiva já se virando pra porta então ouviu a outra porta sendo aberta. – “Não precisa me acompanhar até a porta não, bobo”.
“Eu sou um cavalheiro. Cavalheiro deprimido, mas ainda sim educado”
– respondeu o francês, dando a volta no carro e a encontrando do outro lado, recebendo um sorriso da ruiva.
Caminharam até a entrada em silêncio, então quando chegaram na porta ela o abraçou. – “Fica bem, tá? Você vai ver como ela vai voltar atrás” – consolou antes de se afastar do abraço e se virar pra porta.
“No fundo eu sei que não acabou de verdade, mas... você sabe, né?”.
“É, eu sei... Boa noite. Qualquer coisa liga”
¬– falou Gina entrando em casa e se virando pra ver o amigo entrar no carro e dar partida no carro antes de fechar a porta.
Fefyssssssssssssssssssssss

Já não sentia nem mais raiva... Draco apenas olhava de longe, bem no canto da sacada em um equilíbrio dúbio em cima do parapeito, sentindo o vazio no seu coração aumentar ao se forçar a olhar apenas a sombra de Gina dentro do carro. Perguntava-se o que eles poderiam estar falando até agora considerando que eles estavam juntos praticamente a tarde inteira, então, quando a viu se aproximar pra abraçá-lo, começou a se perguntar se sobreviveria se ela o beijasse.
Toda sua razão implorava pra que ele saísse dali e deixasse a irmã de criação viver a vida dela sem um idiota a espionando a noite inteira, mas uma pequena parte de si não deixava que ele se movesse pra sair. De fato alguma parte de si até pensava que ele merecia ver o que fizera pra Gina todos esses anos em que apresentou suas namoradas e as beijou na frente da ruiva.
Seu martírio se tornou mais brando quando percebeu que o beijo que ele temia que acontecesse não chegou a se tornar realidade, e o casal voltou a apenas conversar respeitando uma certa distância, mas a pior parte ainda não tinha chegado: A despedida.
Antes que começasse a imaginar vários cenários em que aquele francês folgado se aproximasse de Gina com segundas intenções ou começasse a se torturar com o fato de que nunca poderia ter um encontro normal com Gina, mesmo se estivessem se falando, pelo fato de serem considerados irmãos, Draco começou a ouvir o próprio coração batendo como se estivesse nos seus ouvidos ao ver Gina sair do carro com um sorriso direcionado a Christoffer enquanto ele dava a volta no carro.
“Ele vai até a porta...” – murmurou o loiro pra si mesmo então fechou os olhos tentando voltar a respirar direito, pois tinha certeza de que, se o francês fez questão de deixá-la na porta, aquela tarde havia realmente sido um encontro. Gina realmente estava esquecendo tudo que haviam vivido...
Já estava praticamente caindo do parapeito da sacada quando perdeu o casal de vista, uma vez que sua sacada não dava visão pra entrada principal da casa, então voltou pro quarto e se deitou na cama colocando o braço nos olhos pra tapar a claridade, sem dar atenção ao fato de que estava gelado de frio.
Assim ficou... abraçando o tormento de ter quase certeza de que agora Christoffer e Gina eram um casal. Não quis mais estudar naquela noite e nem mesmo fumar ou fechar a sacada pra não morrer de frio.
A luz do quarto também ficou esquecida. Nada mais parecia valer à pena. Dane-se a prova... dane-se o frio, dane-se a vida.
Foda-se.
Fefyssssssssssssssssssssssss

Essa Cecille é uma besta mesmo... não sabe como é sortuda de gostar tanto de uma pessoa e o sentimento ser correspondido. – pensou Gina ao largar suas coisas em cima da mesa e virar pra cama. A pressão que ela tá vivendo não é nada em comparação com a que eu estava disposta a enfrentar pelo Draco... Draco, Draco, Draco! Nem quando eu tô me negando a pensar nele eu consigo. – Tirou o sapato com impaciência se irritando com a própria fraqueza então olhou pro relógio em cima da mesa vendo que ainda marcava nove e vinte sete. – Humpf... não vou conseguir dormir nunca... – pensou olhando pro lado deixando o olhar cair exatamente no aparelho de som.
“É... minha cabeça não pára, mas meu corpo alguma hora vai ter que ficar exausto” – falou consigo mesma já acostumada a falar sozinha agora que procurava ficar sempre distante de todos, então foi até o armário procurar alguma roupa de dança.
Em poucos minutos já estava vestida com uma calça preta de coton, um top da mesma cor e uma blusa larga que insistia em cair do ombro em um dos lados, com uma bailarina desenhada na frente. Pegou um casaco bem quente, sabendo que fora da casa estava frio, então saiu do quarto prendendo o cabelo em um rabo de cavalo, sem perceber que durante todo esse tempo seu celular vibrava dentro da bolsa mostrando a foto de Colin fazendo careta no visor.
Fefyssssssssssssssssssssssss

Nossa, o inverno chegou mais cedo esse ano... – pensou enquanto corria até chegar na sua sala de dança dando graças à Deus por ter lembrado de trazer o casaco.
Sabendo que não podia colocar uma música muito agitada ou senão perderia de vez o sono, Gina escolheu o CD que mais gostava, ignorando o fato de que era um dos que Draco havia gravado pra ela.
Concentrou-se na música enquanto fazia o alongamento e logo já começava a dançar sem uma seqüência certa, como fazia quando era criança. Dava voltas, saltos, giros e se sentia livre, como se naquele instante tivesse sucesso em fugir de toda tristeza e solidão e finalmente conseguir não pensar em nada.
Em alguns instantes seus olhos ardiam durante certos passos em uma vontade pura e involuntária de chorar, mas ao menos neste instante elas não eram embaladas por lembranças do homem que ela amava traindo tudo que ela sentia. Era apenas seu corpo mostrando que sofria com ela e que queria lhe fazer companhia.
Já dançava há pelo menos meia hora quando uma voz a tirou do seu santuário. Nunca podendo ficar triste em ver o amigo, Gina parou de dançar em meio a um giro então olhou pro visitante com um sorriso confuso.
“Oi, Colin, o que você tá fazendo aqui a essa hora? Tá querendo uma ajuda de última hora pra prova?” – falou caminhando na direção dele sem o abraçar por já estar um pouco suada.
“Não, eu queria conversar com você, mas aí depois de vinte ligações não atendidas eu resolvi passar por aqui e falar com você ao vivo” – respondeu fazendo careta ao dizer o número de ligações, pra que a ruiva percebesse que ele estava se sentindo rejeitado.
“Ixi... foi mal, eu esqueci o celular dentro da bolsa” – falou passando a mão na testa e parecendo arrependida.
“No problem, miga...” – sorriu de um jeito cansado. – “É até melhor conversar assim mesmo”.
“Nossa...” – falou com uma expressão um pouco preocupada. – “O que aconteceu, Colin? Você tá quase me assustando. Aconteceu alguma coisa com a sua mãe?” – perguntou lembrando que dois dias atrás a mãe dele estava com problemas de estresse.
“Não, não é nada comigo, nem com a minha família, não...” – respondeu então mordeu a boca demonstrando que não sabia muito bem por onde começar, até que falou logo de qualquer jeito como sempre fazia. – “Eu quero saber porque você tá se fazendo de doida e se afastando de mim”.
Se fosse em outra situação, a ruiva riria do modo espontâneo do amigo falar o que sentia, mas agora a pergunta somente ligou os alarmes vermelhos dentro de sua cabeça, de modo que mais uma vez seu piloto automático tomou controle.
Ela recomeçou a dançar parecendo extremamente concentrada então falou. – “Eu não sei porque você tá falando isso, Colin... Nós estamos juntos como sempre estivemos”.
“Se conversar sobre o tempo ou falar dos professores é a base de uma amizade pra você eu também não sei por que estou falando isso. Aliás, eu não sei porque me importo em continuar tentando ser seu amigo. Do jeito que você está agindo simplesmente não vale à pena”.
Ao ouvir palavras duras da pessoa que sempre esteve lá pra animá-la, e mais magoada por saber que era a verdade, Gina parou novamente de dançar querendo acalmar o amigo, mas mesmo assim ainda não queria sair do terreno seguro da negação, então, depois de desligar o som com o controle remoto que estava no chão, ela se aproximou dele. – “Colin, você é o meu melhor amigo, eu sempre falei tudo pra você...” – falou em tom baixo sabendo que não tinha respondido nada com essa frase.
“Falava, Gina. Você falava tudo pra mim! Porque agora quando você não está falando de algo sem importância, você mente. Mente na minha cara todos os dias desde o acidente e não parece se importar”.
“Isso não é verdade, Colin”.
“É sim! Você mente que está tudo bem, inventa desculpas pra sentar longe de mim na única aula que a gente ficava conversando o tempo todo, mente sobre o por quê de todos os dias você usar maquiagem do jeito que eu ensinei, pra disfarçar que você esteve chorando a noite toda! Eu te conheço, miga... a gente é amigo desde o jardim de infância... Você que estava do meu lado quando eu percebi que gostava de garotos e nunca me julgou. Você que tava lá quando eu fui falar pros meus pais... Eu que sempre estive com você quando você tava sofrendo por qualquer coisa...” – falava sem parar em um tom cada vez mais baixo com lágrimas nos olhos demonstrando que ela e Draco não haviam sido os únicos a chegar ao limite. – “Eu só quero saber porque você ta se afastando de mim agora. Tá tão difícil que você não acha que eu vou ser amigo o suficiente? E pelo amor de Deus não fala nada sobre não ter o que estar difícil porque senão eu vou arrancar meu cabelo agora de tanta agonia!”.
Ela sorriu tristemente ao ouvir a última parte então murmurou. - “Tá insuportável, na verdade..” – ela mordeu a boca. – “Mas se eu falar com você vai ser tudo verdade... e dói, Colin. Por favor não vamos falar sobre isso...”.
“Miga, você vai ficar doente se continuar vivendo em negação. Você tá se matando desse jeito e obrigando todo mundo que te ama e vê através dessa fachada de felicidade a assistir de longe sem poder fazer nada”.
“Não, Colin, eu não quero, eu não posso falar disso com você, eu juro que estou desabafando com outra pessoa. Por favor...”.
“É o Chris?”.
Ela só acenou que sim com a cabeça cabisbaixa. – “Ele... ele não estava envolvido em tudo, entende? E ele também está sofrendo porque não pode ficar com a garota que ele gosta então a gente meio que se apóia um no outro e continua andando...” – falou ainda cabisbaixa então levantou o olhar triste pro amigo. – “Por favor, não me faz enfrentar isso agora...Você sempre esteve lá comigo e estava durante aquela semana antes do acidente.. você é a prova de que tudo aconteceu, mas era tudo mentira. Era tudo mentira... e eu não quero pensar nisso.. eu não quero pensar em nada”.
“Miga...” – murmurou Colin a olhando com apreensão, ainda atordoado com o sofrimento da amiga, muito além do que ele havia imaginado, mas ela continuou falando.
“Eu nunca chorei conversando com o Chris... parece que eu to contando a história de outra pessoa. Eu falo sobre o que eu estou sentindo e ele me dá conselhos... mas parece que é outra pessoa e dói menos, Colin. Nem sozinha eu me deixo pensar sobre tudo que aconteceu e às vezes eu até me convenço de que foi tudo um pesadelo. Quando você me pergunta o que eu tenho e eu respondo que não é nada é porque eu me convenci disso naquele momento, então eu não tô mentindo, entende?” – perguntou quase implorando para que o amigo entendesse então uma lágrima finalmente escapou no instante em que ele a abraçou. Ela respirou um pouco aproveitando o conforto do amigo então continuou.- “Quando eu falei que tinha que sentar perto da Clarissa durante as aulas de biologia pra ajudá-la, era verdade. Eu soube que ela estava indo mal naquela matéria e me ofereci pra ajudar porque eu sabia que se sentasse perto de você eu ia acabar tendo que lembrar da verdade. Eu não tava mentindo... Eu me ofereci pra ajudá-la só pra não ter que inventar um desculpa pra ficar longe de você, mas eu nunca menti pra você, Colin, eu juro”.
Ao sentir Gina começar a tremer porque estava chorando, Colin começou a embalar a amiga no abraço murmurando que estava tudo bem e que ele entendia, mas nada podia acalmá-la agora que começara a falar, o que provou que, apesar dela dizer que não queria pensar ou encarar tudo que tinha acontecido, era isso que ela precisava e queria.
“Eu sentia tanto a sua falta, Colin! E todas as vezes que você me olhava com tristeza e decepção eu me forçava a não ver, porque era difícil ficar sozinha, mas eu achava que se eu não falasse com você sobre o que eu tava sentindo como eu sempre fiz, aí tudo ia parar de doer tanto depois de um tempo. Desculpa, me desculpa, eu não fiz por mal...”.
“Tá tudo bem, miga.. tá tudo bem...shhhhhh.. vai ficar tudo bem...”.
“Me ajuda, Colin... me ajuda, por favor.. dói tanto” – chorou e em pouco tempo estavam abraçados sentados no chão, quando ela finalmente enfrentou tudo que tinha tentado fugir desde que acordara depois do acidente. – “Por que ele não gosta de mim, Colin? Porque ele não me ama, eu não quero ser a irmã dele!” – soluçou no ombro do loirinho que somente olhava pra frente a embalando e pensando o que poderia fazer pra ajudá-la.
“Ele errou naquele dia, mas ele te ama também, Gina. Ele tá tão mal quanto você, só você não vê”.
“Não, era tudo mentira, era tudo mentira... eu vi... naquele dia no shopping... eu vi, Colin, eu vi!”.
Não querendo afastar Gina mais uma vez, Colin decidiu que iria convencê-la aos poucos. Tinha conseguido fazer com que ela parasse de fugir e, por agora, já era o suficiente.
Ficaram mais uma hora ali, com Colin sentado no chão e Gina deitada no seu colo, deixando as lágrimas cair livremente enquanto desabafava tudo que estava sentindo. Ele passava a mão nos cabelos ruivos sem parar mostrando que estava lá e Gina sentiu-se menos triste pela primeira vez desde o acidente porque sabia que se caísse tinha seu melhor amigo pra ajudá-la a se levantar.
Quando a ruiva já havia se calado há alguns minutos, Colin falou em um tom cauteloso meio tingido com humor. – “Miga... eu já tava começando a achar mesmo que você tava doida” – riu um pouco. –“Ainda bem que não, porque se a gente tivesse que usar aquela camisa de força sem corzinha ia ser o Ó” – brincou deixando claro que até no hospício ele estaria com ela.
“Mas a gente ia paralisar nas colunas sociais quando saísse da recuperação, Colin! Imagina! Jovens herdeiros se recuperam de estresse emocional...”.
Sorrindo feliz por finalmente ter a amiga de volta pra falar besteira como esta ele respondeu. – “Arrasou! A gente ia viver de close durante um mês e depois a gente podia escrever uma autobiografia que ia tocar os sentimentos da Mariah, e aí a gente ia...”
fefyssssssssssssssssssss

Surpreendentemente, essa foi a primeira noite vagamente tranqüila de Gina desde que vira Draco com outra menina no shopping, mas, como na vida real as coisas nunca são muito fáceis, é óbvio que a ruiva teve que acordar cedo no outro dia pra ir pra aula e agora, numa de suas únicas tardes livres, estava na biblioteca do colégio estudando pra prova de química que ocorreria dali a dois dias.
Como o colégio tinha um período certo de provas para todas as séries, a biblioteca não era o local mais calmo do campus, sendo que vários grupos de estudos revisavam a matéria indicada para a prova.
Ao terminar a lista de exercícios sem maiores dificuldades, Gina esfregou os olhos e depois soltou o cabelo para voltar a amarrá-lo em um rabo de cavalo quando deixou seu olhar cair sobre Draco, que lia o livro de geografia parecendo concentrado. Pela primeira vez se deixou notar como ele estava abatido e parecendo usar o mesmo uniforme pela décima vez sem passá-lo.
Qualquer um veria que, depois de ser obrigada por Colin a enfrentar tudo que sentia, Gina começou a sofrer menos ao olhar pro irmão de criação. Como se seu olhar não fosse mais algo errado como era até a noite anterior. Sofria, obviamente, por saber que ainda o amava e não era correspondida, mas pelo menos havia alguma aceitação sobre tudo o que havia acontecido dentro do seu coração.
Olhava-o com uma intensidade tão grande, deixando-se perceber que algo de muito errado se passava com o loiro e quase se permitindo relembrar o momento em que estava nos braços dele, quando ele levantou o olhar fazendo com que os dois colidissem.
Sentiu um frio no estômago com o contato sutil de suas almas, pois não deixava que isto acontecesse de verdade desde o momento em que fora decepcionada, então, quando os olhos dele pareciam gritar pra ela algo que não conseguia ou não queria entender, Gina desviou o olhar com a respiração alterada e o coração disparado, encontrando o olhar venenoso e cheio de malícia acusadora de uma de suas companheiras do Fawkes: Pansy Parkinson.
Olhando pra baixo rapidamente, Gina ainda sentia a acusação de Pansy sobre si, então, depois de murmurar pra Colin que já havia acabado a lista e que precisava ir pra casa, a ruiva se levantou fazendo o mínimo de barulho possível e saiu do recinto.
Meu Deus... agora eu tô ficando neurótica. Não tinha por que ficar em pânico só porque aquela maluca tava me olhando. Ela me olhou do mesmo jeito ontem durante o ensaio da Fawkes! Não tem como ela saber de nada só porque me viu olhando pro Draco. – pensou ainda com a respiração anormal enquanto deixava os livros no armário e separava apenas a cópia do caderno da menina mais estudiosa da sala, quando um flash do olhar de Draco invadiu sua mente. Sorriu inconscientemente por sentir-se mais perto do loiro do que se sentira no último mês, então brigou consigo mesma por sua fraqueza lembrando-se de que, apesar de ter concordado que fugir do que sentia não era a solução, isso não significava que Draco gostava dela.
Nada havia mudado, ela só tinha parado de mentir pra si mesma que nada havia acontecido.
A ruiva fechou a porta do armário respirando resignada, se arrependendo de ter saído da biblioteca já que nem mesmo tinha carona pra voltar pra casa àquela hora, pois todos ainda estavam nos grupos de estudo, então viu Pansy andando pelo corredor na sua direção.
Não querendo acreditar que a outra estava ali pra falar com ela, Gina virou e começou a caminhar com intuito de ir pro estacionamento do colégio e talvez ler o resumo que tinha nas mãos, quando a voz irritante da outra cheerleader lhe chamou.
“Vai fugir de novo, Virgínia?”.
Gina ficou estática, se amaldiçoando por ser tão óbvia sobre o nervosismo que sentia, então se obrigou a incorporar seu eu artístico mais uma vez e virou com uma expressão confusa para Pansy. – “Tá maluca, Pansy? Fugir de quê?” – perguntou rezando, mas sem muita esperança de ser atendida, pra que a garota houvesse esquecido que a tinha flagrado olhando para Draco.
A outra riu de um jeito debochado mexendo a cabeça em negativo então respondeu. – “De mim, é claro” – respondeu diretamente sem optar por fazer joguinhos de adivinhação.
Levantando a sobrancelha em o que seria uma atuação quase perfeita de deboche para rivalizar com a outra, Gina falou. – “E você pode, por favor, me dizer por quê eu fugiria de você? Por que eu realmente não consigo imaginar”.
“Ai, ai... Tem gente que não se enxerga mesmo” – Pansy murmurou pra si mesma usando o mesmo tom. – “Você deve achar que todos à sua volta são idiotas, não é, Gina?”.
“Não... só alguns, Pansy” – respondeu com um sorriso folgado causando certa irritação na outra.
“Há há, muito engraçado, mas eu lamento em informar que não é todo mundo que fica cego diante dessa cara patética de santa que você tem”.
Recusando-se a acreditar que Pansy desconfiava de seus sentimentos ou a sucumbir ao nervosismo horroroso que começava a sentir, Gina olhou pro relógio então voltou a olhar pra garota à sua frente. – “Tá bom, querida, eu vou me esforçar pra não subestimar as pessoas à minha volta de agora em diante, ok? Agora me dá licença que eu tenho que mais o que fazer além de brincar de ler entrelinhas com você” – falou se virando e conseguindo irritar ainda mais Pansy que, quando viu que Gina estava indo embora, resolveu abandonar essa tentativa frustrada de intimidação e falar diretamente o que queria.
“Eu sei muito bem o que está acontecendo entre você e o Draco”.
“O-oquê?” – perguntou hesitando um pouco de início, dando munição o suficiente pra rival.
“Hummm... isso mesmo que você ouviu. Eu sei muito bem o que você quer e imagino o que aconteceu entre vocês” – falou sentindo prazer em ver Gina ficar pálida a cada sílaba. – “Também posso imaginar o quanto o Draco deve estar doente de nojo de saber que a irmãzinha que ele tanto protegia na verdade é uma pervertida...”.
“...” – ficou em silêncio aterrorizada por ter certeza de que Pansy sabia de tudo.
“Eu tenho certeza que é essa decepção que deixou o Draco assim tão deprimido...” – fez um biquinho nojento como se quisesse chorar então continuou. – “Tadinho do meu gatinho”.
“Não aconteceu nada” – falou com os dentes cerrados de raiva ao ouvir calada a outra garota xingá-la e fazê-la se sentir imoral, mas sabia que era melhor ficar quieta. É.. quem deve, teme.
“Ah, aconteceu sim pra ele estar desequilibrado como está. Nem basquete ele está jogando direito... não respeita mais o técnico...” – falou olhando pro lado como se tentasse lembrar de todas as características estranhas do loiro no último mês então voltou a olhar pra Gina com um sorriso venenoso. – “O que você fez, hein? Tentou agarrá-lo? Talvez chantageá-lo pra se agarrar com você ou você falaria pros seus pais que ele tinha tentado te beijar a força? Me diz, vai... eu to me consumindo de curiosidade pra saber o que essa sua mente desequilibrada submeteu o Draco. Tadinho... você o deixou doente de desgosto com a sua perversão. Vai na igreja, garota. Aliás, não vai não, porque até o padre vai te olhar como a coisa nojenta que você é por desejar um irmão”.
Mas ele não é meu irmão, ele não pode ter nojo do mim... por favor Deus, me perdoa.. não deixa ele ter nojo de mim, por favor, não deixa.- “Por que você ta fazendo isso? Ele não quer nada com você também” – falou já confessando tudo com a última palavra, pois sabia que era inútil negar, e sucumbindo à humilhação que estava sentindo a cada palavra agressiva de Pansy. Seus olhos ardiam com as lágrimas que lutavam pra se libertar e Gina abaixou a cabeça com vergonha de si mesma, se sentindo suja pelas palavras da outra.
“Pra te atormentar, por quê mais seria? Eu não sou idiota de me iludir que tenho uma chance com ele, mas pelo menos te humilhar eu posso. Ah, e outra coisinha, se você quiser que isso seja nossosegredinho é melhor você sair da Fawkes” – falou saindo logo depois com um sorriso satisfeito nos lábios, mas sabendo que sua ameaça não tinha o menor valor porque ela não seria maluca de colocar em risco os contratos do seu pai com as empresas Malfoy fazendo acusações que ninguém acreditaria.
Fefysssssssssssssssssssssssss

Dirigia com atenção pelas ruas, com medo de repetir o que tinha feito no dia anterior, então decidiu dar uma passada na mansão Malfoy pra talvez colocar seus pensamentos em ordem depois do que acontecera naquela tarde.
Alguma coisa havia mudado com certeza, porque Gina finalmente se deixara olhar nos olhos de verdade como fizeram tantas vezes durante a semana que tinha mudado tudo entre eles. O que teria acontecido? Perguntava-se o loiro. Será que ele estava sendo precipitado novamente em achar que ela estava gostando do francês idiota?
Olhou para o cigarro com vontade de ter sua companhia antes mesmo de chegar em casa, mas desistiu da idéia ao lembrar que não tinha vestido sua jaqueta quando correu de dentro do colégio pro carro e morreria de frio se abrisse a janela.
Já tinha passado frio durante toda a madrugada e, como não tinha ficado doente ainda, não estava disposto a correr o risco. Ficar passando mal de gripe com certeza não ajudaria em nada na depressão que sentia constantemente...
Quando se aproximou dos portões, Draco pôde avistar alguém ali parado e, ao perceber que aquele alguém se tratava da única dona dos seus pensamentos, vestida apenas com o suéter fino com o emblema de Hogwarts por cima do uniforme do colégio, o loiro parou o carro no acostamento e saltou do carro com sua jaqueta na mão.
“Gina, o que você tá fazendo aqui e ainda sem usar um casaco?” – perguntou preocupado, já colocando a jaqueta nos ombros dela sem prestar atenção no fato de que ele também não estava usando um casaco mais quente.
“Terra do nunca...” – murmurou a ruiva ainda sem olhar pra ele vendo a fumacinha do ar condensando a cada palavra que falava. O início do inverno realmente havia chegado mais cedo e mais forte.
“O quê?” – perguntou ele sem entender, querendo se aproximar pra abraçá-la e assim aquecê-la, mas sabendo que se o fizesse a ruiva se afastaria. – “Vem, Gina... entra dentro do carro, eu vou te levar pra casa. Você deve estar congelando” – falou pegando no braço dela pra levá-la, mas Gina se negou a sair dali. – “Gina...”.
“Não... eu sou suja... eu sou suja” – murmurou e finalmente olhou para Draco permitindo que ele visse seus olhos vermelhos e inchados com lagrimas escorrendo, além de seus lábios arroxeados de frio.
Jogando a precaução para o alto, mas rezando pra que ela não o empurrasse, Draco pegou no seu rosto com uma expressão preocupada então beijou sua testa e a abraçou, apertando-a contra si.
Gina ficou imóvel e apenas deixou que ele o fizesse como se ela fosse uma boneca. Nada naquele momento a convenceria de que precisava sair de perto dele.. Porque, naquele instante, Draco era a única coisa que ela queria, a única coisa que ela precisava, independente do que ele sentia. Ela simplesmente não conseguia ser forte o suficiente pra colocar os sentimentos dele antes dos seus e, se ele queria confortá-la, ela não se negaria mesmo sabendo que não era digna.
“Você tá gelada. Deus, vamos entrar agora, você precisa se esquentar. Vem...” – falou Draco sem prestar atenção no que ela falava e a levou pra dentro do carro.
Em menos de cinco minutos ele estacionou o carro em frente à porta principal, achou a chave e entrou na casa, levando a irmã de criação pelos salões sem um móvel sequer, até uma das salas que ele mais gostava quando era criança por ter a maior lareira. Tudo era sempre deixado em ordem pelos empregados que vinham apenas uma vez por semana na mansão desde que ela havia parado de ser alugada seis meses atrás.
Gina apenas ficou sentada no chão olhando pra baixo, se encolhendo na jaqueta a procura de calor e deixando suas lágrimas caírem, até que Draco conseguiu acender o fogo e veio pra perto dela. Ele tirou o próprio suéter fino com o emblema de Hogwarts então tirou a jaqueta dos ombros dela com cuidado pra não assustá-la, pois sabia que não podia deixá-la ficar com a roupa debaixo que estava úmida por causa do tempo.
Ela pareceu ficar mais atenta, percebendo o que ele fazia, então se levantou lentamente e desabotoou a blusa ficando de costas pra ele. Ao ver que ela estava de costas esperando pelo suéter já que sua blusa já estava no chão, Draco se forçou a parar de olhar, sabendo que seria errado se aproveitar de uma situação como esta, então somente ofereceu o suéter que havia tirado, respeitando certa distância de onde ela estava.
Ela colocou o suéter e virou novamente com um sorriso mínimo nos lábios, sem olhar realmente para ele, como se estivesse envergonhada, então se sentou de novo no chão, sendo copiada pelo irmão de criação.
“O que aconteceu, Gina? Porque você não esperou pra voltar pra casa ou pelo menos usou um casaco mais quente? Você ia acabar passando mal andando num frio desses só com um suéter” – falou o loiro sem parar, preocupado com o que poderia ter causado essa reação em Gina.
“Nada... eu... eu não quero falar... não quero...” – parou de falar e olhou pra ele. – “É mentira, não é, Draco? É mentira... me fala que é mentira?” – falou parecendo sentir dor a cada palavra e de fato sentia, pois lembrava das coisas que Pansy havia dito e não queria acreditar que Draco pudesse vê-la como algo nojento agora que sabia do que ela sentia por ele.
“O quê, Gina? Me fala...” – perguntou ficando mais apreensivo a cada segundo, lembrando da última vez que Gina parecera transtornada com algo e dando graças a Deus por perceber que agora a situação não era tão séria. Queria se aproximar, mas tinha medo, então, quando já abria a boca pra perguntar o que havia acontecido novamente, Gina pediu o que o loiro sonhava em ouvir a cada segundo do dia.
“Me abraça? Só me abraça, por favor?” – pediu Gina com uma voz meiga e chorosa, demonstrando o quanto estava vulnerável, e Draco percebeu nitidamente que ela parecia achar que ele se negaria a fazê-lo.
And I'd give up forever to touch you
Cause I know that you feel me somehow
You're the closest to heaven that I'll ever be
And I don't want to go home right now
Ele se aproximou com precaução, receando que se parasse de olhá-la ela desistiria de deixá-lo chegar perto, então quando finalmente a envolveu nos braços sob o calor aconchegante da lareira ele sorriu ao sentir a ruivinha subir no seu colo e se aconchegar se aproximando do calor do seu corpo.
Já nem mesmo queria perguntar novamente o que havia acontecido pra deixá-la assim, odiando demais a possibilidade de acabar com o momento que tanto queria que acontecesse, então apenas a olhou sob a luz tímida e amarelada vinda do fogo, que aos poucos devolveu a cor rubra aos lábios de Gina e lhe enxugou as lágrimas.
And all I can taste is this moment
And all I can breathe is your life
Cause sooner or later it's over
I just don't want to miss you tonight
And I don't want the world to see me
Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am
Ele nunca saberia dizer se horas ou minutos se passaram porque pela primeira vez em muito tempo ele não viu cada tortuoso segundo passar. Com ela em seus braços até o tempo perdia a importância, então Draco apenas a olhou sentindo sua respiração calma, sentindo-se a salvo do mundo e de todo tormento que sentia longe dela, já odiando o instante em que tivesse que deixar de abraçá-la por saber que a hora irremediavelmente chegaria.
And you can't fight the tears that ain't coming
Or the moment of truth in your lies
When everything seems like the movies
Yeah you bleed just to know your alive
Ele a apertou contra si dizendo pros seus sentidos memorizarem o que era tê-la nos braços. Memorizarem seu cheiro, a maciez da sua pele, a beleza delicada e natural da sua face contrastando com o quão fofo era seu narizinho arrebitado. Draco passou a parte de trás da mão pelo rosto de Gina, com medo de tirá-la do sono que parecia estar lhe dando algum sossego, e não resistiu em aproximar seu rosto em um momento roubado como lembrava de ter feito em uma madrugada em que acordara ao lado de Gina. Seus lábios a tocaram em um beijo inocente e logo depois ele se envergonhou da própria fraqueza, sabendo que estava aproveitando de um momento de inconsciência de Gina pra fazer algo que ela já havia demonstrado que não queria mais dele, mas uma parte de si ainda tinha esperanças.
E foi somente esse fio de esperança que permitiu que ele murmurasse o que precisava tanto, enquanto a olhava em reverência sob a luz da lareira no salão vazio da mansão Malfoy, mais uma vez longe dos olhos da sociedade em um mundo que somente eles dois existiam. – “Me perdoa, Gina, por favor, me perdoa... Eu te amo...”.
And I don't want the world to see me
Cause I don't think that they'd understand
When everything's made to be broken
I just want you to know who I am
I just want you to know who I am
I just want you to know who I am
I just want you to know who I am
I just want you to know who I am
Fefysssssssssssssssssssss

“Ah dão, bãe.. eu dão agüendo essa soba..” – falou Gina pegando mais um lenço da caixinha depois de ter jogado outro fora, com o nariz completamente entupido depois da aventura dela no dia anterior e fazendo cara feia ao ver a mãe se aproximar com uma sopa cheia de legumes pra ela almoçar. – “Ze eu zoubezze gue a zenhora ia be obrigar a cober essa soba eu tinha ido fazer a brova! Atchiiim! Ai, bãe... binha gabeça” – gemeu ela com a mão na cabeça como fazia todas as vezes que espirrava.
Fazendo uma cara de reprovação misturada com peninha da filha, Molly colocou a bandeja com a sopa em cima do criado mudo perto da cama. – “Eu queria ver a senhorita fazendo prova com o nariz escorrendo desse jeito. Era capaz do professor te dar uma “A” só pra você parar de espirrar”.
“Ó aí, dá bendo? Eu já ia sair do lucro! Dirar “A” sem brecisar vazer a brova!” – respondeu brincando e fazendo a mãe rir.
“Pode desistir, Gina, você não vai me fazer desistir de fazer você comer e...” – foi interrompida por uma batida na porta então virou, assim como Gina, vendo Christoffer com um buquê de flores ali parado.
Ze vozê be zoar borgue eu dô valando azzim vozê vai ver...” – falou brincalhona em francês, o que ficou mais engraçado ainda e ele somente riu dela.
“Gina!” – Molly chamou a atenção da filha então se virou pro visitante. – “Como vai, querido?”.
“Estou bem, Molly, a minha tia mandou lembranças” – falou com um sotaque engraçado e errando algumas palavras, mas Molly pôde entendê-lo.
“Diga a ela que eu mandei um abraço” – falou sorrindo então Christoffer olhou pra Gina com um sorriso meio sem graça e a ruivinha sabia que ele estava rezando pra mãe dela não falar mais nada porque ele provavelmente não entenderia ou não saberia responder. – “Me faz o favor de obrigar essa teimosa a comer a sopa, sim? Eu vou deixá-los á sós pra conversarem em francês”.
Ele sorriu parecendo não ter entendido muito bem então Gina o socorreu. – “Ela dizze gue vai deixar a gende gonverzar em vranzês.” ¬– ¬disse o olhando de forma acusadora quando o viu tentando segurar o riso então virou pra mãe. – “Dá, bãe, bode deijar gue eu bou cober dudo”.
No momento que Molly saiu do quarto, Gina começou a contar tudo que havia acontecido desde a hora em que ele a deixara em casa, desde as pazes com Colin às acusações de Pansy e o momento com Draco na Mansão Malfoy.
Após um tempo, e várias colheradas da sopa horrorosa que ela nem mesmo conseguia sentir o gosto por causa da gripe, Gina finalmente começou a se mostrar menos relutante em acreditar no que Colin e Christoffer diziam sobre Draco retornar seus sentimentos. Mas ele pode ter cuidado de mim só porque ainda se preocupa comigo como um irmão...- pensava ao mesmo tempo em que queria acreditar nos amigos.
No fim Chris percebeu que ainda era cedo pra ruiva ter coragem de ter esperanças novamente, mas ficou feliz pela amiga ao perceber que ela começava a ficar menos infeliz. Pelo menos ela parecia menos infeliz até lembrar que precisava estudar história pra prova do outro dia, já que não poderia faltar essa sabendo que as provas substitutivas do Prof. Binns eram bem piores que as dadas em semana de prova.
Fefysssssssssssssssssssssssss

Sorrindo ao lembrar de Gina quentinha nos seus braços e o jeito meigo dela quando ele a estava levando pra casa no dia anterior, Draco dirigiu até em casa praticamente ignorando Ron no banco de passageiros por ter se acostumado com a ausência do ruivo, que ultimamente só voltava pra casa de carona com Hermione.
Lembrou-se da voz fanhosa de Gina por causa do nariz entupido então uma pequena risada escapou de sua boca lhe ganhando um olhar confuso de Ron, que simplesmente colocou o I-Pod no ouvido e virou pra olhar a estrada ouvindo as músicas que só ele gostava.
Eles rapidamente chegaram em casa e Draco mais do que depressa subiu as escadas, não agüentando mais esperar nem um segundo sequer pra falar com Gina tudo que sentia e como queria fazê-la feliz sem se importar com o que os outros pensassem. Queria dizer que gritaria pra todo mundo ouvir que ele a amava e que viveria o resto dos seus dias pra demonstrar isto e também o quanto estava arrependido pela própria burrice no dia do shopping. Queria explicar por que havia feito aquilo e também por que nada mais daquilo importava, mas quando abriu a porta do quarto dela, com a liberdade que sempre teve até um tempo atrás, seu mundo mais uma vez desmoronou.
“Bera, Chris.. ezza éboca é o ilubidismo?” – perguntou Gina com uma expressão confusa, olhando Christoffer que, por sua vez, olhava o livro, mas antes que ele a respondesse ela olhou pra Draco parado na porta. – “Oi...” – falou meio sem graça, sem saber como agir com o loiro depois do que tinha feito na tarde anterior.
“Oi..” – respondeu Draco, olhando pra ela e pro Chris sentados na cama com vários livros espalhados, parecendo tão perdido sobre o modo como agir quanto Gina.
Chris se levantou com um sorriso camarada, por entender mais ou menos o que devia estar passando na cabeça de Draco, mas sabendo que não havia nada que ele pudesse fazer, então lhe ofereceu a mão como sempre fazia.
Draco respondeu o gesto, então falou olhando pro chão que só tinha ido lá ver como ela estava e que, agora que vira que ela estava em boa companhia, ele ia deixá-los sozinhos. Ele a olhou mais uma vez antes de se virar e sair do quarto e, desta vez, quem vira pela primeira vez a decepção nos olhos de quem amava fora Gina.
Fefysssssssssssssssssssssssss

Virou-se na cama pela décima vez à procura de uma posição que não deixasse seu nariz parecendo ainda mais entupido, pensando em obter o maior bem estar possível já que sabia que esta seria mais uma noite sem sono.
Sentia-se confusa sobre tudo que havia acontecido, como se mais de um mês não tivesse se passado desde aquele dia, pois somente agora Gina se permitia realmente pensar no que havia se passado. Lembrando-se da decepção que viu nos olhos de Draco quando a viu com Christoffer e também das palavras do próprio amigo e de Colin sobre Draco amá-la de verdade e não como uma irmã, a ruiva virou de novo na cama querendo sucumbir à tentação de achar que ainda tinha chances de ser feliz.
Uma parte de si que parecia odiá-la, entretanto, chamou sua atenção ao fato de que Draco ainda não havia chegado em casa e estava provavelmente com outra garota como tinha feito antes do acidente pra esquecer que tinha feito qualquer coisa com Gina uma noite antes.
Era isso... a Pansy só podia estar certa e Draco não sabia mais como agir perto dela porque a achava doente, ou senão já teria tentado se aproximar durante esse tempo todo. Principalmente depois da tarde anterior em que Gina deixou que ele chegasse perto. Mas ele só havia cuidado dela como faria com uma irmã...
A terceira lágrima da noite escorreu pelo rosto de Gina, pingando no travesseiro pra se juntar com as duas primeiras e esperar pelas próximas que com certeza viriam, então, lembrando-se que tudo era somente uma mentira, a ruiva fechou os olhos e começou a rezar como fazia quando era criança, na esperança de ser ouvida como tinha sido quando pediu pra conseguir andar de patins.
Ela conseguiu alcançar um sono intranqüilo, sem saber que o motivo de sua tristeza na verdade estava em um estado deplorável de bebedeira e depressão, perdido entre sonhos nos quais era levado de volta ao dia do baile, e pesadelos com o dia do acidente ou dela sorrindo pra outra pessoa.
Fefysssssssssssssssssssss

Iluminado pela mesma lareira que o aqueceu na tarde anterior enquanto ele insistia em ficar sentado do mesmo jeito incômodo e sentindo dor nas costas, somente pra não acordar Gina, Draco agora podia ser confundido com um bêbado incoerente que às vezes pede esmola na rua.
Bebia pra entorpecer seus sentimentos e finalmente passar alguns minutos sem se sentir só, sem sentir a culpa que o comia vivo por nunca ter pedido o perdão que precisava... sem sentir dor. A dor de saber que Gina não o amava. A tarde anterior não significara nada pra ruiva enquanto para ele havia significado o mundo em um segundo.
A tinha nos braços precisando dele pra se aquecer e ficar confortável. Ela precisava dele naquele instante, ele sabia disso, então o que havia mudado em tão pouco tempo? Por que ela estava com o mané francês?
Lembrou-se instantaneamente da decepção nos olhos de Gina então soube que a ruiva nunca mais confiaria nele depois daquilo e entendeu que ao menos isso ela tinha com Christoffer.
Riu pateticamente ao mesmo tempo em que chorou de um jeito que se envergonharia se estivesse sóbrio, então se deitou no chão, derrubando a garrafa de vinho e, sem dar atenção ao fato de que o líquido de cor púrpura começava a manchar sua roupa adormeceu lembrando-se do seu anjo chegando no baile e sorrindo pra ele... só pra ele.
Rapidamente sua expressão se tornou de angústia e o herdeiro Malfoy poderia ser encontrado, por qualquer um que pensasse em procurá-lo na mansão de sua família, deitado e bêbado, com o braço em cima de uma poça de vinho tinto, murmurando sem parar pedidos de desculpas e eu te amos, mas somente uma palavra todos entenderiam em meio a tudo aquilo. - “Gina...”.
Continua?

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