Sozinhos
Dourado.. uma cascata de azul anil e prateado...vermelho.. todas as cores se juntando apenas pra se separarem novamente em um milhão de estrelas cintilantes que desapareceram na noite...
Ai.. – pensou Gina olhando pro show de fogos se findando, sentindo o corpo quente de Draco a abraçar. – Será que ele aceitou tudo agora? E se tiver sido só um momento de fraqueza? - Fechando os olhos pra afastar aquele pensamento e se forçar a continuar naquela noite de sonhos Gina apertou a mão de Draco inconscientemente em busca de algum tipo de certeza de que não havia sido tudo sonho.
Recebeu a resposta prontamente ao sentir o rosto do loiro se aconchegar no seu ombro acariciando sua face com a dele ao mesmo tempo em que o abraço se tornou mais apertado. Não sabia, entretanto, que na verdade Draco fazia o mesmo que ela se obrigando a parar de pensar nas conseqüências do que haviam feito.
Em um segundo a preocupação sobre como agiria agora que seus pais voltaram, passou pela cabeça do loiro, mas mais uma vez ele não deu atenção. Viveria aquela noite até o último segundo que fosse possível e ninguém o obrigaria a abrir mão disso... não agora.. não naquele instante.
Vendo as últimas faíscas perderem vida no céu pra dar espaço às estrelas que eram as únicas com direito de brilhar indefinidamente, Gina sorriu melancolicamente então se virou no abraço de modo a ficar de frente para Draco. – “Acho que se a gente não for logo a mamãe vai ficar preocupada...”. Foi dor que passou pelos olhos dele agora? Ai Deus, por favor não deixa ele se arrepender...
Ele se forçou a sorrir enquanto a deixava sair do abraço, mas ela percebeu que não lhe alcançava aos olhos. – “É... a dona Molly deve estar doida pra mimar os filhotes...”.
As sobrancelhas ruivas se aproximaram em uma expressão de dúvida e apreensão que Gina não conseguiu afastar do tom da sua voz. – “Draco...?”. Você se arrependeu? Você tá com medo? Você... você me ama?
Inocente sobre as milhões de dúvidas não faladas de Gina, Draco apenas pegou novamente na sua mão pequena e sorriu. – “Você é tão linda... tão perfeita”.
Erm... er... ahn... Incapaz de formar um pensamento lógico depois de um elogio cuja simplicidade beirava a inocência de uma criança ao falar a mesma coisa ao ver algo que realmente a maravilhava, Gina apenas sorriu timidamente... e se esqueceu de perceber o tom melancólico e de despedida que Draco usara. Como se já sofresse por ter que perder algo que tanto queria.
A melodia calma da música que soava no carro em tudo contrastava com a confusão de sentimentos que se perdia na estrada a cada quilômetro que eles se aproximavam de casa. A casa que ambos moravam... como irmãos...
Como podia ter acontecido tudo aquilo? Como ele deixou que chegasse àquele ponto? O que seu pai falaria? Voltaria algum dia a olhá-lo com orgulho? Carinho? Como um filho? Esses eram os pensamentos de Draco ao olhar a estrada ligeiramente iluminada por alguns poucos postes sorteados naquela área. O que poderia fazer? Se ficassem juntos o que a opinião maldosa da comunidade faria com Gina? A chamariam de golpista por ele ser o herdeiro da fortuna Malfoy? Oportunista? Vagabunda...? Não... ele não podia deixar isso acontecer... Mas... não podia perdê-la... não agora que finalmente havia descoberto que a amava... Não... precisava dar um jeito. O que a ruiva faria se houvessem obstáculos demais pra eles ficarem juntos? Sentiu uma facada de ciúmes ao pensar que até aquele instante nada indicava que o que ela sentia por ele era o mesmo que ele sentia. Ela estava apaixonada por um tal de Michael, não era? Mas... aquela semana havia significado o quê pra ruiva? Não... ele não podia condená-la a tanto sofrimento sendo que ela já até tinha sentimentos por outra pessoa... Tinha que deixá-la ir... Admitiu aquele pensamento no mesmo momento em que avistou a rua em que moravam e uma única coisa o impediu de chorar como fizera no enterro dos pais, pois mais uma vez perdia quem amava sem poder lutar contra isso: O desespero.
Parou o carro sem pensar duas vezes, tirando a ruiva de sua própria reveria com a freada brusca, então procurou consolo no seu único refúgio. Gina.
Olhava as árvores passando em sombra pelos lados da estrada que separava o terreno afastado da Embaixada da cidade. As árvores se transformaram em prédios e outdoors em segundos, mas nada disso foi visto pela ruiva já que estava distante demais em pensamentos pra prestar atenção o suficiente pra ver que em pouco tempo estaria em casa.
Um olhar rápido foi o suficiente pra demonstrar que a expressão pensativa de Draco não havia mudado. Sua mão esquecida na marcha, enquanto o loiro guiava o carro apenas com a outra, chamava o toque de Gina, mas a ruiva não tinha coragem de fazê-lo. E o medo da rejeição, aumentando a cada segundo, em nada ajudava a diminuir a apreensão de Gina e a sombra de lágrima, que teimava em ficar nos seus olhos, atrapalhava sua visão.
Medo... Ele se arrependeu... ele se arrependeu... ai meu Deus... me ajuda. Foi tudo rápido demais e agora ele vai se afastar. ¬Olhou mais uma vez pra mão de Draco então fechou os olhos voltando a se virar pra janela. Por favor, pega na minha mão... por favor, não me deixa, Draco... por favor...eu não posso mais viver sem você... eu já tentei esquecer e não dá... o que eu vou fazer se você me deixar? ¬Pensava já se deixando envolver pela tristeza quando uma freada brusca de Draco a fez sair desse círculo de pensamentos.
“O que acont..?” – começou a perguntar, mas se sentiu incapaz de continuar a falar ao sentir o toque do irmão de criação no seu rosto.
Olhos amendoados se encontraram com os prateados e Gina pôde ver solidão, tristeza e desespero. A dúvida, o desejo... o amor... tudo transparente pra ruiva ver no milésimo de segundo que Draco precisou pra se aproximar e tocar seus lábios quentes novamente com os dela sem precisar de permissão. Nada do sonho e ternura que compartilharam no primeiro beijo poderia ser encontrado ali, porque naquele beijo ela pôde sentir o desespero dele, apesar de não entender o por quê desse sentimento.
Lento e sôfrego, ele acariciou a face de Gina ao mesmo tempo em que sua outra mão a trazia mais perto pela cintura, apesar da posição em que estavam no carro atrapalhar. Seus lábios deslizaram sobre os dela, parando pra mordê-los de leve somente pra começar sua sedução novamente passando a língua levemente onde tinha mordido num pedido desnecessário de desculpas.
Nenhum desejava se separar, mas em algum momento o beijo se findou com Draco ainda acariciando o rosto de Gina lhe dando pequenos beijos, procurando o consolo que somente achava nela. – “Gina...”.
Se deixando envolver por Draco e pelo momento, Gina precisou se lembrar de abrir os olhos. – “Draco... o que... que foi...?”.
“Nada...” – baixou a cabeça como se estivesse sem graça pelo que havia feito. – “Nossos pais já devem estar esperando...” – falou em voz baixa, em um tom de derrota.
Bom... por esse beijo ele não se arrependeu... ufa, eu ia morrer se isso acontecesse... vai ver ele tá nervoso sobre a reação do papai e da mamãe... – pensou Gina ao mesmo tempo em que dava um pequeno sorriso e concordava com o que ele havia falado.
Em pé na sacada e apoiada no corrimão, às três e meia da manhã, Gina olhava perdida para o céu com um semblante confuso. Algo como felicidade triste? Ou talvez alegria confusa mesclada com uma pontinha de medo? Talvez dúvida misturada com êxtase... Talvez Freud explicasse... de algum modo...
Uma brisa leve a fez se arrepiar de frio e, inconscientemente, a ruiva lembrou mais uma vez do toque quente da mão de Draco que teve o mesmo resultado. Sorriu e, sem perceber, levou a mão aos lábios que apenas algumas horas antes se revelaram em desejo ao sentir Draco mordiscá-los. Ai meu Deoooooooossss... foi perfeito... eu TENHO que contar tudo pro Colin! ¬¬– pensou sorrindo, então este falhou um pouco ao relembrar da reação de Draco ao rever os pais. Humpf... me beija, me faz pensar que estou sonhando só pra depois ignorar a minha existência? Droga... porque ele fez isso, hein? – pensou, revivendo o exato momento em que Draco largou sua mão como se ela queimasse ao ouvir a voz de Molly o chamando para um abraço demonstrando que eles haviam percebido que Draco e Gina tinham chegado.
“Droga...” – murmurou ao mesmo tempo em que saía da sacada tendo decidido tentar dormir um pouco antes de tentar entender as atitudes contraditórias do irmão de criação.
Ao encostar a cabeça no travesseiro, entretanto, se deu conta de outro detalhe que até então havia lhe escapado: Draco não tinha vindo lhe dizer boa noite como sempre fazia até antes mesmo da relação entre eles mudar tão drasticamente. Isso sim era um péssimo sinal, já que haviam chegado em casa a quase duas horas e todos com certeza estariam dormindo, deixando o caminho livre para Draco se ele preferisse não ser descoberto.
Não... vai ver ele tava cansado... é isso, ele tava cansado e aí pegou no sono! – tentou se convencer, mas o pensamento falhou em acalmá-la, pois, conhecendo Draco como ela conhecia e tendo visto sua expressão ao dizer boa noite para todos, Gina sabia que se ele fechasse os olhos por cinco minutos durante a noite inteira já seria muito.
Assim sendo, a ruiva se viu saindo do quarto pisando na ponta dos pés na direção do quarto do loiro querendo desesperadamente acreditar que nada de errado estava acontecendo e que tudo daria certo. É só o choque... ele viu o papai e a mamãe e agora está confuso... mas vai ficar tudo bem assim que a gente conversar. – Andou mais alguns passos finalmente chegando ao seu destino. Ele sabe que eu vou vir aqui e ficou me esperando... é isso... bobão... ¬– Pensou ao tocar na maçaneta, então sentiu seu corpo congelar ao notar que já não importava o que ela pensasse, porque sua noite de sonho realmente havia terminado em pesadelo.
A porta estava trancada.
A amava...
... mas precisava aceitar que nunca poderiam ficar juntos como ele queria... não podia condená-la dessa maneira. Porque se ele quisesse ficar com ela com certeza teria que lutar contra a família inteira... a cidade inteira... Isso ele faria de bom grado independentemente das conseqüências para si, mas... e Gina? Ele não tinha família, mas não tinha o direito de fazer Gina brigar com a dela. Não tinha o direito de causar intriga na família que o tinha aceitado, criado... amado... Uma família que ele amava também...
Socou o travesseiro por ter se deixado levar pela falsa impressão de liberdade que aquela semana lhe imprimira. Por que tanto altruísmo assim? Fora criado por Molly, mas antes de tudo era filho de Lucius Malfoy! Por que não ser apenas um pouco egoísta se isso significasse ter a mulher que amava sempre ao seu lado? Exatamente por isso: a amava... e não podia a obrigar a sofrer com ele... ainda mais gostando de uma outra pessoa também...
Às vezes tinha vontade de descobrir quem era esse tal de Michael e obrigá-lo a sair da cidade... ou melhor, do planeta.
Draco olhou no relógio pela milionésima vez na última meia hora e ficou surpreso com a própria teimosia em não ir até o quarto de Gina pra dar boa noite como sempre fazia, ou ao menos destrancar a porta sabendo que a qualquer momento a ruiva viria até ele sentindo sua falta. Mas precisava acabar com aquela insanidade antes que a ruiva se machucasse de verdade. Precisava que ela visse que não seria feliz com ele e fosse ficar com alguém que pudesse amá-la como ela merecia. Dar a casinha com cerca branca, filhos... e até dois cachorros... sem olhares acusadores... Nunca com ele isso seria possível...
Sentiu sua garganta fechar diante desse pensamento, mas mais uma vez se forçou a ser forte e colocar a felicidade de Gina antes da sua, então, um barulhinho na porta o retirou desse círculo vicioso de pensamentos, trazendo-o pra realidade de que naquele instante estava magoando a pessoa mais importante de sua vida.
Mas no futuro seria melhor assim para ela.
Sentou na cama com os braços apoiados nos joelhos e olhava desconsolado a maçaneta se mexer mostrando que sua ruivinha estava do lado de fora tentando entrar pra ficar perto dele e ele lhe havia negado isso.
Alguns segundos deste inferno acabaram com a resolução de Draco e todos os pensamentos racionais o deixaram. Ele simplesmente precisava ficar com ela e que se danasse o que precisasse ser feito pra que isso acontecesse. Pensando assim, ele sorriu esperançoso e se aproximou da porta, mas no momento em que tocou na chave, a maçaneta parou de se mexer demonstrando que Gina havia desistido dele.
Perdendo o sorriso, e também a esperança momentânea, ele baixou a cabeça e se obrigou a voltar pra cama.
Era melhor assim...
“... tudo tão liiiiindo, Gina, você precisava ver...” – falava Molly sobre a viagem que fizera não tendo chance de contar suas aventuras para a filha já que chegara apenas algumas horas antes do baile da noite anterior.
“Hum.. que bom, mãe...” – comentou Gina, tentando realmente dar atenção pra mãe que estava tão animada, sem conseguir, entretanto, tirar seus pensamentos de uma certo loiro da família. Dava graças a Deus por ter a desculpa de ter dormido tarde para os olhos inchados ou senão sua mãe certamente desconfiaria que ela só havia dormido após chorar até a exaustão.
“...Gina? Filha, você tá me ouvindo...?”.
Gina viu os olhos preocupados da mãe bem perto de si percebendo então que havia mais uma vez se distraído pensando na noite anterior. Como é que pode caber tanta felicidade e tanto sofrimento em uma noite só? – “Hum... nada mãe... eu só to um pouco cansada ainda... você sabe que eu sou dorminhoca nos finais de semana” – falou sorrindo fracamente na esperança de enrolar a mãe, que agora tinha a atenção totalmente direcionada na filha.
“Você andou chorando, filha? Está com algum problema? Pode contar pra mamãe...” – falou tudo de uma vez, fazendo carinho no rosto de Gina procurando os olhos da filha. Seus olhos então ficaram de um jeito desconfiado. – “Os gêmeos aprontaram alguma coisa pra te deixar sem graça de novo?”.
“Não, mamy... não é nada... sério...” – respondeu Gina, sorrindo um pouco da idéia da mãe sobre o que poderia ser seu problema. Molly já abria a boca novamente pra tentar arrancar da filha qual era o problema quando Arthur, Ron, e os gêmeos chegaram suados, seguidos de Harry e Sirius no mesmo estado.
Olhando para o grupo com uma reprovação risonha, Molly se aproximou do marido lhe dando um pequeno beijo e murmurando pra todos ouvirem. – “Vocês têm sorte que a Josita ainda vai limpar a cozinha depois do almoço, senão vocês iam ter que fazer uma faxina nisso aqui”.
O grupo se perdeu em risos e resmungos não acompanhados apenas por Arthur Weasley, que parecia extremamente confuso sobre a reação do grupo ao ouvir o nome faxina, e Gina, que mais uma vez ficara quieta pensando.
Antes que a ruiva perguntasse o que lhe passara na cabeça ao ver o grupo entrar, Molly lhe poupou o serviço. – “Cadê o Draco? Ele não participou do torneio com vocês?”.
“Ele disse que não tava a fim de jogar tênis hoje...” – respondeu Ron começando a olhar as panelas no fogão. – “Até deixou eu jogar com a raquete nova dele”.
Alheia à resposta da mãe ao que Ron tinha dito, Gina ficou com uma expressão confusa e ligeiramente amedrontada, então se levantou da mesa anunciando que almoçaria mais tarde quando tivesse fome e saiu da cozinha evitando o olhar preocupado de Harry e de sua mãe.
“Neeem, Colin... se eu andar na multidão hoje eu acho que mato um...” – resmungou Gina assim que ouviu a sugestão do amigo para se alegrar um pouco no final da tarde. – “E eu vou acabar estragando o bom humor de todo mundo, porque pelo visto ontem na festa todo mundo se deu bem menos eu...” – falou amarga, se referindo ao início do namoro de Harry e ao início de confusão amorosa de Colin, sentindo vergonha de si mesma no momento que terminou a frase, mas sabendo que Colin entenderia.
“Ei! Você também se deu bem, miga! Se deu MUITO bem pelo que você descreveu...”.
“Humrum... só pra depois levar o fora sem palavras do século!” – choramingou.
“Mas miga... vocês nem conversaram nem nada... imagina só como deve estar sendo pra ele ficar na mesma casa que você e os seus pais que, por um acaso, são as pessoas que ele considera como pais também!”.
“Eu sei que a gente ainda não conversou... e eu sei que ele deve estar confuso, Colin, mas não faz mais fácil de aceitar... o que eu faço agora?”.
“Eu não sei o que você deve fazer miga... desculpa... mas eu sei o que você NÃO deve fazer, e é ficar aí emburrada no quarto sofrendo sozinha! Se você quiser eu vou aí e a gente fica numa sala de bate papo na Internet, com um nome bem tosco falando besteira com os coroas solitários, quer?”.
Rindo um pouco ao mesmo tempo que dava graças a Deus por ter um amigo assim Gina respondeu. – “Nah... brigada... Coroas solitários são a sua praia...”.
“Humpf... você que sabe. Mas miga... vamos ao cinema como eu tinha falado antes? Ver uma comédia, sei lá. A gente fala com o Harry e a Hermione... faz tempo que não saímos só nós quatro...”.
Ainda não muito animada em sair, mas ainda menos feliz com o prospecto de ficar em casa sofrendo e pensando milhões de vezes na mesma coisa ela respondeu. – “É... pode ser...”.
Andando morosamente no shopping ao lado de Colin e Hermione, Gina via as vitrines passarem uma atrás da outra sem nenhum atrativo, enquanto sorria sem vontade pra algo que o amigo falava ou concordava que uma blusinha que Hermione havia apontado era muito fofa. Nada, entretanto, tinha muita graça aos olhos da ruiva, que apenas conseguia lembrar da rejeição que sentira ao encontrar o quarto do Draco fechado para ela.
Seu coração disparou ao ver um garoto loiro passando e, por milésimos de segundo, ter certeza de que era o Draco, mas sacudiu a cabeça se obrigando a parar de olhar naquela determinada direção. Ele não está aqui, Gina, toma jeito! Que droga... agora até miragem eu fico vendo pra tudo quanto é lado– pensou, revirando os olhos, fazendo uma careta pra si mesma, pra logo depois dar de cara com dois pares de olhos preocupados fixos em si.
“Gina...?” – falou Hermione, questionando de leve se Gina estava com algum problema enquanto Colin somente olhava com uma expressão triste que indicava que ele sabia que a amiga não tinha se distraído com o passeio como ele esperava.
“Ahn? Ah... eu me distraí... pensei que tinha visto uma coisa...”.
“Hehe” – Colin forçou uma risada. – “Acontece... erm... tá boa essa mesa aqui? Eu to louco pra comer McDonalds...” – falou, já se aproximando da mesa que estava apontando, querendo chamar a atenção de Gina pra algo que ela adorava: comer besteira.
“Pode ser... eu ainda to meio sem fome...” – respondeu se forçando mais uma vez a sorrir, então percebeu algo. – “Ué, cadê o Harry?”.
“Foi buscar a Paty na entrada do shopping, você não viu quando ele falou?” – respondeu Hermione.
“É... eu devo ter me distraído...” – respondeu a ruiva, então continuou falando num esforço de não estragar a tarde dos amigos. – “Até que enfim ele ficaram juntos, né? Eu achei que a Paty ia conseguir enrolar o Harry até o final do ano!”.
Tanto Colin quanto Hermione podiam ver o esforço de Gina em deixar tudo normal então concordaram, entre olhares, de não forçá-la a falar e somente seguir a conversa como a ruiva queria.
Depois de uma hora, todos estavam satisfeitos com a quantidade de comida não-saudável ingerida e conversavam sobre os jogos interescolares que estavam se aproximando. Estranhamente, ninguém percebeu que, apesar do assunto não ter nada a ver com romances proibidos, era algo que instantaneamente lembrou a caçula Weasley do seu irmão de criação.
A gafe se tornou óbvia, entretanto, no momento em que Gina pediu licença com um sorriso triste, falando que ia lavar as mãos. Todos perceberam também que os McNuggets que a ruivinha havia pedido estavam praticamente intocados.
No momento em que sua boca tocou os lábios receptivos à sua frente, Draco foi obrigado a aceitar que seu dia inteiro havia sido uma mentira. Mentira tingida tão profundamente de um sentimento de culpa e a certeza do erro, que o loiro se forçou a fechar os olhos e tentar se enganar por mais alguns segundos que fossem, de que aquele era o único jeito de acabar com a insensatez que vivia desde que fora obrigado a perceber seus sentimentos em relação à irmã de criação.
Uma noite em claro e um dia inteiro convencendo-se de que este era o único jeito, não foram suficientes pra lhe dar qualquer esperança de que seria capaz de esquecer Gina. E agora... com um beijo tão contrário ao que vivera na noite anterior, soube que fizera a maior besteira de sua vida ao trancar Gina do lado de fora do seu quarto e que, por mais que tentasse fugir, nada que fizesse mudaria o fato de que a amava.
Era tudo tão errado. A maciez daquela boca era errada... o toque de suas mãos era errado... a respiração que sentia tocar sua face era errada... Cinza... tudo tão sem cor, demonstrando para ele o quão errado era ele estar ali, a beijar uma garota com quem havia falado apenas meia dúzia de vezes quando saía à noite, que Draco precisou se controlar para não apenas empurrar aquele corpo para longe do seu.
Afastou-se do beijo abruptamente querendo apenas voltar pra casa e pedir perdão pelo que fizera. Queria confessar tudo que estava sentindo pra única pessoa que sempre o entendia e poder ter esperanças de ficar junto dela... Precisava contar pra Gina que a amava e que mesmo que a ruiva gostasse de outra pessoa, nunca ninguém conseguiria fazê-la feliz como ela merecia além dele... tinha que ver seu sorriso e sentir o corpo dela contra o seu quando a abraçasse.
Seu segundo de felicidade em finalmente aceitar o que sentia, no entanto, se transformou em um dos piores momentos de sua vida, pois ao abrir os olhos, sentiu seu coração parar ao ver os olhos amendoados, que para ele eram sinônimos de ternura e amor, transbordando de lágrimas, tristeza, decepção, rancor e desilusão.
Será que ele vai fingir que nada aconteceu? Gente... será que eu fiquei doida mesmo e tive alucinações durante essa semana todinha? Não... porque se for assim a Mione, o Harry e o Colin também estão doidos juntos comigo... – pensava caminhando no mesmo estado distraído e deprimido em que acompanhara os amigos desde que haviam saído de casa. – O que eu disse que ia fazer quando saí da mesa mesmo? – se perguntou descendo na escada rolante quando avistou a frente da Hagen Daz – Hum... midnight cookies! Sorvete definitivamente tem mais chance de me animar do que McNuggets... - pensou caminhando na direção da sorveteria com a sombra de um sorriso no rosto.
Qualquer um da família Weasley que a visse tomando sorvete na casquinha mais confeitada da Hagen Daz poderia visualizar uma menininha de seis anos ruiva, com marcas de lágrimas no rosto, olhos vermelhos e o joelho machucado, e lembrar que somente sorvete conseguia fazer Gina parar de chorar quando ela caía. E considerando que é da Gina que estamos falando, digamos que ela tomava muuuitos sorvetes...
A ruiva mexeu a cabeça para o lado com o intuito de tirar a franja dos olhos enquanto mastigava um pedaço da casquinha, quando mais uma vez pensou ter visto Draco passando. – Hum...a cada minuto a minha teoria de que eu estou doida se confirma mais... mas dessa vez eu tenho quase certeza de que era ele... e também nada impede que ele esteja no shopping, né? Quer dizer... essa não é uma possibilidade tão difícil... – pensava lambendo a colherzinha e indo na direção em que pensava ter visto Draco.
Se arrependeu, todavia, no mesmo instante em que teve certeza de que Draco realmente estava no shopping. Não... nãonãonãonão.
Incapaz de se mexer... Não...Incapaz de respirar... Não, por favor... não faz isso, Draco... Incapaz de falar... incapaz de pensar...
Gina ficou simplesmente imóvel e boquiaberta sentindo apenas os batimentos erráticos do seu coração e as gotas amargas de tristeza começarem a embaçar sua visão, enquanto olhava a pessoa que ela amava aproximando o rosto de outra pessoa e a beijando lentamente. Era tudo mentira... era tudo mentira... A dor que sentia se tornou quase impossível quando viu a mão, que outrora acariciava seu rosto, fazer o mesmo na cintura daquela outra menina, os olhos, que outrora pareceram transbordar de amor por ela, fechados em concentração ao mesmo tempo em que o beijo pareceu se intensificar.
Por um tempo que Gina nunca conseguiria contar, ela assistiu a Draco trair tudo que haviam vivido como se não significasse nada e assim, menos de um minuto se tornou uma eternidade de mágoa para a ruiva até que, tão rápido como teve início, o beijo se findou.
Olhos proibidos se encontraram como acontecera apenas na noite anterior e somente este contato foi capaz de tirar Gina do seu estado de choque.
“Gina...” – Draco murmurou com os olhos surpresos quase em uma súplica para que não estivesse vendo a ruiva ali naquele momento, pois sabia que, agora sim, tinha colocado tudo a perder. Largou então a menina, quase a deixando cair no chão, e olhou para Gina como se pedisse para que ela o perdoasse ou ao menos não fugisse antes que ele pudesse lhe falar toda a verdade, mas ao ver a decepção nos seus olhos soube que qualquer esperança seria em vão.
Era tudo mentira... – Gina pensou largando a casquinha que até aquele momento segurava, não percebendo que o sorvete derretera sobre seus dedos, então saiu correndo dali sem saber ao certo pra onde iria. Deus... era tudo mentira...
Draco já começava a dar o primeiro passo atrás de Gina quando a menina que havia beijado o segurou pelo braço.
“Peraí...Você tem namorada?” – perguntou a menina de costas para o lugar que Gina estava a poucos minutos, não tendo tido a chance de ver de quem se tratava. Em outra situação Draco daria graças a Deus por ela não ter visto Gina ou entendido o nome que ele falara, mas estava muito surpreso e sem esperanças pra notar que tivera alguma sorte naquele momento.
Sem dar atenção à pergunta, Draco apenas tirou a mão dela de si e recomeçou a andar quando foi mais uma vez impedido de seguir a ruiva. As perguntas e acusações que esperava, entretanto, não vieram, mas a ardência no lado esquerdo do seu rosto demonstrou que o tapa que ele merecia receber havia sido dado, não pela mão de Gina, e sim da garota que havia usado pra tentar esquecer a ruiva.
Sem dar atenção a este fato, Draco apenas saiu de lá à procura de Gina, mas não antes de pensar que o tapa era pouco frente ao que ele havia feito.
Draco fechou o celular e olhou para os lados soltando a respiração em frustração.
Ela não o atendia... e também não estava em nenhum lugar que ele havia procurado no shopping. Recomeçou a andar rapidamente entre as lojas após olhar todos os corredores de banheiros e até pedir a algumas mulheres para verem se uma ruiva estava lá dentro.
E nada foi suficiente para encontrar Gina.
Quando já desistira de procurá-la no shopping, Draco viu um casal conhecido que certamente estava ali a acompanhando e poderia ajudá-lo a procurá-la. Se ele tivesse sorte eles poderiam até mesmo ter falado com a ruiva antes dela ir embora.
O loiro correu na direção deles ainda segurando o celular e, sem nem mesmo falar oi para Colin, ele falou com Hermione. – “Vocês viram a Gina? Ela tava aqui com vocês?”.
“Tava sim... mas tem uns vinte minutos que ela saiu dizendo que ia lavar as mãos e a gente saiu da praça de alimentação agora pra procurá-la” – respondeu a garota, mas percebeu que mais da metade do que havia dito não chegara aos ouvidos de Draco já que o loiro ainda olhava freneticamente para os lados. – “O que foi, Draco? Você viu a Gina? Aconteceu alguma coisa?”.
“Não” – respondeu de súbito sabendo que não poderia explicar o que havia acontecido sem atrair perguntas sobre o que magoara Gina no fato dele beijar outra garota. Para Draco todos os viam como irmãos. – “Não aconteceu nada... mas... mas eu tenho que encontrá-la, você têm alguma idéia de onde ela possa estar?”.
“Ué... ela já devia ter voltado...” – Hermione começou a responder, mas Colin, perdendo a paciência com aquela conversa que nada dizia, a interrompeu.
“Fala logo o que aconteceu com a Gina, Draco... o que foi que você fez pra estar assim tão preocupado com ela?” – perguntou já nervoso por sentir que algo grande devia ter acontecido pra provocar essa reação no loiro.
“Não dá pra explicar... vocês não iam entender...” – respondeu Draco mais frustrado a cada segundo que passava. – “Eu... eu preciso achá-la. Vocês podem me ajudar?” – pediu em súplica de um modo que nenhum dos dois haviam visto e foi nesse momento que Colin teve certeza de que não dava mais pra continuar com tudo em segredo.
“Conta logo o que aconteceu, Draco” – pediu Hermione, com a mesma suspeita de Colin, então Harry chegou com Paty.
“Ela não tá no banheiro não, Mione. A Paty olhou todos e...” – falou Harry, então percebendo a presença de Draco e a expressão de todos, ele continuou. – “O que aconteceu?”.
“Nada! Não aconteceu nada, agora dá pra vocês me ajudarem a encontrar a Gina ou tá difícil? Porque se estiver me fala logo que eu procuro sozinho”.
“Calma, Draco, é lógico que a gente vai te ajudar, só que não dá pra entender porque você está assim tão nervoso...” – falou Mione, tentando acalmá-lo sem perceber que outro do grupo estava ficando tão nervoso quanto o loiro.
“Me diz agora o que você fez pra Gina! E pode parar com essa merda de que nada aconteceu porque todo mundo aqui sabe o que tá rolando entre vocês! Desembucha porque eu quero saber o que você pode ter feito de pior em comparação ao que você fez ontem de madrugada!”.
Com os olhos arregalados diante da explosão de Colin, Draco precisou de alguns segundos pra recobrar a fala depois do susto de saber que o grupo inteiro sabia de tudo de proibido que eles haviam feito. – “Eu... ela... ela me viu com outra garota ainda há pouco” – falou em um murmúrio e baixou a cabeça com vergonha do que havia feito, principalmente porque tinha certeza de que ninguém entenderia seus motivos.
Todos ficaram boquiabertos e chocados com a revelação de Draco até que Paty é que teve a primeira reação. – “Você fez O QUÊ?”.
Colin saiu andando balançando a cabeça de incredulidade. – “Puta que pariu, eu não acredito nisso”– murmurou pra si mesmo, imaginando o que a amiga estava passando naquele momento então virou-se novamente e andou praticamente avançando na direção de Draco. – “O quê que te possuiu pra fazer uma merda dessas? Você tem algum prazer sádico em fazer a Gina sofrer esses anos todos?”.
“Calma, Colin” – Mione tentou remediar. – “Ele não tinha como saber que a Gina gostava dele” – falou Mione, sem ouvir direito que Harry acabara de falar, com uma expressão preocupada, que ia perguntar aos seguranças se haviam visto Gina saindo.
“Não tinha como saber, Hermione?” – falou olhando pra amiga. – “Só se ele fosse idiota pra não perceber que a Gina é louca por ele desde os treze anos! Mas nããããooo, ele estava muito preocupado em galinhar e olhar pro próprio umbigo pra perceber que magoava a Gina todos os dias”.
“Não é assim Colin...” – murmurou Hermione olhando a expressão perdida e cheia de remorso de Draco.
“Não é assim, Mione? Não é assim? Você e o Harry só ficaram próximos de verdade da Gina há pouco tempo! Fui EU que a ouvi chorando todos esses anos achando que não estava a altura dele! Fui EU que tive que me virar do avesso pra fazê-la rir depois que o Draco não chegava uma noite pra dormir em casa! EU que consolei e até fiz chantagem emocional sobre a nossa amizadepra ela parar de se auto-depreciar o tempo todo! E agora que tudo parece dar certo ele faz isso?” – virou pro Draco e continuou. – “Por que você fez isso, hein? Deixou ela se iludir de que você gostava dela pra fazer algo assim depois?”.
“Eu... não é assim... eu tava confuso... é errado, mas eu... eu...” – murmurou, tentando se explicar e se convencer de que tudo que Colin havia falado não era verdade. Ele não tinha feito Gina sofrer tanto assim sem perceber... não era possível... Ela o amava? Mas... e o Michael? – “Se ela me ama quem é Michael então? Eu tava tentando fugir do que eu sentia pra ela poder ter uma vida normal com esse outro carinha que ela estava apaixonada”.
“Que outro cara? Tá doido?” – respondeu Colin com incredulidade não vendo a cara de Hermione que, de repente, arregalou os olhos.
“Por que você acha que ela gosta de um Michael?” – perguntou a garota já sabendo a resposta.
“Não adianta disfarçar, Hermione, eu ouvi tudo quando ela tava falando o quanto tava louca por um tal de Michael!”.
“Ai...” – Hermione falou colocando a mão na cabeça. – “Michael é o nome que ela chamava você pra se alguém escutasse não soubesse de nada...”.
“Mentira...” – murmurou Draco após alguns segundos com o olhar apreensivo, percebendo que o que havia feito na verdade era bem pior do que ele imaginava.
Vendo o estado de Draco, Colin voltou a falar – “É... tá vendo o tamanho da besteira que você fez, né? Espero que esteja bem arrependido, porque se acontecer alguma coisa com a Gina a culpa vai ser sua”.
“Colin!” – falou Hermione. – “Não tinha como o Draco saber de nada. Tá todo mundo nervoso, mas não adianta ficar aqui falando coisas que você vai se arrepender mais tarde!” – falou então, sem dar atenção a Colin, que ainda resmungava que era bom o Draco rezar pra não acontecer nada com a Gina, ela virou ansiosa quando viu Harry e Paty correndo na direção deles. – “E aí? Alguém viu a Gina?”.
O casal pegou um pouco de ar então Harry negou com a cabeça numa maneira de dizer que as notícias não eram boas.
“Fala logo, Harry!” – exclamou Draco.
“O segurança que eu conversei não tinha visto nada, mas perguntou no rádio e o cara que estava na ala sul disse que viu uma ruiva sair correndo, chorando...” – falou de uma vez então precisou pegar ar novamente.
“E ele disse que tentou seguir e gritou por ela...” - falou Paty pelo namorado – “... mas ela saiu correndo entre os carros e ele a perdeu de vista” – continuou, então mordeu a boca em apreensão ao ver as expressões chocadas à sua frente.
Depois de dirigir olhando as ruas perto do shopping e ir á Terra do nunca, além de passar pelo morro onde Draco sabia que Gina gostava de ir pra pensar, o loiro desistiu de procurar pela cidade, deixando esta tarefa pro resto do grupo, ao perceber que à uma hora daquelas Gina já poderia ter chegado em casa.
Estacionou com pressa, vendo que apenas o carro da mãe estava na garagem, então entrou na casa estranhando o quão silenciosa ela estava. Isto o surpreendeu um pouco, pois, mesmo quando os empregados não estavam à noite, a casa nunca era silenciosa se Molly Weasley lá estivesse.
Pensava que tinham descoberto tudo e agora ele seria colocado pra fora de casa por ter seduzido a irmã e depois a magoado... Pensava, lembrando das palavras de acusação de Colin, que tinha acontecido algo com Gina e tiveram que levá-la ao médico... Pensou até que já tinham ido pra um hotel ou algo parecido não querendo olhar mais pra cara dele, mas, não dando atenção aos próprios medos, ele procurou em todos os cômodos da casa, encontrando na cozinha um aviso de que os pais tinham ido visitar a casa dos Lupin agora que Tonks havia saído da maternidade, então se obrigou a parar de adiar a realidade e subir as escadas ao encontro de Gina, pois ele sabia que se ela estivesse em casa estaria no seu quarto.
Cada degrau se mostrou uma tortura na medida em que o levava pra mais perto do sofrimento que ele mesmo havia causado. Ele simplesmente sabia que encontraria Gina dali a alguns metros e precisaria ver nos seus olhos as acusações que ele sabia ser culpado.
Não sabia que andava silenciosamente, numa esperança inconsciente e inútil de que, se Gina não soubesse que ele estava ali, ele não teria que confrontá-la, mas esses segundos de fuga rapidamente se esvaíram e Draco se encontrou em frente ao quarto dela, da mesma maneira em que a ruiva estivera em frente à sua porta naquela madrugada.
A dela, todavia, não estava trancada.
Sentindo-se pela primeira vez um intruso no quarto em que sempre se sentira amado, Draco olhou cautelosamente e chegou a achar que sua ruiva não estivesse lá. Um soluço vindo do banheiro, entretanto, chamou sua atenção e, sem pensar duas vezes, ele correu na direção do choro e a imagem que viu o deixou estático, se afogando em culpa.
Gina estava encolhida dentro da banheira vazia, olhando para a parede com um olhar desfocado e vazio que parecia perder ainda mais a vida na medida em que as lágrimas escapavam. – “Gina...” – ele murmurou em súplica querendo entrar no recinto, mas, por não saber a reação da ruiva, ficou parado olhando para ela. – “Eu...” – tentou falar, mas nesse momento a ruiva pareceu voltar à realidade.
“Há tanto tempo...” – murmurou mais pra si mesma ainda olhando pro nada. – “...eu esperei... esperei e esperei...” – continuou então olhou pela primeira vez para Draco com tanta dor e decepção. – “Eu te amo tant...” – um soluço a impediu de falar tudo e Draco prendeu a respiração ao saber a verdade que ele precisava ouvir, ao mesmo tempo em que queria fugir, mas antes que ele pudesse abrir a boca pra falar que também a amava ou mesmo pedir desculpas pela própria idiotice, Gina murmurou. – “Me deixa sozinha...”.
O loiro continuou estático sem saber o que fazer ou como explicar tudo que ela havia visto, mas sabia que não podia sair do quarto sem ao menos tentar dizer tudo que sentia de verdade. - “Eu não posso... Você precisa me escutar!”.
Era tudo mentira... “Por favor, Draco... sai daqui” – falou um pouco mais alto fechando os olhos com força como se sentisse dor física naquele instante.
“Ontem eu tava confuso com tudo que a gente tinha feito... Eu... eu achei que você seria mais feliz sem mim” – tentou se explicar olhando, com um nó na garganta, o estado em que havia deixado a mulher que ele amava.
Mentira! Meu Deus, era tudo mentira “Pára...” - choramingou em súplica apertando o próprio peito e soluçou novamente deixando mais lágrimas caírem. – “Tá doendo... por favor, sai”.
“...” - tapou a boca olhando pra ela sem palavras e seu silêncio somente piorou a situação, descontrolando-a.
“Sai, sai, sai, sai, sai” – Gina murmurava chorando como uma criança, fazendo Draco se sentir desesperado para confortá-la até o instante em que ela voltou a olhar pra ele com um ódio repentino, e então, limpando agressivamente as lágrimas que insistiam em cair, ela finalmente perdeu o controle. – “SAI DAQUI!”.
“Gina... por favor, me escuta... descul...”.
“PÁRA!” – ela gritou com as mãos no ouvidos, fechando os olhos como fizera antes e se encolhendo ainda mais contra a parede da banheira. – “Cala a boca, eu não quero mais ouvir!”.
“Gina, pelo amor de Deus, me perdoa” – pediu com a voz falhando pelo nó que parecia ter se instalado na garganta dele.
“CALA A BOCA! Eu juro que se você me pedir desculpas mais uma vez eu nunca mais olho na sua cara!” – falou, se levantando da banheira, ainda transtornada, e saindo dali. Ela parou no meio do quarto respirando fundo, então, ao se virar e ver que Draco a havia seguido, ela falou friamente. – “Eu quero ficar sozinha, sai do meu quarto, por favor? Eu não quero mais te ver na minha frente”.
“Não, você tem que me escutar! Aquela garota não significa nada! Eu tava conf...”.
Ouvir a frase tipicamente machista pra explicar uma traição fez Gina, contraditoriamente, começar a rir, mas, conhecendo a risada alegre de Gina, Draco podia perceber que aquela era carregada apenas de raiva. Ódio da própria sorte de gostar de quem não merecia. Era tudo fingimento...
“Gina... todos vêem a gente como irmãos!” – falou desesperadamente chamando a atenção da ruiva, que parou de rir e o olhou impassível esperando pra ouvir o que ele tinha a dizer – “Eu fiquei em pânico quando vi nossos pais! Eles são NOSSOS pais! Você não entende? Isso tudo está errado! Eu tinha que tentar fugir e deixar você ser feliz!” – praticamente gritou tentando fazê-la entender a confusão que ele sentia em poucas palavras e, contrariando toda lógica, ele se aproximou de Gina e a tocou no ombro. – “Eu juro que eu só tentei fazer o que era melhor pra você”.
Ela olhou pra ele inexpressivamente e, no início, Draco achou que ela tinha começado a entender suas razões, mas quando seus olhos se mostraram cheios de dor e rancor, o loiro se preparou para o pior já sentindo o estômago ficar gelado. – “Não encosta em mim” – falou olhando onde a mão dele a tocava então se levantou. – “Nunca mais encosta em mim” – murmurou, tanto pra ele quanto pra si mesma, então virou pra sair do quarto o deixando pra trás. – “Você acha errado, não é? Então... Nunca mais eu vou te obrigar a encostar um dedo que seja em mim”.
Sem perder um segundo Draco a seguiu. – “Não faz isso... Eu achava errado, mas...”- ele a pegou pelo braço a obrigando a virar e olhar pra ele. – “Agora as coisas mudaram...Eu te amo, me dá outra chance”.
É mentira...
O contato provou ser demais pra ruiva que de um segundo para o outro voltou a perder o controle e começou a puxá-lo para a porta – “Sai daqui, eu já falei que eu quero que você saia daqui” – agora o empurrava pra fora do quarto surda às explicações que Draco lhe dava. – “SOME DAQUI!” – berrou com a respiração quase a falhar então por alguns segundos eles se olharam e ela percebeu pela primeira vez que os olhos dele haviam se enchido de lágrimas não derramadas. Sabendo que ele não a deixaria sozinha e que não agüentaria mais a dor de olhar pra ele, Gina desistiu de tentar fazê-lo ir embora então saiu do quarto correndo.
Draco ficou alguns segundos olhando pra porta sem saber o que fazer, então, sem se preocupar em limpar as lágrimas, saiu atrás de Gina. Tudo a partir desse instante se passou em um borrão aos olhos do loiro que desceu as escadas e saiu de casa sabendo que Gina deveria ter corrido até o portão já que não dirigia. Não pensando em pegar o carro, Draco somente correu pelo caminho que julgava que Gina teria feito, então, quando chegou ao portão aberto a cena que presenciou foi a concretização de seu pior pesadelo.
“GINAAAA!” – berrou impotente frente ao que ocorria, assistindo como se em câmara lenta Gina rolar pela frente do carro escuro e finalmente cair no chão imóvel e inconsciente. Sem nem mesmo pensar em anotar a placa ou identificar o carro ao vê-lo fugindo da cena cantando pneu, Draco correu ao encontro de Gina.
“GINA, Ginaaa! NÃO, PELO AMOR DE DEUS! GINA!” – berrou praticamente se jogando no chão perto de onde a ruiva estava deitada em um ângulo incômodo e, sabendo que não podia movê-la, pois corria o risco de machucá-la ainda mais, ele pegou na sua mão, com suas próprias, trêmulas, e a beijou chorando e rezando ao mesmo tempo pra que ela ficasse bem enquanto ligava pros bombeiros do celular. – “Fica bem Gina, pelo amor de Deus, não me deixa. Não me deixa...” – murmurava freneticamente encostando a mão dela no seu rosto perdendo a realidade entre a visão de Gina e a de sua mãe se despedindo. Podia ver nitidamente a lágrima escorrer pelo rosto alvo de sua mãe se confundindo com a face de Gina, na medida em que se aterrorizava com a idéia de que poderia perder a mulher de sua vida do mesmo modo. – “ATROPELARAM A MINHA NAMORADA, PELO AMOR DE DEUS, ME AJUDA!” – gritou com a voz trêmula e soluçando entre as palavras, enquanto olhava para Gina ainda esperando que a qualquer momento ela acordasse sorrindo e dissesse que tudo ia ficar bem. Estava em tal estado de choque que ao ouvir a atendente perguntando o endereço Draco precisou se esforçar pra lembrar algo. –“...ker Street, Man-mansões A.. eu não sei! EU NÃO SEI! Me ajuda! Gina me perdoa. ME PERDOAAA!” - Chorava e berrava com a voz rouca apertando a mão de Gina contra seu rosto e olhando pra sua face então, quando percebeu que uma pequena poça de sangue começava a se formar embaixo da cabeça da ruiva, ficou completamente em pânico. – “DEUS! ELA TÁ SANGRANDO! A cabeça... tá, TÁ SANGRANDO, pelo amor de Deus, me ajuda!” – gritava no telefone e a essa altura uma multidão já se formava em volta da cena. Ele encostou a cabeça na barriga de Gina chorando copiosamente. – “Me perdoa Gina! ME PERDOAAAA! NÃO ME DEIXA! Acorda, por favooorrr! EU TE AMO! EU TE AMO! Me perdoa! Pelo amor de Deus me PERDOA!” – berrava em culpa que ninguém entendia e tentava abraçar o corpo da ruiva, quando tentaram tirar ele de perto dela. – “NÃO! GINAA! GINA! ME LARGA! GINAAA” – berrou enquanto o afastavam então um senhor de meia idade pegou o telefone que Draco havia largado e, após dar o endereço correto do local, começou a seguir as instruções da atendente dos bombeiros, vendo a pulsação de Gina e se sua respiração estava estável.
Minutos de inferno se passaram até que a ambulância pôde ser ouvida e então, apenas sete minutos e quarenta segundos após a chamada de Draco, Gina foi socorrida.
Não existindo quem o convencesse de deixar Gina ir sozinha na ambulância, Draco a acompanhou rezando orações quem nem mesmo ele sabia que conhecia, enquanto os paramédicos monitoravam seus sinais vitais e lhe aplicavam oxigênio, além de tentar descobrir seu grau de consciência agora que havia acordado oscilando entre um estado de confusão e pré desmaio.
Com rapidez que o loiro nunca saberia perceber, a ambulância parou de se mover e a luz do dia entrou subitamente no automóvel para que, em segundos, um episódio bizarro de ER (Seriado Plantão Médico) se desenvolvesse aos olhos de Draco, ainda em estado de pânico vendo tanto sangue manchar a maca que levava Gina.
“Atropelamento, 16 anos, contusão na cabeça, dificuldade de respiração, pressão 10 por 8 e diminuindo” – começou a falar rapidamente o paramédico que, com a ajuda dos outros, descia a maca da ambulância pra entregá-la ao médico da emergência.
“Consciente?” – perguntou o médico já empurrando a maca juntamente com os paramédicos pra dentro da emergência sem nem mesmo perceber que Draco os acompanhava.
“Consciência oscilante, duas costelas quebradas dificultando a respiração” – respondeu o paramédico parando de empurrar quando o médico acenou afirmativamente com a cabeça que ele poderia ir embora, pois duas enfermeiras haviam chegado.
“DUAS AMBULÂNCIAS COM VÍTIMAS DE INCÊNDIO CHEGANDO EM QUATRO MINUTOS!” – alguém gritou no corredor chamando a atenção do médico que levava Gina.
“Carol, chama o Dr. Mads pra sala 2 e dá 5 ml de drignol pra ela agora” – falou rapidamente pra enfermeira. – “Já pede também a TGP e o tipo sanguíneo. E você...” – virou para um dos estudantes residentes que havia chegado meio assustado. – “Não espera o Dr. Mads pra entubá-la” – comandou, já se virando quando o residente com os olhos arregalados o respondeu.
“Eu nunca fiz esse procedimento sozinho”.
Soltou o ar pensando se deveria ficar ali pra ajudá-lo, mas sabia que ele e Lílian eram os únicos especialistas em queimaduras que estavam de plantão e ela não conseguiria atender a todos sozinha. – “Anny, você consegue orientá-lo?” – perguntou pra outra enfermeira que já tinha muita experiência. Recebendo uma afirmativa como resposta ele virou para o residente com um olhar que lhe passava confiança. – “Tá na hora de colocar em prática o que você aprendeu todos esses anos” – virou pra começar a correr pra porta quando foi agarrado pelos braços.
“Pelo amor de Deus não faz isso! ELA PRECISA DE AJUDA! VOCÊ VIU QUE ELE NÃO SABE FAZER SOZINHO! Se acontecer alguma coisa você vai saber o que é ter um processo pra ACABAR com a sua carreira!” – gritou Draco perdido entre o desespero e o pânico. Precisava fazer qualquer coisa pra que Gina fosse atendida.
“Quem é esse?” – perguntou retoricamente o médico percebendo pela primeira vez que alguém estranho ao corpo médico estava ali.
“Você NÃO VAI SAIR DAQUI enquanto ela não estiver acordada de novo!” – falou o loiro sem dar atenção à pergunta.
Dois seguranças apareceram instantaneamente por causa da voz alterada de Draco e o tiraram bruscamente de perto do médico, que acenou com a cabeça pra que eles não o machucassem. – “Leva ele pra uma das salas de espera e fala com uma das enfermeiras que ele precisa de uma calmante” – falou, indo embora novamente.
“VOLTA AQUI SEU DESGRAÇADO! Pelo amor de Deus ajuda ela! Deus! Gina, me perdoa! – o médico ouviu Draco gritar de longe quando já alcançava a porta de saída encontrando Lílian já esperando do lado de fora.
Vendo a cara cansada do colega ela sorriu com uma expressão idêntica. – “Dia difícil?”.
Sorriu em resposta e esfregou os olhos com a parte de trás da mão demonstrando o cansaço de alguém que não dormia há quase 24 horas. – “Quando que é fácil mesmo?” – respondeu segundos antes da ambulância estacionar abruptamente.
“Queimaduras de terceiro grau nos membros inferiores e de segundo grau nos superiores, inconsciência por intoxicação, pressão 11 por...”.
Os corredores de cor nauseante... Mais e mais casos chegando e o cansaço óbvio no rosto dos médicos... e Draco Malfoy sentado no dito corredor tendo passado há muito tempo do estado de desespero pra entrar num círculo vicioso de culpa.
Sentado em um dos bancos com os cotovelos apoiados nas pernas e as mãos perdidas no cabelo ainda sujo de sangue em algumas partes Draco tinha o olhar perdido no chão.
Olhar estático... lágrimas estáticas... se fosse possível, qualquer um diria que havia também parado de respirar. Não sabiam, entretanto, que seus pensamentos nunca estiveram tão caóticos. Como pudera ser tão cego?
“Se acontecer alguma coisa com a Gina a culpa é sua! Sua... sua... ” – as palavras do Colin ecoavam sem parar na cabeça do loiro. – “Eu que a ouvi chorando todos esses anos achando que não estava a altura dele! Fui EU que tive que me virar do avesso pra fazê-la rir depois que o Draco não chegava uma noite pra dormir em casa!” .
Sangue... Via diversas vezes Gina cair desacordada no chão. – “Minha culpa” – ele pensou incessantemente, mas há muito suas lágrimas se negavam a cair como se o acusassem. Ele não merecia o mínimo conforto que elas ofereceriam.
Flashback
“Ela é diferente das outras, maninha, dá pra saber. Ela não fala nada sobre bens ou fica me enchendo o saco sobre a roupa perfeita pra essa ou aquela festa...” – falava Draco animadamente, com quinze anos, sobre a primeira garota que começara a namorar.
Gina sorriu meio amarelo, sentada na cama dela, se esforçando pra que ele não percebesse nada. – “Você... você está apaixonado por ela, né? Se for de verdade ela vai te fazer feliz...” – respondeu com a voz imperceptivelmente trêmula e um sorriso meigo.
“Eu já estou feliz! Só de ver ela rindo de qualquer besteira que eu falo sem qualquer interesse por trás já me deixa feliz” – respondeu com o maior sorriso e abraçou uma Gina meio relutante falando perto do ouvido dela. – “Eu acho que estou mesmo apaixonado...”.
“Que bom” – murmurou fracamente no abraço. – “Eu estou feliz por você”.
“Porque você é um anjo! Meu anjo! Eu vou morrer de ciúmes quando você gostar de alguém assim, mas prometo que não vou atrapalhar” – Falou com carinho o que realmente sentia, quando sentiu o colo de sua camisa ficar molhado. – “Gina? Gina, o que foi? Você gosta de alguém e a pessoa fez alguma coisa?”.
“Não” – sorriu limpando o rosto docemente. – “Eu só sou besta mesmo. Você não vê que eu choro até em comercial de fralda enxuta? Por que não faria o mesmo na vida real?”.
“Tem certeza?” – perguntou desconfiado. – “Se algum cara esperto te magoar, fala pra mim que eu junto a gangue dos irmãos e dou um jeito nele!” – fala em tom de brincadeira tentando animar a ruiva.
Ela soluçou ao ouvir “gangue dos irmãos” mas ele confundiu com um riso. – “Não vai precisar... esse lance de amor não é pra mim não...”.
Fim do Flashback
Meu Deus... quantas conversas como aquela eles tiveram? Quantas vezes a magoara deliberadamente? E o pior é que a sua proximidade com a ruiva, que era fonte de paz pra ele, era o inferno pra ela.
E mesmo já sabendo dos sentimentos dela, ele a fizera sofrer ainda mais... tudo por covardia? Ele não merecia o perdão que implorava horas atrás.
Decepção. Pela primeira vez havia visto decepção naqueles olhos amendoados. Rancor... raiva... ódio? Ela o odiava agora? - “Deus, por favor, faz tudo ficar bem. Eu te dou a minha vida de bom grado se a Gina não tiver seqüelas” – murmurava entre outras palavras desconexas enquanto uma enxurrada de situações em que a ruiva acordava com algum problema permanente invadiam sua mente. “A culpa é minha” – lembrou a si mesmo e o círculo vicioso de pensamentos mais uma vez iniciou a tortura, mas uma voz conhecida o interrompeu.
“Draco? Draco?” – falou Hermione, enquanto Ron passou direto indo ao encontro dos pais e de Bill, que estavam há algum tempo falando com uma atendente pedindo para entrar no quarto.
“Ele parece nem estar ouvindo, Mione” – falou Harry, ajoelhando-se ao lado da amiga em frente ao loiro.
“Não é melhor chamar um médico pra ele?” – sugeriu Colin ainda de pé, tirando Draco do estado catatônico em que se encontrava.
“Não...” – falou com a voz rouca de tanto que havia berrado horas atrás. – “Eu sou a última pessoa que precisa de ajuda. Foi tudo minha culpa...” – Acrescentou num tom quase inaudível, então levantou o olhar morto na direção de Colin e uma lágrima finalmente se libertou como em uma confissão de culpa fazendo caminho pelo rosto vermelho e inchado do loiro.
“Você sabe que eu não queria dizer aquilo” – falou Colin com a voz baixa.
“Não deixa de ser verdade...” – respondeu Draco, mas foi interrompido.
“Pára com isso, Draco! Você ta agindo como se a Gina estivesse morrendo e não é assim! Sua mãe falou pro Ron que ela já está estável e só vai passar a noite aqui em observação porque a contusão foi na cabeça! Eu sei que foi um choque, Draco, mas já passou...” – Hermione continuou em um tom quase maternal.
“É, Draco... não aconteceu nada de mais grave.” falou Colin se apiedando do estado do outro. – “Já acabou, daqui a pouco nós vamos poder vê-la”.
“Não acabou... ela nunca vai me perdoar” – respondeu ele e todos entenderam que Draco havia percebido todo mal que havia feito sem notar.
O silêncio a partir de então voltou a reinar, pois nenhum deles poderia dizer que ele estava errado.
Um novo dia amanheceu e Draco agradeceu pelo pesadelo, em parte, ter acabado. Passara a noite no hospital com os pais, que não estranharam a atitude sabendo o quanto os dois eram ligados e que havia sido o loiro quem testemunhara o acidente.
Percebiam, todavia, que algo fora do normal havia acontecido pelo estado de Draco, mas pareciam saber que seria inútil perguntar. Naquele momento só queriam ver sua menininha acordada e o resto se resolveria por si só.
Seja lá o que fosse.
Draco havia somente passado em casa pra tomar um banho e trocar de roupa, depois de Molly apontar que Gina não ia gostar de vê-lo coberto do sangue dela mesma no cabelo, e também avisar a todos da casa que a ruiva receberia alta dali a algumas horas.
Às 10:30 da manhã a maior comitiva de ruivos esperava no corredor para entrar no quarto de Gina e poder levá-la dali. O único da família que não pudera vir fora Charlie, que gastara quase metade do salário do mês seguinte em interurbanos da Romênia durante aquela madrugada.
Todos entraram no quarto quando Gina já respirava aliviada por terem tirado o soro do seu braço e os outros aparatos da sua testa e dedo indicador. Cada um da família olhava o xodó da família machucada na cama com um curativo enorme enrolado na cabeça e tiveram que morder a língua pra não oferecer a ela um sorvete.
Percebendo a comoção diante de si, Gina sorriu cautelosamente porque sua cabeça ainda doía. – “Gente, relaxa! Eu já to novinha em folha, não morri não!” – brincou sem esperar a reação que obteve.
Todos, inclusive o irmãozão Bill e os malucos dos gêmeos, caíram no choro.
Sentindo-se mais amada do que nunca, Gina quase esqueceu porque estava correndo desatenta na hora do atropelamento. Uma pessoa quieta com o rosto vermelho e expressão culpada no canto do quarto, contudo, a fez lembrar que o homem que ela amava somente a via como irmã. Não agüentando a tristeza ela virou o rosto.
E não voltou a olhar naquela direção até receber permissão pra ir pra casa.
A indiferença somente confirmou o que Draco achava que aconteceria e ele, sabendo que era o que merecia, aceitou calado não pedindo uma vez sequer o perdão que precisava, pois sabia que não tinha o direito de impor a Gina o fardo de negá-lo.
Ele fazia tudo pra ajudar na recuperação da irmã de criação, assim como todos na casa, mas nunca impôs sua presença por mais de alguns poucos minutos ou demonstrou a tristeza que o comia vivo cada vez que ela se recusava a olhar na sua direção.
E assim uma semana se passou e ambos puderam vislumbrar algum vestígio de normalidade quando a ruiva pôde voltar a freqüentar as aulas no oitavo dia após o acidente.
Ela ainda não conseguia olhar muito na direção de Draco ou falar sobre o assunto com ninguém, nem mesmo Colin, mas aos poucos começou a conseguir tratá-lo com algo além de indiferença, mesmo porque se não o fizesse seus pais desconfiariam que algo muito errado havia acontecido. Ainda tinha raiva por ter sido traída daquela maneira, mas sabia que não podia obrigá-lo a gostar de si então fazia a única coisa que conseguia agüentar: ficava em silêncio se obrigando a não pensar em tudo que havia acontecido.
Assim conseguiria aos poucos tratá-lo como ele queria: Como um irmão.
O rotineiro barulho de almoço reinava na cafeteria, mas parecia apenas uma trilha sonora pra Gina olhando de longe Draco comendo silenciosamente na mesa que sempre ocupava com as pessoas de sempre. A única diferença é que, desde que se tornara cheerleader, a mesa em que sentava com Colin era também muito procurada, já que ruiva nunca se tornara esnobe como várias das suas companheiras de time.
Uma voz amiga, entretanto, após alguns minutos de observação incessante, a interrompeu. – “Miga, pelo amor de Cristo conversa comigo! Eu não agüento mais esse silêncio!” – falou Colin, exasperado. – “Eu não falei nada durante essa semana pra te deixar pensar, mas agora já está passando dos limites!”.
“Conversar sobre o quê, Colin? A gente conversa o dia inteiro!” – respondeu sorrindo como se não entendesse sobre o que ele estava falando.
A olhando com a aquela expressão de ‘Você sabe do que eu estou falando e é bom você parar de se fazer de doida já!’ Colin apenas ficou em silêncio.
“Colin, não há nada pra conversar, eu não to entendendo o porque dessa cara”.
“Ah, não? Então tá, eu vou te ajudar a descobrir: Por que você tá olhando melancólica pra um certo loiro que está olhando pro próprio prato melancólico também, hum?”.
“Tava só preocupada, ué. Ele é meu irmão, não é? E eu vi que ele não tá comendo”.
Com o rosto incrédulo ao ouvir a resposta da amiga ele continuou pressionando. – “E ele não tem motivos pra ficar assim não?”.
“Ué... não que eu saiba. Você sabe?”.
Agora sim Colin estava assustado e, não conseguindo disfarçar, a olhou como se Gina tivesse dito que estava louca pra dar uns amassos no Osama Bin Laden. – “É lógico que ele ta se sentindo culpado, né, miga!”.
“Culpado? Por que?”.
“...” – ficou sem palavras a olhando impaciente.
“Com o meu acidente? Mas a culpa não foi dele, eu que tava distraída”.
“Distraída?” – perguntou com um tom sarcástico que lhe era estranho. – “Com o quê? Por quê?” – pressionou querendo que a ruiva admitisse o que sentia.
“Ai, sei lá, Colin!” – falou se levantando nervosa e Colin percebeu que mais uma vez ela estava fugindo. – “A gente se encontra na sala, ta?” – perguntou e, pela expressão do loirinho, ela percebeu que estava afastando um amigo pela covardia de falar o que estava sentindo, então tentou fazer uma brincadeira. – “Tenho que dar o nome do meu cabeleireiro pra algumas garotas. Se eu soubesse que pra ser popular era só ser atropelada já tinha feito isso antes” – falou com um sorriso tão amarelo quanto o que ganhou como resposta do amigo e saiu do recinto.
Colin suspirou resignado olhando a porta pela qual Gina havia passado então virou na direção de Draco encontrando olhos acinzentados tão mortos quanto no dia em que os vira no hospital.
Ao ver Gina sair, deixando Colin sentado sozinho com seu almoço, Draco começou a ter dúvidas sobre o que seria certo ou errado pra ele fazer em relação a tudo que estavam vivendo. A ruiva não olhava pra ele há exatamente oito dias, mas pedia pra ele passar a jarra de suco pra ela durante o café da manhã... E naquela manhã havia perguntado se podia levar um cd dele emprestado pra gravar pro Colin. Isso era um bom sinal, não era? Pensava Draco, enquanto abria seu armário desesperado por apenas um fio de esperança.
Estava tão perdido em pensamentos que não notou uma sombra tornar impossível ver qual livro ele deveria pegar.
“Vai dar uma de louco também e esperar eu cansar e ir embora?” - falou Colin num tom irritado demonstrando que estava chateado com o que Gina havia feito.
“Hum... foi mal Colin, eu não tinha visto você vindo pra cá” - falou virando pra olhar pro outro.
Colin solta o ar sem paciência. – “Se eu te perguntar se você vai falar com ela você também vai fingir que não sabe do que eu estou falando?”.
“Por quê eu faria isso?” - perguntou o loiro num tom desinteressado e cansado.
“Sei lá... Achei que poderia ser mania de família fugir dos problemas dando uma de louco”.
“A Gina tá fazendo isso?” – perguntou, com a atenção completamente voltada para o outro.
“Ela simplesmente se recusa a falar sobre qualquer coisa relativa ao que aconteceu fingindo que não sabe do que eu estou falando. Se isso não é fugir eu não sei o que é. E você ainda fica aí se mantendo distante com cara de cachorro sem dono”.
“Eu só tô fazendo o que ela quer! Ela nem olha na minha cara, Colin! Se você quiser que eu fique sorrindo que nem o idiota que eu sou depois dessa merda toda quem está ‘dando uma de doido’, como você mesmo disse, é você!” - respondeu Draco, irritado com tudo aquilo, parecendo ter mais vida durante esses segundos do que durante a semana inteira, então respirou fundo e passou a mão nos cabelos, resignado. – “O que você quer que eu faça?”.
“O que você acha?”.
“Ela nem olha na minha direção direito, Colin... Eu vou falar o quê? Desculpa por ser imbecil?”.
“É um começo...”.
“Ela não vai querer me ouvir”.
“Talvez não da primeira vez...” - respondeu Colin, deixando Draco pensativo, então continuou. – “A Gina nunca desistiu de você. Se você desistir fácil assim é porque você não vale a pena e ela está melhor do jeito que está”.
“Você acha que a gente ainda tem chance?”.
“Eu não estaria aqui se não tivesse certeza...”.
“Hoje não dá... Eu tenho que ir no médico” - falou Gina no celular em francês entrando no quarto. – “É, eu quero ver quando vou poder voltar a dançar porque eu fraturei uma costela, mas nem tá doendo mais nem nada” – falou, jogando a bolsa em cima da mesa e começando a tirar o tênis depois de sentar na cama. – “Humrum, me busca amanhã no colégio mesmo, porque se você vier aqui em casa de novo a mamãe vai te empanturrar de comida que nem da primeira vez que você veio me visitar! ” - brincou mexendo num detalhe da colcha da cama, então ficou séria novamente. – “Eu tava mesmo precisando falar com você... Hoje eu discuti com o Colin, porque ele quer conversar sobre o que houve, mas eu não consigo falar com ele sobre isso. É como se ele me trouxesse uma esperança que eu não quero mais ter e isso dói...” - choramingou pro novo amigo então foi até a varanda. – “Eu sei.. eu sei que não dá pra... AHHHHHHHH! Draco, que susto!” - berrou ainda em francês ao dar de cara com ele na varanda como costumava ficar antes do acidente.
“Gina, desculpa! Eu juro que não tava tentando escutar nada!” - falou o loiro em um ato de confissão ao contrário já que ela nem mesmo o havia acusado de tentar ouvir o que falavam. O fato é que, vendo que ela falava em francês, logo soube que Chistoffer estava do outro lado da linha e, detestando o francês desde o momento em que o vira no quarto de Gina fazendo uma visita por causa do acidente, é lógico que estava tentando descobrir o que a ruiva falava com ele em um tom tão manhoso.
Recuperando-se do susto e o olhando de forma acusadora por ele não ter avisado que estava ali desde que ela entrara no recinto, Gina levantou o dedo em um pedido mudo de silêncio então continuou a falar no celular na língua estrangeira. – “É, é ele, depois eu te ligo, tá? Mas amanhã já está combinado. Beijo” - fechou o flip do celular então se virou saindo da varanda e indo na direção da mesa fingindo procurar o carregador. – “Draco você podia dar um sinal de fumaça ou sei lá, deixar uma toalha vermelha na porta avisando da sua presença quando resolver se apropriar do meu quarto sem ser convidado. Eu quase morri de susto e ia trocar de roupa” - falou em um tom dispersivo que seria até considerado normal por uma pessoa mais distraída, mas as entrelinhas ficaram claras pra Draco: Ele não era mais bem vindo ali como sempre fora.
Não se dando por vencido ele se forçou a não pensar no que ela havia acabado de falar então começou. – “Eu queria conversar com você sobre tudo que aconteceu... sobre a gente...”.
“Draco, não” - interrompeu a ruiva. – “Não tem o que falar, não aconteceu nada e está tudo normal como sempre deveria ter sido”.
“Você sabe que isso não é verdade”.
“Mas é o que eu quero que seja” - falou decidida, tendo certeza de que ele estava ali pra tentar reconstruir o que eles tinham antes da loucura que haviam feito no baile, mas isso ela não poderia fazer, sabendo que ele a via apenas como uma irmã. Era hora de parar de sofrer. – “Eu não quero ouvir nada que você tenha pra falar e você vai respeitar isso” - continuou friamente, mas vendo a expressão desconsolada dele, ela fraquejou, então tentou consolá-lo com o que julgou que ele gostaria de ouvir. – “Eu já estou bem melhor, tá bom? Não precisa se preocupar... eu já estou esquecendo o que...” - começou a falar então se flagrou a tempo e respirou fundo se forçando a falar algo pra que ele ficasse menos triste. – “Eu só preciso de um tempo. Depois eu volto a ser a sua maninha como você quer”.
“Gina...” - começou a falar, acenando em negativo com a cabeça querendo berrar que não a queria como irmã e sentindo praticamente dor física ao ouvir que ela já estava esquecendo o que eles tinham vivido.
“Não, Draco. Pára! Eu não quero ouvir! Dá pra me deixar sozinha? Por favor?” - falou irritada, quase gritando querendo que ele saísse dali pra que ela pudesse sofrer sozinha então começou a ter dificuldade de respirar.
Não querendo irritá-la mais e percebendo que ela estava começando a passar mal por causa da sua presença, Draco olhou para o lado resignado, então acenou afirmativamente com a cabeça e saiu do quarto se forçando a lembrar das palavras do Colin. Talvez não da primeira vez...
Durante a madrugada Draco já havia quase se arrependido de falar com a irmã de criação tão cedo e virava na cama incessantemente, lembrando-se de que a ruiva havia se negado a sair do quarto desde a conversa.
A dúvida se havia tomado a melhor atitude aumentou ainda mais no dia seguinte, quando até mesmo os mínimos gestos dela em relação a ele desapareceram pra dar lugar à indiferença completa. Em um momento de humor patético consigo mesmo o loiro pensou que nunca pensou que pudesse sentir tanta falta de passar uma jarra de suco pra alguém no café da manhã.
Após o fim das aulas, ele já esperava pela razão do seu tormento perto do carro junto com Ron, quando uma cena, que comprova que o ditado popular não poderia ser mais verdadeiro, começou a se desenrolar à sua frente.
Gina deu tchau pro Colin então olhou na direção de Draco abrindo um sorriso alegre que fez o coração do jogador de basquete quase pular de felicidade achando que tudo havia sido apenas um pesadelo, até ele perceber que o olhar dela não estava exatamente nele.
Já com um pressentimento ruim sobre aquilo, Draco olhou pra trás acompanhando a direção em que Gina olhava, então viu do outro lado do estacionamento, perto de onde estava, uma figura familiar sair de um carro preto do Corpo Diplomático e, depois de acionar o alarme do carro, começar a andar com um sorriso igual ao da ruiva na direção da mesma.
Draco viu tudo ocorrendo em câmara lenta, conseguindo apenas processar que aquele era o cara chato da embaixada que havia ido na casa deles visitar Gina algumas vezes e tido a capacidade de tentar forçar amizade com ele dizendo que suas mães haviam sido amigas. Assistiu o par se encontrando em um abraço apertado e o Francês murmurando algo no ouvido dela que a fez sair do abraço sorrindo, parecendo agradecida.
Pensando que a ruiva era muito ingênua de não perceber as intenções do outro em ficar atrás dela dessa maneira, Draco achou que não poderia se sentir pior, até o momento em que percebeu que o casal vinha na sua direção. Colocou apenas um sorriso na boca, quando sentia apenas vontade de vomitar, e esperou que eles chegassem mais perto.
“Chris, você lembra dos meus irmãos, né? ” - falou Gina em francês fluente, mas Draco, infelizmente, pôde entender que ela os chamara de irmãos. Parecendo lembrar de algo ela falou batendo na testa. – “Ah não, o Ron não estava em casa nas vezes que você foi lá! Mas você lembra dele no baile, não é? ” - falou recebendo uma resposta afirmativa então continuou em inglês, olhando pro ruivo. – “Ron, esse é o Chris, você conheceu ele no baile, lembra?”.
Ron sorriu como se dissesse ‘é isso aí, maninha!’, então levantou a mão para cumprimentá-lo. – “E aí, cara?” - falou do seu jeito descontraído e Christoffer o respondeu com o mesmo tom, mas com um sotaque engraçado, então ofereceu a mão pra Draco.
Sentindo-se quase traído pelo irmão, Draco cumprimentou o francês educadamente com um aperto de mão forte então, antes que o outro tentasse fazer amizade novamente, ele falou com Gina. – “Você não vai com a gente?”.
“Não. Eu já avisei pra mamãe, não precisa se preocupar” - respondeu sem olhar pra ele e, não agüentando mais a tensão despercebida apenas por Ron, ela virou pro amigo. – “Vamos então?”.
Após se despedirem rapidamente, Draco sentiu o sabor amargo que Gina vivenciara tantas vezes ao ver a mulher que amava se distanciando com alguém que não era ele. Em um ato masoquista o loiro ficou olhando o casal se distanciar e entrar no carro e então, vermelho de ciúmes e raiva pela própria idiotice, ele virou dando de cara com o irmão, que ainda vestia a mesma expressão de minutos atrás.
“Dá pra parar de ficar com essa cara de idiota e entrar no carro?” - esbravejou, perdendo a pouca paciência que lhe restava e ligou o carro.
É... realmente o mundo dá voltas...
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N/A: Bom, só postei rápido assim pq na quarto eu tõ indo pra praia... \o/ *dançando e pulando feito doida*
Obrigada a todos qu comentaram, leram ou sinmplesmente visitaram...
Se der na praia eu posto mais...
Bjs bjs
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