Capitulo 5



CAPITULO V

‘Quarto dia: quarta-feira’

“O adágio que diz que vale tudo no amor e na guerra é particularmente verdadeiro nesta parte de sua campanha. Então, transponha todos os obstáculos. Escolha roupas que não deixem dúvidas de que você é uma mulher. Continue deixando-o confuso. Mesmo que ele se mostre atraído por você, aja como se não o notasse.”
‘Fisgue Seu Homem’


O cansaço do vôo e três mudanças de fuso-horário tornaram ridícula a ideia de querer começar a trabalhar no estande da Bailey & Salazar antes do meio-dia no dia seguinte. Pelo menos no que dizia respeito a Harry. Considerando-se que era ele quem liderava a equipe, os outros membros viviam ansiosos para seguir seu exemplo. Até mesmo Hermione.

Harry deduziu que ela estava cansada demais, física e emo-cionalmente, para discutir. Isso sem falar que ainda arrumara forças para derrotá-lo três vezes do jogo de videogame.

Mas o pior era a sombra de desconfiança nos olhos castanhos, mesmo no final do jogo. Pensara em quebrar o clima tenso de várias formas, mas não sabia se havia funcionado. Contudo,houvera momentos dignos de serem lembrados.

Um deles fora quando haviam ficado lado a lado, em silêncio, observando a chuva, através da gigantesca janela do aeroporto, que dava vista para a pista de pouso. Ou o detalhe de ela haver permitido que ele permanecesse com o braço ao redor de seus ombros, enquanto caminhavam pela multidão. Outro exemplo fora o modo como Hermione procurara seus braços naturalmente, quando voltaram ao vôo e o sono a venceu. Isso sem contar o beijo, claro.

Harry pensara muito naquele beijo, e na confissão de Hermione a respeito de haver se apaixonado. Também não se esqueceu dos comentários de Mick, Kurt e Steve sobre como ela os afetava.

A noite maldormida fora mais torturante que o esperado, pois havia uma porta conectando seu quarto ao dela. E o pior era saber que ela estava destrancada, por exigência dele próprio. Continuava assim na manhã seguinte, mas ele não teve coragem de verificar o detalhe, antes de ouvi-la deixar o quarto. Com um pouco de sorte, tudo melhoraria ao longo do dia. Até o momento, estivera fazendo apenas um jogo de sedução com Hermione. Porém, chegara o momento de demonstrar algo sério. Tinha um plano em mente, além de uma boa dose de determinação. Tudo teria de funcionar em tempo recorde. Havia um prazo limite. Não o estabelecido por Dominique, mas por ele mesmo.

No sábado, ao final da exposição, Harry queria que Hermione estivesse amando-o. Isso porque, ao longo daquela noite de insónia, chegara à conclusão de que estava amando-a e que sempre a amara. Isso explicava por que não conseguia aceitar a ideia de desperdiçar a vida ao lado de Dominique. Sempre fora feliz ao lado de Hermione, e não havia motivo para ter de abrir mão de tal felicidade.

Mas seria difícil atingir sua meta. Precisaria de todo seu charme, e quando ela mostrasse algum sinal de que estava cedendo, pensaria no passo seguinte.

Primeiro teria de conseguir a atenção dela com exclusividade, e mantê-la junto de si. Ao chegar ao gigantesco centro de convenções e eventos de Las Vegas, recebeu um cumprimento nada encorajador de Hermione.

—Não está com vontade de trabalhar hoje? — indagou ela, olhando para os trajes sociais que Harry escolhera.

Tanto ela quanto os rapazes estavam de jeans e camiseta, trabalhando arduamente na montagem do equipamento e do estande. Havia caixas, ferramentas e peças por toda parte. A área reservada para a Bailey & Salazar no centro de convenções mais parecia uma mistura de canteiro de obras com parque de diversões de algum cientista louco.

—Certo. Vejo que me vesti da maneira errada — admitiu Harry. — Diga-me o que espera que eu faça, e darei um jeito.

Hermione olhou a prancheta que estava a seu lado e começou a procurar por algo. Nesse meio tempo, ele observou que os outros três rapazes da equipe não desviavam os olhos da direção dela. Cada um em sua tarefa, mas todos prestando atenção no que acontecia com sua musa.

Depois de verificar todas as páginas da incessante lista de tarefas, ela o fitou com ar de desgosto e disse:

—Não há muito o que fazer aqui que possa mantê-lo limpo. Eu o mandaria de volta para o hotel, mas corremos o risco de não vê-lo mais no dia de hoje.

—Então não se incomode com minha roupa. Se não estou preocupado, por que você deveria ficar?

—Ora, porque foi minha mãe que lhe deu esta camisa, no último Natal. Se você arruiná-la e ela souber que fui a responsável, jamais serei perdoada.

—Isso não é problema — disse ele, retirando a camisa e exibindo sua musculatura bem definida, tentando impressioná-la.

Hermione não desviou o olhar da prancheta e nem mesmo piscou diante da demonstração, mas os três colegas de trabalho lançaram-lhe seus olhares mais mortais. Ele sabia que não estava jogando limpo, mas e daí? Todos estavam habilitados a ficar sem camisa por ali. Pelo que havia notado, o único que poderia superá-lo em forma física era Kurt, que,apesar do porte atlético, já havia sido dispensado por ela.

—O que quer que eu faça primeiro? — indagou Harry, sorrindo com malícia.

—Vista a camisa novamente.

O sorriso dele desapareceu, pois Hermione mal o olhou. Nenhuma demonstração de ter ficado impressionada nem admirada.

Aquela podia até ser uma tática adolescente, mas sempre funcionara bem. Com outras mulheres.

Aquelas que Hermione definira como "desmioladas". Ele teria de se esforçar mais. Contudo, o jogo estava no começo, e aquele era apenas o primeiro ponto que fora perdido.

—Por que não encontra um telefone e pede o almoço para nós? — sugeriu ela. — Enquanto isso, vou encontrar a caixa com as camisetas promocionais de Fresh All Day. Ao voltar, poderá colocar uma delas.

Os três rapazes ao fundo do estande trocaram sorrisos de satisfação entre si, ao vê-lo colocar a camisa de volta. Aquilo parecia um desafio, que merecia um retorno à altura. O troco viria junto com o almoço.

—Está bem. Eu até perguntaria o que cada um quer comer, mas acho mais interessante fazer uma surpresa.

Hermione sorriu concordando, e ele se colocou em movimento, pensando nos próximos passos de seu plano.

Menos de dois segundos depois de Harry sair de seu campo de visão, Hermione sentiu uma presença atrás de si. Qual não foi sua surpresa ao se virar e ver os três colegas de trabalho olhando-a com seriedade.

—Hum... Hermione? Podemos falar com você? — perguntou Kurt.

—Claro. O que foi?

—Potter — murmurou Mick.

—Achamos que devíamos alertá-la sobre seu amigo —completou Steve.

—Alertar? Sobre o quê?

—Você virou um desafio para ele — desabafou Kurt.

—Ele é o único homem que você deixa que se aproxime — disse Steve.

—E parece que ele está disposto a tirar vantagem disso — finalizou Mick.

Hermione os fitou com ar surpreso por alguns segundos, mas em seguida começou a sorrir e falou em tom de brincadeira:

—Certo. Agora contem outra.

Ao vê-los permanecer sérios, e com ar de censura, ela voltou a arregalar os olhos.

—Estão falando sério?

—Estamos — confirmou Steve.

—Cometemos um erro — confessou Mick.

—Foi errado contar a Potter sobre você — concordou Kurt, cabisbaixo. — Pensamos que fosse um dos nossos.

—Pelo menos de certa forma — adicionou Mick. — Sabemos que são velhos amigos, e pensamos que se ele tivesse algum interesse em você, teria se pronunciado no passado.

—Além disso, julgamos que ele não soubesse valorizar alguém como você, considerando a lindíssima morena fatal que arrumou como namorada — disse Kurt.

—Não é que não a consideremos linda — emendou Steve.

—Na verdade, você vale por dúzias de Dominiques.

—Isso mesmo — reforçou Mick.

Hermione esfregou o meio da testa com os dedos, tentando afastar os sinais de enxaqueca que começavam a se pronunciar.

—Estão tentando dizer que Harry está interessado em mim?

Os três rapazes trocaram alguns olhares, cheios de tensão.

—Bem... Como mulher, você entende, não é? — explicou Kurt.

—Como mulher? — repetiu ela.

—Deduzimos que ele só teve tal ideia depois que lhe contamos sobre sua falta de percepção quanto ao que sentimos por você — falou Steve.

—Sobre o que sentem por mim? — indagou Hermione, sentando-se na escada mais próxima. — Do que estão falando? Somos todos colegas. Sou a irmãzinha da equipe. Tenho inclusive de confessar que aprecio muito o fato de me tratarem com igualdade no escritório e no time de minibeisebol.

Mick olhou ao redor e para cima, em direção à estrutura do teto, dizendo:

—Trouxemos corda no equipamento? Aquela viga parece forte suficiente para eu me enforcar nela.

Hermione deu um leve empurrão no braço dele.

—Não fale desse jeito. Então todos falaram sobre mim no bar? Sou a única mulher nesta viagem, e é natural citarem meu nome.

—Mas não foi apenas uma citação. Você foi o assunto da conversa toda — esclareceu Steve. — E tudo o que posso dizer é que não a consideramos como nossa "irmãzinha", nem apenas como colega de trabalho. Nenhum homem do departamento pensa assim, Hermione.

—Não seja ridículo — insistiu ela. — Sei muito bem a forma como me tratam, rapazes.

—Não. É o jeito como você nos trata que faz parecer que somos todos iguais — disse Kurt.

Hermione balançou levemente a cabeça, certa de que não estava ouvindo direito.

—Você não critica os homens, como faz a maioria das mulheres — explicou Mick.

Ela riu ao ouvir aquilo.

—Então ainda não me ouviram falar sobre Harry e meu irmão, Josh, não é mesmo?

—Pelo pouco que sei, eles merecem todo seu escárnio — declarou Steve.

—Potter, com certeza, merece — murmurou Kurt, olhando na direção do caminho por onde Harry saíra.

—Mas o mais importante, Hermione, é que você nunca percebe quando um homem está atraído por você — disse Mick.

—Atraído por mim? Não brinque. Não sou o tipo de garota que os homens sonham em ter.

O olhar dos três deixou claro que aquele argumento não era válido.

"Meu Deus!", pensou ela, "Sally tinha razão! O livro funciona... E até bem demais. Oh, o que foi que eu fiz?"

Dentro de seu ceticismo sobre o livro, Hermione não considerou que ‘Fisgue Seu Homem’ podia ser tão letal quanto uma arma carregada, e usou as táticas sem a menor preocupação.

—Vocês estão brincando! — insistiu. — Se é assim, como é que ninguém lá da empresa jamais me convidou para sair?

—Bem que tentei — falou Kurt. — Você nem mesmo notou que era isso que eu estava fazendo.

—Oh... Sinto muito — murmurou ela, desconcertada. — Ainda há tempo de pedir desculpas?

O rosto dele pareceu se iluminar.

—Então vai sair comigo?

—Bem, não é que não aprecie seu convite mas, na verdade... — Hermione desviou o olhar para não vê-lo voltar a ficar decepcionado. — Sabe a Meg, da contabilidade? Está apaixonada por você e, se sairmos juntos, ela nunca mais falará comigo. Eu não deveria ter contado isso, então prometa que não dirá que soube por mim.

Steve bateu a mão no ombro de Kurt, dizendo:

—É bom ter um companheiro a caminho de se acertar com uma bela garota.

—Creio que vou ligar para ela quando voltarmos — falou Kurt.

—E enquanto nosso amigo aqui liga para Meg, o que acha de jantar comigo, Hermione? — sugeriu Mick.

Ela balançou a cabeça lentamente, em negação, murmurando:

—Jill, do departamento de atendimento ao consumidor...

—Mas ela disse que nunca mais queria me ver por perto! — exclamou Mick, surpreso.

—Era mentira. Agora ela está morrendo de saudade — explicou Hermione, virando-se para Steve antes mesmo que ele a convidasse também. — E quanto a você, Meredith só começou a sair com Vince para deixá-lo com ciúme.

—Eu sabia — afirmou Steve, mas estava claro que era um péssimo mentiroso. — Como soube de tudo isso?

—Fofocas de empresa. Nos últimos tempos, não tem havido muitas novidades, mas acho que após o retorno de certos três rapazes, teremos muito o que falar.

—Você é uma amiga excelente, Hermione. Desculpe-nos por havermos complicado sua situação — falou Mick.

—É mesmo — concordou Kurt, sorrindo com sarcasmo. — Caso queira, poderemos pegar Potter em um beco escuro e quebrar as pernas dele. Seria um prazer.

—De jeito nenhum, rapazes. Ele é o melhor jogador do time de minibeisebol. Se quisermos ganhar o campeonato, é melhor mantê-lo inteiro — lembrou Hermione.

—Que tal depois da temporada? — sugeriu Steve, suspirando com ar decepcionado.

—Quem sabe? Por enquanto, deixem-no comigo.

Mick soltou uma risada breve e sagaz.

—Sabem, meus amigos, do jeito que ela falou agora, quase estou com pena de Potter.

Hermione fez questão de encontrar uma camiseta promocional antes de Harry retornar. Uma de tamanho gigante, para não mostrar a forma daquele peito másculo espetacular.

Sabia que não deveria haver se deixado abalar pela visão dele sem camisa, mas não pudera evitar. Era uma sensação incontrolável de perda de fôlego. Fora sorte ele não haver notado.

Ao alisar o tecido que havia sido amassado na viagem, flagrou-se imaginando como seria deslizar os dedos sobre os pêlos aparentemente macios do peito dele.

Mesmo diante da possibilidade de seus colegas haverem dito a verdade, e de Harry estar mesmo pretendendo brincar com ela, não podia deixar de sonhar.

Mas isso tornava a situação ainda mais grave. Ele estava desconsiderando que poderia vir a magoá-la, quando se cansasse e, como faziam os beija-flores, fosse fazer sua próxima coleta em outra flor.

Mesmo se tratando de seu eterno herói, sabia que devia lhe dar uma boa lição.

Revirando uma série de caixas, encontrou o pacote que estava procurando e colocou-o discretamente no carrinho do lixo, estacionado ao lado do estande.

Assim que Harry retornou, começou a colocar em prática o plano que elaborara.

—Não acredito! — reclamou Hermione, alto o suficiente para que todos no estande ouvissem. — Como foi que o pessoal do almoxarifado esqueceu os lápis? Tenho certeza de tê-los incluído na lista de material.

—Como é? — perguntou Harry.

Hermione observou que ele desviou o olhar para o lápis que ela havia pendurado na gola da camiseta.

Segurando a pequena peça cuidadosamente entre os dedos, levou-o até os lábios, colocando o lado da borracha na boca, sugando-a levemente enquanto fingia ler uma lista.

Foi gratificante vê-lo engolir em seco ao observar o movimento que ela fazia com a pequena peça de madeira. As estratégias do livro de Sally, associada com anos de observação das namoradas dele estavam funcionando muito bem. Era como uma espécie de curso de sedução masculina. Infalível.

—Sim, lápis — confirmou ela, suspirando exageradamente.

Seus seios firmes e proeminentes fizeram um movimento bastante visível sob o fino tecido da camiseta. Kurt, que estava atrás de Harry, ficou boquiaberto, recebendo um cutucão de Mick, que piscou um olho, sinalizando para Steve. O único que permaneceu aparentemente impassível foi Harry, que fez um esforço tremendo para não olhar diretamente para os seios dela.

Esforço esse que Hermione notou com clareza.

—Você sabe quais são, não é? — indagou ela, inocentemente. — Daqueles curtinhos, como os que distribuem nos clubes de golfe em miniatura.

—Curtinhos — ecoou Harry.

—Deste tamanho — disse Hermione, mostrando uma distância de uns doze ou treze centímetros entre o indicador e o polegar da mão esquerda. — Mas podem ser maiores, bem maiores.

Foi um prazer ainda maior poder vê-lo ajeitar a gola da camiseta recém-colocada, como se estivesse sufocando. Como pretendera, criara um contexto que o levara a pensar em uma situação ousada e muito distante do assunto.

—Precisamos mesmo disso? — perguntou ele, ao notar que estava quase em transe, sonhando acordado.

—Sem dúvida. Como os visitantes preencherão os cupons para o grande prémio?

—Grande prémio?

—Quando vai aprender a ler o material antes do último instante? Mostre o póster para ele, Mick — solicitou Hermione.

Contente em cumprir a tarefa, o rapaz desenrolou um cartaz, onde havia uma foto de um lugar tropical.

—O vencedor ganha uma viagem para as Bahamas — falou ela, passando os dedos sobre a ilustração. — Cinco dias de brisas frescas em um lugar ensolarado, e quatro noites paradisíacas. O sorteio será no último dia do evento.

—Oh — murmurou Harry. — Nesse caso, acho que precisamos mesmo de muitos lápis.

—Se não se importa em ajudar os rapazes na montagem do estande, vou sair e procurar uma loja de material de escritório para comprá-los. Hum... Talvez eu demore um pouco, pois não estou acostumada com essa cidade. Está bem para todos vocês?

—Sim, claro — respondeu Mick.

—Não se preocupe com o serviço, que daremos conta — completou Steve.

—Cuidaremos de tudo — afirmou Kurt. — Ei, o que faremos com seu almoço quando o entregarem?

—Podem comê-lo — afirmou ela.

—Mas é seu prato favorito — protestou Harry.

—Quanta gentileza — murmurou Hermione, fazendo-se de tola ao sorrir. — Contudo, terei de abrir mão de minha refeição. Comerei algo enquanto estiver na rua. Tudo bem com você, Harry?

Ele tentou dar de ombros e disfarçar, mas estava visivelmente perdido, sem saber o que fazer.

—Precisamos dos lápis, não é mesmo? Claro que está tudo bem.

Ao sair dali, ela pegou a bolsa e começou a empurrar o carrinho de lixo.

—Vou descarregar isso aqui no trajeto até a saída — alegou Hermione, aproveitando para passar o pacote com os lápis para sua enorme bolsa, antes de deixar o lixo.

Ao entrar no táxi, pediu para ser levada ao shopping center mais próximo. Tudo estava indo muito bem com seu plano.


Harry se inclinou e deixou que a água fria massageasse suas costas. Embora aliviasse a tensão física, não surtia nenhum efeito no estresse mental pelo qual estava passando.

Todas as táticas que tentara usar ao longo do dia haviam falhado. Parecia que havia perdido o jeito com as mulheres. Pelo menos com Hermione.

Para provar que podia ser competente com qualquer trabalho, fizera mais atividade física naquela tarde do que nos dois anos anteriores, acumulados.

E, para sua total decepção, ela nem sequer pareceu notar. Nem um comentário... Nem uma palavra de gratidão ou de admiração.

Estava se sentindo como se fosse o homem invisível.

Para os outros rapazes, contudo, sobraram sorrisos e olhares carinhosos. Para um trio que se confessava frustrado, estavam recebendo atenção demais. Por sorte, a parte do plano que dizia respeito a eles havia funcionado.

Todos três se viram obrigados a ir direto para seus respectivos quartos ao final da tarde, pois estavam precisando de uma boa dose de antiácido. O "almoço-bomba" que encomendara havia sido um sucesso.

Ainda bem, pois Steve ousara até convidá-la para jantar, recebendo um promissor "no final da tarde, veremos" como resposta.

Com o efeito destruidor daquele almoço, ninguém estaria disponível para disputar com ele a atenção de Hermione. "Que atenção?", pensou Harry, frustrado.

Ela sim, conseguira ser o centro indiscutível das atenções, ao voltar para o centro de convenções, três horas depois de partir.

Ao vê-la voltar com os lápis, todos notaram que Hermionehavia passado pelo hotel para se trocar. Estava quase irreconhecível, embora ainda estivesse com uma roupa equivalente à anterior. Só que a calça jeans era mais maleável e pecaminosamente justa. A camiseta leve fora substituída por um top de malha, agarradíssimo e minúsculo, revelando a barriga delgada e o tentador colo dos seios.

Ao longo do dia, os rapazes quase brigaram para ficar nas escadas, só para ter uma visão mais detalhada do que Hermione jamais deixara tão visível.

A lembrança do olhar sequioso de cada um deles o levara a cerrar os punhos diversas vezes em meio às tarefas.

O banho não estava ajudando a afastar as lembranças nem a esfriar as ondas de desejo quente que o estavam tentando dominar.

Teria de aproveitar aquela noite, quando estaria sozinho com ela. Precisaria obter resultados com rapidez. O único meio seria abusar do charme e usar tudo o que soubesse sobre os gostos de Hermione, para fazê-la chegar ao lugar onde deveria estar: seus braços.

Quando se encontraram, no começo da noite, Hermione examinou Harry detalhadamente e viu que estava bem vestido e esbanjando charme.

—Vamos? — indagou ele, passando o braço em torno da cintura dela. — A noite é muito curta em Las Vegas.

Afastando-se dele depois de aproveitar alguns segundos daquele abraço terno, Hermione o encarou e perguntou:

—Acha que estou bem arrumada para uma noite na cidade?

A pergunta foi apenas retórica, pois já sabia a resposta.

Além da vendedora da loja onde comprara o vestido naquela tarde, duas outras clientes elogiaram seu gosto para roupas e seu corpo perfeito.

Afastando-se mais um passo, deu uma volta completa, fazendo a saia curta e rodada do vestido leve se abrir ligeiramente, revelando ainda mais suas pernas. Como esperava, os olhos de Harry a perscrutaram dos pés à cabeça, atendo-se mais à altura dos joelhos e das coxas.

—Você está linda, Hermione — disse ele, com ar sério. — Sempre parece linda para mim.

—Assim como sempre o acho charmoso — respondeu ela, certificando-se de que havia usado um tom brincalhão e provocante, em vez de sério.

Por sorte, havia levado o livro na mala. Sem ‘Fisgue seu Homem’, não saberia como agir. Estaria perdida pelo simples fato de estar loucamente apaixonada por ele, e jamais conseguiria pensar em flertar com seus colegas apenas para provocá-lo.

Seguindo todos os conselhos aplicáveis, estava se sentindo forte e muitíssimo feminina. Foi para testar seu novo poder que demonstrou o vestido daquela forma.

Embora esperasse causar alguma reação, não esperava que fosse um olhar tão profundo e um sorriso tão devastador como aquele que recebera.

Mantendo-se afastada daqueles braços fortes, que pareciam atraí-la como verdadeiros imãs, encarou-o com ar descomprometido e falou:

—Esqueceu que havia me prometido um jantar de aniversário, e que depois me levaria para conhecer a noite de Las Vegas como presente?

—Jamais me esqueceria disso, querida — garantiu ele, levando a mão de maneira sensual até as costas dela, conduzindo-a pelo corredor do hotel. — Gostei muito desse vestido. Comprou-o por causa da viagem?

—Esse aqui? Tenho-o já a algum tempo — respondeu Hermione, ocultando o detalhe de que fazia poucas horas que o tinha visto em uma vitrine.

—Seja como for, fica espetacular em você. Tanto que estou tentado a ficar aqui e não dividi-la com mais ninguém.

—Não acho que seja uma boa ideia, meu caro — brincou Hermione. — Já olhei a programação da televisão, e não há o que assistir. Além disso, é meu aniversário e estou em Las Vegas. Esta noite quero ir jogar.

—Então vamos. A primeira parada será no melhor restaurante da cidade, e então iremos até o cassino do hotel Excalibur para jogarmos um pouco. Depois voltaremos lentamente pela avenida Strip, fazendo o que você quiser ao longo do caminho.

Hermione mal conseguiu disfarçar um suspiro desanimado. O roteiro parecia divertido, mas seria melhor se não fosse tudo uma farsa. Queria que Harry estivesse mesmo apaixonado e a desejasse de verdade.

Talvez houvesse um pouco de desejo, pois era quase impossível que aquele brilho de ansiedade nos olhos dele fosse fingimento.

Quem poderia saber?


Controlar-se ao lado dela seria mortífero para Harry, pois estava ansioso para beijá-la e tê-la em seus braços, antes de levá-la para a cama. Mas aquela era Hermione. A mulher mais importante de sua vida.

Era justamente por isso que havia demorado tanto para perceber. Sempre separara a vida romântica da real, quando elas deviam estar juntas. Somente perto dela conseguia ser ele mesmo.

Em vez de ir a um restaurante refinado, cuja comida cara teria gosto de lata velha, levou-a a um lugar que a agradaria muito mais: um lugar onde se podia comer com tranquilidade, assistindo a demonstrações de artes marciais com espadas. Exatamente um dos pontos fracos de Hermione.

Qualquer desconhecido acharia a escolha egoísta, pois pareceria um programa para agradar ele próprio, mas ela era amante de esgrima, assim como de comer com tranquilidade.

—Sabe, estou até me sentindo culpada — confessou Hermione, sentada ao lado dele no banco de trás do táxi. — Prometi ajudá-lo com a decisão sobre Dominique e então deixei a solução por sua conta. Restam apenas três dias para o prazo final, Harry. Já se decidiu?

—Ei, aquele é o vulcão do Mirage? — ele perguntou ao motorista, não querendo permitir que a sombra de Dominique obscurecesse uma noite perfeita.

—Isso mesmo. Fica mais bonito ainda quando está mais escuro, perto da meia-noite — respondeu o motorista.

—Ficou muito melhor agora, que virou uma cachoeira — disse Harry. — O que acha de irmos até lá mais tarde, querida?

—Aquilo já foi um vulcão? — indagou ela.

—Artificial, é claro. Parece-me que ele se transforma com certa frequência.

—Las Vegas não é mesmo um lugar comum.

—Não, não é — respondeu ele, colocando o braço ao redor dos ombros nus dela. — Tem certeza de que não quer passar no hotel para pegar um agasalho? Os cassinos dos hotéis costumam manter o ar-condicionado a uma temperatura baixíssima.

—Não. Se eu começar a sentir frio basta dar uma volta aqui fora, que está uma fornalha.

Logo depois, chegaram ao hotel Excalibur. Antes de entrar, Hermione parou para olhar a fachada em forma de castelo medieval, admirando as torres.

Ao vê-la com os lábios entreabertos e a cabeça erguida, Harry não resistiu. Antes que ela pudesse se dar conta, beijou-a de forma suave, porém provocante.

—O que foi isso? — perguntou ela, sorrindo com ar surpreso.

—Apenas verificando se já adotou Fresh All Day como seu creme dental habitual — explicou Harry, assim que voltaram a caminhar, entrando no saguão do hotel.

—Não acredito! — exclamou Hermione, parando de forma abrupta. — Você acertou o nome do produto!

—Ei, não esperava que eu continuasse errando, esperava? Mas sabe de uma coisa? Esse teste foi muito rápido para me satisfazer. Vamos tentar outra vez.

Foi um alívio vê-la sorrir diante da sugestão. Quando a beijou pela segunda vez, Hermione retribuiu.

Harry jamais conseguira imaginar uma experiência mais promissora e sensual em um simples contato como aquele. O beijo foi longo e duradouro, como se ela estivesse tão relutante em interrompê-lo quanto ele próprio.

Quando finalmente se separaram, ambos estavam sorrindo.

—Hum... baseado em como isso foi delicioso, acho que vamos vender toneladas de creme dental — disse Harry, envolvendo os ombros dela com um braço.

—Espero que sim — respondeu ela, passando o braço ao redor da cintura dele.

—Mas o que importa é que está feliz com isso. Considero-a muito mais importante do que a Bailey & Salazar.

—Ah, é? — ironizou Hermione.

—Claro. Em primeiro lugar vem você, depois a empresa — assegurou Harry, falando em tom baixo e grave.

—Não está se esquecendo de incluir Dominique em sua lista de prioridades?

—Não, Hermione. Falei exatamente o que sinto.

—Sempre falando como um vendedor, não é mesmo sr. Potter?

—No que diz respeito a você, nunca faria isso. Eu te amo, Hermione.

O sorriso dela se desfez por alguns segundos, e então voltou ao normal.

—Oh, sim... Claro.

Aquilo significava que ela não havia entendido uma só palavra. Não no sentido que Harry quisera expressar.

Teria um trabalho árduo pela frente, pois deveria convencê-la de que estava falando sério.

Hermione não poderia esperar uma noite mais perfeita do que aquela. A caminho do hotel, lembrou de cada passeio que haviam feito. O jantar, os cassinos, as caminhadas de mãos dadas, o beijo na porta do Excalibur...

Naquele momento, dentro do elevador, o tempo parecia passar mais lentamente. Era como se a noite em si estivesse lamentando seu próprio fim.

Depois de passar a noite toda em contato com ele, fosse de mãos dadas ou abraçados, parecia estranho estarem a dois passos de distância em um recinto tão apertado. Faltava algo. Seu calor. Seu carinho...

—Hermione? — murmurou ele, ao se aproximar.

—Hum?

Quando ela ergueu a cabeça para encará-lo, Harry tocou o rosto dela, acariciando-o.

Aos poucos foi se curvando, até que seus lábios se encontraram. O beijo foi muito diferente do anterior, em frente ao outro hotel. Naquele momento, o contato que tinham supria todos os sonhos que sempre alimentara sobre beijá-lo.

Era um momento de entrega e de receptividade. Estavam compartilhando algo que parecia terno, sensual e carinhoso, tudo ao mesmo tempo.

Entregando-se à delícia que era receber aquele beijo, Hermione se rendeu às carícias da língua dele de encontro à sua.

O elevador parou no andar deles, mas Harry pareceu não notar. Continuou a acariciá-la nas costas, e a moldar o corpo dela contra o seu.

Hermione interrompeu o contato e se afastou, quase em choque. O que estava fazendo? Não sabia ao certo. A imagem de Dominique lhe veio à mente, lembrando-a de que para ele aquilo não passava de mais um jogo de conquista. Era melhor parar de se deixar levar pelos sonhos, ou o sofrimento seria maior.

—Olhe! Já chegamos.

Avisou e saiu depressa do elevador, andando em direção ao quarto.

—Espere! — chamou Harry, alcançando-a e segurando-a ainda no corredor. — Espere um minuto. Temos de...

—Hora do pedido de desculpa — interrompeu ela, evitando encará-lo.
— Acho que foi efeito do calor e de todos aqueles coquetéis de tequila. Até me esqueci de quem estava passeando comigo.

Harry a segurou pelos ombros.

—Pare com isso. Não foi você quem começou. Fui eu, e estou consciente disso, Hermione.

—Neste caso, eu gostaria que parasse de fingir que sou mais uma de suas namoradas e me deixasse em paz.

Harry a soltou.

—Não pode estar falando sério...

Ela se virou e pegou a chave na bolsa, antes de responder.

—Steve o os rapazes me contaram o que você está fazendo, Harry. Parece que me tornei mais um de seus desafios, e sei melhor do que ninguém que esse é seu ponto fraco.

—Não é nada disso — defendeu-se ele.

—Não é? — perguntou Hermione, soltando a bolsa sobre a cama após entrar no quarto. — Bem, era um desafio para mim. Afinal de contas, sou tão aficionada por superar limites quanto você. Tenho até uma cicatriz para provar.

Harry suspirou profundamente.

—Então foi tudo um jogo? É isso?

—Isso mesmo. Sempre quis saber como seria agir da mesma forma que Dominique. Já que ela é seu tipo de mulher, tomei-a como modelo — mentiu Hermione, mantendo-se de costas para Harry. — Funcionou bem, não foi? Mas não tenho nada a ver com ela, e a brincadeira não foi divertida. Voltarei a ser apenas sua amiga outra vez.

—Você nunca foi "apenas" a...

—Cumprimentos? Oh, guarde-os para Dominique!

Ao notar que ele ficara em silêncio, ela se virou para olhar. As luzes estavam apagadas, e não era possível ver sua expressão contra a parede iluminada do corredor, já que ele estava diante da porta aberta.

—Já é hora de acertar sua vida — continuou Hermione, em tom acusador. — É provável que seja um homem casado, já na próxima segunda-feira.

—Espero que sim.

O tom de voz dele parecia muito sério.

—Então já tomou a decisão?

—Sim.

Hermione sentiu como se o mundo estivesse desmoronando. Com um esforço extremo, tentou ocultar quanto estava sofrendo naquele momento.

— Parabéns, Harry. Espero que seja muito feliz. Agora é melhor sair daqui. Teremos um dia muito ocupado amanhã.

Harry não argumentou. Apenas saiu e fechou a porta atrás de si, indo para seu quarto, que ficava ao lado. Assim que ele a deixou, Hermione correu e trancou a porta de ligação que unia os dois cómodos.



Obs:Oi pessoal!!!Desculpem não ter postado no domingo como havia prometido, mas durante a minha viagem eu fiquei doente e acabei ficando de cama. Agora que estou melhor, estou atualizando as fics, sendo que "Paixão Obscura" acaba de acabar e "Ousada Conquista" falta apenas mais dois capitulos. Em compensação, também estou postando hoje uma fic nova e amanhã temos mais uma nova também!!!Espero que tenham curtido o capitulo e logo logo tem mais atualização!!!Bjux!!!!Adoro vocês!!!

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