O Capacete
-Ele aceitou!
Foi assim que Luna me cumprimentou na quinta-feira de manhã, na escola. Eu tinha acabado de precisar abrir caminho através de uma multidão de cem repórteres para ir do carro até a entrada da John Adams, de modo que, é preciso admitir, meus ouvidos ainda estavam meio que apitando por causa de tanta gritaria ("Hermione, o que você acha da situação no Oriente Médio?", "Coca ou Pepsi, Hermione?", etc.). Mas eu estava bem certa de que a Luna tinha dito aquilo mesmo.
-Quem aceitou o quê? - perguntei quando ela começou a me acompanhar até o meu armário.
-O Ron! - a Luna ficou meio ofendida por eu não ter lembrado. - Da Igreja! Ou do Fliperama Beltway. Mas tudo bem, não faz mal. O negócio é que eu o convidei para sair e ele aceitou!
-Uau, Lu - respondi. - Muito bem!
Só que eu não falei de coração. Bom, sim e não. E não foi nada muito legal da minha parte, acho, e eu nunca teria coragem de dizer isso em voz alta, nem nada assim. Mas a verdade era que, por mais feliz que eu estivesse pelo fato de a Luna ter marcado um encontro com um cara, eu me sentia meio estranha em relação à coisa toda. Tipo assim, aquilo que ela fizera (ligar para um cara e convidá-lo para sair) parecia, para mim, muito mais corajoso do que o que eu tinha feito (tipo assim, evitar que um cara assassinasse o presidente). Tudo que eu tinha arriscado era a minha vida... Que, se eu tivesse perdido, não seria lá grande coisa porque, sabe como é eu estaria morta e nem saberia do que aconteceu.
A Luna tinha arriscado muito mais do que eu: o próprio orgulho.
A verdade era que eu provavelmente nunca ia ter peito para convidar o cara dos meus sonhos para sair. Tipo assim, para começar ele era namorado da minha irmã. Além do mais, bom, e se ele não aceitasse?
Tudo bem se eu falar para a minha mãe que vou dormir na sua casa? - Luna quis saber. - Tipo assim, eu sei que eles gostam do Ron, tipo assim, minha mãe e meu pai, mas eles acham que 15 anos não é a idade certa para começar a sair com garotos.
-Claro - respondi. - Depois que vocês terminarem o programa, você pode ir lá para casa. E se você quiser alguma roupa emprestada... Sabe como é, se você achar que não tem nada legal no armário... Passa lá antes de sair e a gente deixa a Lucy dar um jeito no seu visual. Você sabe que ela adora fazer essas coisas.
O rosto da Luna brilhava. Nunca a vi tão feliz. Foi bem legal. Tipo assim, apesar de eu estar com inveja e tal, não podia evitar estar feliz por ela.
-Ah, Mione, você está falando sério? - Luna gritou. - Seria maravilhoso!
-Vai ser legal. Então, o que é que vocês dois vão fazer? - perguntei. - Tipo assim, na grande noite.
Luna olhou para mim como se eu fosse caso de internação.
-Nós vamos à festa da Gina, claro - respondeu. - Dãh. Para o que você acha que eu o convidei?
Àquela altura, eu estava colocando a combinação para abrir o cadeado do meu armário. Mas quando a Luna falou aquilo (sobre a festa da Gina) os números (15, minha idade atual; 21, a idade que eu gostaria de ter; e 8, a idade que eu nunca mais quero ter) sumiram da minha cabeça.
-À festa da Gina? - eu meio que me pendurei no cadeado e fiquei olhando para ela. - Você vai levar o Ron à festa da Gina?
-Vou - confirmou Luna, ignorando alguém que tinha passado por ali e, ao ver a saia comprida dela, gritara: "Ei, onde é que é a quadrilha?"-Claro que convidei Mione - repetiu ela. - A gente vai, não vai? Você e eu e o Ron e o Harry?
-O quê? - agora eu não tinha esquecido só a combinação do cadeado. Tinha esquecido o meu horário de aulas, o que tinha comido no café da manhã, tudo. Estava em estado de choque. - Luna, você está chapada? Eu nunca disse que ia à festa da Gina. Na verdade, eu me lembro bem de ter dito que não iria bem se o Larry Wayne Rogers quebrasse os meus dois braços.
O rosto de Luna, que um instante antes estivera brilhando igual a uma moeda novinha, se contorceu de decepção e (acho que não estou errada ao dizer) de dor. É, dor de verdade.
-Mas Mione - ela gritou. - Você tem que ir! Eu não posso ir à festa da Gina sem você! Eu sei que a Gina só me convidou porque achava que você ia...
-É e a Gina só me convidou porque ela acha que eu ia levar comigo um monte de repórteres e que ela ia aparecer na TV. Sem contar que ela achou que eu ia levar o Harry - não dava para acreditar que a Luna estava tentando me aprontar uma coisa daquelas. A Luna, minha melhor amiga desde a terceira série! - E eu não vou fazer nada disso. Porque eu não gosto do Harry desse jeito. Lembra?
-Mione, não dá para ir sem você - Luna choramingou. - Tipo assim, se eu aparecer na casa da Gina sem você, o pessoal vai ficar tipo: "O que é que você está fazendo aqui?"
-Bom, você deveria ter pensado nisso antes - respondi, escancarando a porta do armário (eu finalmente tinha conseguido lembrar a combinação). - Antes de convidar o Senhor Pontuação Mais Alta em Death Squad para ir com você.
-Death Storm - Luna me corrigiu, com os olhos azuis brilhando. - E eu não teria nem convidado se achasse que você falou sério quando disse que não ia.
-Eu disse que não ia. Está lembrada? E vê se se liga, a minha mãe e o meu pai zicaram a festa total. Nem a Lucy tem permissão para ir.
-Eu sei - respondeu Luna. - Mas ela vai de qualquer jeito. Você sabe que ela vai. Ela vai simplesmente dizer para eles que vai a outro lugar qualquer.
-Mas isso não conserta nada. Além disso, eu ainda estou a perigo por causa daquele negócio de tirar nota baixa em alemão. Tipo assim, não acho que eles estão pegando no meu pé totalmente...
-Mione - Luna me interrompeu, com a voz meio esquisita, como se estivesse entupida. - Você não saca? Por causa do que você fez... Ter salvado o presidente daquele jeito... Agora tudo vai ser diferente para nós.
Ela olhou em volta para assegurar-se de que ninguém estava ouvindo, deu um passo na minha direção e disse, com uma voz baixinha e aflita:
-Nós não precisamos ser rejeitadas. É a nossa chance de sair com os amigos da Lucy. Finalmente temos a chance de saber o que é ser a Lucy. Você não quer que isso aconteça, Mione? Você não quer saber como é estar na pele da Lucy?
Olhei para ela como se estivesse louca.
-Lu, você sabe muito bem o que é estar na pele da Lucy - respondi. - É ficar dando saltos mortais de costas, na chuva, durante jogos de futebol americano; ler só revistas de moda; e ficar separando os cílios com um alfinete.
Como eu já tinha pegado todos os cadernos de que precisava e tinha guardado meu casaco, bati a porta do armário e conclui:
-Desculpa, mas tenho coisa melhor para fazer.
-Tá - Luna disse com os olhos tão brilhantes porque, eu afinal percebi, estavam cheios de lágrimas. - Tudo bem. Isso tudo é muito bom para você. Mas e eu, Mione? Tipo assim, a Gina nunca perdeu tempo para descobrir como é na verdade a garota que está dentro dessas roupas idiotas - Luna pegou a saia de florzinha. – Bom, essa é a minha chance, Mione. Minha chance de mostrar a todo mundo que existe uma pessoa de verdade aqui dentro. Essa é a única chance de ver que eles podem prestar um pouco de atenção. Só estou pedindo para você me dar essa chance.
Fiquei olhando para ela. O sinal já tinha tocado, mas eu não me mexi. Eu estava paralisada.
-Luna - comecei mais chocada com o que ela tinha dito do que com as lágrimas que acompanharam o discurso. - Você... Tipo assim, você liga mesmo para o que eles dizem?
Ela ergueu a mão para enxugar as bochechas com um lencinho rendado.
-Ligo - respondeu. - Tá bom? Ligo sim, Mione. Eu não sou igual a você. Eu não sou corajosa. Eu ligo para o que as pessoas pensam de mim. Está certo? Eu ligo. E só estou pedindo para você me dar essa chance de...
-Tudo bom - concordei, finalmente.
Luna olhou para mim, piscando os dois olhos cheios de lágrimas:
-O q- quê?
-Tudo bem - eu não estava nada feliz com aquilo, mas o que é que eu podia fazer? Ela era a minha melhor amiga. - Tudo bem, eu vou. Tá certo? Se for tão importante assim para você, eu vou.
Um sorriso foi se espalhando devagarzinho no rosto da Luna. Os olhos azuis dela estavam felizes de novo.
-É mesmo? - disse e deu um pulinho. - É mesmo, Mione? Você está falando sério?
-Estou - respondi. - Tudo bem? Estou falando sério.
-Ahhh! - Luna jogou os dois braços em volta do meu pescoço e me deu um apertão de alegria. Então se afastou e disse: - Você não vai se arrepender! Você vai se divertir muito, juro! Tipo assim, o Draco vai estar lá!
E daí saiu correndo pelo corredor, porque estava atrasada para a aula de biologia.
Eu também deveria ter saído correndo, já que estava atrasada para a aula de alemão. Mas, em vez disso, só fiquei parada ali, pensando no que é que tinha me metido.
Ainda estava perdida nos meus próprios pensamentos quando entrei no ateliê da Susan Boone naquela tarde, sentei no meu banco e vi o que estava lá me esperando.
Isso porque havia, em cima do meu banco de desenho, um capacete militar escuro, salpicado de margaridas de corretivo.
-Gostou? - Harry quis saber. Ele estava dando aquele sorrisinho de novo. E, pela segunda vez em dois dias, a visão daquele sorriso provocou algo em mim. Parecia fazer com que meu coração pulasse dentro do peito. Frisson?
Ou será que era o burrito que eu tinha comido no almoço?
-Achei que uma garota como você precisava exatamente disso - disse Harry. - Sabe como é, já que você está sempre sendo atacada por corvos e assassinos armados.
Não podia ser azia de estômago. Era muita coincidência que o meu coração tivesse dado aquele pulo esquisito bem na hora que o Harry sorriu para mim. Algo mais estava acontecendo. E não era uma coisa de que eu não estava gostando nadinha.
Tentando ignorar o coração disparado, coloquei o capacete. Era grande demais para mim, mas não fez mal, porque eu tinha muito cabelo para esconder.
-Obrigada - respondi, tentando enxergar por baixo da aba do capacete. Eu estava emocionada (emocionada mesmo) por ele ter se dado ao trabalho de fazer aquilo. Era quase tão legal quanto ter o nome gravado em um parapeito de janela na Casa Branca. - Ficou perfeito.
E tinha ficado perfeito mesmo. Naquele dia, quando o Joe pulou no meu ombro para interromper meu desenho eu nem liguei, porque dessa vez não me machucou. Na verdade, ele só ficou parado lá, com uma cara meio atrapalhada, dando umas bicadas no capacete e soltando uns assobios de interrogação. Daquela vez, estávamos retratando uma peça de carne crua que a Susan Boone tinha trazido do açougueiro, dizendo que, depois de ter encontrado as cores de um ovo branco na terça-feira, nosso desafio de hoje era desenhar um objeto que contivessem todas as cores do arco-íris, mas sem perder o todo de vista.
A turma inteira riu do pássaro, até o Harry. Ele parecia ser o tipo de cara que não deixava que nada o incomodasse. Parecia ser o tipo de cara que saberia lidar com uma centena de Ginas Weasley’s.
Que é a única razão que eu consigo encontrar para explicar por que, logo antes de nos levantarmos para colocar os desenhos na janela na hora da crítica, eu me inclinei na direção dele e falei bem baixinho (tão baixinho que achei que ele não seria capaz de me ouvir, com o meu coração batendo tão alto):
-Ei, Harry. Você quer ir comigo a uma festa no sábado à noite?
Ele pareceu surpreso. Durante uma fração de segundo, achei que ele fosse dizer não.
Mas não foi nada disso que ele fez. Sorriu e disse:
-Claro, por que não?
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Eu realmente tenho que comentar esse capítulo.
Fla sério o Harry é o cara que toda garota pediu a Deus...
Ou Melhor, ja sei o que vou pedia ao papai noel esse ano, rsrsrs
Foi a coisa mais fofa do mundo quando ele deu o capacete cheio de MARGARIDAS FEITO DE CORRETIVO.
Lindooooo D+
Papai Noel, me da um Harry????
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